CAPÍTULO OITO

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Sawyer fala em sua manga novamente.

— Taylor, o Sr. Grey entrou no apartamento. — Ele tem um sobressalto, afastando o fone da orelha, provavelmente recebeu uma bronca de Taylor.

Ah, não, se Taylor está preocupado...

— Por favor, deixe-me entrar — imploro.

— Desculpe, Srta. Steele. Isso não vai demorar muito. — Sawyer ergue as mãos em um gesto defensivo. — Taylor e os outros estão entrando agora.

Ah, sinto-me tão impotente. Imóvel, permaneço escutando, ávida pelo menor ruído, mas tudo o que ouço é minha respiração acelerada. Está alta e curta, meu couro cabeludo coça, minha boca está seca, e eu me sinto fraca. Por favor, que Christian esteja bem, rezo em silêncio.

Não tenho ideia de quanto tempo se passou, e continuamos sem ouvir nada. Claro que o fato de não haver som algum é bom: não há tiros. Começo a caminhar ao redor da mesa no saguão e a examinar as pinturas nas paredes para me distrair.

Nunca tinha olhado de verdade para elas antes: são todas figurativas, todas religiosas — Nossa Senhora com o menino, em todos os dezesseis quadros. Que estranho.

Christian não é religioso, é? Todos os quadros na sala de estar são pinturas abstratas, já estes são tão diferentes. Mas eles não me distraem por muito tempo. Onde está Christian?

Olho para Sawyer, e ele me observa, impassível.

— O que está acontecendo?

— Sem notícias, Srta. Steele.

De repente, a maçaneta se move. Sawyer vira-se com um salto e saca a arma do coldre no ombro.

Fico paralisada. Christian aparece na porta.

— Tudo certo — diz ele, franzindo a testa para Sawyer, que baixa a arma depressa e dá um passo para trás para me deixar entrar. — Taylor está exagerando — resmunga Christian ao me estender a mão.

Fico ali de pé, olhando para ele, incapaz de me mover, assimilando cada pequeno detalhe: o cabelo rebelde, a tensão ao redor dos olhos, a mandíbula rígida, os dois primeiros botões da camisa abertos. Acho que devo ter envelhecido uns dez anos. Christian franze a testa para mim, preocupado, o olhar sombrio.

— Está tudo bem, baby. — Ele se move na minha direção, envolvendo-me em seus braços e beijando meu cabelo. — Vamos lá, você está cansada. Cama.

— Eu fiquei tão preocupada — digo, regozijando-me em seu abraço e inalando o perfume doce, a cabeça em seu peito.

— Eu sei. Estamos todos nervosos.

Sawyer sumiu, presumivelmente está dentro do apartamento.

— Cá entre nós, essas suas ex-namoradas estão se mostrando um desafio e tanto, Sr. Grey — murmuro ironicamente.

Christian relaxa.

— Sim. Estão.

Ele me solta e segura minha mão, conduzindo-me ao longo do corredor até a sala de estar.

— Taylor e sua equipe estão verificando todos os closets e armários. Não acho que ela esteja aqui.

— Por que estaria? — Não faz sentido.

— Pois é.

— Ela conseguiria entrar?

— Não vejo como. Mas Taylor às vezes é cuidadoso demais.

— Você já conferiu o quarto de jogos? — sussurro.

Christian me olha de soslaio, a testa enrugada.

— Já, está trancado, mas Taylor e eu checamos.

Respiro fundo para me acalmar.

— Você quer uma bebida ou alguma coisa? — pergunta Christian.

— Não. — O cansaço toma conta de mim, tudo o que quero é ir para a cama.

— Venha. Deixe-me colocar você na cama. Você parece exausta. — A expressão de Christian se suaviza.

Franzo a testa. E ele, não pretende dormir também? Será que ele quer dormir sozinho?

Fico aliviada quando ele me leva para seu quarto. Coloco minha carteira sobre a cômoda e a esvazio. Dou uma olhada no bilhete de Mrs. Robinson.

— Aqui — entrego-o a Christian. — Não sei se você quer ler isso. Eu prefiro ignorar.

Christian dá uma olhada rápida e contrai a mandíbula.

— Não sei bem que dúvidas ela poderia esclarecer — diz com desdém. — Preciso falar com Taylor. — Ele olha para mim. — Deixe-me abrir seu vestido.

— Você vai dar queixa do carro para a polícia? — pergunto, virando-me de costas.

Ele afasta meu cabelo e abre o zíper, os dedos roçando de leve em minhas costas nuas.

— Não. Não quero envolver a polícia. Leila precisa de ajuda, não de intervenção policial, e não quero a polícia aqui. Só precisamos redobrar nossos esforços para encontrá-la. — Ele se inclina e beija meu ombro com carinho. — Vá para a cama — ordena ele, deixando o quarto.

* * *

EU ME DEITO, olhando para o teto, esperando que ele volte. Aconteceu tanta coisa hoje, há tanto para assimilar. Por onde começar?

Acordo num sobressalto, desorientada. Estava dormindo? Piscando por causa da luz tênue vinda do corredor, que invade o quarto pela porta entreaberta, percebo que Christian não está comigo. Onde ele está? Ergo os olhos. Há uma sombra de pé na beira da cama. Uma mulher, talvez? Vestida de preto? É difícil dizer.

No meu estado confuso, estico-me e acendo a luz da cabeceira. Volto a olhar, mas não há ninguém ali. Balanço a cabeça. Será que foi só minha imaginação? Um sonho?

Sento-me e passo os olhos pelo quarto, um mal-estar indistinto e insidioso tomando conta de mim, mas estou realmente sozinha.

Esfrego o rosto. Que horas são? Onde está Christian? O despertador marca duas e quinze da manhã.

Saio da cama meio tonta e começo a procurá-lo, desconcertada por minha imaginação fértil. Dei para ver coisas agora. Deve ser uma reação aos eventos dramáticos da noite.

A sala está vazia, exceto pela luz que emana dos três lustres sobre o balcão de café da manhã. Mas a porta do escritório de Christian está entreaberta, e eu o ouço ao telefone.

— Não sei por que você está me ligando a esta hora. Não tenho nada a dizer para você... bem, pode me contar agora. Não precisa deixar recado.

Fico imóvel junto à porta, sentindo-me culpada por estar escutando. Com quem ele está falando?

