CAPÍTULO DEZ

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- Mac vai voltar daqui a pouco — murmura ele.

— Hum. — Pisco para ele, encontrando seu olhar cinzento e gentil. Meu Deus, seus olhos têm uma cor incrível, especialmente aqui, no mar, refletindo a luz que vem da água através das pequenas janelas da cabine.

— Por mais que eu quisesse ficar aqui com você pelo resto da tarde, ele vai precisar da minha ajuda com o bote. — Debruçando-se, Christian me beija com ternura. — Ana, você está tão linda, toda despenteada e sexy. Me faz querer você de novo. — Ele sorri e se levanta da cama. Fico ali, de bruços, admirando a vista.

— Você também não é nada mau, capitão. — Faço um beicinho em admiração e ele sorri.

Eu o observo caminhar pela cabine e se vestir. Esse homem que acabou de fazer amor gentil comigo mais uma vez. Mal posso acreditar na minha sorte. Mal posso acreditar que ele é meu. Ele se senta ao meu lado para calçar os sapatos.

— Capitão, é? — diz secamente. — Bem, sou o senhor deste navio.

Inclino a cabeça.

— Você é o senhor do meu coração, Sr. Grey. — E do meu corpo... e da minha alma.

Ele balança a cabeça, incrédulo, e se abaixa para me beijar.

— Vou estar no convés. Tem um chuveiro no banheiro, se você quiser. Precisa de alguma coisa? Uma bebida? — pergunta ele, solícito, e tudo o que posso fazer é sorrir. É o mesmo homem que está falando comigo? É mesmo aquele homem de Cinquenta Tons? — O que foi? — diz ele, reagindo ao meu sorriso idiota.

— Você.

— O que tem eu?

— Quem é você e o que fez com Christian?

Seus lábios se contorcem num sorriso triste.

— Ele não está muito longe, baby — diz, em voz baixa, e há um toque de melancolia em sua voz que imediatamente faz com que eu me arrependa de minha pergunta. Mas ele balança a cabeça, afastando a tristeza. — Você vai encontrá-lo em breve — ele sorri —, especialmente se não se levantar. — E, esticando-se, me dá um tapa forte na bunda, e eu rio e grito ao mesmo tempo.

— Estava ficando preocupada.

— Ah, é? — Christian franze a testa. — Você realmente me manda sinais contraditórios, Anastasia. Como é que um homem pode entendê-la? — Ele se inclina e me beija de novo. — Até mais, baby — acrescenta e, com um sorriso deslumbrante, levanta-se e me deixa só com meus pensamentos dispersos.

* * *

QUANDO APAREÇO NO deque, Mac está de volta a bordo, mas ele passa para o convés superior assim que abro as portas do salão. Christian está no BlackBerry. Falando com quem?, eu me pergunto. Ele caminha devagar e me puxa para perto, beijando meu cabelo.

— Ótima notícia... Ótimo. Isso... Sério? A escada de incêndio?... Entendi... É, hoje à noite.

Ele desliga o telefone, e o som de motores sendo acionados me assusta. Mac deve estar na cabine de pilotagem acima de nós.

— Hora de voltar — diz Christian, beijando-me mais uma vez ao colocar o colete salva-vidas em mim.

* * *

O SOL ESTÁ baixo no céu atrás de nós enquanto percorremos o caminho de volta para a marina, e eu reflito sobre esta tarde maravilhosa. Sob a tutela cuidadosa e paciente de Christian, já guardei a vela grande, uma vela de proa e uma bujarrona, e também aprendi a dar um nó direito, um nó volta do fiel e um nó catau. Seus lábios estavam trêmulos durante toda a lição.

— Talvez eu amarre você um dia — murmuro, mal-humorada.

Sua boca se contorce com humor.

— Você vai ter que me pegar primeiro, Srta. Steele.

Suas palavras me fazem lembrar dele me perseguindo por todo o apartamento, a emoção e o desfecho terrível. Faço uma cara feia e estremeço. Depois disso, eu o deixei.

Será que o deixaria de novo, agora que ele admitiu que me ama? Olho bem dentro de seus olhos claros e cinzentos. Será que poderia deixá-lo de novo, se ele me fizesse algo terrível? Eu seria capaz de traí-lo desse jeito? Não. Acho que não.

Ele dá uma volta mais completa comigo pelo barco, explicando todos os projetos e técnicas inovadores, e os materiais de alta qualidade usados para construí-lo. Lembro-me da entrevista na primeira vez em que nos encontramos; desde então percebi sua paixão por barcos. Eu pensava que seu amor era só pelos navios oceânicos que sua empresa constrói — e não por catamarãs elegantes e sensuais também.

E, claro, ele fez amor comigo, carinhosamente e sem pressa. Balanço a cabeça, lembrando do meu corpo contorcido e ardendo de desejo sob suas mãos experientes. Ele é um amante excepcional, tenho certeza — embora, é claro, eu não tenha parâmetros de comparação. Mas Kate teria se gabado mais se sexo fosse sempre assim. Não é muito do feitio dela poupar detalhes.

