CAPÍTULO NOVE

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Não posso conter minha alegria. Meu inconsciente me encara em um silêncio atordoado, e meu rosto se abre em um sorriso de orelha a orelha enquanto observo, ansiosa, os olhos torturados de Christian.

Sua confissão doce e suave me toca em um nível profundo e elementar, como se ele estivesse buscando uma absolvição; suas duas palavrinhas são meu maná do céu. Lágrimas enchem meus olhos mais uma vez. Sim, ama. Eu sei que me ama.

É uma revelação libertadora, como se um peso enorme fosse tirado de mim. Esse homem lindo e fodido, a quem já considerei meu herói romântico — forte, solitário, misterioso: ele possui todas essas características —, também é frágil, estranho e cheio de desprezo por si mesmo. Meu coração se enche de alegria, mas também de dor por seu sofrimento. E sei neste momento que meu coração é grande o suficiente para nós dois. Espero que seja grande o suficiente para nós dois.

Eu me inclino para pegar seu querido e belo rosto entre as mãos e beijá-lo suavemente, derramando todo o amor que sinto nesse contato suave. Quero devorá-lo debaixo da ducha quente. Christian geme e me envolve em seus braços, segurando-me como se eu fosse o ar que ele precisa para respirar.

— Ah, Ana — sussurra, a voz rouca. — Quero você, mas não aqui.

— Sim — murmuro fervorosamente junto a sua boca.

Ele desliga o chuveiro e pega minha mão, levando-me para fora do box e me envolvendo no roupão. Christian enrola uma toalha na cintura, pega uma menor e começa a secar meu cabelo com delicadeza. Quando termina, envolve minha cabeça com a toalha de forma que, diante do grande espelho sobre a pia, pareço usar um véu. Ele está de pé atrás de mim, e nossos olhos se encontram no espelho, olhos cinzentos fumegantes mergulhando em olhos azuis reluzentes, e isso me dá uma ideia.

— Posso retribuir? — pergunto.

Ele faz que sim com a cabeça, mas franze a testa. Procuro outra toalha em meio à enorme quantidade de toalhas felpudas empilhadas ao lado da penteadeira e, diante dele, na ponta dos pés, começo a secar seu cabelo. Ele se inclina para a frente, facilitando o processo, e, a cada vislumbre de seu rosto que capturo por sob o tecido, percebo que está sorrindo feito um garotinho.

— Faz tempo que ninguém faz isso comigo. Muito tempo — murmura ele, mas, em seguida, franze a testa. — Na verdade, acho que ninguém nunca secou meu cabelo.

— Certamente Grace já deve ter feito isso, não? Secado seu cabelo quando você era pequeno?

Ele nega com a cabeça, atrapalhando meu trabalho.

— Não. Ela respeitou meus limites desde o primeiro dia, apesar de ter sido doloroso para ela. Fui uma criança muito autossuficiente — diz baixinho.

Sinto uma pontada nas costelas ao imaginar uma criança de cabelo cor de cobre cuidando de si mesma, porque ninguém mais se importa. O pensamento é tão triste que me faz ficar enjoada. Mas não quero que minha melancolia interrompa esse princípio de intimidade.

— Bem, eu me sinto honrada — brinco, com gentileza.

— Com certeza, Srta. Steele. Ou talvez seja eu quem se sinta honrado.

— Isso nem precisa ser dito, Sr. Grey — respondo, com mordacidade.

Termino de secar seu cabelo, pego outra toalha pequena e dou a volta, ficando de pé atrás dele. Nossos olhos se encontram de novo no espelho, e seu olhar vigilante e interrogativo me impele a falar.

— Posso tentar uma coisa?

Depois de um momento, ele faz que sim com a cabeça. Com cuidado e muito suavemente, corro o tecido macio ao longo de seu braço esquerdo, absorvendo a água sobre sua pele. Erguendo o olhar, verifico a expressão dele no espelho. Ele pisca para mim, os olhos queimando os meus.

Eu me aproximo e beijo seu bíceps, ele entreabre os lábios bem de leve. Seco o outro braço de modo semelhante, deixando beijos em torno do bíceps, e um pequeno sorriso se abre em seus lábios. Cuidadosamente, seco suas costas sob a tênue linha de batom ainda visível. Não cheguei a lavar as costas dele.

— Ao longo das costas — diz ele em voz baixa —, com a toalha.

Ele respira fundo e fecha os olhos com força enquanto eu o seco depressa, tomando cuidado para tocá-lo apenas com a toalha.

Ele tem as costas tão bonitas: ombros largos e esculturais, todos os pequenos músculos bem definidos. Realmente cuida do próprio corpo. A bela visão é prejudicada apenas por suas cicatrizes.

Com dificuldade, eu as ignoro e reprimo a vontade irresistível de beijar cada uma. Quando termino, ele solta o ar e eu me inclino para a frente e o recompenso com um beijo no ombro. Passando os braços ao redor dele, seco sua barriga. Nossos olhos se encontram mais uma vez no espelho, sua expressão divertida, mas também cautelosa.

— Segure isto. — Eu lhe passo uma toalha de rosto, e ele faz uma cara feia, confuso. — Lembra de quando estávamos na Geórgia? Você fez com que eu me tocasse usando suas mãos — acrescento.

Seu rosto escurece, mas ignoro a reação e coloco meus braços em torno dele. Olhando para nós dois no espelho — sua beleza, sua nudez, minha cabeça coberta —, parecemos quase personagens bíblicos, como numa pintura barroca do Antigo Testamento.

Procuro sua mão, que ele me entrega de bom grado, e a levo até seu peito, para secá-lo, esfregando a toalha devagar e de forma um tanto desajeitada ao longo de seu corpo. Uma vez, duas vezes, e de novo. Christian está completamente imobilizado, rígido com a tensão, exceto por seus olhos, que seguem minha mão segurando a dele.

Meu inconsciente olha com aprovação, sorrindo em vez de contrair a boca como de costume. E eu sou como uma mestra de marionetes. Sua ansiedade se esvai em ondas, mas ele mantém contato visual, embora seus olhos estejam mais escuros, mais mortais... refletindo seus segredos, talvez.

Será que quero mesmo me meter nisso? Confrontar seus demônios?