— Não, escute você. Eu já pedi, agora estou mandando. Deixe-a em paz. Ela não tem nada a ver com você. Entendeu?

Ele soa agressivo e irritado. Hesito em bater.

— Eu sei que você se preocupa. Mas estou falando sério, Elena. Deixe-a em paz, merda. Preciso dizer uma terceira vez? Você está me ouvindo?... Ótimo. Boa noite. — Ele bate o telefone na mesa.

Merda. Bato de leve na porta.

— O que foi? — rosna Christian, e a minha vontade é de correr e me esconder.

Ele está sentado atrás da mesa, a cabeça entre as mãos. Ergue o olhar, com uma expressão feroz no rosto que se suaviza logo que me vê. Seus olhos estão arregalados e cautelosos. De repente, ele parece muito cansado, e meu coração se comprime.

Ele pisca, descendo o olhar ao longo de minhas pernas e voltando até meu rosto. Estou usando uma de suas camisetas.

— Você só devia usar cetim ou seda, Anastasia. — Ele solta um suspiro. — Mas até com minha camiseta fica linda.

Ah, um elogio inesperado.

— Senti sua falta. Venha para a cama.

Ele levanta lentamente da cadeira, ainda está com a camisa branca e a calça preta do smoking. Mas agora seus olhos estão brilhando, cheios de promessas... ainda que haja também um resquício de tristeza. Ele está diante de mim, encarando-me atentamente sem me tocar.

— Você sabe o que significa para mim? — murmura ele. — Se alguma coisa acontecesse com você por minha causa... — Sua voz diminui, e sua testa se franze, a dor que perpassa seu rosto é quase palpável. Ele parece tão vulnerável, seu medo tão aparente.

— Nada vai acontecer comigo. — Eu o tranquilizo, mantendo a voz calma. Acaricio seu rosto, correndo os dedos pela barba. É inesperadamente macia. — Sua barba cresce muito rápido — sussurro, incapaz de esconder em minha voz a admiração que sinto por este belo e complicado homem que está diante de mim.

Traço a linha de seu lábio inferior, em seguida, corro os dedos até a base do pescoço, para a mancha leve de batom que começa a desaparecer. Ele me olha, ainda sem me tocar, e entreabre os lábios. Corro o indicador ao longo da linha, e ele fecha os olhos. Sua respiração suave se acelera. Meus dedos encostam em sua camisa, e desço a mão para abrir o próximo botão ainda fechado.

— Não vou tocar em você. Só quero abrir sua camisa — sussurro.

Ele arregala os olhos e me encara assustado. Mas não se move nem me interrompe. Muito lentamente, abro o botão, mantendo o tecido longe de sua pele, e desço a mão com cuidado até o próximo botão, repetindo o processo devagar, concentrando-me no que estou fazendo.

Não quero tocá-lo. Bem, quero tocá-lo... mas não vou fazer isso. No quarto botão, a linha vermelha reaparece, e eu sorrio timidamente para ele.

— De volta a território seguro. — Corro os dedos ao longo da linha antes de abrir o último botão. Abro sua camisa e passo para os punhos, tirando as abotoaduras pretas de pedra polida, uma de cada vez. — Posso tirar sua camisa? — pergunto, em voz baixa.

Ele faz que sim com a cabeça, os olhos ainda arregalados, enquanto desço a camisa por seus ombros. Ele solta as mãos e então está parado à minha frente, nu da cintura para cima. Sem a camisa, parece recuperar o equilíbrio. Sorri para mim.

— E minha calça, Srta. Steele? — pergunta, levantando uma sobrancelha.

— No quarto. Quero você na sua cama.

— Quer, é? Srta. Steele, você é insaciável.

— Não imagino por quê. — Seguro a mão de Christian, puxo-o para fora do escritório e o levo até o quarto. Está frio dentro do cômodo.

— Você abriu a porta da varanda? — pergunta ele, franzindo a testa para mim ao entrar.

— Não. — Não me lembro de ter feito isso. Lembro-me de ter dado uma olhada ao redor do quarto ao acordar. Definitivamente, a porta estava fechada.

Merda... Todo o sangue foge do meu rosto, e encaro Christian, boquiaberta.

— O que foi? — pergunta ele, olhando para mim.

— Quando acordei... tinha alguém aqui — sussurro. — Pensei que eu estivesse imaginando coisas.

— O quê? — Ele me olha horrorizado, corre para a porta da varanda e dá uma olhada para fora, em seguida entra de novo no quarto e tranca a porta atrás de si. — Tem certeza? Quem? — pergunta, a voz firme.

— Uma mulher, acho. Estava escuro. Eu tinha acabado de acordar.

— Vista-se — rosna ele para mim. — Agora!

— Minhas roupas estão lá em cima — choramingo.

Ele abre uma das gavetas da cômoda e puxa uma calça de moletom.

— Coloque isto.

A calça é grande demais, mas é melhor não discutir com ele agora.

Ele pega uma camiseta e a veste depressa. Agarrando o telefone na mesinha de cabeceira, aperta dois botões.

— Ela ainda está aqui, porra — sussurra ao telefone.

Aproximadamente três segundos depois, Taylor e um dos seguranças adentram o quarto. Christian faz um resumo detalhado do que aconteceu.

— Faz quanto tempo? — pergunta Taylor, encarando-me de forma profissional. Ainda está de paletó. Será que esse homem nunca dorme?

— Cerca de dez minutos — murmuro, sentindo-me culpada por algum motivo.

— Ela conhece o apartamento como a palma da mão — diz Christian. — Vou sair com Anastasia. Ela está escondida em algum lugar aqui dentro. Encontre-a. Quando Gail volta?

— Amanhã à noite, senhor.

— Ela não deve voltar até que este lugar esteja seguro. Entendido? — diz Christian.

— Sim, senhor. O senhor vai para Bellevue?

— Não vou levar esse problema para a casa dos meus pais. Faça uma reserva para mim em algum lugar.

— Certo. Eu ligo para o senhor.

— Não estamos todos exagerando um pouco? — pergunto.

Christian olha para mim de cara feia.

— Ela pode ter uma arma — rosna.

— Christian, ela estava ao pé da cama. Teria atirado em mim naquele momento, se quisesse mesmo fazer isso.

Christian faz uma pausa por um instante, talvez para conter a raiva. Numa voz ameaçadoramente baixa, ele diz:

— Não estou preparado para assumir o risco. Taylor, Anastasia precisa de sapatos.