Porém, por quanto tempo isso vai ser suficiente para ele? Simplesmente não sei, e o pensamento é desconcertante.

E então, ele se senta, e eu fico no círculo de segurança de seus braços pelo que parecem horas, num silêncio confortável e companheiro, enquanto The Grace desliza, aproximando-se cada vez mais de Seattle. Estou ao timão, Christian aconselhando, fazendo um ou outro ajuste.

— Velejar tem uma poesia tão antiga quanto o mundo — murmura ele no meu ouvido.

— Parece uma citação. — Sinto seu sorriso.

— E é. Antoine de Saint-Exupéry.

— Ah...

* * *

JÁ É FIM DE TARDE quando Christian, as mãos ainda nas minhas, nos conduz para dentro da marina. As luzes dos barcos estão piscando, refletidas na água escura, mas ainda está claro... um início de noite ameno e brilhante, uma introdução para o que na certa será um pôr do sol espetacular.

Uma multidão se reúne no cais quando Christian lentamente gira o barco num espaço relativamente pequeno. Ele faz isso com facilidade e dá ré de mansinho, entrando no mesmo espaço do ancoradouro do qual saímos mais cedo. Mac salta para o cais e amarra The Grace com firmeza a um cabeço de amarração.

— Chegamos — murmura Christian.

— Obrigada — agradeço, tímida. — Foi uma tarde perfeita.

— Também achei. — Christian sorri. — Talvez a gente possa matricular você numa escola de vela, para sairmos juntos, só nós dois, por alguns dias.

— Eu adoraria. Podemos batizar o quarto de novo e de novo.

Ele se inclina e me beija debaixo da orelha.

— Hum... vou esperar ansioso, Anastasia — sussurra, fazendo cada pelo do meu corpo se arrepiar.

Como ele faz isso?

— Venha, o apartamento está liberado. Já podemos voltar.

— E as nossas coisas no hotel?

— Taylor já buscou.

Ah! Quando?

— Hoje cedo, depois de fazer uma varredura em The Grace com a equipe de segurança — Christian responde a minha pergunta silenciosa.

— O coitado não dorme nunca?

— Ele dorme. — Christian franze a sobrancelha para mim, intrigado. — Está só fazendo o trabalho dele, Anastasia, o que faz muito bem, aliás. Jason é um verdadeiro achado.

— Jason?

— Jason Taylor.

Achava que Taylor era o primeiro nome dele. Jason. Combina com ele: sólido, confiável. Por algum motivo isso me faz sorrir.

— Você gosta muito de Taylor — diz Christian, avaliando-me especulativo.

— Acho que sim. — Sua observação me pega de surpresa. Ele franze a testa. — Não sinto atração por ele, se é isso que está fazendo você franzir a testa. Pode parar.

Christian está praticamente fazendo beicinho, emburrado.

Nossa, às vezes ele é tão infantil.

— Acho que Taylor cuida muito bem de você. É por isso que gosto dele. Ele parece gentil, confiável e leal. É do caráter avuncular dele que eu gosto.

— Avuncular?

— É.

— Certo, avuncular. — Christian está testando a palavra e o significado. Eu rio.

— Ah, Christian, cresça, pelo amor de Deus.

Ele fica boquiaberto, surpreso com minha explosão, mas, em seguida, franze a testa como se estivesse ponderando a respeito de meu pedido.

— Estou tentando — diz, afinal.

— Isso é verdade. E muito — respondo baixinho, mas depois reviro os olhos para ele.

— As lembranças que você evoca quando revira os olhos para mim, Anastasia. — Ele sorri.

Sorrio em resposta.

— Bem, se você se comportar, talvez a gente possa reviver algumas delas.

— Se eu me comportar? — Sua boca se contorce com diversão. Ele ergue uma das sobrancelhas e acrescenta: — Sério, Srta. Steele, o que a faz achar que eu quero reviver tais memórias?

— Provavelmente, a forma como seus olhos se iluminaram feito luzes de Natal quando eu disse isso.

— Você já me conhece muito bem — diz ele, secamente.

— Gostaria de conhecê-lo melhor.

— E eu a você, Anastasia. — Ele sorri com gentileza.

* * *

— OBRIGADO, MAC. — Christian aperta a mão de McConnell e salta para o cais.

— É sempre um prazer, Sr. Grey, até a próxima. Ana, muito bom conhecer você.

Aperto sua mão timidamente. Ele deve saber o que Christian e eu estávamos aprontando no barco quando ele desembarcou.

— Tenha uma boa noite, Mac, e obrigada.

Ele sorri para mim e lança uma piscadela, fazendo-me corar. Christian segura minha mão, e caminhamos pelo cais até o calçadão da marina.

— De onde Mac é? — pergunto, curiosa sobre seu sotaque.

— Da Irlanda... Irlanda do Norte. — Christian se corrige.

— Ele é seu amigo?

— Mac? Ele trabalha para mim. Ele me ajudou a construir The Grace.

— Você tem muitos amigos?