— Acho que você já está seco — sussurro, ao soltar a mão, olhando para as profundezas cinzentas dos olhos refletidos no espelho. A respiração dele está acelerada, seus lábios, entreabertos.

— Preciso de você, Anastasia — sussurra ele.

— Também preciso de você. — E, ao dizer essas palavras, percebo como são verdadeiras. Não consigo me imaginar sem Christian, nunca mais.

— Deixe-me amar você — diz ele, a voz rouca.

— Deixo — respondo, e, virando-se, ele me pega em seus braços, seus lábios buscando os meus, suplicando por mim, adorando-me, acalentando-me... e me amando.

* * *

ELE CORRE OS DEDOS de cima a baixo em minha coluna enquanto nos encaramos, deleitando-nos na felicidade e na plenitude pós-coito. Estamos deitados juntos, eu, de bruços, abraçando o travesseiro, ele, de lado, e me delicio com seu toque delicado. Sei que neste momento ele precisa me tocar. Sou um bálsamo para ele, uma fonte de conforto, e como eu poderia lhe negar isso? Sinto exatamente o mesmo por ele.

— Então, você é capaz de ser delicado — murmuro.

— Hum... é o que parece, Srta. Steele.

— Não foi bem assim na primeira vez em que... hum, fizemos isso. — Sorrio.

— Não? — Ele solta um risinho. — Quando roubei sua virtude.

— Não acho que você tenha roubado — resmungo, arrogante. Não sou uma donzela indefesa. — Acho que minha virtude foi oferecida muito livremente e de bom grado. Eu também queria você e, se me lembro bem, aproveitei bastante. — Sorrio timidamente para ele, mordendo o lábio.

— Eu também, se me lembro bem, Srta. Steele. Nosso objetivo é satisfazer — fala ele devagar, e seu rosto se suaviza, sério. — E isso significa que você é minha, completamente. — Todos os resquícios de humor desaparecem à medida que ele me olha.

— Sim, sou sua — respondo. — Eu queria perguntar uma coisa.

— Vá em frente.

— Seu pai biológico... você sabe quem ele era? — O pensamento vinha me incomodando.

Sua testa se enruga e, em seguida, ele balança a cabeça.

— Não tenho ideia. Não era o animal do cafetão, pelo menos.

— Como você sabe?

— Algo que meu pai... algo que Carrick me disse.

Olho para o meu Cinquenta Tons com ansiedade, aguardando.

— Tão sedenta por informação, Anastasia. — Ele suspira, balançando a cabeça. — O cafetão encontrou o corpo da prostituta drogada e avisou às autoridades. Mas levou quatro dias para fazer a descoberta. Fechou a porta quando saiu... e me deixou com ela... com o corpo. — Seus olhos ficam nublados com a lembrança.

Inspiro fundo. Pobre menininho, a história é terrível demais até para imaginar.

— A polícia o interrogou mais tarde. Ele negou incisivamente que eu tivesse qualquer coisa a ver com ele, e Carrick disse que ele não se parecia nada comigo.

— Você se lembra de como ele era?

— Anastasia, essa é uma parte da minha vida que não revisito com frequência. Sim, eu me lembro. Nunca vou esquecê-lo. — A expressão de Christian se fecha, o rosto tornando-se rígido e mais angular, os olhos encobertos pela ira. — Podemos falar de outra coisa?

— Desculpe. Não queria deixar você triste.

Ele balança a cabeça.

— Tudo isso é passado, Ana. Não é algo sobre o que quero pensar.

— E qual é a minha surpresa, então? — Preciso mudar de assunto antes que ele volte à antiga atitude. Sua expressão se ilumina imediatamente.

— Você topa sair para pegar um pouco de ar fresco? Quero mostrar uma coisa.

— Claro.

Fico espantada com a rapidez com que ele se altera, inconstante como sempre. Ele sorri para mim com seu sorriso infantil, despreocupado, de “tenho apenas vinte e sete anos”, e meu coração pula até a boca. Então, é alguma coisa importante para ele, dá para perceber. Ele me dá um tapa na bunda, brincalhão.

— Vá se vestir. Calça jeans está bom. Espero que Taylor tenha separado uma para você.

Ele se levanta e veste uma cueca. Ah... Eu poderia ficar aqui o dia todo, observando-o passear pelo quarto.

— Ande — repreende-me, mandão como sempre. Eu sorrio para ele.

— Só admirando a vista.

Ele revira os olhos para mim.

Enquanto nos vestimos, percebo que nos movemos com a sincronia de duas pessoas que se conhecem bem, um prestando atenção ao outro, trocando de vez em quando um sorriso tímido e um toque gentil. E me dou conta de que isso é tão novo para mim quanto é para ele.

— Seque o cabelo — ordena Christian, depois que nos vestimos.

— Autoritário como sempre. — Sorrio, e ele se inclina para beijar meu cabelo.

— Isso nunca vai mudar, baby. Não quero que você fique doente.

Reviro os olhos, e ele contorce a boca, divertindo-se.

— Você sabe que as palmas das minhas mãos ainda coçam, não sabe, Srta. Steele?

— Fico feliz em ouvir isso, Sr. Grey. Estava começando a achar que você estava perdendo o jeito.

— Eu posso facilmente demonstrar que esse não é o caso, se você assim o desejar.

Christian retira de sua bolsa um grande suéter creme de malha grossa e o coloca sobre os ombros. De calça jeans, camiseta branca e com o cabelo magistralmente desgrenhado, parece saído das páginas de uma revista de moda.

Ninguém deveria ser tão bonito. E não sei se é a distração momentânea de sua aparência perfeita ou se é porque sei que ele me ama, mas as ameaças dele já não me enchem de pavor. Esse é o meu Cinquenta Tons; é assim que ele é.

Ao pegar o secador de cabelo, uma sensação quase tangível de esperança floresce. Vamos encontrar um meio-termo. Só precisamos reconhecer as necessidades um do outro e equilibrá-las. Sou capaz disso, não sou?

Olho para mim mesma no espelho da penteadeira. Estou vestindo a camisa azul-clara que Taylor comprou e lembrou de colocar na mala para mim. Meu cabelo está uma bagunça, o rosto corado, os lábios inchados. Eu os toco, lembrando-me dos beijos escaldantes de Christian, e não consigo evitar um pequeno sorriso diante do espelho. Sim, amo, ele disse.

