CAPÍTULO QUATRO

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Quando recupero minha sanidade, abro os olhos e vejo o rosto do homem que amo. A expressão de Christian é suave, leve. Ele esfrega o nariz no meu, apoiando-se sobre os cotovelos, as mãos segurando as minhas ao lado de minha cabeça. Infelizmente, suspeito que seja uma forma de impedir que eu o toque. Ele me dá um beijo delicado nos lábios e sai de dentro de mim.

— Senti falta disso — ofega.

— Eu também — sussurro.

Ele me segura pelo queixo e me beija com força. Um beijo apaixonado e suplicante, mas pedindo o quê? Não sei. Fico sem fôlego.

— Não me deixe de novo — implora ele, olhando fundo nos meus olhos, a expressão séria.

— Está bem — sussurro e sorrio para ele. Seu sorriso de resposta é deslumbrante: alívio, júbilo e uma alegria juvenil combinados em um olhar encantador, capaz de derreter o mais frio dos corações. — Obrigada pelo iPad.

— Não há de quê, Anastasia.

— Qual é sua música preferida lá?

— Isso já seria revelar demais. — Ele sorri. — Agora venha, minha serviçal, preparar uma refeição para mim. Estou morrendo de fome — acrescenta ele, sentando-se de repente e me puxando.

— Serviçal? — Dou uma risadinha.

— Serviçal. Comida, agora, por favor.

— Já que me pede de forma tão educada, senhor, é para já.

Ao me arrastar para fora da cama, tiro o travesseiro do lugar, revelando o balão vazio em forma de helicóptero que guardo debaixo dele. Christian o pega nas mãos e me olha, intrigado.

— É o meu balão — digo, com ar de propriedade, enquanto pego o roupão e me cubro. Ah, merda... por que ele tinha que ver isso?

— Na sua cama? — murmura.

— É. — Fico vermelha. — Ele me faz companhia.

— Sortudo esse Charlie Tango — diz ele, surpreso.

Sim, sou sentimental, Grey, porque amo você.

— Meu balão — digo novamente e me viro em direção à cozinha, deixando-o com um sorriso de orelha a orelha.

* * *

CHRISTIAN E EU nos sentamos no tapete persa de Kate, comendo frango xadrez e macarrão chinês em tigelas brancas de porcelana com hashis e bebendo um Pinot Grigio branco gelado. Christian encosta no sofá, as longas pernas esticadas à sua frente. Está de calça jeans e camisa e com o cabelo de quem acabou de transar, e isso é tudo. Ao fundo, vindo do iPod dele, Buena Vista Social Club preenche suavemente o ambiente.

— Está gostoso — elogia ele, devorando a comida.

Estou sentada de pernas cruzadas a seu lado, comendo avidamente, morrendo de fome e admirando seus pés nus.

— Normalmente sou eu que faço a comida aqui em casa. Kate não é muito boa na cozinha.

— Foi sua mãe quem lhe ensinou?

— Na verdade, não. — Faço uma careta. — Na época em que eu estava interessada em aprender a cozinhar, minha mãe já morava com o Marido Número Três em Mansfield, no Texas. E o Ray teria vivido à base de torrada e comida de restaurante se não fosse eu.

— Por que você não ficou no Texas com sua mãe? — Christian me olha.

— Eu não me entendia com Steve, o marido dela. E sentia falta de Ray. O casamento da minha mãe com Steve não durou muito. Ela caiu em si, acho. Nunca fala dele — acrescento em voz baixa. Acho que é uma parte sombria da vida dela, algo que nunca chegamos a discutir.

— Então você ficou em Washington com seu padrasto.

— Morei durante um período muito curto no Texas. Depois voltei para ficar com Ray.

— Parece que você cuidava dele — diz Christian com ternura.

— Acho que sim. — Dou de ombros.

— Você está acostumada a cuidar das pessoas. — O tom de sua voz atrai minha atenção, e olho para ele.

— O que foi? — pergunto, espantada por sua expressão cautelosa.

— Quero cuidar de você. — Seus olhos brilham, refletindo uma emoção que não consigo identificar.

Meu coração acelera.

— Já percebi — sussurro. — Só que você faz isso de um jeito estranho.

Ele franze a testa.

— É o único que conheço.

— Ainda estou brava com você por ter comprado a SIP.

— Eu sei, só que não é isso que vai me impedir, baby. — Ele sorri.

— O que eu vou falar para os meus colegas de trabalho, para Jack?

Ele estreita os olhos.

— É melhor esse filho da puta se cuidar.

— Christian! — reclamo. — Ele é meu chefe.

Christian contrai os lábios. Parece uma criança teimosa.

— Não conte a eles — diz.

— Não contar o quê?

— Que eu sou o dono. O negócio foi fechado ontem. A notícia não vai poder ser divulgada por umas quatro semanas até que o setor administrativo da SIP faça algumas mudanças.

— Hum... eu vou perder o emprego? — pergunto, alarmada.

— Sinceramente, duvido muito — responde Christian secamente, tentando conter o riso.

Faço uma cara feia.

— Se eu sair e arrumar outro emprego, você vai comprar a outra empresa também?

— Você não está pensando em sair, está? — Sua expressão se altera, tornando-se cautelosa mais uma vez.

— Talvez. Receio que você não tenha me deixado muita escolha.

— Sim, vou comprar a outra empresa, também. — Ele é inflexível.

Fecho a cara. Não tenho como competir com ele.

— Você não acha que está sendo um pouco superprotetor demais?

— Sim. Tenho plena consciência da impressão que isso passa.

— Chamando Dr. Flynn — murmuro.

Ele baixa a tigela vazia e me olha, impassível. Suspiro. Não quero brigar. Levanto-me e pego sua tigela.