Ele franze a testa.

— Na verdade, não. Fazendo o que faço... não cultivo amizades. Só tem a... — Ele para, faz uma careta, e sei que ia falar da Mrs. Robinson. — Está com fome? — pergunta, tentando mudar de assunto.

Faço que sim com a cabeça. Na verdade, estou faminta.

— Vamos comer lá onde deixei o carro. Venha.

* * *

AO LADO DO SP’S Place há um pequeno bistrô italiano chamado Bee’s. Ele me faz lembrar do restaurante de Portland: poucas mesas e alguns nichos reservados junto às paredes, a decoração fria e moderna, com uma enorme fotografia em preto e branco de uma festa na virada do século servindo de mural.

Christian e eu estamos sentados em um dos reservados, debruçados sobre o cardápio e tomando um Frascati leve e delicioso. Quando ergo os olhos do menu, depois de ter feito minha escolha, vejo Christian me observando pensativo.

— O que foi? — pergunto.

— Você está linda, Anastasia. Pegar um pouco de ar faz bem a você.

Fico vermelha.

— Para falar a verdade, acho que minha pele está um pouco irritada por causa do vento. Mas foi uma tarde adorável. Uma tarde perfeita. Obrigada.

Ele sorri, seu olhar cálido.

— O prazer é todo meu — murmura.

— Posso perguntar uma coisa? — Decido embarcar numa missão para desencavar mais informações.

— Qualquer coisa, Anastasia. Você sabe disso. — Ele inclina a cabeça, tão bonito.

— Você não parece ter muitos amigos. Por quê?

Ele dá de ombros e franze a testa.

— Já falei, eu realmente não tenho tempo. Tenho sócios, embora isso seja muito diferente de amizade, imagino. Tenho minha família e é isso. Fora Elena.

Ignoro a menção àquela monstra filha da mãe.

— Nenhum amigo homem da mesma idade que você, com quem sair e gastar energia?

— Você sabe como eu gosto de gastar energia, Anastasia. — Christian contorce a boca. — E eu estive trabalhando, construindo meu negócio. — Ele parece intrigado. — É só o que eu faço, além de velejar e voar de vez em quando.

— Nem na faculdade?

— Não.

— Só Elena, então?

Ele faz que sim com a cabeça, a expressão desconfiada.

— Deve ser meio solitário.

Seus lábios se curvam num pequeno sorriso melancólico.

— O que você gostaria de comer? — pergunta, mudando de assunto mais uma vez.

— Vou querer o risoto.

— Boa escolha. — Christian chama o garçom, pondo fim à conversa.

Depois de fazermos o pedido, eu me ajeito, desconfortável, em meu assento, encarando meus dedos. Se ele está em um modo falante, preciso aproveitar.

Tenho que conversar com ele sobre suas expectativas, sobre suas... hum... necessidades.

— Anastasia, qual o problema? Fale.

Ergo o olhar para seu rosto preocupado.

— Fale — diz ele, com mais ênfase, e sua preocupação evolui para... o quê? Medo? Raiva?

Respiro fundo.

— Só estou preocupada que isso não seja suficiente para você. Você sabe, para gastar energia.

Ele contrai a mandíbula, e seu olhar endurece.

— Eu dei algum sinal de que isso não é o bastante?

— Não.

— Então por que você acha isso?

— Porque eu sei como você é. Do que você... hum... precisa — gaguejo.

Ele fecha os olhos e esfrega a testa com os longos dedos.

— O que eu tenho que fazer? — Sua voz é baixa e sinistra, como se ele estivesse com raiva, e meu coração afunda.

— Não, você não entendeu. Você tem sido incrível, e eu sei que foram só alguns dias, mas espero não estar forçando você a ser alguém que não é.

— Eu ainda sou eu, Anastasia, fodido em todos os meus cinquenta tons. Sim, eu tenho que conter meu desejo de ser controlador... mas essa é a minha natureza, o jeito como lidei com a minha vida. Sim, eu espero que você se comporte de determinada maneira, e quando você não o faz é ao mesmo tempo desafiador e estimulante. Nós ainda fazemos o que eu gosto. Você me deixou bater em você após seu lance absurdo de ontem. — Ele sorri com carinho pela memória. — Gosto de punir você. E não acho que um dia essa vontade vá esmorecer... mas estou tentando, e não é tão difícil quanto achei que seria.

Eu me contorço na cadeira e fico vermelha, lembrando o nosso encontro ilícito no quarto de sua infância.

— Eu gostei daquilo — sussurro, sorrindo timidamente.

— Eu sei. — Seus lábios se curvam num sorriso relutante. — Eu também. Mas preciso admitir, Anastasia, tudo isso é novo para mim, e estes últimos dias têm sido os melhores da minha vida. Não quero mudar nada.

Ah!

— Também foram os melhores da minha vida, sem dúvida — murmuro e o sorriso dele aumenta. Minha deusa interior concorda freneticamente com a cabeça e me cutuca com força. Ok, ok. — Então você não quer me levar para seu quarto de jogos?