Christian entra em seu closet e o segurança fica de vigia. Não consigo me lembrar do nome dele, Ryan talvez. Ele olha alternadamente para o corredor e para a porta da varanda. Christian retorna dois minutos depois com uma bolsa de couro, vestindo uma calça jeans e o paletó de risca de giz. Ele coloca uma jaqueta jeans sobre meus ombros.

— Venha. — Ele aperta minha mão com força, e eu praticamente tenho que correr para acompanhá-lo até a sala de estar.

— Não acredito que ela poderia se esconder aqui dentro — murmuro, olhando para fora pela porta da varanda.

— O lugar é grande. Você ainda não viu tudo.

— Por que você não liga para ela... não diz que quer conversar?

— Anastasia, ela está instável, e talvez armada — diz ele, irritado.

— Então a gente simplesmente foge?

— Por enquanto, sim.

— E se ela tentar atirar em Taylor?

— Taylor conhece e entende armas — diz, com desgosto. — Vai ser mais rápido que ela.

— Ray foi do exército. Ele me ensinou a atirar.

Christian ergue as sobrancelhas e por um momento parece perplexo.

— Você, com uma arma? — pergunta, incrédulo.

— Sim — digo, ofendida. — Sei atirar, Sr. Grey, então é melhor você tomar cuidado. Não é só com as suas ex-submissas que precisa se preocupar.

— Vou me lembrar disso, Srta. Steele — responde ele secamente, mas acha graça, e é bom saber que mesmo nesta situação ridiculamente tensa, sou capaz de fazê-lo sorrir.

Taylor nos encontra no saguão de entrada e me entrega uma pequena mala e meu All Star preto. Fico surpresa de que tenha separado algumas roupas para mim. Sorrio timidamente para ele com gratidão, e seu sorriso de resposta é rápido e tranquilizador. Antes que eu possa evitar, abraço-o com força. Ele é tomado de surpresa, e quando o solto, vejo que está com o rosto vermelho.

— Tenha cuidado — murmuro.

— Sim, Srta. Steele — balbucia ele, envergonhado.

Christian franze a testa para mim e depois volta o olhar interrogativamente para Taylor, que sorri de leve e ajusta a gravata.

— Avise-me para onde estou indo — diz Christian.

Taylor enfia a mão no casaco, tira a carteira e entrega um cartão de crédito a Christian.

— Talvez precise disto quando chegar lá.

— Bem pensado. — Christian concorda com a cabeça.

Ryan se junta a nós.

— Sawyer e Reynolds não encontraram nada — diz a Taylor.

— Acompanhe o Sr. Grey e a Srta. Steele até a garagem — ordena Taylor.

A garagem está deserta. Bem, são quase três da manhã. Christian abre a porta do carona do R8 para mim e coloca minha mala e sua bolsa no bagageiro da frente do carro. O Audi ao nosso lado está uma bagunça completa: todos os pneus cortados, coberto de tinta branca. É arrepiante, e fico feliz que Christian esteja me levando daquele lugar.

— Vai chegar outro na segunda-feira — diz Christian, desolado, ao se sentar ao meu lado.

— Como ela sabia que o carro era meu?

Ele me olha nervoso e suspira.

— Ela tinha um Audi A3. Eu compro um para todas as minhas submissas. É um dos carros mais seguros da categoria.

Ah.

— Então, não foi bem um presente de formatura.

— Anastasia, ao contrário do que eu esperava, você nunca foi minha submissa, então, tecnicamente, é um presente de formatura. — Ele liga o carro e acelera até a saída do estacionamento.

Ao contrário do que ele esperava. Ai, não... Meu inconsciente balança a cabeça, com tristeza. Este é o ponto ao qual a gente sempre retorna.

— E você ainda espera por isso? — sussurro.

O telefone embutido do carro vibra.

— Grey — atende Christian.

— Fairmont Olympic. Em meu nome.

— Obrigado, Taylor. E, Taylor, tenha cuidado.

Taylor faz uma pausa.

— Sim, senhor — responde calmamente, e Christian desliga.

As ruas de Seattle estão vazias, e Christian corre pela Quinta Avenida em direção à Interestadual 5. Uma vez na rodovia, ele pisa no acelerador, no sentido norte. Está correndo tanto que por um instante sou jogada contra o encosto do banco.

Olho de relance para ele. Está mergulhado em pensamentos, irradiando um silêncio mortal e taciturno. Não respondeu a minha pergunta. Ele dirige o olhar para o retrovisor com frequência, e percebo que está verificando se não estamos sendo seguidos. Talvez seja por isso que estamos na I-5. Achei que o Fairmont ficava em Seattle.

Olho pela janela, tentando raciocinar com minha mente exausta e hiperativa. Se Leila quisesse me machucar, teve uma oportunidade mais do que suficiente no quarto.

— Não. Não é o que eu espero, não mais. Pensei que fosse óbvio. — Christian interrompe meus pensamentos, a voz macia.

Pisco para ele, apertando a jaqueta jeans em volta de mim. Não sei se o frio que sinto vem de mim ou de fora.

— Eu me preocupo que, você sabe... que eu não seja suficiente.

— Você é mais do que suficiente. Pelo amor de Deus, Anastasia, o que eu tenho que fazer?

Fale-me de você. Diga que me ama.

— Por que você achou que eu o largaria quando eu disse que o Dr. Flynn tinha me contado tudo o que havia para saber a seu respeito?

Ele suspira pesadamente, fechando os olhos por um instante, e demora muito tempo para responder.

— Você não pode nem começar a entender as profundezas da minha depravação, Anastasia. E não é algo que eu queira compartilhar com você.

— E você realmente acha que eu o deixaria se soubesse? — Minha voz é alta, incrédula. Ele não entende que eu o amo? — É essa a ideia que faz de mim?

— Eu sei que você me deixaria — responde, com tristeza na voz.

— Christian... Acho que isso é muito pouco provável. Não posso imaginar ficar sem você — nunca...

— Você já me deixou uma vez... não quero passar por isso de novo.

— Elena disse que encontrou você no sábado passado — sussurro baixinho.

— Não encontrou, nada. — Ele franze a testa.

— Você não foi vê-la depois que eu saí?

— Não — responde ele, irritado. — Já disse que não, e não gosto que duvidem de mim — ele me repreende. — Não fui a lugar algum no fim de semana passado. Eu me sentei e montei o planador que você me deu. Levei uma eternidade — acrescenta, em voz baixa.

