CAPÍTULO DEZESSETE
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A chama da vela é muito quente. Bruxuleia e dança na brisa abafada, uma brisa que não traz alívio ao calor. Delicadas asas transparentes se agitam por todos os lados no escuro, pulverizando o círculo de luz com uma poeira de escamas. Tento resistir, mas sou arrastada. É uma luz muito forte, e estou voando muito perto do Sol, ofuscada pela claridade, fritando e derretendo com o calor, cansada de tanto me esforçar para permanecer no ar. Estou com muito calor. O calor... é sufocante, opressor, e me acorda.
Abro os olhos, e estou soterrada por Christian Grey. Ele está todo enrolado em mim. Dorme profundamente com a cabeça no meu peito, o braço por cima do meu corpo, segurando-me junto a ele, uma das pernas enganchada nas minhas. Está me sufocando com o calor do seu corpo, e é pesado. Custo um pouco a compreender que ele ainda está na minha cama, com o sono profundo, e lá fora o dia já raiou — é de manhã. Ele passou a noite inteira comigo.
Estou com o braço direito esticado, sem dúvida à procura de um pouco de ar fresco, e, ao processar o fato de ele continuar ali comigo, me ocorre a ideia de que posso tocar nele. Ele dorme. Timidamente, levanto a mão e passo os dedos em suas costas. Do fundo de sua garganta, sai um leve grunhido aflito, e ele se mexe. Esfrega o nariz no meu peito, inspirando fundo ao acordar. Olhos cinzentos e sonolentos encontram os meus por baixo daquela sua cabeleira desgrenhada.
— Bom dia — resmunga, e franze os olhos. — Nossa, você me atrai mesmo quando estou dormindo.
Com movimentos lentos, ele se desenrosca de mim enquanto se orienta. Percebo sua ereção encostada em minha coxa. Ele vê meu olhar de espanto, e dá um sorriso sensual.
— Humm... isso seria bom, mas acho que devíamos esperar até domingo.
Ele se inclina e esfrega o nariz na minha orelha.
Enrubesço, o calor dele já está me deixando toda vermelha.
— Você está muito quente — murmuro.
— Você também não está nada mal — sussurra ele, se encostando em mim sugestivamente.
Enrubesço mais ainda. Não foi isso que eu quis dizer. Ele se apoia no cotovelo e me olha, achando graça. Então se abaixa e, para minha surpresa, toca meus lábios com um delicado beijo.
— Dormiu bem? — pergunta.
Faço que sim com a cabeça, olhando para ele, e me dou conta de que dormi muito bem, a não ser talvez na última meia hora, quando fiquei com muito calor.
— Eu também. — Ele franze a testa. — Sim, muito bem. — Ergue as sobrancelhas, espantado. — Que horas são?
Olho o relógio.
— São sete e meia.
— Sete e meia... merda.
Ele pula da cama e veste a calça.
É minha vez de achar graça ao me sentar na cama. Christian Grey está atrasado e nervoso. Trata-se de algo inédito para mim. Depois de um tempo, me dou conta de que minha bunda já não dói.
— Você é uma péssima influência para mim. Tenho uma reunião. Preciso ir embora. Tenho que estar em Portland às oito. Está rindo de mim?
— Estou.
Ele ri.
— Estou atrasado, e nunca me atraso. Mais uma primeira vez, Srta. Steele.
Ele veste o blazer, depois se abaixa e segura minha cabeça com as mãos.
— Domingo — diz, e a palavra vem carregada de promessas subentendidas. Sinto um espasmo em todo o corpo numa expectativa deliciosa. A sensação é intensa.
Que inferno, se minha mente pudesse se limitar a acompanhar o ritmo do meu corpo...
Ele se inclina e me beija rapidamente. Pega suas coisas na mesa de cabeceira, e os sapatos, que não calça.
— Taylor virá resolver o caso do seu fusca. Eu estava falando sério. Não saia nele. Vejo você no domingo. Aviso o horário por e-mail.
E, como um pé de vento, ele se foi.
Christian Grey passou a noite comigo, e me sinto descansada. E não rolou sexo, só aconchego. Ele me disse que nunca dormiu com ninguém — mas já dormiu três vezes comigo. Sorrio e levanto da cama devagar. Estou mais otimista que ontem. Vou para a cozinha, precisando de uma xícara de chá.