Ele inspira e fica pálido, todos os resquícios de humor desaparecem.

— Não, não quero.

— Por que não? — sussurro. Não é a resposta que eu esperava.

E sim, lá está: aquela leve pontada de decepção. Minha deusa interior sai pisando duro e fazendo beicinho, de braços cruzados feito uma criança com raiva.

— Na última vez em que estivemos lá, você me deixou — diz, baixinho. — Vou me afastar de qualquer coisa que poderia fazer você me deixar de novo. Fiquei arrasado quando você foi embora. Já expliquei isso. Nunca mais quero me sentir daquele jeito. Já falei como me sinto a seu respeito. — Seus olhos cinzentos estão arregalados e intensos de sinceridade.

— Mas isso não parece justo. Não pode ser confortável para você ter que ficar constantemente preocupado com o que eu sinto. Você fez todas essas mudanças por mim, e eu... eu acho que deveria retribuir de alguma forma. Não sei... talvez... tentar... umas fantasias — gaguejo, o rosto tão vermelho quanto as paredes do quarto de jogos.

Por que é tão difícil falar sobre isso? Já fiz todo tipo de trepada sacana com esse homem, coisas de que eu nem sequer tinha ouvido falar há algumas semanas, coisas que eu nunca teria pensado serem possíveis, e ainda assim o mais difícil é falar com ele.

— Ana, você retribui, sim, mais do que imagina. Por favor, por favor, não se sinta assim.

E lá se foi o Christian descontraído. Seus olhos agora estão arregalados de preocupação, e é angustiante.

— Baby, faz só um fim de semana — continua ele. — Dê um tempo para a gente. Pensei muito em nós dois na semana passada, quando você foi embora. Nós precisamos de tempo. Você precisa confiar em mim, e eu em você. Talvez com o tempo a gente possa se aventurar, mas gosto de como você está agora. Gosto de ver você feliz assim, relaxada e descontraída, e de saber que eu sou a causa disso. Eu nunca... — Ele para e passa a mão pelo cabelo. — A gente precisa aprender a caminhar antes de correr. — E, de repente, sorri.

— Qual é a graça?

— Flynn. Ele diz isso o tempo todo. Nunca pensei que iria citar uma frase dele.

— Um Flynnismo.

— Isso mesmo. — Christian ri.

O garçom chega com as entradas e bruschettas, e a conversa muda de rumo à medida que Christian relaxa.

Mas quando os pratos descomunais são colocados diante de nós, não consigo deixar de refletir sobre minhas lembranças de Christian hoje: relaxado, feliz e despreocupado. Pelo menos ele está rindo agora, à vontade de novo.

Suspiro de alívio por dentro enquanto ele começa a me perguntar sobre lugares em que já estive. É uma conversa curta, já que nunca saí dos Estados Unidos. Christian, por outro lado, já conheceu o mundo. E nós mergulhamos numa conversa mais fácil, mais feliz, sobre os lugares que ele já visitou.

* * *

APÓS UMA REFEIÇÃO deliciosa e farta, Christian me leva de volta ao Escala, com a voz suave de Eva Cassidy saindo dos alto-falantes do carro. O que me dá um momento de paz para pensar. Tive um dia alucinante: a Dra. Greene, nosso banho juntos, a declaração de Christian, fazer amor no hotel e no barco, comprar o carro. Até o próprio Christian tem sido tão diferente. É como se ele estivesse deixando algo para trás ou redescobrindo algo... não sei o quê.

Quem imaginaria que ele poderia ser tão gentil? Será que ele próprio sabia disso?

Ao olhar para seu rosto, noto que ele também parece perdido em pensamentos. E me dou conta de que ele nunca teve uma adolescência, pelo menos não uma adolescência normal. Balanço a cabeça.

Minha mente volta para a festa e para minha dança com o Dr. Flynn, e o medo de Christian de que Flynn tivesse me contado tudo sobre ele. Christian ainda está escondendo algo. Como podemos seguir em frente, se ele se sente assim?

Ele acha que eu o deixaria se o conhecesse por inteiro. Acha que eu iria embora se fosse ele mesmo. Ah, este homem é tão complicado.

À medida que nos aproximamos da casa dele, Christian começa a irradiar tensão, até que seu nervosismo se torna palpável. Ele sonda as calçadas e ruas transversais, seus olhos disparando por todos os lados, e sei que está procurando por Leila. Começo a procurar também. Qualquer jovem morena é uma suspeita, mas não a avistamos.

Quando entra na garagem, sua boca está comprimida numa linha tensa e austera. Eu me pergunto por que viemos para cá, se ele vai ficar tão desconfiado e nervoso. Sawyer está na garagem, de patrulha. O Audi ferrado se foi. Ele caminha até a minha porta assim que Christian estaciona ao lado do SUV.

— Oi, Sawyer — cumprimento-o.

— Srta. Steele. — Ele acena com a cabeça. — Sr. Grey.

— Nenhum sinal? — pergunta Christian.

— Não, senhor.