Meu coração se contrai de novo. Mrs. Robinson disse que o viu no sábado.

Viu ou não viu? Está mentindo. Por quê?

— Ao contrário do que Elena pensa, não corro para ela toda vez que tenho um problema, Anastasia. Não corro para ninguém. Você já deve ter notado, não sou muito de conversar. — Ele aperta as mãos no volante.

— Carrick me contou que você não falou por dois anos.

— Contou, é? — Christian pressiona os lábios.

— Eu meio que tentei obter informações. — Encaro meus dedos, envergonhada.

— Então, o que mais meu pai lhe contou?

— Que a sua mãe foi a médica que o examinou quando você chegou ao hospital. Depois que o encontraram no apartamento.

A expressão de Christian permanece vazia... cuidadosa.

— Ele disse que aprender a tocar piano ajudou. E Mia.

Ao ouvir o nome, seus lábios se curvam num sorriso carinhoso. Depois de um momento, ele diz:

— Ela tinha uns seis meses quando chegou. Fiquei muito feliz, Elliot menos. Ele já tivera de aceitar a minha chegada. Ela era perfeita. — A reverência gentil e triste em sua voz é envolvente. — Claro, não é mais tão perfeita hoje em dia — resmunga, e eu recordo suas tentativas bem-sucedidas de impedir nossas intenções lascivas durante a festa. O que me faz rir. — Você acha isso engraçado, Srta. Steele? — Christian me lança um olhar de soslaio.

— Ela parecia determinada a nos manter afastados.

Ele ri sem alegria.

— É, e teve bastante sucesso. — Ele estica o braço e aperta meu joelho. — Mas no final a gente acabou conseguindo. — Sorri e, em seguida, olha novamente pelo retrovisor. — Acho que não estamos sendo seguidos. — E pega uma saída da rodovia, voltando para o centro de Seattle.

— Posso perguntar uma coisa sobre Elena? — Estamos parados em um sinal de trânsito.

Christian me olha com cautela.

— Se for realmente necessário — resmunga, emburrado, mas não deixo sua irritação me deter.

— Você me disse há muito tempo que ela o amava de uma maneira que você achou aceitável. O que isso quer dizer?

— Não é óbvio? — pergunta ele.

— Não para mim.

— Eu estava fora de controle. Não suportava ser tocado. Ainda não suporto. Para um adolescente de quatorze, quinze anos com os hormônios em fúria, era uma época difícil. Ela me mostrou uma maneira de colocar minha energia para fora.

Ah.

— Mia disse que você arrumava muita briga.

— Meu Deus, o que deu nessa família tagarela? Na verdade, é você. — Paramos em mais um sinal, e ele estreita os olhos para mim. — Você arranca informação das pessoas. — Ele balança a cabeça com um desgosto simulado.

— Mia ofereceu essa informação livremente — resmungo, indignada. — Na verdade, ela foi muito comunicativa. Estava preocupada que você fosse começar uma briga na tenda, caso não me ganhasse no leilão.

— Ah, baby, não havia esse perigo. De jeito nenhum eu deixaria alguém dançar com você.

— Você deixou o Dr. Flynn.

— Ele é sempre a exceção à regra.

Christian conduz o carro pela impressionante e arborizada entrada de veículos do Hotel Fairmont Olympic e encosta junto à porta da frente, ao lado de uma exótica fonte de pedra.

— Venha. — Ele salta do carro e pega nossa bagagem.

Um manobrista corre em nossa direção, parecendo surpreso, sem dúvida pela nossa chegada tardia. Christian lhe lança as chaves do carro.

— Está em nome de Taylor — diz.

O manobrista acena com a cabeça e não consegue conter a alegria ao entrar no R8 e partir. Christian pega minha mão e caminhamos em direção ao lobby.

De pé ao lado dele junto ao balcão da recepção, sinto-me completamente ridícula. Aqui estou, no hotel mais luxuoso de Seattle, vestindo uma jaqueta jeans larga demais, uma calça de moletom larga demais e uma camiseta velha, ao lado deste elegante deus grego. Não é de espantar que a recepcionista olhe de um para o outro, como se a soma de nós dois não fizesse sentido. Claro que está intimidada por Christian. Reviro os olhos enquanto ela enrubesce e gagueja. Até suas mãos estão tremendo.

— O senhor... precisa de ajuda... com as malas, Sr. Taylor? — pergunta ela, corando novamente.

— Não, a Sra. Taylor e eu damos conta sozinhos.

A Sra. Taylor! Mas não tenho aliança. Escondo as mãos atrás de mim.

— Os senhores estão na Suíte Cascade, Sr. Taylor, décimo primeiro andar. O rapaz vai ajudá-los com as malas.

— Não precisa — responde Christian secamente. — Onde ficam os elevadores?

A Srta. Bochechas Rosadas indica o caminho, e Christian pega minha mão uma vez mais. Dou uma olhada de relance pelo saguão suntuoso, repleto de cadeiras estofadas e completamente vazio, exceto por uma mulher de cabelo escuro sentada em um sofá aconchegante, dando biscoitinhos a seu cachorro. Ela ergue a cabeça e sorri para nós enquanto caminhamos até os elevadores. Então o hotel permite animais de estimação? Muito estranho para um local tão sofisticado!

A suíte tem dois quartos, uma sala de jantar formal e até um piano de cauda. A lareira está acesa na enorme sala principal. Essa suíte é maior que o meu apartamento.

— Bem, Sra. Taylor, não sei quanto a você, mas eu realmente gostaria de uma bebida — murmura Christian, trancando a porta da frente.

Ele coloca minha mala e sua bolsa sobre o móvel ao pé da cama king size com dossel e me leva pela mão até a sala, onde o fogo arde reluzente. É uma visão bem-vinda. Fico diante da lareira aquecendo as mãos, e Christian nos prepara uma bebida.

— Armagnac?

— Por favor.

Depois de um momento, ele se junta a mim diante do fogo e me passa uma taça de cristal com o conhaque.

— Foi um dia cheio, hein?

Concordo com a cabeça e seus olhos cinzentos me analisam, preocupados.

— Estou bem — eu o tranquilizo. — E você?

— Bem, neste instante gostaria de beber isto e, depois, se você não estiver muito cansada, gostaria de levá-la para a cama e me perder em você.