— Quer sobremesa?

— Agora você está falando a minha língua! — diz, lançando-me um sorriso lascivo.

— Não é isso. — Por que não? Minha deusa interior desperta de seu cochilo e se senta, prestando atenção. — Tem sorvete. De baunilha.

— Sério? — O sorriso de Christian aumenta. — Acho que nós poderíamos fazer algo com ele.

O quê? Eu o encaro surpresa enquanto ele se põe de pé graciosamente.

— Posso ficar aqui? — pergunta ele.

— Como assim?

— Esta noite.

— Presumi que você fosse ficar.

— Ótimo. Cadê o sorvete?

— No forno. — Lanço um sorriso doce para Christian.

Ele inclina a cabeça para o lado, suspira e balança a cabeça para mim.

— O sarcasmo é a forma mais baixa de humor, Srta. Steele. — Seus olhos brilham.

Ah, merda. O que ele está planejando?

— Ainda posso colocar você de bruços no meu colo e lhe dar umas palmadas.

Largo as tigelas na pia.

— Você está com aquelas bolas prateadas?

Ele leva as mãos até o peito, depois desce até a barriga e por último bate nos bolsos da calça jeans.

— Curiosamente, não costumo carregar um kit extra comigo. Não tem muita serventia no escritório.

— Fico feliz em ouvir isso, Sr. Grey, e pensei que você tinha dito que sarcasmo era a forma mais baixa de humor.

— Bem, Anastasia, meu novo lema é: se não pode vencê-los, junte-se a eles.

Fico boquiaberta. Não posso acreditar que ele acabou de dizer isso. Ele me olha incrivelmente satisfeito consigo mesmo e sorri. E então se vira, abre o freezer e pega um pote de sorvete de baunilha Ben & Jerry’s.

— Isso aqui vai cair muito bem. — Ele olha para mim, os olhos escuros. — Ben & Jerry’s e Ana. — Ele diz as palavras bem devagar, pronunciando cada sílaba com bastante clareza.

Ah, meu Deus. Acho que o meu queixo chega a encostar no chão. Ele abre a gaveta e pega uma colher. Quando ergue o olhar para mim, seus olhos estão encobertos, e sua língua desliza sobre os dentes superiores. Ah, essa língua.

Fico sem fôlego. Pelas minhas veias corre um desejo quente, escuro, insinuante e cruel. Nós vamos nos divertir... com comida.

— Espero que você esteja com calor — sussurra ele. — Porque vou refrescar você com isto aqui. Venha. — Ele estende a mão, e eu lhe entrego a minha.

No quarto, ele coloca o sorvete em cima da mesa de cabeceira, tira o edredom e os travesseiros da cama, empilhando-os no chão.

— Você tem outro jogo de lençóis, não tem?

Concordo com a cabeça, olhando para ele, fascinada. Ele pega Charlie Tango.

— Não suje meu balão — advirto.

Seus lábios se movem num meio sorriso.

— Nem sonharia com isso, baby, mas quero lambuzar você nestes lençóis.

Praticamente tenho uma convulsão.

— Quero amarrar você.

Hum.

— Tudo bem — sussurro.

— Só as mãos. Na cama. Preciso de você bem paradinha.

— Tudo bem — sussurro de novo, incapaz de qualquer outra coisa.

Ele caminha até mim sem tirar os olhos dos meus.

— Vamos usar isto. — Ele segura a faixa do meu roupão e, com uma lentidão deliciosa e provocante, desfaz o laço e gentilmente puxa a faixa para si.

O roupão se abre, e permaneço paralisada sob seu olhar quente. Depois de um instante, ele desliza o roupão por sobre os meus ombros, fazendo com que caia junto aos meus pés, de modo que fico nua, diante dele. Christian acaricia meu rosto com as costas da mão, e seu toque ressoa nas profundezas de minha virilha. Ele se curva e beija meus lábios brevemente.

— Deite-se na cama de barriga para cima — murmura, os olhos escurecendo, queimando nos meus.

Faço o que ele manda. O quarto está escuro, exceto pela luz suave e insípida do abajur. Normalmente, odeio essas lâmpadas econômicas, elas são tão fracas. Mas, nua diante de Christian, fico feliz com a iluminação turva. Ele fica de pé, junto à cama, olhando para mim.

— Eu poderia ficar aqui olhando para você o dia inteiro, Anastasia — diz ele, e então sobe na cama, passa uma das pernas sobre meu corpo e se senta em cima de mim. — Braços acima da cabeça — ordena.

Obedeço, e ele amarra a ponta da faixa em meu pulso esquerdo e passa a outra extremidade pelas barras de metal na cabeceira da cama. Puxa bem apertado, de forma que meu braço esquerdo fica flexionado acima de mim. Em seguida, amarra a extremidade da faixa com força em minha mão direita.

Uma vez que estou amarrada, olhando-o, ele relaxa visivelmente. Christian gosta de me ver assim, presa. Desse jeito, não posso tocá-lo. E me dou conta de que nenhuma de suas submissas jamais deve tê-lo tocado — e mais, elas sequer tiveram a oportunidade. Ele as mantinha sempre sob controle e a distância. É por isso que gosta das regras.

Ele sai de cima de mim e se inclina para me dar um beijinho rápido nos lábios. Então, fica de pé e tira a camisa. Desabotoa a calça e a deixa cair no chão.

Está gloriosamente nu. Minha deusa interior dá um salto triplo nas barras assimétricas, e, de repente, minha boca fica seca. Ele tem um físico delineado em traços clássicos: ombros largos e musculosos, quadris estreitos. O triângulo invertido perfeito. Obviamente, ele malha. Eu poderia olhar para ele o dia inteiro. Caminha até o pé da cama e agarra meus tornozelos, puxando-me bruscamente para baixo, até que meus braços ficam esticados, e eu, imobilizada.