Christian assente com a cabeça, segura minha mão e caminha até o elevador. Sei que seu cérebro está trabalhando, ele está distraído. Assim que entramos no elevador, ele se vira e me diz:

— Você não tem permissão para sair daqui sozinha. Entendeu?

— Entendi.

Minha nossa! Segure a onda. Mas sua preocupação me faz sorrir. Minha vontade é de abraçar a mim mesma: eu conheço esse homem autoritário e rude. É impressionante que o tenha achado tão ameaçador quando ele falava assim comigo há apenas uma semana. Agora eu o entendo melhor. Esse é o seu mecanismo de defesa. Ele está estressado com a história de Leila, ele me ama e quer me proteger.

— Qual é a graça? — murmura ele, uma pitada de diversão em sua expressão.

— Você.

— Eu? Srta. Steele? Por que sou engraçado? — pergunta, amuado.

Christian amuado é... tão sexy.

— Não faça essa carinha.

— Por quê? — Ele parece estar se divertindo ainda mais.

— Porque ela tem o mesmo efeito sobre mim que eu tenho sobre você quando faço isso. — Mordo o lábio inferior deliberadamente.

Ele ergue as sobrancelhas, surpreso e deliciado ao mesmo tempo.

— Sério? — E faz a mesma cara amuada de novo, inclinando-se para me dar um beijo rápido e inocente.

Ergo meus lábios ao encontro dos seus, e, no instante em que eles se tocam, a natureza do beijo muda: um fogo corre por minhas veias a partir desse ponto de contato íntimo, impelindo-me para junto dele.

De repente, meus dedos estão enrolados em seu cabelo enquanto ele me agarra e me empurra contra a parede do elevador, as mãos emoldurando meu rosto, apertando-me em seus lábios à medida que nossas línguas duelam. E não sei se é o confinamento do elevador que torna tudo muito mais real, mas eu sinto seu desejo, sua ansiedade, sua paixão.

Puta merda. Eu o quero, aqui, agora.

O elevador apita e para, as portas se abrem, e Christian afasta o rosto do meu, seu quadril ainda me pressionando contra a parede, sua ereção se enterrando em mim.

— Uau — murmura ele, ofegante.

— Uau — repito sua expressão, fazendo uma inspiração bem-vinda.

Ele me encara, os olhos brilhando.

— O que você faz comigo, Ana... — E acaricia meu lábio inferior com o polegar.

Pelo canto do olho, vejo Taylor dando um passo para trás até sair de meu campo de visão. Levanto o rosto e beijo o cantinho da boca lindamente delineada de Christian.

— O que você faz comigo, Christian.

Ele dá um passo para trás e pega minha mão, seus olhos agora escurecidos, nublados.

— Venha — ordena.

Taylor ainda está no hall de entrada, esperando discretamente por nós.

— Boa noite, Taylor — diz Christian, cordialmente.

— Sr. Grey, Srta. Steele.

— Ontem eu era a Sra. Taylor. — Sorrio para ele, que fica vermelho.

— Soa bem, Srta. Steele — responde Taylor com naturalidade.

— Também achei.

Christian aperta minha mão e faz cara feia.

— Quando vocês acabarem, gostaria de ouvir o relatório de Taylor. — Ele olha para Taylor, que agora parece desconfortável, e eu me encolho toda por dentro. Passei do ponto.

— Desculpe — gesticulo com a boca para Taylor, que dá de ombros e sorri com gentileza antes de eu me voltar e acompanhar Christian.

— Já falo com você. Só quero discutir uma coisa com a Srta. Steele — diz Christian a Taylor, e sei que estou em apuros.

Ele me leva até o seu quarto e fecha a porta.

— Não flerte com os funcionários, Anastasia — ele me repreende.

Abro a boca para me defender, mudo de ideia, depois abro de novo.

— Não estava flertando. Estava sendo simpática, há uma diferença.

— Não seja simpática com os funcionários nem flerte com eles. Não gosto disso.

Ah. Adeus, Christian despreocupado.

— Desculpe — murmuro e olho para meus dedos.

Ele não tinha feito com que eu me sentisse uma criança nenhuma vez, o dia todo. Segura meu queixo e ergue meu rosto, até nossos olhares se encontrarem.

— Você sabe como sou ciumento — sussurra.

— Você não tem razão nenhuma para ter ciúmes, Christian. Sou sua de corpo e alma.

Ele pisca como se isso fosse difícil de processar. E se aproxima, dando-me um beijo rápido, mas sem sinal da paixão de momentos atrás, no elevador.

— Não vou demorar. Sinta-se em casa — diz ele de mau humor, afastando-se e me deixando sozinha em seu quarto, atordoada e confusa.

Por que diabo ele teria ciúme de Taylor? Balanço a cabeça em descrença.

Pelo relógio da mesa de cabeceira, vejo que já passa das oito. Decido separar minhas roupas para o dia de trabalho, amanhã. Subo até meu quarto no segundo andar e abro as portas do closet. Está vazio. Todas as roupas sumiram. Ah, não! Christian me levou a sério e devolveu tudo. Merda.