— Acho que posso fazer isso pelo senhor, Sr. Taylor. — Sorrio-lhe timidamente enquanto ele tira os sapatos e as meias.

— Sra. Taylor, pare de morder o lábio — sussurra ele.

Fico vermelha por dentro. O armagnac é delicioso, desliza suavemente por minha garganta, deixando um ardor cálido. Quando volto os olhos para Christian, ele está bebendo e me observando, o olhar escuro e faminto.

— Você nunca deixa de me surpreender, Anastasia. Mesmo depois de um dia como hoje, ou, no caso, ontem, você não está choramingando nem fugindo e gritando por aí. Estou impressionado. É uma mulher muito forte.

— Você é um bom motivo para ficar — murmuro. — Já falei, Christian, não vou a lugar algum, não importa o que você tenha feito. Você sabe o que sinto por você.

Sua boca se contorce, como se ele duvidasse de minhas palavras, e sua testa se franze como se fosse doloroso ouvir o que estou dizendo. Ah, Christian, o que eu tenho que fazer para que entenda o que eu sinto por você?

Deixe que ele bata em você, meu inconsciente zomba de mim. Interiormente, faço uma cara feia para ele.

— Onde você vai pendurar os retratos de mim que José tirou? — Tento melhorar o clima da conversa.

— Depende. — Ele contrai os lábios. Trata-se obviamente de um tópico muito mais agradável para ele.

— De quê?

— Das circunstâncias — responde com um ar misterioso. — A exposição ainda não terminou, então não tenho que decidir de imediato.

Inclino a cabeça e estreito os olhos.

— Pode fazer essa cara pelo tempo que quiser, Sra. Taylor. Não vou contar nada — brinca ele.

— Posso arrancar a verdade de você sob tortura.

Ele ergue uma sobrancelha.

— Sério, Anastasia, acho que você não deveria fazer promessas que não pode cumprir.

Meu Deus, é isso que ele pensa? Coloco meu copo no console sobre a lareira, me aproximo e, para sua surpresa, pego o copo dele e o deixo junto ao meu.

— É isso que a gente vai descobrir — murmuro.

Muito corajosa, sem dúvida impulsionada pelo conhaque, seguro a mão de Christian e o puxo na direção do quarto. Paro ao pé da cama. Christian está tentando esconder seu divertimento.

— Agora que me trouxe até aqui, Anastasia, o que vai fazer comigo? — brinca, mantendo a voz baixa.

— Vou começar tirando sua roupa. Quero terminar o que comecei mais cedo — seguro seu paletó pelas lapelas, com cuidado para não tocá-lo, e ele não recua, mas prende a respiração.

Gentilmente, tiro o paletó por sobre os ombros, e ele me encara, todo e qualquer traço de humor desaparecendo de seus olhos à medida que eles se arregalam, queimando dentro dos meus, cautelosos e... urgentes? Há tantas interpretações para esse olhar. O que ele está pensando? Coloco o paletó sobre a poltrona.

— Agora a camiseta — sussurro e levanto-a pela barra. Ele me ajuda, erguendo os braços e recuando, para facilitar sua retirada. Uma vez sem a camisa, ele me olha intensamente, vestindo apenas a calça jeans que pende provocativa de seus quadris, expondo o elástico da cueca.

Meus olhos movem-se avidamente por sua barriga musculosa até o que sobrou da linha de batom, desbotada e manchada, e então para o seu peito. Tudo o que quero é correr a língua em meio aos pelos em seu peito, saborear seu gosto.

— E agora? — sussurra ele, os olhos brilhando.

— Quero beijar você aqui — deslizo o dedo de um lado a outro de seu quadril.

Ele entreabre os lábios e inspira fundo.

— Não a estou impedindo. — Ele solta o ar.

Seguro sua mão.

— Então é melhor você se deitar — murmuro e o levo para junto da cama com dossel. Ele parece perplexo, e me dou conta de que talvez ninguém tenha tomado as rédeas com ele desde... ela. Não, não pense nisso.

Levantando as cobertas, ele se senta na beirada da cama e olha para mim, esperando, a expressão cautelosa e séria. Fico diante dele e deixo a jaqueta jeans escorregar de meus ombros até cair no chão, depois tiro o moletom.

Ele esfrega o polegar nas pontas dos dedos. Sei que está se coçando para me tocar, mas suprime o desejo. Tomo fôlego e, reunindo toda a coragem que tenho, tiro a camiseta por sobre a cabeça, ficando nua diante dele. Seus olhos não deixam os meus, mas ele inspira e entreabre os lábios.

— Anastasia, você é a própria Afrodite — murmura.

Seguro seu rosto nas mãos, erguendo sua cabeça, e me debruço para beijá-lo. Ele solta um gemido grave, no fundo da garganta.

Assim que minha boca toca a dele, ele me agarra pelos quadris, e, antes que eu possa me dar conta, estou presa sob o seu corpo, suas pernas forçando as minhas a se separarem, ele se aninhando entre minhas pernas. E ele está me beijando, atacando minha boca, nossas línguas entrelaçadas. Sua mão corre de minha coxa até o quadril, e então para em minha barriga e sobe até meus seios, apertando e puxando meu mamilo sedutoramente.

Solto um gemido e flexiono o quadril involuntariamente contra ele, encontrando um delicioso atrito contra o fecho de sua calça e sua ereção crescente. Ele para de me beijar e me olha perplexo e sem fôlego. E então move o quadril, empurrando sua ereção contra mim... Isso. Bem aí.

Fecho os olhos e solto outro gemido, e ele repete, mas desta vez eu respondo, movendo-me com ele, deliciando-me com seus gemidos ao me beijar de novo. Christian continua a lenta e deliciosa tortura, esfregando-se em mim, eu me esfregando nele. E ele tem razão, nós nos perdemos um no outro, e é inebriante ao ponto de me fazer esquecer todo o resto. Todas as minhas preocupações desaparecem. Estou aqui, neste momento, com ele, o sangue correndo em minhas veias, vibrando alto nos ouvidos, misturado ao som de nossa respiração ofegante. Enterro as mãos em seu cabelo, segurando-o junto à minha boca, consumindo-o, minha língua tão faminta quanto a dele. Corro os dedos ao longo de seus braços e da parte inferior das costas até o cós da calça jeans e enfio minhas mãos atrevidas e gananciosas dentro dela, instando-o a continuar, mais e mais, esquecendo-me de tudo, exceto de nós.