Depois do desjejum, tomo uma ducha e me visto depressa para meu último dia na Clayton’s. É o fim de uma era — adeus ao casal Clayton, à WSU, a Vancouver, ao meu apartamento, meu fusca. Olho para a máquina do mal — são só 7h52. Tenho tempo.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Ataque e agressão: As consequências
Data: 27 de maio de 2011 08:05
Para: Christian Grey
Caro Sr. Grey,
O senhor quis saber por que fiquei tão confusa depois que me — que eufemismo devemos usar? — espancou, puniu, bateu, atacou. Bem, durante todo o processo assustador, senti-me diminuída, degradada e abusada. E, para minha aflição, o senhor estava certo, fiquei excitada, e isso foi inesperado. Como bem sabe, tudo que se relaciona a sexo é novidade para mim — eu gostaria de ser mais experiente e, portanto, mais preparada. Fiquei chocada por ter ficado excitada.
O que realmente me preocupou foi como me senti depois. E isso é mais difícil de expressar. Fiquei satisfeita por tê-lo deixado feliz, e aliviada pelo fato de não ter sido tão doloroso quanto achei que seria. E, depois, deitada em seus braços, senti-me saciada. Mas fico muito incomodada, culpada até, por me sentir assim. Isso não combina comigo, e, portanto, estou confusa. Isso responde à sua pergunta?
Espero que o mundo das Fusões e Aquisições esteja mais estimulante que nunca... e que não tenha chegado muito atrasado.
Obrigada por ter ficado comigo.
Ana
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De: Christian Grey
Assunto: Liberte seu espírito
Data: 27 de maio de 2011 08:24
Para: Anastasia Steele
Descrição interessante no assunto do e-mail... ainda que exagerada, Srta. Steele.
Respondendo às suas questões:
•
Continuarei com as surras — essa é a palavra.
•
Então, sentiu-se diminuída, degradada, abusada e atacada — isso é muito Tess Durbeyfield de sua parte. Creio que foi você que optou pela degradação, se bem me lembro. Você se sente realmente assim ou acha que deveria se sentir? Duas coisas muito diferentes. Se é assim que se sente, acha que poderia se limitar a tentar aproveitar esses sentimentos, enfrentá-los, por mim? É o que uma submissa faria.
•
Estou agradecido pela sua inexperiência. Dou valor a ela, e ainda estou começando a entender o que significa. Simplificando... significa que você é minha em todos os aspectos.
•
Sim, você ficou excitada, o que, por sua vez, foi muito excitante, não há nada de errado com isso.
•
Feliz está longe de começar a dar a ideia de como eu me senti. Êxtase arrebatador chega perto.
•
Uma surra de castigo dói mais do que uma surra sensual — portanto, não vai ser muito mais forte que isso, a menos, claro, que você cometa uma transgressão importante, e, nesse caso, usarei algum implemento para puni-la. Minha mão ficou muito dolorida. Mas gosto disso.
•
Eu também me senti saciado — mais do que você jamais poderia imaginar.
•
Não gaste sua energia com culpa, remorso etc. Somos maiores de idade e o que fazemos entre quatro paredes fica entre nós. Você precisa libertar seu espírito e ouvir seu corpo.
•
O mundo das F&A não é nem de longe tão estimulante quanto você, Srta. Steele.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Puta merda... minha em todos os aspectos. Respiro com dificuldade.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Maiores de idade!
Data: 27 de maio de 2011 08:26
Para: Christian Grey
Não está em reunião?
Muito bem feito que tenha ficado com a mão doendo.
E, se eu ouvisse meu corpo, agora eu estaria no Alasca.
Ana
P.S.: Vou pensar em aproveitar esses sentimentos.
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De: Christian Grey
Assunto: Você não chamou a polícia
Data: 27 de maio de 2011 08:35
Para: Anastasia Steele
Srta. Steele,
Estou numa reunião discutindo o mercado futuro, se está mesmo interessada.
Para que fique registrado, você ficou ao meu lado sabendo o que eu ia fazer.
Em nenhum momento me pediu para parar — não usou nenhum dos códigos.
Você é maior de idade — tem opções.
Com muita franqueza, estou ansioso para ficar de novo com a mão ardendo.
Você obviamente não está ouvindo a parte certa do seu corpo.
O Alasca é muito frio, e não é lugar para fugir. Eu encontraria você.
Posso rastrear seu celular — lembra?
Vá para o trabalho.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Fecho a cara para a tela. Ele tem razão, claro. A opção é minha. Humm. Será que ele fala sério sobre ir atrás de mim? Será que eu devia resolver fugir por uns tempos? Penso rapidamente no convite da minha mãe.