Meu inconsciente me encara. Você e sua boca grande.

Por que ele me levou a sério? O conselho de minha mãe volta para me assombrar: “Os homens são criaturas literais.” Faço beicinho, olhando o espaço vazio. Havia roupas lindas, o vestido prata que usei na festa, por exemplo.

Caminho desconsolada pelo quarto. Espere um momento... o que é que está acontecendo? O iPad sumiu. Cadê o meu Mac? Ah, não. A primeira coisa que me vem à cabeça é que Leila pode ter roubado tudo.

Desço correndo até o quarto de Christian. E na mesinha de cabeceira estão meu Mac, meu iPad e minha mochila. Está tudo aqui.

Abro a porta do closet. Minhas roupas estão ali — todas elas —, junto com as de Christian. Quando isso aconteceu? Por que ele nunca me avisa antes de fazer essas coisas?

Eu me viro, e ele está parado, junto à porta.

— Ah, eles conseguiram fazer a mudança — murmura, distraído.

— O que houve? — pergunto. Ele tem uma expressão desagradável no rosto.

— Taylor acha que Leila entrou pela escada de emergência. Ela devia ter uma chave. Todas as fechaduras foram trocadas. A equipe de Taylor fez uma busca em todos os cômodos do apartamento. Ela não está aqui. — Ele faz uma pausa e passa a mão pelo cabelo. — Queria saber onde está. Mas ela conseguiu fugir de todas as nossas tentativas de encontrá-la, quando tudo de que precisa é ajuda. — Ele franze a testa, e meu ressentimento anterior desaparece. Envolvo-o em meus braços. Abraçando-me de volta, ele beija meu cabelo.

— O que você vai fazer quando encontrá-la? — pergunto.

— Dr. Flynn conhece um lugar.

— E o marido?

— Ele lavou as mãos. — O tom de Christian é amargo. — A família dela é de Connecticut. Acho que ela está completamente sozinha.

— Isso é triste.

— Tudo bem se todas as suas coisas ficarem aqui? Quero dividir o quarto com você — murmura ele.

Uau, mudança rápida de direção.

— Tudo bem.

— Quero que você durma comigo. Não tenho pesadelos quando estamos juntos.

— Você tem pesadelos?

— Tenho.

Aperto-o mais em meu abraço. Mais bagagem. Meu coração se comprime por ele.

— Eu estava só separando minha roupa para o trabalho amanhã — murmuro.

— Trabalho! — exclama Christian como se fosse um palavrão e me solta, me encarando.

— Sim, trabalho — respondo, confusa com sua reação.

Ele me olha com total incompreensão.

— Mas Leila... ela está solta por aí — ele faz uma pausa. — Não quero que você vá para o trabalho.

O quê?

— Isso é ridículo, Christian. Eu tenho que ir trabalhar.

— Não, você não tem.

— Eu tenho um emprego novo, do qual gosto. Claro que tenho que ir trabalhar. — O que ele quer dizer?

— Não, você não tem — repete ele, enfaticamente.

— Você acha que eu vou ficar aqui fazendo nada enquanto você sai por aí sendo o Mestre do Universo?

— Para falar a verdade... acho.

Ah, Cinquenta, Cinquenta, Cinquenta... dai-me forças.

— Christian, eu preciso trabalhar.

— Não, você não precisa.

— Sim. Eu. Preciso — falo bem devagar, como se ele fosse uma criança.

— Não é seguro. — Ele faz cara feia para mim.

— Christian... Eu preciso trabalhar para viver, e vou ficar bem.

— Não, você não precisa trabalhar para viver... E como você sabe que vai ficar bem? — Ele está quase gritando.

O que ele quer dizer? Que vai me sustentar? Ah, isso já é mais que ridículo. A gente se conhece há o quê... umas cinco semanas?

Ele está com raiva agora, seus olhos cinzentos tempestuosos e ligeiros, mas não estou nem aí.

— Pelo amor de Deus, Christian, Leila estava aqui, ao pé da sua cama, e ela não me fez mal nenhum, e sim, eu preciso trabalhar. Não quero ficar em dívida com você. E tenho que pagar o empréstimo da faculdade.

Ele pressiona a boca numa linha sombria, e eu coloco as mãos no quadril. Não vou abrir mão disso. Quem ele pensa que é?

— Não quero que você vá para o trabalho.

— Isso não depende de você, Christian. Não é uma decisão que você possa tomar.

Ele corre os dedos pelo cabelo e me encara. Os segundos passam, minutos até, enquanto fitamos um ao outro.

— Sawyer vai com você.

— Christian, não precisa disso. Você está sendo irracional.

— Irracional? — rosna ele. — Ou ele vai com você ou eu vou ser realmente irracional e vou prender você aqui.

Ele não faria isso, faria?

— Como, exatamente?

— Ah, eu dou o meu jeito, Anastasia. Não me force.

— Certo! — cedo, erguendo as mãos para acalmá-lo.