— Assim é melhor — balbucia.

Com o pote de sorvete na mão, ele sobe devagar na cama, passando de novo a perna por cima de mim. Muito lentamente, abre a tampa do pote e mergulha a colher.

— Hum... ainda está bem duro — diz, com a sobrancelha erguida. Ele tira uma colher cheia e a leva até a boca. — Delicioso — murmura, lambendo os lábios. — É incrível como um bom e velho sorvete de baunilha pode ser tão bom. — Abaixa a cabeça, olhando para mim. — Quer um pouco? — brinca.

Christian está tão gostoso, jovem e despreocupado, sentado em cima de mim, comendo sorvete do pote, os olhos alegres, o rosto radiante. Ah, que diabo vai fazer comigo? Como se eu não soubesse. Tímida, faço que sim com a cabeça.

Ele enfia a colher no pote de novo e me oferece, então abro a boca, mas ele a leva depressa de volta para a própria boca.

— Está bom demais para dividir — diz, sorrindo maliciosamente.

— Ei — reclamo.

— O que foi, Srta. Steele, gosta de sorvete de baunilha?

— Gosto — digo de um jeito mais sério do que gostaria e tento, em vão, lutar com o peso dele.

— Ficando agitada, é? — Ele ri. — Eu não faria isso se fosse você.

— Sorvete — imploro.

— Bem, como você me deu tanto prazer hoje, Srta. Steele. — Christian cede e me oferece outra colherada. Desta vez, ele me deixa comer o sorvete.

Quero rir. Ele está realmente se divertindo, e seu bom humor é contagiante. Tira outra colherada e me dá um pouco mais, e de novo. Ok, já chega.

— Hum, essa é uma boa maneira de fazer você comer: à força. Eu poderia me acostumar com isso.

Ele pega outra colherada e a leva até a minha boca. Desta vez, eu a mantenho fechada e nego com a cabeça, então ele deixa o sorvete derreter lentamente na colher até pingar em meu pescoço e em meu peito. Ele se inclina e, bem devagar, lambe o sorvete derretido. Meu corpo se acende de desejo.

— Hum. Fica ainda mais gostoso em você, Srta. Steele.

Puxo os braços, e a cama range ameaçadoramente, mas eu nem ligo, estou ardendo de desejo, isso está me consumindo. Ele dá outra colherada e deixa o sorvete pingar em meus seios. Então, com as costas da colher, espalha-o sobre os mamilos.

Ai... é gelado. Meus mamilos se enrijecem sob o sorvete.

— Está com frio? — pergunta Christian baixinho e se inclina para mais uma vez lamber e chupar todo o sorvete de mim; sua boca está quente, comparada ao frio do sorvete.

Isso é tortura. À medida que começa a derreter, o sorvete escorre do meu corpo para a cama, formando rios. Seus lábios continuam a tortura lenta, chupando com força, suavemente sondando o meu corpo. Ah, por favor! Estou ofegante.

— Quer um pouco?

Antes que eu possa confirmar ou negar, sua língua está em minha boca, fria e habilidosa, com gosto de Christian e de baunilha. É delicioso.

Exatamente quando estou começando a me acostumar com a sensação, ele se senta de novo e deixa um rastro de sorvete ao longo do meu corpo, cruzando a barriga até o umbigo, onde deposita uma grande bola. Ai, está mais gelado do que antes, mas estranhamente o sorvete me queima.

— Bem, você já fez isso antes. — Os olhos de Christian brilham. — Vai ter que ficar bem paradinha, ou vai espalhar sorvete pela cama toda. — E ele beija cada um dos meus seios e chupa os meus mamilos com força, e então segue o rastro pelo meu corpo, chupando e lambendo ao descer.

Eu tento, tento muito ficar parada, apesar da combinação inebriante do frio com o seu toque quente. Mas meus quadris começam a se movimentar involuntariamente, movendo-se no seu próprio ritmo, dominados pelo feitiço gelado. Ele desce um pouco mais e começa a comer o sorvete em minha barriga, rodopiando a língua dentro e em torno de meu umbigo.

Solto um gemido. Puta merda. É frio, é quente, é enlouquecedor, mas ele não para. Arrasta o sorvete mais para baixo em meu corpo, até meus pelos pubianos, meu clitóris. E eu grito, bem alto.

— Silêncio — diz Christian suavemente e sua língua sedutora começa a trabalhar, lambendo o sorvete; agora estou gemendo baixinho.

— Ah... por favor... Christian.

— Eu sei, baby, eu sei — sussurra ele enquanto sua língua faz a mágica.

Ele não para, não para, e meu corpo está subindo, mais e mais alto. Ele enfia um dedo dentro de mim, depois outro, e os mexe com uma lentidão agonizante, para dentro e para fora.

— Bem aqui — murmura ele e acaricia ritmicamente a parede da frente de minha vagina, continuando o delicioso e implacável ato de lamber e chupar.

Explodo de repente num orgasmo alucinante que atordoa todos os meus sentidos, eclipsando tudo o que está acontecendo fora de meu corpo, enquanto eu me contorço e grito. Minha mãe do céu, esse foi rápido.

Percebo vagamente que ele interrompe suas investidas. Está sobre mim, colocando uma camisinha, e, então, me penetra, duro e rápido.

— Ah, sim! — geme ao meter em mim.

Está grudento; o resto de sorvete derretido se espalhando entre nós. É uma distração estranha, mas não me demoro muito pensando nela, já que Christian de repente sai de mim e me vira de costas.

— Assim — murmura ele e, de repente, está dentro de mim de novo.