* * *

— PARA ONDE ESTAMOS indo, exatamente? — pergunto enquanto esperamos pelo manobrista no saguão do hotel.

Christian pisca para mim com ar conspiratório, tentando desesperadamente conter a alegria. Sinceramente, essa atitude é totalmente nova.

Ele estava assim quando saímos para voar no planador. Talvez seja isso que a gente vá fazer agora. Dou uma olhada nele. Ele me encara de volta daquele seu jeito superior, o sorriso torto, e se inclina para me dar um beijo de leve.

— Você tem alguma ideia de como me faz feliz? — murmura.

— Tenho... Sei exatamente. Porque você faz o mesmo por mim.

O manobrista aparece trazendo o carro de Christian e exibindo um sorriso gigante. Nossa, está todo mundo tão feliz hoje.

— Belo carro, senhor — murmura ele ao entregar as chaves. Christian lhe dá uma piscadela e uma gorjeta obscenamente alta.

Faço cara feia. Francamente.

* * *

À MEDIDA QUE AVANÇAMOS pelo tráfego, Christian mergulha profundamente em seus pensamentos. Uma voz jovem de mulher vem dos alto-falantes. É um timbre bonito, rico e suave, e me perco na tristeza comovente daquela voz.

— Preciso fazer um desvio. Não deve demorar muito — diz ele, distraído, afastando-me da música.

Ah, por quê? Estou curiosa para saber qual é a surpresa. Minha deusa interior está pulando feito uma criança de cinco anos.

— Claro — murmuro. Tem alguma coisa errada. De repente, ele parece sombriamente determinado.

Christian entra no estacionamento de uma enorme concessionária de veículos, encosta o carro e se vira para mim, a expressão cautelosa.

— Precisamos comprar um carro novo para você.

Fico boquiaberta.

Agora? Em um domingo? Que diabo é isso? E esta é uma concessionária da Saab.

— Não vai ser um Audi? — É, estupidamente, a única coisa que consigo pensar em dizer, e, graças a Deus, ele chega a ficar corado.

Christian, envergonhado. Mais uma primeira vez!

— Achei que você poderia gostar de outra coisa — balbucia ele. Está quase se contorcendo.

Ah, por favor... A oportunidade é valiosa demais para não provocá-lo. Sorrio para ele:

— Um Saab?

— É. Um 9-3. Venha.

— O que você tem com carros estrangeiros?

— Os alemães e os suecos fazem os carros mais seguros do mundo, Anastasia.

Ah, é?

— Pensei que você já tinha mandado substituírem o A3.

Ele me lança um olhar sombrio e divertido.

— Posso cancelar isso. Venha. — Saltando do carro, caminha até o lado do carona e abre a porta para mim. — Estou lhe devendo um presente de formatura — diz em voz baixa, estendendo a mão para mim.

— Christian, você realmente não tem que fazer isso.

— Sim, eu tenho. Por favor. Venha. — Seu tom diz que ele não está para brincadeiras.

Resigno-me ao meu destino. Um Saab? Eu quero um Saab? Eu bem que gostava do meu Audi Especial de Submissa. Era tão chique.

Claro, agora ele está sob uma tonelada de tinta branca... Estremeço. E ela ainda está solta por aí.

Seguro a mão de Christian, e entramos na loja.

Troy Turniansky, o vendedor, praticamente pula em cima de Christian, feito um carrapato. Sabe detectar uma venda garantida. Ele tem um sotaque estranho, não definido, talvez britânico? É difícil dizer.

— Um Saab, senhor? Usado? — Ele esfrega as mãos de contentamento.

— Novo — Christian contrai os lábios.

Novo!

— Você tem algum modelo em mente, senhor? — E é um bajulador, também.

— 9-3, 2.0T, modelo esporte, sedã.

— Excelente escolha, senhor.

— Que cor, Anastasia? — Christian inclina a cabeça.

— Hum... preto? — Dou de ombros. — Você realmente não precisa fazer isso.

Ele franze a testa.

— Preto não é muito visível à noite.

Ah, pelo amor de Deus. Resisto à tentação de revirar os olhos.

— Seu carro é preto.

Ele franze as sobrancelhas para mim.

— Amarelo, então. — Dou de ombros.

Christian faz cara feia. Amarelo obviamente não é a cor preferida dele.

— Que cor você quer que eu escolha, então? — pergunto como se ele fosse uma criança, o que ele não deixa de ser, em muitos sentidos. O pensamento não é bem-vindo. Triste e circunspecto ao mesmo tempo.

— Prata ou branco.

— Prata, então. Você sabe que eu posso ficar com o Audi — acrescento, reprimida por meus pensamentos.

Troy empalidece, sentindo que está perdendo a venda.

— Que tal o conversível, senhora? — pergunta, batendo uma mão na outra com entusiasmo.

Meu inconsciente está se remoendo de desgosto por todo esse negócio de compra de carros, mas minha deusa interior o derruba no chão. Conversível? Nossa!

Christian franze a testa e me olha de relance.

— Conversível? — pergunta, erguendo uma sobrancelha.

Fico vermelha. É como se ele tivesse uma conexão direta com minha deusa interior, o que ele obviamente tem. E pode ser bem inconveniente às vezes. Olho para minhas mãos.

Christian se vira para Troy.

— Quais são as estatísticas de segurança do conversível?

Percebendo a vulnerabilidade de Christian, Troy dá o bote, desfiando todos os tipos de estatísticas.

É claro que Christian me quer em segurança. É uma religião para ele, e, como o maníaco por controle que é, ele ouve atentamente a lenga-lenga bem afiada de Troy. Ele realmente se preocupa.

Sim. Amo. Lembro-me de suas palavras sussurradas esta manhã, e um brilho derretido se espalha por minhas veias como mel aquecido. Este homem — uma dádiva de Deus para as mulheres — me ama.

Então me dou conta de que estou rindo para ele feito uma idiota, e quando ele me olha de volta, acha graça, ainda que pareça intrigado por minha expressão. Estou tão feliz que minha vontade é abraçar a mim mesma.

— Quero um pouco desse entorpecente que você tomou, Srta. Steele — murmura ele assim que Troy volta para seu computador.