Puta merda... Meu Cinquenta Tons está de volta com todas as forças.

Ficamos ali, fazendo cara feia um para o outro.

— Tudo bem, Sawyer pode vir comigo se isso fizer você se sentir melhor — aceito, revirando os olhos.

Christian estreita os dele e dá um passo ameaçador em minha direção. Imediatamente, dou um passo para trás. Ele para e respira fundo, fechando os olhos e correndo as mãos pelo cabelo. Ah, não. Ele está realmente furioso.

— Quer dar uma volta pelo apartamento?

Uma volta? Você está brincando comigo?

— Tudo bem — murmuro com cautela. Mais uma mudança de direção... O Sr. Inconstante está de volta. Ele me estende a mão, e quando eu a seguro, ele aperta a minha com carinho.

— Não queria assustar você.

— Você não me assustou. Eu estava me preparando para correr — brinco.

— Correr? — Christian arregala os olhos.

— É brincadeira! — Caramba.

Ele me leva para fora do closet, e eu preciso de um tempo para me acalmar. A adrenalina ainda está correndo por meu corpo. Uma briga com Christian nunca deve ser encarada levianamente.

Ele faz um tour comigo pelo apartamento, mostrando os diferentes cômodos. Além do quarto de jogos e dos três quartos extras do andar de cima, fico boba ao descobrir que Taylor e a Sra. Jones têm uma ala só para eles, com cozinha, uma sala de estar espaçosa e um quarto para cada um. A Sra. Jones ainda não voltou da visita à irmã, que vive em Portland.

No primeiro andar, o cômodo que me chama a atenção é o que fica em frente ao escritório dele: uma sala com uma tevê de plasma enorme e vários videogames. É aconchegante.

— Então você tem um Xbox? — sorrio.

— Tenho, mas sou uma porcaria. Elliot sempre ganha. Foi engraçado quando você pensou que este era o meu quarto de jogos. — Ele sorri para mim, seu acesso de raiva já esquecido. Graças a Deus ele está recuperando o bom humor.

— Que bom que você me acha engraçada, Sr. Grey — respondo, arrogante.

— Você é, Srta. Steele, quando não está sendo irritante, claro.

— Normalmente sou irritante quando você é irracional.

— Eu? Irracional?

— É, Sr. Grey. Irracional poderia ser seu nome do meio.

— Não tenho nome do meio.

— Então Irracional funciona direitinho.

— Acho que é uma questão de opinião, Srta. Steele.

— Gostaria de ouvir a opinião profissional do Dr. Flynn.

Christian sorri.

— Pensei que Trevelyan fosse seu nome do meio.

— Não. Sobrenome. Trevelyan-Grey.

— Mas você não usa.

— É muito longo. Venha — ordena ele.

Saio com ele da sala da tevê, atravessamos a sala de estar e o corredor principal, passando pela despensa e por uma adega impressionante, até chegarmos ao escritório grande e bem equipado de Taylor. Ele fica de pé assim que entramos. A sala é espaçosa o suficiente para uma mesa de reuniões com seis lugares. Acima de uma escrivaninha, há uma parede cheia de monitores. Não tinha ideia de que o apartamento tinha circuito interno de segurança. Aparentemente, ele controla a varanda, a escada, o elevador de serviço e o saguão.

— Oi, Taylor. Estou só mostrando o apartamento a Anastasia.

Taylor faz que sim com a cabeça, mas não sorri. Eu me pergunto se ele também levou uma bronca, e por que ainda está trabalhando. Quando sorrio para ele, ele acena com a cabeça educadamente. Christian segura minha mão mais uma vez e me leva até a biblioteca.

— E, claro, você já esteve aqui. — Christian abre a porta e eu dou uma olhada para o feltro verde da mesa de bilhar.

— Vamos jogar? — pergunto.

— Está bem. — Christian sorri, surpreso. — Você já jogou antes?

— Algumas vezes — minto, e ele estreita os olhos, inclinando a cabeça.

— Você é uma péssima mentirosa, Anastasia. Ou você nunca jogou antes ou...

— Com medo de um pouco de competição? — Passo a língua de leve pelos lábios.

— Eu? Com medo de uma menininha como você? — Christian zomba bem-humorado.

— Faça sua aposta, Sr. Grey.

— Você é assim tão confiante, Srta. Steele? — Ele sorri, divertido e incrédulo ao mesmo tempo. — O que você quer apostar?

— Se eu ganhar, você me leva de novo para o quarto de jogos.

Ele me olha como se não tivesse entendido o que acabei de dizer.

— E se eu ganhar? — pergunta ele expressando todo o seu choque.

— Aí a escolha é sua.

Ele contorce a boca ao pensar numa resposta.

— Fechado. — Sorri. — Quer jogar bilhar, sinuca ou bilhar francês?

— Bilhar, por favor. Não conheço os outros.

De um armário embaixo de uma das estantes de livros, Christian pega um estojo grande de couro. Dentro dele, as bolas de bilhar estão arrumadas sobre o forro de veludo. Com destreza, ele as coloca no triângulo sobre o feltro. Acho que nunca joguei bilhar numa mesa tão grande antes. Christian me passa um taco e um pouco de giz.