Mas não inicia de cara seu ritmo costumeiro. Ele se inclina, solta as minhas mãos, e me puxa para junto de si de forma que fico praticamente sentada sobre seu corpo. Suas mãos se deslocam até meus seios, e ele os segura, puxando delicadamente os mamilos. Solto um gemido e jogo a cabeça para trás, apoiando-a em seu ombro. Ele enfia o rosto em meu pescoço, mordendo-me ao flexionar os quadris, deliciosamente devagar, preenchendo-me de novo e de novo.

— Você sabe o quanto significa para mim? — sussurra em meu ouvido.

— Não.

Ele sorri na minha nuca, os dedos se enroscando ao redor do meu queixo e do pescoço, apertando-me por um momento.

— Ah, sabe sim. Não vou deixar você ir embora.

Solto um gemido, e ele acelera.

— Você é minha, Anastasia.

— Sim, sua — sussurro.

— E eu cuido do que é meu — murmura ele e morde a minha orelha.

Eu grito.

— Isso, quero ouvir.

Ele passa uma das mãos ao redor de minha cintura e com a outra segura meu quadril, enfiando com cada vez mais força dentro de mim, fazendo-me gritar de novo. E o ritmo cadenciado começa. Sua respiração se acelera, ofegante, sintonizando-se com a minha. Eu sinto o formigamento familiar dentro de mim. De novo!

Sou apenas sensação. Isto é o que ele faz comigo: pega o meu corpo e me possui por inteira para que eu não pense em nada além dele. Sua magia é poderosa, inebriante. Eu sou uma borboleta presa em sua rede, incapaz de escapar, sem vontade escapar. Sou dele... totalmente dele.

— Goze para mim, baby — rosna ele com os dentes cerrados, e no mesmo instante, como aprendiz de feiticeiro que sou, deixo-me levar, e nós gozamos juntos.

* * *

ESTOU DEITADA, ENROLADA em seus braços em meio a lençóis pegajosos. Sua testa está pressionando minhas costas, o nariz enfiado em meu cabelo.

— O que eu sinto por você me assusta — sussurro.

Ele fica quieto.

— Também me assusta, baby — diz baixinho.

— E se você me deixar? — O pensamento é horrível.

— Eu não vou a lugar algum. Acho que nunca vou me cansar de você, Anastasia.

Viro-me e olho para ele. Sua expressão é séria, sincera. Eu me inclino e o beijo com ternura. Ele sorri e ajeita meu cabelo por trás da minha orelha.

— Eu nunca tinha me sentido do jeito que me senti quando você foi embora, Anastasia. Eu moveria o céu e a terra para evitar ter aquela sensação de novo. — Ele soa tão triste, atordoado até.

Eu o beijo mais uma vez. Quero amenizar nosso estado de espírito de alguma forma, mas Christian faz isso por mim.

— Você pode ir comigo à festa de verão do meu pai, amanhã? É um evento de caridade que acontece todo ano. Eu disse que iria.

Sorrio, sentindo-me tímida de repente.

— Claro. — Ah, merda. Não tenho nada para vestir.

— O quê foi?

— Nada.

— Fale — insiste ele.

— Não tenho roupa.

Christian parece desconfortável por um instante.

— Não fique brava, mas ainda estou com todas aquelas roupas lá em casa para você. Tenho certeza de que há pelo menos uns dois vestidos lá.

Pressiono os lábios.

— Ah, é mesmo? — murmuro, a voz sarcástica. Não quero brigar com ele hoje. Preciso de um banho.

* * *

A GAROTA QUE se parece comigo está do lado de fora da SIP. Espere aí, ela sou eu. Estou pálida e suja, e todas as minhas roupas estão muito largas; eu a encaro, e ela está usando a minha roupa, feliz e saudável.

— O que você tem que eu não tenho? — pergunto a ela.

— Quem é você?

— Não sou ninguém... Quem é você? Ninguém também...?

— Então somos duas. Não conte para ninguém, eles nos expulsariam... — Ela sorri devagar, um esgar maligno que se espalha por todo o seu rosto, e é tão frio que começo a gritar.

* * *

— MEU DEUS, ANA! — Christian me sacode para me acordar.

Estou desorientada. Estou em casa... no escuro... na cama, com Christian. Balanço a cabeça, tentando clarear as ideias.

— Ana, você está bem? Você estava tendo um pesadelo.

— Ah.

Ele acende o abajur, e somos banhados por sua luz tépida. Ele me olha, o rosto marcado de preocupação.

— A garota — sussurro.

— O que houve? Que garota? — pergunta ele com calma.

— Tinha uma garota do lado de fora da SIP quando saí do trabalho hoje. Ela se parecia comigo... mas não exatamente.

Christian não se move, e à medida que a luz do abajur aquece, vejo que seu rosto está pálido.

— Quando foi isso? — pergunta ele, consternado. Ele se senta e continua olhando para mim.

— Hoje à tarde, quando saí do trabalho. Você sabe quem ela é?

— Sei. — Ele passa a mão pelo cabelo.

— Quem é?

Christian aperta os lábios e não responde.

— Quem é? — insisto.

— Leila.

Engulo em seco. A ex-submissa! Lembro-me de Christian falando sobre ela antes de voarmos no planador. De repente, ele está irradiando tensão. Tem algo errado.

— Aquela que colocou a música “Toxic” no seu iPod?

Ele olha para mim, ansioso.

— É — responde. — Ela disse alguma coisa?

— Ela falou: “O que você tem que eu não tenho?” E quando eu perguntei quem ela era, ela respondeu: “Ninguém.”

Christian fecha os olhos como se sentisse dor. O que aconteceu? O que ela significa para ele?