— O entorpecente é você, Sr. Grey.

— Sério? Bem, você sem dúvida parece alterada. — Ele me dá um beijo rápido. — E obrigado por aceitar o carro. Foi mais fácil do que da última vez.

— Bem, não é um A3.

Ele sorri.

— Aquele não é o carro certo para você.

— Eu gostava dele.

— Senhor, sobre o 9-3? Localizei um na concessionária de Beverly Hills. Podemos trazê-lo para cá em dois dias — diz Troy, radiante.

— Topo de linha?

— Sim, senhor.

— Excelente. — Christian saca seu cartão de crédito, ou será o de Taylor? O pensamento é inquietante. Eu me pergunto como Taylor está, e se encontrou Leila no apartamento. Massageio a testa. Sim, Christian também vem com toda essa bagagem.

— Se puder me acompanhar, Sr... — Troy olha o nome no cartão — ...Grey.

* * *

CHRISTIAN ABRE A PORTA para mim, e eu me sento de novo no banco do passageiro.

— Obrigada — digo, quando ele se senta ao meu lado. Ele sorri.

— Não há de quê. — A música recomeça assim que Christian liga o motor.

— Quem está cantando? — pergunto.

— Eva Cassidy.

— Tem uma voz linda.

— Tem, tinha.

— Ah.

— Morreu jovem.

— Ah.

— Está com fome? Você não terminou o café da manhã. — Ele me lança um olhar rápido, a desaprovação estampada no rosto.

Xi.

— Estou.

— Então primeiro vamos almoçar.

Christian conduz o carro na direção da orla e depois segue para o norte, ao longo do viaduto Alaskan Way. Mais uma vez o dia em Seattle está lindo. Nas últimas semanas o tempo tem se mantido incomumente bom.

Christian parece feliz e descontraído enquanto ouvimos a voz doce e triste de Eva Cassidy e seguimos pela estrada. Alguma vez já me senti tão tranquila em sua companhia antes? Não sei.

Sinto-me menos tensa a respeito de seu temperamento, confiante de que ele não vai me castigar, e ele também parece mais à vontade. Ele vira à esquerda, seguindo pela orla, e entra num estacionamento em frente a uma ampla marina.

— Vamos comer aqui. Vou abrir a porta para você — diz de um jeito que indica que é melhor eu não me mover, e o vejo dando a volta no carro. Será que um dia vou me acostumar a isso?

* * *

ANDAMOS DE MÃOS dadas até a orla, onde a marina se estende diante de nós.

— Quantos barcos — murmuro, admirada.

São centenas deles, de todos os formatos e tamanhos, subindo e descendo nas águas tranquilas da marina. No estuário de Puget, dezenas de velas deslizam ao vento, de um lado para o outro. É uma vista extraordinária. O vento aumentou um pouco, então aperto o casaco em meu corpo.

— Frio? — pergunta ele, abraçando-me com força.

— Não, só admirando a vista.

— Poderia admirá-la o dia inteiro. Venha, por aqui.

Christian me leva até um bar à beira-mar e se dirige ao caixa. A decoração é mais típica da Nova Inglaterra do que da Costa Oeste: paredes brancas, móveis azul-claros e enfeites náuticos pendurados por toda parte. É um lugar iluminado e alegre.

— Sr. Grey! — O barman cumprimenta Christian calorosamente. — O que vai querer hoje?

— Boa tarde, Dante. — Christian sorri enquanto nos sentamos nos bancos do bar. — Esta bela moça é Anastasia Steele.

— Bem-vinda ao SP’s Place. — Dante me lança um sorriso amigável. Ele é negro e lindo, os olhos escuros me avaliando e, ao que parece, aprovando. Um grande diamante em sua orelha pisca para mim. Gosto dele imediatamente. — O que vai querer beber, Anastasia? — Viro-me para Christian, que me encara em expectativa. Ah, ele vai me deixar escolher.

— Por favor, pode me chamar de Ana, e vou beber o mesmo que Christian. — Sorrio timidamente para Dante. Christian é muito melhor do que eu para escolher vinhos.

— Vou tomar uma cerveja. Este é o único bar em Seattle que tem Adnams Explorer.

— Cerveja?

— É. — Ele sorri para mim. — Duas Adnams Explorers, por favor, Dante.

Dante concorda e coloca as cervejas no balcão.

— Eles fazem um ensopado de frutos do mar delicioso aqui — diz Christian.

Ele está perguntando minha opinião.

— Ensopado e cerveja parece ótimo. — Sorrio para ele.

— Dois ensopados? — pergunta Dante.

— Por favor. — Christian sorri.

Conversamos durante a refeição como nunca fizemos antes. Christian está relaxado e calmo; parece jovem, feliz e animado apesar de tudo que aconteceu ontem. Ele me conta a história da Grey Enterprises Holdings, Inc. e, quanto mais revela, mais sinto sua paixão por dar um jeito em empresas com problemas, as esperanças que tem na tecnologia que está desenvolvendo e os sonhos de tornar a terra no terceiro mundo mais produtiva. Ouço, extasiada. Ele é engraçado, inteligente, filantrópico e bonito, e me ama.

Por sua vez, Christian me atormenta com perguntas sobre Ray e minha mãe, sobre como foi crescer nas florestas exuberantes de Montesano e minhas passagens breves pelo Texas e por Las Vegas. Ele quer saber quais são meus livros e filmes preferidos, e fico surpresa com o quanto temos em comum.

Enquanto conversamos, percebo que ele está deixando de ser o Alec do livro de Thomas Hardy para se transformar em Angel. Da vilania à perfeição em tão pouco tempo.

Já passam de duas da tarde quando terminamos de comer. Christian acerta a conta com Dante, que se despede de nós calorosamente.

— Esse lugar é ótimo. Obrigada pelo almoço — digo. Christian pega minha mão, e deixamos o bar.

— Voltaremos aqui — diz ele, e caminhamos à beira-mar. — Queria lhe mostrar uma coisa.

— Eu sei... e mal posso esperar para ver o que é.

* * *

CAMINHAMOS DE MÃOS DADAS ao longo da marina. É uma tarde muito agradável. As pessoas estão aproveitando o domingo: passeando com o cachorro, admirando os barcos, vendo os filhos correrem pelo calçadão.