— Você vai acabar comigo, Ana — sussurra ele de repente, soltando-se de mim e ajoelhando-se. Ele se desvencilha da calça num instante e me estende um envelopinho de papel laminado. — Você me quer, baby, e eu com certeza quero você. Você sabe o que fazer.

Com dedos ansiosos e hábeis, rasgo o pacote e coloco a camisinha nele. Christian sorri para mim, a boca aberta, os olhos cinzentos nebulosos e cheios de promessas carnais. Debruçando-se sobre meu corpo, ele esfrega o nariz no meu, os olhos fechados, e, deliciosamente, bem devagar, entra em mim.

Agarro seus braços e jogo o queixo para cima, entregando-me à plenitude extraordinária que é estar sob seu domínio. Ele corre os dentes ao longo do meu queixo, sai de mim e desliza de novo para dentro, tão lento, tão gentil, tão carinhoso, seu corpo pressionando o meu, os cotovelos e as mãos dos dois lados do meu rosto.

— Você me faz esquecer de tudo. Você é a melhor terapia — suspira ele, movendo-se a um ritmo dolorosamente lento, saboreando cada centímetro de mim.

— Por favor, Christian, mais rápido — murmuro, querendo mais.

— Ah, não, baby. Quero devagar. — Ele me beija com ternura, mordendo suavemente meu lábio inferior e absorvendo meus gemidos suaves.

Passo as mãos em seu cabelo e me entrego ao seu ritmo enquanto meu corpo lentamente sobe mais e mais, até cair, rápido e pesado, atingindo o orgasmo.

— Ah, Ana. — Ele suspira, entregando-se, meu nome uma bênção em seus lábios quando ele atinge o clímax.

* * *

SUA CABEÇA REPOUSA em minha barriga, os braços em volta de mim. Meus dedos passeiam por seu cabelo rebelde, e ficamos ali, por quanto tempo não sei. Está tão tarde, e estou tão cansada, mas tudo o que quero é desfrutar do sereno esplendor de fazer amor com Christian Grey, porque foi isso que fizemos: amor delicado e carinhoso.

Ele evoluiu muito, assim como eu, em tão pouco tempo. É quase coisa demais para digerir. Em meio a toda essa maluquice, estou perdendo de vista a jornada simples e honesta que ele está percorrendo comigo.

— Nunca vou me cansar de você. Não me deixe — murmura ele e beija minha barriga.

— Não vou a lugar algum, Christian, e pelo que me lembro eu que queria beijar sua barriga — resmungo, sonolenta.

Ele sorri junto à minha pele.

— Agora não tem nada impedindo você, baby.

— Acho que não sou capaz de me mexer... Estou tão cansada.

Christian suspira e, relutante, move o corpo, deitando-se ao meu lado, a cabeça apoiada no cotovelo, puxando as cobertas sobre nós. Ele olha para mim, os olhos reluzentes, cálidos e amorosos.

— Durma. — Ele beija o meu cabelo e passa o braço em volta de mim, e eu apago.

* * *

QUANDO ABRO OS OLHOS, o quarto está iluminado, fazendo-me piscar. Estou tonta de sono. Onde estou? Ah, no hotel...

— Oi — murmura Christian, sorrindo carinhosamente para mim. Está na cama, deitado ao meu lado, completamente vestido. Há quanto tempo está aqui? Estava me analisando? De repente, sinto-me incrivelmente tímida, e meu rosto esquenta sob seu olhar firme.

— Oi — respondo, feliz por estar de bruços. — Há quanto tempo você está me olhando?

— Eu poderia ver você dormir por horas, Anastasia. Mas estou aqui só há uns cinco minutos. — Ele se inclina e me dá um beijo suave. — A Dra. Greene vai chegar daqui a pouco.

— Ah. — Eu havia me esquecido da intromissão inadequada de Christian.

— Dormiu bem? — pergunta ele, com gentileza. — Deve ter dormido, com todo aquele ronco.

Ah, o Christian brincalhão e provocador.

— Eu não ronco! — respondo petulante, fazendo beicinho.

— Não. Não ronca. — Ele sorri para mim. A linha tênue de batom vermelho ainda visível ao redor de seu pescoço.

— Você tomou banho?

— Não. Estava esperando por você.

— Ah... tudo bem. Que horas são?

— Dez e quinze. Não tive coragem de acordar você antes, estava tão cansada... de partir o coração.

— Você me disse que nem sequer tinha coração.

Ele sorri com tristeza, mas não responde.

— O café da manhã está servido: panquecas e bacon para você. Venha, levante-se, estou começando a me sentir sozinho aqui. — Ele se levanta da cama, dando-me um tapa na bunda, o que me faz dar um pulo.

Hum... Essa é a ideia que Christian faz de afeto.

Ao me espreguiçar, todo o meu corpo dói... sem dúvida, é o resultado de todo o sexo e toda a dança e de tanto tempo me equilibrando em cima de sapatos de salto alto caríssimos. Caio para fora da cama e me arrasto até o suntuoso banheiro, repassando os acontecimentos do dia anterior em minha cabeça. Ao sair, estou usando um dos roupões de banho supermacios que estavam pendurados no cabide de bronze no banheiro.

Leila, a garota que se parece comigo, é a imagem mais surpreendente que meu cérebro invoca, isso e a sua presença fantasmagórica no quarto de Christian. O que ela queria? Eu? Christian? Para fazer o quê? E por que diabo ela destruiu o meu carro?

Christian disse que eu ganharia outro Audi, como todas as suas submissas. Não é um pensamento bem-vindo. Mas agora que fui tão generosa com o dinheiro que ele me deu, não há muito que eu possa fazer.

Caminho até o quarto principal da suíte: nenhum sinal de Christian. Finalmente o encontro na sala de jantar. Eu me sento à mesa, feliz com o impressionante café da manhã que encontro diante de mim. Christian está lendo os jornais de domingo e tomando café, já terminou de comer. Ele sorri para mim.

— Coma. Você vai precisar de energia hoje — brinca.

— Ah, é? E por quê? Vai me trancar no quarto? — De repente, minha deusa interior acorda num salto, toda desgrenhada e com uma aparência de quem acabou de transar.

— Por mais tentadora que seja essa ideia, achei que a gente podia sair hoje. Tomar um pouco de ar.

— É seguro? — pergunto com ar inocente, tentando afastar a ironia de minha voz, mas não consigo.