Meu couro cabeludo se arrepia e pontadas de adrenalina atravessam meu corpo. E se ela for importante para ele? Talvez ele sinta falta dela? Eu sei tão pouco sobre seus... hum, antigos relacionamentos. Ela deve ter assinado um contrato, e deve ter feito tudo o que ele queria, deve ter saciado as necessidades dele com prazer.

Ah, não, exatamente quando eu não sou capaz de fazer o mesmo. O pensamento me dá náuseas.

Pulando para fora da cama, Christian veste a calça jeans e segue até a sala. Pelo meu relógio são cinco da manhã. Eu me levanto, visto sua camisa branca e vou atrás dele.

Puta merda, ele está ao telefone.

— Isso, na frente da SIP, ontem... no fim da tarde — diz calmamente. Ele se vira para mim enquanto caminho na direção da cozinha e me pergunta: — Que horas, exatamente?

— Tipo dez para as seis — resmungo.

Com quem ele está falando a esta hora? O que será que Leila fez? Ele repassa a informação para a pessoa do outro lado da linha, quem quer que seja, sem tirar os olhos de mim, uma expressão séria e sombria no rosto.

— Descubra como... Isso... Eu diria que não, mas eu não imaginava que ela seria capaz disso. — Ele fecha os olhos com uma expressão de desgosto. — Eu não sei como isso vai acabar... Certo, eu falo com ela... Certo... Eu sei... Descubra e me avise. Descubra onde ela está, Welch... Ela está em apuros. Descubra onde ela está. — E desliga.

— Você quer um chá? — pergunto.

Chá, a resposta de Ray para qualquer crise e a única coisa que ele sabe fazer direito na cozinha. Encho a chaleira de água.

— Na verdade, eu queria voltar para a cama. — Seu olhar me diz que não é para dormir.

— Bem, eu preciso de um pouco de chá. Vai querer também?

Quero saber o que está acontecendo. E não vou me deixar ser distraída por sexo.

Ele passa a mão pelo cabelo, exasperado.

— Sim, por favor — responde, mas percebo que está irritado.

Coloco a chaleira no fogo e me ocupo pegando as xícaras e um bule. Meu nível de ansiedade disparou para o alerta máximo. Será que ele vai me contar qual é o problema? Ou vou ter que insistir?

Sinto seus olhos em mim. Sua insegurança e sua raiva são palpáveis. Ergo o olhar, e seus olhos estão brilhando com apreensão.

— O que houve? — pergunto com calma.

Ele balança a cabeça.

— Você não vai me dizer?

Ele suspira e fecha os olhos.

— Não.

— Por quê?

— Porque não tem nada a ver com você. Não quero que você se envolva nisso.

— Tem a ver comigo, sim. Ela me encontrou e me abordou na porta do meu trabalho. Como ela sabe a meu respeito? Como ela sabe onde eu trabalho? Acho que tenho o direito de ser informada sobre o que está acontecendo.

Ele passa a mão pelo cabelo novamente, irradiando frustração como se travasse alguma batalha interna.

— Por favor — peço delicadamente.

Ele contrai os lábios e revira os olhos para mim.

— Está bem — diz, resignado. — Não tenho ideia de como ela encontrou você. Talvez a nossa fotografia em Portland, não sei. — Ele suspira de novo, e eu percebo que sua frustração é dirigida a ele mesmo.

Espero com paciência, despejando a água fervente no bule enquanto ele caminha de um lado para o outro. Após um curto intervalo, ele continua.

— Quando eu estava na Geórgia com você, Leila apareceu do nada no meu apartamento e fez uma cena na frente de Gail.

— Gail?

— A Sra. Jones.

— Como assim, “fez uma cena”?

Ele me encara, avaliando-me.

— Conte. Você está escondendo alguma coisa. — Minha entonação é mais enérgica do que eu pretendia.

Ele pisca para mim, surpreso.

— Ana, eu... — E para.

— Por favor?

Ele suspira, derrotado.

— Ela fez uma tentativa desastrada de cortar uma veia.

— Ai, não! — Isso explica o curativo no pulso.

— Gail a levou para o hospital. Mas Leila fugiu antes que eu pudesse chegar lá.

Droga. O que isso significa? Suicida? Por quê?

— O psiquiatra que a atendeu disse que é uma forma típica de chamar a atenção. Ele não acha que ela estivesse realmente correndo perigo. Ela estava a um passo da idealização suicida, como ele mesmo disse. Mas não estou convencido. Venho tentando localizá-la desde então, para ver se posso ajudar.

— Ela disse alguma coisa à Sra. Jones?

Ele me olha, e parece muito desconfortável.

— Nada demais — responde, afinal, mas sei que não está me contando tudo.

Eu me distraio servindo o chá em nossas xícaras. Então Leila quer entrar de novo na vida de Christian e decidiu tentar o suicídio para atrair sua atenção? Uau... assustador. Mas eficaz. Christian voltou da Geórgia para vê-la, mas ela desapareceu antes que ele chegasse? Que estranho.

— Mas você não consegue encontrá-la? E a família dela?

— Não sabem onde ela está. Nem o marido sabe.

— Marido?

— É — diz ele, distraído —, ela está casada há uns dois anos.

O quê?

— Ela já era casada enquanto estava com você? — Puta merda. Ele realmente não conhece limites.

— Não! Meu Deus, claro que não. Ela esteve comigo há quase três anos. Ela me deixou e se casou com esse cara pouco depois.

Ah.

— Então, por que ela está tentando chamar sua atenção agora?

Ele balança a cabeça, entristecido.

— Não sei. Tudo o que conseguimos descobrir é que ela largou o marido há uns quatro meses.

— Deixe-me ver se entendi. Já faz três anos que ela não é mais sua submissa?

— Dois anos e meio, mais ou menos.

— E ela queria mais.

— Isso.

— Mas você não?

— Você já sabe disso.

— E aí ela deixou você.