Teclo em “responder”.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Perseguidor
Data: 27 de maio de 2011 08:38
Para: Christian Grey
Já procurou terapia para sua propensão a perseguir os outros?
Ana
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De: Christian Grey
Assunto: Perseguidor? Eu?
Data: 27 de maio de 2011 08:38
Para: Anastasia Steele
Pago ao eminente Dr. Flynn uma pequena fortuna por minha propensão a perseguição e outras tendências.
Vá para o trabalho.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Charlatães caros
Data: 27 de maio de 2011 08:40
Para: Christian Grey
Permita-me humildemente sugerir que busque uma segunda opinião. Não sei ao certo se o Dr. Flynn é muito eficiente.
Srta. Steele
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De: Christian Grey
Assunto: Segundas opiniões
Data: 27 de maio de 2011 08:43
Para: Anastasia Steele
Não que isso seja da sua conta, mas o Dr. Flynn é a segunda opinião.
Você terá que correr, no carro novo, arriscando-se desnecessariamente — acho que isso é contra as regras.
VÁ PARA O TRABALHO.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Steele
Assunto: MAIÚSCULAS GRITANTES
Data: 27 de maio de 2011 08:47
Para: Christian Grey
Na qualidade de objeto de suas tendências perseguidoras, considero isso da minha conta, na verdade.
Ainda não assinei. Portanto, que se danem as regras! E só entro às 9h30.
Srta. Steele
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De: Christian Grey
Assunto: Linguística descritiva
Data: 27 de maio de 2011 08:49
Para: Anastasia Steele
“Que se danem?” Não é uma expressão muito educada.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Linguística descritiva
Data: 27 de maio de 2011 08:52
Para: Christian Grey
Para maníacos por controle e perseguidores, está ótimo.
E linguística descritiva é um limite rígido para mim.
Quer parar de me aborrecer agora?
Eu gostaria de ir para o trabalho no carro novo.
Ana
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De: Christian Grey
Assunto: Moças difíceis mas divertidas
Data: 27 de maio de 2011 08:58
Para: Anastasia Steele
Minha mão está começando a coçar.
Dirija com cuidado, Srta. Steele.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
É uma alegria dirigir o Audi. Tem direção hidráulica. A direção do Wanda, o meu fusca, é um chumbo, portanto, meu exercício diário, que era dirigi-lo, vai acabar. Ah, mas vou ter um personal trainer para enfrentar, de acordo com as regras de Christian. Franzo as sobrancelhas. Odeio fazer exercício.
Enquanto estou dirigindo, tento analisar nossa troca de e-mails. Ele às vezes é um filho da puta paternalista. E aí, penso em Grace e me sinto culpada. Mas, claro, ela não é a mãe biológica dele. Humm, há toda uma história de dor de causa desconhecida. Bem, filho da puta paternalista então funciona bem. Sim, sou maior de idade, obrigada por me lembrar disso, Christian Grey, e a opção é minha. O problema é que só quero o Christian, não toda a... bagagem... dele — e, no momento, a bagagem dele enche o compartimento de carga de um 747. Será que eu poderia simplesmente relaxar e aceitar isso? Como uma submissa? Eu disse que tentaria. Isso é uma tarefa que não tem mais tamanho.
Deixo o carro no estacionamento da Clayton’s. Ao entrar, mal posso acreditar que seja meu último dia. Felizmente, o movimento da loja é grande e o tempo passa depressa. Na hora do almoço, o Sr. Clayton me chama ao estoque. Está parado ao lado de um motoboy.
— Srta. Steele? — pergunta o motoboy.
Faço uma cara interrogativa para o Sr. Clayton, que dá de ombros, tão intrigado quanto eu. Fico aflita. O que Christian mandou agora? Assino o recibo do pequeno embrulho e o abro imediatamente. É um BlackBerry. Fico mais aflita ainda. Ligo-o.
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De: Christian Grey
Assunto: BlackBerry EMPRESTADO
Data: 27 de maio de 2011 11:15
Para: Anastasia Steele
Preciso ter a possibilidade de entrar em contato com você a qualquer hora, e, uma vez que esta é sua forma de comunicação mais honesta, calculei que você precisava de um BlackBerry.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Consumismo levado à loucura
Data: 27 de maio de 2011 13:22
Para: Christian Grey
Acho que precisa ligar já para o Dr. Flynn.
Sua propensão à perseguição está desenfreada.