A expressão de Christian se desmancha, e ele contrai a boca em uma linha rígida.

— Para onde vamos, é. E isso não é assunto para brincadeira — acrescenta severamente, estreitando os olhos.

Fico vermelha e olho para meu café da manhã. Não estou com a mínima vontade de levar bronca depois de todo o drama que passamos, e de ter ido dormir tão tarde. Então como em silêncio, sentindo-me petulante.

Meu inconsciente balança a cabeça para mim, em sinal de reprovação. Christian não brinca quando o assunto é minha segurança. Eu já deveria saber disso. Minha vontade é de revirar os olhos para ele, mas me seguro.

Certo, estou cansada e irritada. O dia de ontem foi cheio, e não dormi o suficiente. Por que, meu Deus, ele tem que estar com essa aparência tão limpa e descansada? A vida não é justa.

Alguém bate à porta.

— Deve ser a médica — resmunga Christian, na certa ainda chateado com minha ironia. Ele se afasta da mesa.

Será que não se pode ter direito a uma manhã calma e normal? Suspiro com força, deixando metade do meu café da manhã e me levantando para cumprimentar a Dra. Anticoncepcional Injetável.

* * *

ESTAMOS NO QUARTO, e a Dra. Greene está me olhando boquiaberta. Está menos formal do que da última vez, usando um twin-set de cashmere rosa-claro e calça preta, além de ter deixado os finos cabelos louros soltos.

— E você simplesmente parou de tomar? Do nada?

Fico vermelha, sentindo-me uma idiota.

— É. — É possível falar mais baixo do que isso?

— Existe uma chance de você estar grávida — diz ela, com naturalidade.

O quê! O mundo desmorona sob meus pés. Meu inconsciente se joga no chão, com ânsias de vômito, e acho que também vou passar mal. Não!

— Aqui, faça xixi neste potinho. — Hoje ela está em modo superprofissional, sem tempo para gentilezas.

Obediente, pego o pequeno recipiente de plástico que ela me estende e caminho até o banheiro. Não. Não. Não. De jeito nenhum... De jeito nenhum... Por favor, não. Não.

O que Christian vai fazer? Fico pálida. Ele vai enlouquecer.

Não, por favor! Faço uma oração silenciosa.

Entrego a amostra à Dra. Greene, e, com cuidado, ela mergulha um palito branco dentro do potinho.

— Quando foi a sua última menstruação?

Como é que eu posso pensar nessas minúcias, quando tudo o que consigo fazer é olhar ansiosamente para o palito branco?

— Hum... Quarta-feira? Não essa agora, antes dessa. Dia primeiro de junho.

— E quando você parou de tomar a pílula?

— Domingo. Domingo passado.

Ela franze os lábios.

— Deve estar tudo bem — diz bruscamente. — Pela sua cara imagino que uma gravidez não planejada não seria uma boa notícia. — Então a injeção é uma boa ideia se você não consegue se lembrar de tomar a pílula todos os dias. — Ela me lança um olhar severo, e eu hesito diante de sua autoridade. Erguendo o palito branco, ela dá uma olhada nele. — Tudo certo. Você não ovulou ainda, então desde que tenha tomado as devidas precauções não deve estar grávida. Agora, deixe-me explicar a respeito da injeção. A gente não optou por ela da última vez por causa dos efeitos colaterais, mas, francamente, os efeitos colaterais de se ter uma criança são muito mais persistentes, e duram anos. — Ela sorri, satisfeita com a própria piada, mas não sou nem capaz de começar a reagir, estou atordoada demais.

Então a Dra. Greene começa a discorrer sobre os efeitos colaterais, e eu fico ali, paralisada de alívio, sem ouvir uma palavra sequer. Acho que preferiria infinitas mulheres fantasmagóricas ao pé da minha cama a ter de confessar a Christian que poderia estar grávida.

— Ana! — exclama a Dra. Greene. — Vamos fazer logo isso. — Ela me arranca de meu devaneio, e, de bom grado, arregaço a manga.

* * *

CHRISTIAN FECHA A porta atrás dela e me olha com cautela.

— Tudo bem? — pergunta.

Em silêncio, faço que sim, e ele inclina a cabeça, o rosto tenso de preocupação.

— Anastasia, o que foi? O que a Dra. Greene falou?

Balanço a cabeça.

— Em sete dias, você não vai mais precisar de camisinha — murmuro.

— Sete dias?

— Isso.

— Ana, o que houve?

Engulo em seco.

— Não há nada com que se preocupar. Por favor, Christian, deixe para lá.

Christian surge na minha frente. Ele segura meu queixo, inclinando minha cabeça para trás, e me olha firme nos olhos, tentando decifrar meu pânico.

— Fale! — exclama.

— Não tem nada para falar. Quero me vestir. — Solto meu queixo de suas mãos.

Ele suspira e passa a mão pelo cabelo, franzindo a testa para mim.

— Vamos tomar banho — diz, afinal.

— Claro — murmuro, distraída, e ele torce a boca.

— Venha — diz ele, amuado, apertando minha mão com força. Ele caminha até o banheiro, arrastando-me atrás de si. Parece que não sou a única de mau humor. Christian liga o chuveiro e se despe antes de se virar para mim. — Não sei se algo deixou você chateada ou se é só mau humor por ter dormido pouco — diz ele, abrindo meu roupão. — Mas quero que você me diga. Minha imaginação está dando voltas aqui, e não gosto disso.

Reviro os olhos para ele, e ele me encara de volta, fazendo uma cara feita. Merda! Tudo bem... lá vai.

— A Dra. Greene me repreendeu por ter parado de tomar a pílula. Ela disse que eu poderia estar grávida.

— O quê? — Ele empalidece, e suas mãos congelam enquanto me encara, subitamente lívido.

— Mas não estou. Ela fez um teste. Foi um choque, só isso. Não acredito que pude ser tão burra.

Ele relaxa visivelmente.

— Tem certeza de que não está grávida?

— Tenho.

Ele exala profundamente.

— Ótimo. É, dá pra imaginar que seja perturbador ouvir esse tipo de notícia.

Faço uma careta... perturbador?

— Eu estava mais preocupada com a sua reação.

Ele franze o cenho para mim, confuso.

— Com a minha reação? Bem, naturalmente, estou aliviado... teria sido o cúmulo do descuido e da falta de educação engravidar você.

— Então, talvez seja melhor a gente se abster — revido.

