PRÓLOGO

_________________________________________


Ele voltou. Mamãe está dormindo ou então está doente de novo.

Eu me escondo e me enrosco debaixo da mesa da cozinha. Por entre meus dedos posso ver mamãe. Ela está dormindo no sofá, com a mão sobre o tapete verde e pegajoso, e ele está usando suas botas grandes, com fivelas brilhantes, e está de pé junto dela, gritando.

Ele acerta mamãe com um cinto. Levante-se! Levante-se! Você é uma cadela filha da puta. Você é uma cadela filha da puta. Você é uma cadela filha da puta. Você é uma cadela filha da puta. Você é uma cadela filha da puta. Você é uma cadela filha da puta.

Mamãe soluça. Pare. Por favor, pare. Mamãe não grita. Mamãe se encolhe.

Tapo os ouvidos e fecho os olhos. O barulho para.

Ele se vira, e posso ver suas botas à medida que caminha em direção à cozinha. Ainda está com o cinto. Está me procurando.

Ele se abaixa e sorri. Cheira mal. A cigarro e bebida. Aí está você, seu merdinha.


Um uivo arrepiante o acorda. Meu Deus! Ele está encharcado de suor e seu coração bate muito forte. Que porra é essa? Ele se senta na cama e leva a cabeça até as mãos. Merda. Eles voltaram. O barulho era eu. Respira fundo, tentando afastar da mente e das narinas o cheiro de uísque barato e de cigarros Camel rançosos.

Загрузка...