Estou no trabalho. Escreverei quando chegar em casa.
Obrigada por mais um aparelho.
Eu não estava errada quando disse que você era o consumidor supremo.
Por que faz isso?
Ana
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De: Christian Grey
Assunto: Sagacidade de alguém tão jovem
Data: 27 de maio de 2011 13:24
Para: Anastasia Steele
Bom argumento, como sempre, Srta. Steele.
O Dr. Flynn está de férias.
E faço isso porque posso.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Ponho aquele negócio no bolso de trás da calça, já com ódio dele. Mandar e-mails para Christian vicia, mas preciso trabalhar. O telefone toca uma vez no meu traseiro... Que apropriado, penso com ironia, mas, usando toda minha força de vontade, ignoro esse pensamento.
Às quatro da tarde, o Sr. e a Sra. Clayton reúnem todos os outros funcionários da loja e, durante um discurso de arrepiar de tão constrangedor, me presenteiam com um cheque de trezentos dólares. Naquele momento, todos os acontecimentos das últimas três semanas me vêm à cabeça: as provas, a formatura, um bilionário intenso e fodido, a perda da virgindade, limites brandos e rígidos, quartos de jogos sem mesas, viagens de helicóptero e o fato de que vou me mudar amanhã. O incrível é que me controlo. Meu inconsciente está assombrado. Dou um abraço forte nos Clayton. Eles foram patrões bondosos e generosos, e sentirei falta deles.
* * *
KATE ESTÁ SAINDO do carro quando chego em casa.
— O que é isso? — pergunta em tom de acusação, apontando para o Audi. Não resisto.
— É um carro — brinco. Ela aperta os olhos, e, por um instante, me pergunto se também vai me dar umas palmadas. — Meu presente de formatura.
Tento agir como se não fosse nada de mais. Sim, todo dia me dão um carro caro. Ela fica boquiaberta.
— O filho da mãe é generoso e exagerado, não é?
Balanço a cabeça, concordando.
— Tentei não aceitar, mas francamente, não vale a briga.
Kate contrai os lábios.
— Não me admira que você esteja perturbada. Vi que ele ficou lá em casa.
— É — sorrio com nostalgia.
— Vamos terminar de embalar as coisas?
Faço que sim com a cabeça, e entro atrás dela, lendo o e-mail de Christian.
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De: Christian Grey
Assunto: Domingo
Data: 27 de maio de 2011 13:30
Para: Anastasia Steele
Vejo você às 13h no domingo?
A consulta médica está agendada para as 13h30 no Escala.
Estou indo agora para Seattle.
Espero que sua mudança corra bem, e estou ansioso para domingo chegar.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Nossa, ele poderia estar falando do tempo. Decido enviar-lhe um e-mail quando tivermos acabado de embalar tudo. Ele pode ser muito divertido numa hora e muito formal e metido a besta na outra. É difícil acompanhar. Honestamente, parece um e-mail para um empregado. Reviro os olhos para aquilo com uma expressão de desafio e me junto a Kate para organizar a mudança.
* * *
KATE E EU estamos na cozinha quando alguém bate à porta. Taylor está parado no pórtico, impecável naquele terno dele. Vejo vestígios de uma antiga carreira militar no cabelo cortado à máquina, no físico enxuto e no olhar gelado.
— Srta. Steele — diz ele. — Vim buscar seu carro.
— Ah, sim, claro. Pode entrar, vou buscar as chaves.
Com certeza ele não foi contratado para isso. Pergunto-me de novo qual é a função de Taylor. Entrego-lhe as chaves, e nos encaminhamos num silêncio que, para mim, é desconfortável, até o fusca azul-claro. Abro a porta e retiro a lanterna do porta-luvas. Pronto. Não tenho mais nada no Wanda que seja pessoal. Adeus, Wanda. Obrigada. Acaricio seu teto ao fechar a porta do carona.
— Há quanto tempo trabalha para o Sr. Grey? — pergunto.
— Quatro anos, Srta. Steele.
De repente, sinto uma necessidade premente de bombardeá-lo com perguntas. O que este homem deve saber sobre Christian, sobre todos os seus segredos? Mas, provavelmente, ele assinou um termo de confidencialidade. Olho nervosa para ele. Vejo a mesma expressão taciturna de Ray, e um indício de simpatia brota em mim.
— Ele é um homem bom, Srta. Steele — diz Taylor com um sorriso.
Então, oferece um pequeno aceno de cabeça, entra no meu carro e vai embora.