— Isso.

— Então, por que ela está correndo atrás de você agora?

— Eu não sei. — E o tom de sua voz me diz que ele tem ao menos uma teoria.

— Mas você suspeita...

Ele aperta os olhos, visivelmente irritado.

— Eu suspeito que tenha alguma coisa a ver com você.

Comigo? O que ela quer comigo? “O que você tem que eu não tenho?”

Eu encaro Christian, maravilhosamente nu da cintura para cima. Eu o tenho; ele é meu. É isso que eu tenho, e ainda assim ela se parecia tanto comigo: o mesmo cabelo escuro e a mesma pele pálida. Franzo a testa diante desse pensamento. Pois é... o que eu tenho que ela não tem?

— Por que você não me contou ontem? — pergunta ele em voz baixa.

— Esqueci. — Dou de ombros, num pedido de desculpas. — Você sabe como é, sair para beber depois do trabalho, ao fim da minha primeira semana. Você ter aparecido no bar e a sua... competição de testosterona com Jack, e depois, a gente veio para cá. Esqueci totalmente. Você tem o hábito de me fazer esquecer as coisas.

— Competição de testosterona? — Ele contrai os lábios.

— É. O concurso de mijo.

— Eu vou lhe mostrar o que é uma competição de testosterona.

— Não prefere uma xícara de chá?

— Não, Anastasia, não prefiro. — Seus olhos me queimam por dentro, com aquela expressão de “eu quero você e quero agora”. Merda... é tão excitante. — Esqueça ela. Venha. — Ele estende a mão para mim.

Minha deusa interior dá três saltos mortais para trás quando seguro a mão dele.

* * *

ACORDO, ESTÁ MUITO quente, e estou enrolada em um Christian Grey nu. Apesar de estar dormindo, ele me segura perto de si. A luz suave da manhã ilumina o quarto através das cortinas. Minha cabeça está em seu peito, minha perna, enroscada na dele, e o meu braço, em sua barriga.

Ergo a cabeça um pouco, com medo de acordá-lo. Ele parece tão jovem, tão relaxado em seu sono, e é meu.

Hum... Estico o braço e, com cuidado, acaricio o peito dele, correndo os dedos por seus pelos, e ele não se mexe. Mal posso acreditar. Ele é mesmo meu — por mais alguns instantes muito preciosos ele é meu. Eu me inclino e carinhosamente beijo uma de suas cicatrizes. Ele geme baixinho, mas não acorda, e eu sorrio. Beijo outra, e seus olhos se abrem.

— Oi. — Sorrio para ele, com um olhar culpado.

— Oi — responde ele com cautela. — O que está fazendo?

— Olhando para você. — Corro meus dedos por seu caminho da felicidade. Ele segura a minha mão, estreita os olhos, e então abre um lindo sorriso de “Christian à vontade”, e eu relaxo. Meu toque secreto permanece em segredo.

Ah... por que ele não me deixa tocá-lo?

De repente, está em cima de mim, pressionando-me contra o colchão, as mãos nas minhas, numa espécie de alerta. Encosta o nariz no meu.

— Acho que você estava aprontando, Srta. Steele — acusa ele, mas mantém o sorriso.

— Gosto de aprontar quando estou com você.

— Ah, é? — Ele me beija de leve nos lábios. — Sexo ou café da manhã? — pergunta, os olhos sombrios, mas bem-humorados.

Sinto sua ereção e inclino a pélvis para encontrá-la.

— Boa escolha — murmura ele contra o meu pescoço, deixando uma trilha de beijos na direção dos meus seios.

* * *

ESTOU DIANTE DA minha cômoda, olhando-me no espelho e tentando convencer meu cabelo a ter alguma coisa que se pareça com estilo. Na verdade, está comprido demais. Estou de calça jeans e camiseta, e Christian, recém-saído do banho, está se vestindo atrás de mim. Olho, faminta, para o corpo dele.

— Quantas vezes por semana você malha? — pergunto.

— Todo dia útil — diz ele, fechando o botão da calça.

— O que você faz?

— Corro, levanto peso e faço kickboxing. — Ele dá de ombros.

— Kickboxing?

— É, tenho um personal trainer, um ex-atleta olímpico que me dá aula. O nome dele é Claude. É muito bom. Você iria gostar dele.

Eu me viro para olhá-lo enquanto ele começa a abotoar a camisa branca.

— Como assim, eu iria gostar dele?

— Você iria gostar da aula dele.

— Para que um personal trainer, se eu tenho você para me manter em forma?

Ele caminha pelo quarto e me envolve em seus braços, os olhos escuros encontrando os meus no espelho.

— Mas eu preciso de você em forma, baby, para fazer as coisas que tenho em mente. Vou precisar que você acompanhe o meu ritmo.

Fico vermelha, as memórias do quarto de jogos tomam conta de minha mente. Sim... o Quarto Vermelho da Dor é extenuante. Será que ele vai me deixar entrar lá de novo? Será que quero entrar lá de novo?

Claro que sim! Minha deusa interior grita.

Encaro seus olhos cinzentos insondáveis e hipnotizantes.

— Você sabe que quer — ele faz com os lábios para mim.

Fico ainda mais vermelha, e o detestável pensamento de que Leila provavelmente era capaz de acompanhar o ritmo dele invade minha mente sem ser convidado. Pressiono os lábios e Christian faz uma cara feia para mim.

— O que foi? — pergunta, preocupado.

— Nada. — Balanço a cabeça. — Tudo bem, quero conhecer o Claude.

— Quer? — O rosto de Christian se ilumina, pego de surpresa. Sua expressão me faz sorrir. Parece que ele acabou de ganhar na loteria, embora o mais provável é que nunca tenha comprado um bilhete... ele não precisa.