À medida que avançamos pela marina, os barcos vão ficando maiores. Christian me leva até o cais e para diante de um catamarã enorme.

— Pensei que a gente podia velejar hoje. Este é o meu barco.

Puta merda. Deve ter no mínimo uns quinze metros. Dois cascos brancos e elegantes, um deck, uma cabine espaçosa e, estendendo-se até lá no alto, um mastro impressionante. Não sei nada de barcos, mas dá para perceber que este é especial.

— Uau... — murmuro, admirada.

— Construído por minha empresa — diz ele, com orgulho, e meu coração se infla. — Foi concebido do zero pelos melhores arquitetos navais do mundo e construído aqui em Seattle, no meu quintal. Motor elétrico híbrido, bolinas assimétricas, vela mestra de topo quadrado.

— Certo... está me deixando tonta, Christian.

Ele sorri.

— É um belo barco.

— Realmente parece imponente, Sr. Grey.

— E é, Srta. Steele.

— Qual é o nome?

Ele me leva até a lateral do barco para que eu possa ver por mim mesma: The Grace. Fico surpresa.

— Você deu o nome de sua mãe?

— Dei. — Ele inclina a cabeça, confuso. — Por que você acha isso estranho?

Dou de ombros. Estou surpresa, ele sempre parece ambíguo na presença dela.

— Adoro minha mãe, Anastasia. Por que não daria o nome dela ao meu barco?

Fico vermelha.

— Não, não é isso... é só... — Droga, como vou colocar isso em palavras?

— Anastasia, Grace Trevelyan-Grey salvou minha vida. Devo tudo a ela.

Olho para ele e deixo que a suave reverência em sua voz ao proferir essa confissão tome conta de mim. Fica claro, pela primeira vez, que ele ama a mãe. Por que então essa ambivalência estranha e tensa que ele tem em relação a ela?

— Quer subir a bordo? — pergunta ele, os olhos brilhantes, animados.

— Sim, por favor. — Sorrio.

Ele parece contente e, segurando minha mão, caminha até a pequena prancha, conduzindo-me a bordo. Chegamos a um convés sob um toldo rígido.

De um lado há uma mesa e um banco em forma de U forrado de couro azul-claro que deve acomodar pelo menos oito pessoas. Dou uma olhada através das portas de correr para o interior da cabine e levo um susto ao perceber que tem alguém lá dentro. Um homem alto e louro abre as portas e emerge: bronzeado, o cabelo encaracolado e os olhos castanhos, ele está vestindo uma camisa polo rosa desbotada de manga curta, bermuda e mocassins. Deve ter uns trinta anos.

— Mac. — Christian sorri.

— Sr. Grey! Bem-vindo de volta. — Eles apertam as mãos.

— Anastasia, este é Liam McConnell. Liam, minha namorada, Anastasia Steele.

Namorada! Minha deusa interior dá um passo rápido de balé. Ela ainda está toda boba com o conversível. Tenho que me acostumar. Não é a primeira vez que ele diz isso, mas ouvi-lo ainda é emocionante.

— Como vai? — Liam aperta minha mão. — Pode me chamar de Mac — diz ele calorosamente, e não consigo identificar de onde vem seu sotaque. — Bem-vinda a bordo, Srta. Steele.

— Pode me chamar de Ana, por favor — murmuro, corando. Ele tem olhos castanhos profundos.

— Como ela está, Mac? — Christian nos interrompe depressa, e, por um momento, acho que está falando de mim.

— Prontinha para mandar ver, senhor. — Mac sorri. Ah, o barco, The Grace. Sua bobinha.

— Vamos lá, então.

— Vai sair com ela?

— Vou. — Christian lança um sorriso breve para Mac. — Quer fazer um tour rápido, Anastasia?

— Sim, por favor.

Eu o sigo para dentro da cabine. Bem em frente a nós há um sofá em L de couro creme e, acima dele, uma janela enorme e curva oferece uma vista panorâmica para a marina. À esquerda fica a cozinha, muito bem equipada, toda em madeira clara.

— Este é o salão principal. E a cozinha ao lado — diz Christian, fazendo um gesto com a mão na direção da cozinha.

Ele pega minha mão e me leva pelo salão principal. É surpreendente, de tão grande. O chão é forrado com a mesma madeira clara. Tem um ar moderno e elegante, transmitindo uma sensação leve e arejada, mas é tudo muito funcional, como se ele não passasse muito tempo ali.

— Banheiros dos dois lados. — Christian aponta duas portas, em seguida, abre uma porta pequena e de formato estranho diante de nós e entra num cômodo. É um quarto de luxo. Ah...

Uma cama king size, lençóis de linho azul-claro e madeira clara, exatamente como seu quarto no Escala. É evidente que quando Christian escolhe um padrão, permanece fiel a ele.

— E aqui, a cabine principal. — Ele me encara, os olhos cinzentos brilhando. — Você é a primeira garota que vem aqui, tirando as da família. — Ele sorri. — Elas não contam.

Fico vermelha sob seu olhar abrasador, e meu pulso acelera. Sério? Mais uma primeira vez. Ele me puxa para seus braços, os dedos enrolados em meu cabelo, e me beija com força por um longo tempo. Quando me solta, estamos os dois sem fôlego.

— Talvez a cama tenha que ser batizada — sussurra em minha boca.

Ah, no mar!

— Mas não agora. Vamos, Mac deve estar zarpando.

Ignoro a pontada de decepção quando ele pega minha mão e me leva de volta pelo salão. Ele indica outra porta.

— O escritório, e ali na frente, mais duas cabines.

— Quantas pessoas podem dormir a bordo?

— Seis. Mas nunca trouxe mais ninguém além da família. Gosto de velejar sozinho. Mas não com você aqui. Preciso ficar de olho em você.

Ele abre uma gaveta e puxa um colete salva-vidas de um vermelho berrante.

— Aqui — passando-o por sobre minha cabeça, ele aperta as tiras, um leve sorriso brincando em seus lábios.

— Você adora me amarrar, não é?

— De todos os jeitos — responde ele, com um sorriso maldoso.

— Você é um pervertido.

— Eu sei. — Ele ergue as sobrancelhas e amplia o sorriso.

— Meu pervertido — sussurro.