Ele me olha por um instante, perplexo, como se eu fosse algum tipo de experimento científico.

— Você acordou de mau humor hoje.

— Foi só um choque, só isso — repito, petulante.

Segurando as abas do meu roupão, ele me puxa para um abraço, beijando o meu cabelo e pressionando minha cabeça contra seu peito. Eu me distraio com as cócegas que o pelo do seu peito faz em meu rosto. Ah, se ao menos eu pudesse acariciá-lo!

— Ana, não estou acostumado com isso — murmura ele. — Minha tendência natural é arrancar as informações de você a tapa, mas duvido seriamente que você queira isso.

Puta merda.

— Não, não quero. Isso aqui ajuda — aperto Christian com força, e ficamos séculos ali, num abraço estranho, Christian nu, eu de roupão, mais uma vez chocada com sua honestidade. Ele não sabe nada de relacionamentos, e nem eu, exceto o que aprendi com ele. Bem, ele me pediu para ter fé e paciência; talvez eu devesse fazer isso mesmo.

— Venha, vamos tomar banho — diz Christian afinal, soltando-me.

Dando um passo para trás, ele tira meu roupão, e eu o sigo até o chuveiro, erguendo o rosto para o jato d’água. A ducha é gigantesca e tem espaço para nós dois. Christian pega o xampu e começa a lavar o cabelo. Ele me passa o frasco, e eu repito o gesto.

Ah, isso é bom. Fechando os olhos, eu me entrego àquela água purificadora e cálida. Ao enxaguar o xampu, sinto suas mãos ensaboando meu corpo: ombros, braços, axilas, seios, costas.

Delicadamente, ele me gira e me puxa contra si, à medida que vai descendo: tórax, barriga, seus dedos hábeis entre minhas pernas — hum —, minha bunda. Ah, isso é tão bom, e tão íntimo. Ele me vira mais uma vez de frente para ele.

— Aqui — diz de mansinho, entregando-me a loção de banho. — Quero que você limpe o resto do batom.

Meus olhos se abrem em um turbilhão e, afoitos, fitam os dele. Ele está me encarando atentamente, lindo e encharcado, os olhos cinzentos maravilhosos e reluzentes sem revelar absolutamente nada.

— Por favor, não desvie muito da linha — resmunga ele com firmeza.

— Tudo bem — murmuro, tentando absorver a enormidade do que ele acabou de me pedir para fazer: tocá-lo nos limites da zona proibida.

Ponho um pouquinho de sabonete nas mãos e as esfrego uma na outra, para fazer espuma, em seguida as coloco sobre seus ombros e suavemente limpo a linha de batom em cada um dos lados. Ele fica rígido e fecha os olhos, o rosto impassível, mas está ofegante, e sei que não é de luxúria, mas de medo. E isso me dói o coração.

Com os dedos trêmulos e com muito cuidado, sigo a linha ao longo da lateral de seu peito, ensaboando e esfregando suavemente; ele inspira, a mandíbula tensa, os dentes cerrados. Ah! Meu coração se aperta e minha garganta dá um nó. Droga, vou chorar.

Paro para colocar mais sabonete na mão e o sinto relaxar diante de mim. Não posso olhar para ele. Não posso suportar ver sua dor, é demais. Minha vez de inspirar fundo.

— Pronto? — pergunto, e a tensão é alta e clara em minha voz.

— Pronto — sussurra ele, a voz rouca, cheia de medo.

Gentilmente, coloco as mãos em cada lado de seu peito, e ele se enrijece de novo.

É demais. Estou impressionada com a confiança que ele está depositando em mim, impressionada pelo seu medo, pelos danos causados ​​a este homem belo, abatido e problemático.

Meus olhos se enchem d’água e lágrimas escorrem por meu rosto, perdidas na água do chuveiro. Ah, Christian! Quem fez isso com você?

Seu peito se move depressa a cada respiração curta, seu corpo está rígido, a tensão irradiando em ondas à medida que minhas mãos se movem ao longo da linha, apagando-a. Ah, se eu pudesse apagar sua dor, eu o faria — eu faria qualquer coisa —, e tudo o que quero é beijar cada cicatriz que vejo, afastar com meus beijos aqueles terríveis anos de descuido. Mas sei que não posso, e minhas lágrimas caem espontaneamente por meu rosto.

— Não. Por favor, não chore — pede ele, a voz angustiada ao me apertar com força em seus braços. — Por favor, não chore por mim. — E eu explodo em um turbilhão de soluços, enterrando meu rosto em seu pescoço, enquanto penso num menino perdido em meio a um mar de medo e dor, assustado, abandonado, abusado... machucado além de toda a resistência.

Afastando-me, ele segura meu rosto com as mãos, inclina-o para trás e se aproxima para me beijar.

— Não chore, Ana, por favor — murmura ele contra a minha boca. — Foi há muito tempo. Estou doido para que você me toque, mas simplesmente não consigo suportar. É demais para mim. Por favor, por favor, não chore.

— Também quero tocar você. Mais do que imagina. Ver você assim... tão machucado e com medo, Christian... me fere profundamente. Eu amo tanto você.

Ele desliza o polegar por meu lábio inferior.

— Eu sei. Eu sei — sussurra ele.

— Você é muito fácil de amar. Você não enxerga isso?

— Não, baby, não enxergo.

— Mas você é. E eu amo você, e sua família também ama. E Elena e Leila também... elas têm um jeito estranho de demonstrar isso, mas elas amam você. E você merece.

— Pare. — Ele coloca o dedo sobre meus lábios e balança a cabeça, uma expressão angustiada em seu rosto. — Não posso ouvir isso. Não sou nada, Anastasia. Sou a casca de um homem. Não tenho coração.

— Você tem, sim. E eu o quero para mim, por inteiro. Você é um homem bom, Christian, um homem muito bom. Nunca duvide disso. Olhe para o que você fez... o que você conquistou — soluço. — Olhe o que você fez por mim... o que você deixou para trás, por mim — sussurro. — Eu sei. Eu sei o que você sente por mim.

Ele me olha, os olhos arregalados e em pânico, e tudo o que podemos ouvir é o fluxo contínuo da água que flui sobre nós no chuveiro.

— Você me ama — digo.

Seus olhos se arregalam ainda mais, e sua boca se abre. Ele inspira fundo, como se tomasse fôlego. E parece torturado, vulnerável.

— Sim — murmura. — Amo.

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