— Quer estourar? — pergunta ele com polidez fingida. Está se divertindo, acha que vai ganhar.

— Tudo bem. — Passo giz na ponta do taco e sopro o excesso, olhando Christian através dos cílios, e seus olhos escurecem.

Acerto a bola branca com uma tacada rápida e direta, atingindo-a no centro do triângulo com tanta força que uma bola listrada gira e mergulha na caçapa superior direita. Além de espalhar todas as bolas restantes.

— Fico com as listradas — digo inocentemente, lançando um sorriso tímido para Christian, que contorce a boca, divertindo-se.

— Como quiser — diz ele, educadamente.

Continuo, matando as próximas três bolas numa rápida sucessão. Por dentro, estou dando pulinhos. Nesse momento, sou muito grata a José por ter me ensinado a jogar, e a jogar bem. Christian assiste impassível, sem entregar nada, mas sua animação parece ter esmorecido. Erro a listrada verde por um fio.

— Sabe, Anastasia, eu poderia passar o dia inteiro aqui assistindo você se inclinar e se esticar em cima dessa mesa — diz ele, com um tom de apreciação.

Fico vermelha. Ainda bem que estou de calça jeans. Ele sorri. Está tentando me desconcertar, o filho da mãe. Ele tira o suéter creme e o joga no encosto de uma cadeira, sorrindo para mim ao caminhar até a mesa para sua primeira tacada.

Ele se inclina sobre a mesa. Minha boca fica seca. Hum, entendi o que ele quer dizer. Christian, numa calça apertada e numa camiseta branca, flexionando o corpo, desse jeito... é algo a se admirar. Quase perco a linha de raciocínio. Ele enfia quatro bolas rápidas, antes de cometer uma falta, matando a branca.

— Um erro básico, Sr. Grey — provoco.

— Ah, Srta. Steele — ele sorri —, sou apenas um simples mortal. Sua vez, creio. — Ele aponta para a mesa.

— Você não está tentando perder, está?

— Ah, não. Pelo prêmio que tenho em mente, Anastasia, quero ganhar. — Ele encolhe os ombros casualmente. — Mas, de qualquer forma, eu sempre quero ganhar.

Estreito os olhos para ele. Bom, vamos lá... Que bom que estou usando a blusa azul, que tem um belo de um decote. Caminho ao redor da mesa, abaixando-me a cada oportunidade disponível, oferecendo a Christian uma boa visão da minha bunda e do meu decote sempre que posso. Também sei jogar esse jogo. Lanço uma olhada para ele.

— Sei o que você está fazendo — sussurra ele, os olhos sombrios.

Inclino a cabeça para um lado, coquete, acariciando de leve o taco, e correndo minha mão para cima e para baixo bem devagar.

— Hum... Estou apenas tentando decidir onde vai ser minha próxima tacada — murmuro, distraída.

Debruçando-me sobre a mesa, acerto a listrada laranja, armando uma jogada melhor. Então, posiciono-me bem na frente de Christian e me apoio na mesa. Preparo minha próxima tacada, inclinando-me bem sobre a mesa. Ouço Christian inspirar fundo, e, claro, erro a tacada. Merda.

Ele se aproxima por trás de mim enquanto ainda estou debruçada sobre a mesa e coloca a mão em minha bunda. Hum...

— Você está tentando me provocar, Srta. Steele? — E dá um tapa com força na minha bunda.

Inspiro bruscamente.

— Estou — murmuro, porque é verdade.

— Cuidado com o que deseja, baby.

Passo a mão no ponto em que ele me bateu enquanto ele caminha até o outro lado da mesa e se inclina para dar a tacada. Ele mata a bola vermelha na caçapa esquerda. Em seguida, tenta acertar a amarela, no canto superior, mas erra. Abro um sorriso.

— Quarto Vermelho, aí vamos nós — ameaço.

Ele apenas ergue uma sobrancelha e faz um gesto para eu prosseguir. Mato a listrada verde com facilidade e, por um golpe de sorte, encaçapo a laranja, a última das bolas listradas.

— Você tem que cantar a bola — murmura Christian, e é como se ele estivesse falando de outra coisa, algo sombrio e devasso.

— Acima e à esquerda.

Miro na preta, acerto a bola, mas ela não cai. Bate longe da caçapa. Droga.

Christian abre um sorriso perverso ao se debruçar sobre a mesa e mata suas duas últimas bolas com facilidade. Estou praticamente ofegante, observando-o, seu corpo alongando-se sobre a mesa. Ele fica de pé e passa o giz no taco, os olhos ardendo nos meus.

— Se eu ganhar...

Ah, sim?

— Vou lhe dar umas palmadas e comer você em cima dessa mesa.

Puta merda. Cada músculo abaixo do meu umbigo se contrai de tensão.

— Acima, à direita — murmura ele, mirando na preta e se curvando para dar a tacada.

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