— Sim, seu.

Uma vez que está bem preso, ele segura as laterais do colete e me beija.

— Para sempre. — Suspira e me solta antes que eu possa responder.

Para sempre! Puta merda.

— Venha. — Ele pega minha mão e me leva para fora. Nós subimos alguns degraus e chegamos ao convés superior, onde uma cabine pequena abriga um timão grande e um banco alto. Na proa do barco, Mac está mexendo nas cordas.

— Foi aqui que você aprendeu todos os seus truques com cordas? — pergunto a Christian inocentemente.

— Nós de marinheiro são bem úteis — responde ele, avaliando-me. — Srta. Steele, você parece curiosa. Gosto de você curiosa. Eu ficaria mais do que feliz em demonstrar o que posso fazer com uma corda. — Ele sorri para mim, e eu o encaro de volta, impassível, como se ele tivesse me chateado.

A decepção em seu rosto é aparente.

— Peguei você — sorrio.

Sua boca se contorce e ele aperta os olhos.

— Talvez eu tenha que dar um jeito em você mais tarde, mas agora preciso conduzir meu barco. — Ele se senta aos controles, aperta um botão e liga os motores barulhentos.

Mac volta correndo pela lateral do barco, sorrindo para mim, e salta para o convés lá embaixo, onde começa a desatar um nó. Talvez ele também conheça alguns truques com corda. A ideia indesejada invade minha cabeça, e fico vermelha.

Meu inconsciente me encara. Mentalmente, dou de ombros para ele e olho para Christian. Culpa dele. Ele pega o fone e fala com a Guarda Costeira enquanto Mac grita que estamos prontos para partir.

Mais uma vez, fico espantada com a competência de Christian. Não há nada que esse homem não possa fazer? Então me lembro de sua tentativa sincera de cortar e picar um pimentão em meu apartamento na sexta passada. O pensamento me faz sorrir.

Lentamente, Christian conduz The Grace para fora do ancoradouro e em direção à entrada da marina. Atrás de nós, uma pequena multidão se reuniu junto às docas para assistir a nossa partida. Crianças pequenas acenam, e eu aceno de volta.

Christian me olha por sobre o ombro e, em seguida, coloca-me entre suas pernas e aponta os vários mostradores e dispositivos no painel.

— Pegue o timão — ordena ele, mandão como sempre, mas obedeço.

— Sim, sim, capitão! — Dou uma risadinha.

Colocando as mãos confortavelmente sobre as minhas, ele continua a conduzir o barco para fora da marina, e, em poucos minutos, estamos em mar aberto, nas águas frias e azuis do estuário de Puget. Longe do abrigo do muro de proteção da marina, o vento é mais forte, e o mar sussurra e se agita abaixo de nós.

Não consigo parar de sorrir, sentindo a empolgação de Christian: é tão divertido. Fazemos uma curva aberta e seguimos em direção ao oeste, para a península Olympic, o vento atrás de nós.

— Hora de velejar — diz Christian, animado. — Aqui, sua vez. Mantenha-a neste curso.

O quê? Ele sorri, vendo o pavor estampado em meu rosto.

— Baby, é muito fácil. Segure o timão e mantenha os olhos no horizonte, sobre a proa. Você vai se sair muito bem, como sempre. Quando as velas subirem, você vai sentir uma puxada no timão. Apenas segure firme. Quando eu fizer assim — e ele faz um sinal com a mão como se estivesse cortando a garganta —, você pode desligar o motor. Este botão aqui — aponta um grande botão preto. — Entendeu?

— Entendi. — Aceno com a cabeça freneticamente, sentindo-me em pânico. Meu Deus, achei que eu não fosse ter que fazer nada!

Ele me dá um beijo rápido e sai de sua cadeira de capitão, seguindo para a frente do barco, onde se junta a Mac e começa a desenrolar as velas, a desatar cordas e a girar manivelas e polias. Eles trabalham bem em equipe, gritando vários termos náuticos um para o outro, e é comovente assistir Christian interagindo com outra pessoa de forma tão despreocupada.

Talvez Mac seja amigo de Christian. Ele não parece ter muitos amigos, até onde sei, mas bem, eu também não tenho. Pelo menos não aqui em Seattle. A única amiga que tenho está de férias, tomando sol em Saint James, na costa oeste de Barbados.

Sinto uma pontada súbita por Kate. Estou com mais saudade dela do que achei que sentiria quando ela partiu. Espero que mude de ideia e volte para casa com o irmão, Ethan, em vez de prolongar a viagem com Elliot, o irmão de Christian.

Christian e Mac içam a vela grande. Ela se infla assim que o vento toma conta dela, faminto, e o barco dá uma guinada brusca, acelerando. Posso senti-lo no timão. Uau!

Eles começam a abrir a vela de proa, e eu a observo, fascinada, subir o mastro. O vento a atinge em cheio, esticando-a.

— Segure firme e desligue os motores! — grita Christian para mim por sobre o barulho do vento, fazendo o sinal. Mal posso ouvir sua voz, mas aceno com entusiasmo, olhando para o homem que amo, eufórico em meio ao vento, segurando-se por causa do balanço do barco.

Aperto o botão, o rugido dos motores cessa e The Grace segue em direção à península Olympic, cortando as águas como se estivesse voando. Quero gritar e celebrar: com certeza esta é uma das experiências mais emocionantes da minha vida, exceto talvez pelo planador, e quem sabe o Quarto Vermelho da Dor.

Uau. Este barco é rápido! Mantenho-me firme, segurando o timão, lutando contra o leme, e mais uma vez Christian está atrás de mim, as mãos sobre as minhas.

— E aí, o que está achando? — grita ele por cima do som do vento e do mar.

— Christian! É maravilhoso.

Ele abre um sorriso de orelha a orelha.

— Espere só até a bujarrona estar aberta. — Ele aponta com o queixo para Mac, que está desenrolando a tal bujarrona: uma vela de um vermelho-escuro muito intenso. Isso me lembra as paredes do quarto de jogos.

— Bela cor — grito.

Ele me lança um sorriso feroz e dá uma piscadela. Ah, é de propósito.

A vela se abre num estranho formato elíptico, acelerando o barco. E The Grace segue cortando as águas do estuário.