— É. Se isso faz você tão feliz — zombo.

Ele aperta os braços em volta de mim e beija minha bochecha.

— Você não tem ideia — sussurra. — E então, o que gostaria de fazer hoje? — Ele roça o rosto contra o meu pescoço, enviando arrepios deliciosos através de meu corpo.

— Eu queria cortar o cabelo, e hum... Preciso descontar um cheque e comprar um carro.

— Ah — diz ele com um ar cúmplice, mordendo o lábio.

Ele solta uma das mãos de mim, enfia-a no bolso e puxa a chave do meu pequeno Audi.

— Aqui está — diz, calmamente, com uma expressão incerta.

— Como assim, aqui está? — Meu Deus. Pareço irritada. Droga. Estou irritada. Como ele se atreve!

— Taylor trouxe de volta ontem.

Abro a boca e fecho de novo, e repito o processo umas duas vezes, mas estou sem palavras. Ele está me devolvendo o carro. Puta merda. Como não previ isso? Bem, também posso jogar esse jogo. Enfio a mão no bolso da minha calça jeans e puxo o envelope com o cheque.

— Aqui, isto é seu.

Christian me olha intrigado, e então reconhece o envelope, ergue as mãos e se afasta de mim.

— Ah, não. Esse dinheiro é seu.

— Não, não é. Eu gostaria de comprar o carro de você.

Sua expressão muda completamente. Fúria, sim, a fúria invade seu rosto.

— Não, Anastasia. Seu dinheiro, seu carro — rebate ele.

— Não, Christian. Meu dinheiro, seu carro. Eu compro de você.

— Eu lhe dei o carro de presente de formatura.

— Se você tivesse me dado uma caneta... teria sido um presente de formatura adequado. Mas você me deu um Audi.

— Você realmente quer discutir isso?

— Não.

— Ótimo, aqui estão as chaves. — Ele as coloca sobre a cômoda.

— Não foi isso o que eu quis dizer!

— Fim de papo, Anastasia. Não me provoque.

Faço uma cara feia para ele, e então tenho uma ideia. Segurando o envelope, eu o rasgo em dois, depois em dois de novo e jogo os pedaços na lixeira. Ah, que sensação boa.

Christian me olha, impassível, mas sei que acabei de cutucar a fera e devo manter a distância. Ele acaricia o queixo.

— Como sempre, Srta. Steele, você é muito desafiadora — diz secamente.

Ele se vira e segue para a sala. Não é a reação que eu esperava. Eu estava prevendo um Armagedom em todas as suas proporções. Dou uma olhada no espelho e encolho os ombros, decidindo-me por um rabo de cavalo.

Minha curiosidade é aguçada. O que meu Cinquenta Tons está fazendo? Eu o sigo até a sala, e ele está ao telefone.

— Sim, vinte e quatro mil dólares. Diretamente.

Ele me olha, ainda impassível.

— Ótimo... Segunda-feira? Excelente... Não, é só isso, Andrea. — E desliga. — Vai entrar na sua conta na segunda-feira. Não brinque assim comigo. — Ele está fervendo de raiva, mas eu não ligo.

— Vinte e quatro mil dólares! — estou quase gritando. — E como você sabe o número da minha conta? — Minha ira pega Christian de surpresa.

— Eu sei tudo a seu respeito, Anastasia — diz calmamente.

— Meu carro não valia vinte e quatro mil dólares de jeito nenhum.

— Concordo com você, mas o negócio é conhecer o mercado, não importa se você está comprando ou vendendo. Tinha um maluco que queria aquela banheira e estava disposto a pagar esse dinheiro todo. Aparentemente, é um clássico. Pergunte a Taylor, se não acredita em mim.

Eu o encaro e ele me encara de volta, dois bobos furiosos e teimosos olhando um para o outro.

Até que eu sinto: a energia entre nós, tangível, atraindo-nos um para o outro. De repente, ele me agarra e me empurra contra a porta, a boca na minha, reivindicando-me avidamente, uma mão na minha bunda, apertando-me contra a sua virilha, e a outra na nuca, puxando minha cabeça para trás. Meus dedos estão em seu cabelo, puxando com força, segurando-o junto a mim. Ele roça o corpo contra o meu, aprisionando-me, a respiração ofegante. Eu o sinto. Ele me quer, e eu fico excitada e inebriada ao me dar conta da necessidade que ele tem de mim.

— Por que, por que você tem que me desafiar? — balbucia ele entre seus beijos quentes.

O sangue esquenta em minhas veias. Será que ele sempre vai ter esse efeito sobre mim? E eu sobre ele?

— Porque eu posso. — Estou ofegante. E sinto seu sorriso em meu pescoço mais do que o vejo. Ele pressiona a testa contra a minha.

— Deus do céu, eu quero muito comer você agora, mas as camisinhas acabaram. Eu nunca consigo me saciar de você. Você é enlouquecedora, enlouquecedora.

— E você me deixa maluca — sussurro. — Em todos os sentidos.

Ele balança a cabeça.

— Venha. Vamos tomar café da manhã na rua. Conheço um lugar onde você pode cortar o cabelo.

— Está bem. — Aceito, e assim a nossa briga acaba.

* * *

— EU PAGO. — Pego a conta do café da manhã antes dele.

Ele franze a testa.

— Você precisa ser rápido comigo, Grey.

— Você tem razão, preciso mesmo — diz amargamente, embora eu ache que seja só provocação.

— Não fique com essa cara. Estou vinte e quatro mil dólares mais rica do que quando acordei. Posso pagar — dou uma conferida na conta — vinte e dois dólares e sessenta e sete centavos de café da manhã.

— Obrigado — responde ele a contragosto. Ah, a criança mal-humorada está de volta.

— E agora, para onde vamos?

— Você quer mesmo cortar o cabelo?

— Quero, olhe só como ele está.

— Para mim, você está linda. Sempre.

Eu fico vermelha e encaro meus dedos entrelaçados no colo.

— E ainda tem essa festa do seu pai hoje à noite.

— Lembre-se, é black-tie.

— Onde é?

— Na casa dos meus pais. Eles têm uma tenda no jardim. Você sabe...

— Qual é a caridade?

Christian esfrega as mãos nas coxas, parecendo desconfortável.

— É um programa de reabilitação de drogas para pais com filhos pequenos, chama-se Superando Juntos.

— Parece uma boa causa — digo baixinho.

— Venha, vamos embora. — Deliberadamente interrompendo o assunto, ele fica de pé e me estende a mão. Quando a seguro, ele a aperta com força.

É estranho. Christian pode ser tão caloroso às vezes e, ainda assim, tão fechado em determinados aspectos. Ele me conduz para fora do restaurante, e caminhamos pela rua. A manhã está linda, um clima ameno. O sol está brilhando, e o ar cheira a café e a pão fresquinho.

— Aonde vamos?

— Surpresa.

Certo. Não gosto muito de surpresas.

Andamos dois quarteirões, e as lojas vão se tornando decididamente mais caras. Ainda não tive a oportunidade de explorar a região, mas isto aqui fica literalmente na esquina de onde moro. Kate vai gostar de saber. Tem várias lojinhas de roupa para alimentar sua fome de moda. Aliás, preciso comprar umas saias soltinhas para trabalhar.

Christian para diante de um grande e elegante salão de beleza e abre a porta para mim. Chama-se Esclava. O interior é todo branco e de couro. Atrás do balcão branco da recepção está sentada uma jovem loura em um uniforme branco impecável. Ela ergue os olhos quando entramos.

— Bom dia, Sr. Grey — diz, animada, as bochechas coradas enquanto pisca os cílios para ele. É o efeito Grey, só que ela o conhece! Como pode?

— Oi, Greta.

E ele também a conhece. O que é isso?

— O de sempre, senhor? — pergunta ela educadamente. Está usando um batom muito cor-de-rosa.

— Não — diz ele rapidamente, com um olhar nervoso para mim.

O de sempre? O que significa isso?

Puta merda! É a regra número 6, a merda do salão de beleza. Toda aquela loucura de depilação... droga!

Era para cá que ele trazia suas submissas? Quem sabe ele trouxe Leila aqui também? O que estou fazendo aqui?

— A Srta. Steele vai dizer o que quer.

Eu o encaro. Ele está introduzindo suas regras de forma dissimulada. Eu já concordei com o personal trainer, e agora isso?

— Por que aqui? — sussurro para ele.

— Sou dono deste lugar, e de mais três iguais a este.

— Você é dono do salão? — pergunto, espantada. Bem, isso é inesperado.

— Sou. É uma atividade paralela. Enfim, você pode fazer o que quiser aqui, de graça. Todos os tipos de massagem: sueca, shiatsu, pedras quentes, reflexologia, banho de algas, limpeza de pele, todas essas coisas que as mulheres gostam... tudo. Eles fazem aqui. — Ele acena os longos dedos com certo desdém.

— Depilação?

Ele ri.

— Depilação também. Em todas as partes do corpo — sussurra ele, com um olhar conspiratório de quem está se divertindo à custa do meu desconforto.

Fico vermelha e me viro para Greta, que está me olhando em expectativa.

— Eu gostaria de cortar o cabelo, por favor.

— Claro, Srta. Steele.

Ao checar os horários no computador, Greta é inteiramente batom rosa e eficiência germânica.

— Franco vai estar livre daqui a cinco minutos.

— Franco é ótimo — diz Christian, tranquilizando-me.

Ainda estou tentando digerir a situação. Christian Grey, CEO, é dono de uma cadeia de salões de beleza.

Dou uma olhada para ele, e, de repente, está pálido. Acabou de ver alguma coisa, ou alguém. Viro-me para ver o que é, e, no fundo do salão, à direita, surge uma loura platinada, fechando a porta atrás de si e falando com um dos cabeleireiros.

Loura Platinada é alta, bronzeada, encantadora, tem em torno dos trinta e muitos ou quarenta e poucos anos, é difícil dizer. E usa um uniforme igual ao de Greta, só que preto. Ela é deslumbrante. O cabelo, cortado num chanel curtinho, brilha incrivelmente. Ao se virar, ela nota a presença de Christian e sorri para ele, um sorriso estonteante e cálido de quem o reconheceu.

— Com licença — murmura Christian às pressas.

Ele atravessa o salão, passando pelos cabeleireiros, todos de branco, e pelas auxiliares junto às pias, até que se aproxima dela, longe demais para que eu possa ouvi-los. Loura Platinada o cumprimenta com dois beijinhos e um afeto óbvio, as mãos descansando em seus braços, e os dois conversam animadamente.

— Srta. Steele?

Greta, a recepcionista, tenta chamar minha atenção.

— Um momento, por favor. — Observo Christian, fascinada.

Loura Platinada se vira, olha para mim e me dirige o mesmo sorriso estonteante, como se me conhecesse. Sorrio de volta educadamente.

Christian parece chateado com alguma coisa. Ele está argumentando com ela, e ela concorda, erguendo as mãos e sorrindo para ele. Ele sorri de volta, é evidente que se conhecem bem. Será que trabalham juntos há muito tempo? Talvez ela seja a gerente do salão, afinal, ela parece ter certo ar de autoridade.

E então, eu me dou conta. Lá no fundo do meu ser, de uma forma visceral, eu sei quem ela é. É ela. Deslumbrante, mais velha, linda.

É Mrs. Robinson.

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