— A vela assimétrica. Para ganhar velocidade. — Christian responde à minha pergunta silenciosa.

— É incrível. — Não consigo pensar em nada melhor para dizer.

Estou com o sorriso mais idiota estampado no rosto ao furarmos a água, rumo à maravilha que são as montanhas Olympic e a ilha de Bainbridge. Olhando para trás, vejo Seattle encolhendo, o monte Rainier a distância.

Nunca tinha notado como a paisagem de Seattle e seus arredores é selvagem e bonita: verde, viçosa e típica do clima temperado, árvores altas e penhascos se sobressaindo aqui e ali. É uma beleza primitiva, mas serena, numa maravilhosa tarde ensolarada que me tira o fôlego. A quietude é impressionante se comparada à velocidade com que cortamos a água.

— A que velocidade estamos agora?

— Uns quinze nós.

— Não tenho ideia do que isso significa.

— Mais ou menos vinte e oito quilômetros por hora.

— Só? Parece muito mais rápido.

Ele aperta minhas mãos, sorrindo.

— Você está linda, Anastasia. É bom ver um pouco de cor em suas bochechas... e não por estar envergonhada. Você está como nas fotos do José.

Eu me viro e lhe dou um beijo.

— Você sabe como agradar uma garota, Sr. Grey.

— Nosso objetivo é satisfazer, Srta. Steele. — Ele levanta meu cabelo e beija minha nuca, provocando arrepios deliciosos ao longo de minha coluna. — Gosto de ver você feliz — murmura, apertando os braços em volta de mim.

Fito a imensidão azul, perguntando-me o que fiz no passado para o destino ter sorrido para mim e me presenteado com esse homem lindo.

Sim, você é uma sortuda filha da mãe, meu inconsciente exclama. Mas você ainda tem um longo caminho pela frente. Ele não vai querer essa porcaria de baunilha para sempre... você vai ter que ceder. Mentalmente, fito seu rosto insolente e crítico, e descanso a cabeça no peito de Christian. Lá no fundo sei que meu inconsciente tem razão, no entanto, afasto o pensamento. Não quero estragar meu dia.

* * *

UMA HORA DEPOIS, estamos ancorados em uma enseada pequena e isolada da ilha de Bainbridge. Mac foi até a praia no bote inflável, fazer o quê, não sei, mas tenho minhas suspeitas, porque assim que Mac liga o motor de popa, Christian agarra minha mão e praticamente me arrasta para sua cabine, um homem com uma missão.

Ele para diante de mim, exalando sua sensualidade embriagante enquanto seus dedos habilidosos soltam depressa as tiras do meu colete salva-vidas. Christian o joga para um lado e me encara fixamente, os olhos escuros e dilatados.

Já estou completamente entregue e ele mal me tocou. Ele leva a mão até meu rosto, e seus dedos se movem para meu queixo, meu pescoço, meu colo, queimando-me com seu toque, até o primeiro botão da minha blusa azul.

— Quero ver você — sussurra ele e, com destreza, abre o botão. Inclinando-se, deixa um beijo suave em meus lábios entreabertos. Estou ofegante e ansiosa, excitada pela combinação poderosa de sua beleza envolvente, a sexualidade crua encarcerada nesta cabine e o balanço suave do barco. Ele chega para trás. — Tire a roupa para mim. — Suspira, os olhos em chamas.

Ah, meu Deus. Fico mais do que feliz em obedecer. Sem tirar os olhos dele, abro cada botão lentamente, saboreando seu olhar abrasador. Ah, isso é inebriante. Posso ver seu desejo, está evidente em seu rosto... e em outros lugares.

Deixo minha camisa cair no chão e alcanço o botão da calça jeans.

— Pare — ordena ele. — Sente-se.

Sento-me na borda da cama, e, em um movimento ligeiro, ele está de joelhos na minha frente, desamarrando o cadarço de um dos meus tênis, depois o outro, e então os tira, e depois minhas meias. Ele pega meu pé esquerdo e o levanta, dando um beijo suave embaixo do dedão, roçando os dentes nele.

— Ah! — gemo ao sentir o efeito que aquilo produz em minha virilha. Ele fica de pé e me levanta da cama.

— Continue — diz, afastando-se para me observar.

Abro o zíper e enfio os polegares no cós da calça, enquanto rebolo para deslizá-la pelas pernas. Um leve sorriso brinca em seus lábios, mas seus olhos permanecem escurecidos.

E não sei se é porque ele fez amor comigo esta manhã, e realmente quero dizer fez amor, com suavidade, gentileza, ou se foi sua declaração apaixonada — sim... amo —, mas não me sinto nada envergonhada. Quero ser sensual para esse homem. Ele merece isso, ele me faz me sentir sensual. Tá, é tudo novidade para mim, mas estou aprendendo sob sua tutela especializada. E bom, muito disso é novidade para ele também. O que equilibra as coisas entre a gente um pouco, acho.

Estou usando um dos conjuntos novos de calcinha branca de renda e sutiã combinando: itens de marca com uma etiqueta de preço condizente. Livro-me da calça jeans e fico ali diante dele, com a lingerie pela qual ele pagou, mas já não me sinto barata. Eu me sinto sua.

Abro o sutiã, deslizo as alças por meus braços e o deixo cair sobre minha blusa. Lentamente, tiro a calcinha, deixando-a escorregar até os tornozelos, e me desvencilho dela com um passo para o lado, surpresa com minha elegância.

De pé diante dele, estou nua e não me sinto envergonhada, e sei que é porque ele me ama. Não preciso mais me esconder. Ele não diz nada, apenas me olha. Tudo o que vejo é o seu desejo, sua adoração até, e algo mais, a profundidade de sua necessidade, a profundidade do seu amor por mim.

Ele segura a barra do seu suéter cor de creme e o puxa por sobre a cabeça, depois tira a camiseta, revelando seu peito, sem tirar os olhos cinzentos e destemidos dos meus. Tira os sapatos, as meias e por último segura o botão da calça jeans.

Eu me aproximo e sussurro:

— Deixe que eu faço isso.

Seus lábios se entreabrem por um instante, e ele sorri.

— À vontade.

Dou um passo na direção dele, deslizo meus dedos ousados para dentro do cós da calça e o puxo de modo que ele é obrigado a dar um passo em minha direção. Ele suspira involuntariamente ante a minha audácia inesperada, em seguida sorri. Abro o botão, mas antes de descer o zíper, deixo meus dedos brincarem por ali, acompanhando sua ereção através do brim macio. Ele flexiona os quadris contra a minha mão e fecha os olhos por um instante, saboreando o toque.

— Você está ficando tão ousada, Ana, tão corajosa — sussurra ele e segura meu rosto com ambas as mãos, inclinando-se para um beijo profundo.

Coloco minhas mãos em seu quadril — metade em sua pele fria, metade na cintura da calça.

— Você também — murmuro contra seus lábios enquanto meus polegares massageiam círculos lentos em sua pele, e ele sorri.

— Estamos chegando lá.

Deslizo as mãos até a frente da calça e abro o zíper. Meus dedos intrépidos percorrem os pelos pubianos dele até a sua ereção, e eu o agarro com firmeza.

Ele solta um gemido baixo na garganta, seu hálito doce me envolvendo, e me beija de novo, com ternura. Minha mão se move sobre ele, em torno dele, acariciando-o, apertando-o com força, e ele me envolve em seus braços, a mão direita espalmada contra o meio das minhas costas, os dedos abertos. A mão esquerda está no meu cabelo, segurando-me junto à sua boca.

— Ah, Ana, eu quero tanto você — ofega ele, dando um passo brusco para trás e tirando a calça e a cueca num movimento rápido e ágil. Ele é lindo, com ou sem roupa, cada centímetro dele.

É perfeito. A única profanação de sua beleza são as cicatrizes, penso, com tristeza. E elas vão muito além da sua pele.

— O que foi, Ana? — murmura ele, acariciando meu rosto com os nós dos dedos, com gentileza.

— Nada. Faça amor comigo, agora.

Ele me puxa em seus braços, beijando-me, enfiando as mãos no meu cabelo. Nossas línguas entrelaçadas, ele me conduz de costas até a cama e suavemente me deita sobre ela, juntando-se a mim, ao meu lado.

Ele corre o nariz ao longo do meu queixo, e minhas mãos acariciam seu cabelo.

— Você tem alguma ideia de como o seu cheiro é delicioso, Ana? É um perfume irresistível.

Suas palavras fazem o que sempre fazem: inflamam meu sangue, aceleram minha pulsação. E ele esfrega o nariz em meu pescoço, meus seios, beijando-me com reverência.

— Você é tão linda — murmura ao envolver um dos meus mamilos em sua boca e chupá-lo suavemente.

Solto um gemido e jogo a cabeça para trás.

— Quero ouvir você, baby.

Sua mão segue até minha cintura, e eu me regozijo com a sensação de seu toque, pele contra pele, sua boca sedenta em meus seios e seus longos dedos habilidosos em mim, acariciando-me, afagando-me. Ele desce a mão por meus quadris, minha bunda e ao longo de minha perna até o joelho, e durante todo esse tempo está beijando e chupando meus seios.

Segurando meu joelho, ele de repente ergue minha perna, passando-a sobre seu quadril, fazendo-me suspirar, e eu sinto, mais do que vejo, seu sorriso de resposta contra minha pele. Ele gira o corpo, de forma que fico montada nele, e me passa um envelopinho de papel laminado.

Chego para trás e o seguro entre as mãos. Simplesmente não consigo resistir a ele, em toda a sua glória. E me curvo para beijá-lo, enfiando-o na boca, brincando com a língua a seu redor e, então, chupando com força. Ele geme e flexiona o quadril, entrando ainda mais em minha boca.

Hum... que gosto bom. Quero ele dentro de mim. Eu me sento e o encaro; está ofegante, observando-me atento e boquiaberto.

Depressa, rasgo o papel laminado e coloco a camisinha nele. Ele me estende as mãos. Seguro uma delas e, com a mão livre, posiciono-me sobre ele, lentamente, reivindicando-o como meu.

Ele geme baixinho, fechando os olhos.

A sensação dele dentro de mim... me abrindo... me preenchendo, solto um gemido baixo, é divina. Ele coloca as mãos na minha cintura e me move para cima e para baixo, metendo em mim. Ah... é tão bom.

— Ah, baby — sussurra ele e, de repente, ergue-se, de forma que ficamos cara a cara, e a sensação é extraordinária, de plenitude.

Suspiro, agarrando seus braços enquanto ele segura minha cabeça entre as mãos e me olha nos olhos... os dele intensos e cinzentos, ardendo de desejo.

— Ana. O que você me faz sentir — murmura e me beija apaixonadamente, com ardor fervoroso.

Eu o beijo de volta, tonta com a deliciosa sensação dele dentro de mim.

— Eu amo você — murmuro.

Ele geme como se doesse ouvir minhas palavras sussurradas, e rola, levando-me com ele, sem interromper nosso precioso contato, de modo que fico debaixo de seu corpo. Envolvo as pernas em sua cintura.

Ele me olha com uma adoração maravilhada, e tenho certeza de que sua expressão se espelha em minha face à medida que acaricio seu belo rosto. Muito lentamente, ele começa a se mover, fechando os olhos e gemendo baixinho.

O balanço suave do barco e a tranquilidade da cabine são quebrados apenas pelas nossas respirações misturadas enquanto, lentamente, ele entra e sai de mim, tão controlado e tão gostoso: é divino. Ele coloca o braço por cima de minha cabeça, a mão em meu cabelo, e acaricia meu rosto com a outra mão ao se inclinar para me beijar.

Estou aninhada nele, e ele faz amor comigo, entrando e saindo devagar, saboreando-me. Eu o toco, atendo-me aos limites: seus braços, seu cabelo, a parte inferior de suas costas, sua bunda. E minha respiração se acelera à medida que o ritmo constante dele me dá mais e mais prazer. Ele beija minha boca, meu queixo, depois mordisca minha orelha. Posso ouvir sua respiração ofegante a cada investida suave de seu corpo.

Meu corpo começa a tremer. Ah... Essa sensação que agora conheço tão bem... Estou perto... Ah...

— Isso, baby... goze para mim... por favor... Ana — murmura ele, e suas palavras são minha perdição.

— Christian — grito, e ele geme, e nós gozamos juntos.

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