O apartamento, o fusca, a loja, a mudança agora é total. Entro de novo em casa balançando a cabeça. E a maior mudança de todas é Christian Grey. Taylor o acha um homem bom. Será que posso acreditar nele?
* * *
JOSÉ SE JUNTA a nós às oito da noite trazendo comida chinesa. Já terminamos de empacotar. Está tudo embalado, e estamos prontas para partir. Ele traz várias garrafas de cerveja, e Kate e eu nos sentamos no sofá enquanto ele se acomoda no chão entre nós. Assistimos a umas porcarias na tevê, bebemos cerveja e, à medida que a noite vai passando e a cerveja vai fazendo efeito, rememoramos com carinho e estardalhaço a nossa convivência. Foram quatro anos muito bons.
O clima entre José e eu já voltou ao normal, esquecido o beijo roubado. Bem, isso foi varrido para debaixo do tapete onde minha deusa interior está deitada, comendo uvas e tamborilando os dedos, esperando impacientemente pelo domingo. Ouço uma batida na porta, e fico aflita. Será...?
Kate abre a porta e quase cai para trás ao ver Elliot. Ele a agarra num abraço hollywoodiano que logo se transforma num beijo de filme clássico europeu. Sinceramente... vão para um quarto. José e eu nos entreolhamos. Estou horrorizada com a falta de recato deles.
— Vamos até o bar? — convido José, que balança a cabeça freneticamente, concordando.
Estamos muito constrangidos com a excitação sexual desenfreada se desenrolando diante de nós. Kate me olha, ruborizada e com os olhos brilhando.
— José e eu vamos sair para beber alguma coisa rapidinho.
Reviro os olhos para ela. Rá! Ainda posso revirar os olhos à vontade.
— Tudo bem — diz ela com um sorriso.
— Oi, Elliot. Tchau, Elliot.
Ele pisca aqueles enormes olhos azuis para mim, e José e eu já estamos na rua, rindo feito adolescentes.
A caminho do bar, dou o braço a José. Graças a Deus, ele é descomplicado — eu ainda não tinha dado o devido valor a isso.
— Você vem mesmo para a abertura da minha exposição, não vem?
— Claro, José, quando vai ser?
— Dia nove de junho.
— Que dia cai?
De repente me apavoro.
— Numa quinta-feira.
— Sim, devo conseguir vir... e você vai nos visitar em Seattle?
— Tente me impedir.
Ele sorri.
* * *
É TARDE QUANDO volto do bar. Kate e Elliot podem não estar sendo vistos, mas, caramba, podem ser ouvidos. Puta merda. Espero que eu não faça tanto barulho. Sei que Christian não faz. Enrubesço ao pensar nisso, e fujo para meu quarto. Depois de um abraço breve e felizmente nada constrangido, José foi embora. Não sei quando vou tornar a vê-lo, provavelmente na sua exposição de fotografias, e, mais uma vez, fico impressionada com o fato de ele finalmente fazer uma exposição. Vou sentir falta dele e daquele seu encanto infantil. Não consegui lhe contar sobre o fusca. Sei que vai ter um chilique quando descobrir, e só consigo lidar com um homem de cada vez tendo chilique comigo. Uma vez no meu quarto, verifico a máquina do mal e, claro, há um e-mail de Christian.
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De: Christian Grey
Assunto: Cadê você?
Data: 27 de maio de 2011 22:14
Para: Anastasia Steele
“Estou no trabalho. Escreverei quando chegar em casa.”
Você ainda está no trabalho ou já colocou o telefone, o BlackBerry e o MacBook na mala?
Ligue para mim, ou serei obrigado a ligar para Elliot.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Droga... José... Que merda.
Pego o telefone. Cinco ligações perdidas e uma mensagem de voz. Timidamente, ouço a mensagem. É de Christian.
“Acho que você precisa aprender a lidar com minha expectativa. Não sou um homem paciente. Se diz que vai entrar em contato comigo quando sair do trabalho, você deveria ter a decência de fazer isso. Do contrário, fico preocupado, e preocupação não é uma emoção que me seja familiar, e não a tolero muito bem. Ligue para mim.”
Puta que pariu. Será que ele algum dia vai me dar um tempo? Fecho a cara para o telefone. Christian está me sufocando. Com um medo profundo me dando um frio na barriga, rolo a tela para o número dele e aperto em “ligar”. Com o coração na boca, aguardo até ele atender. Provavelmente vai me dar uma bronca. A ideia é deprimente.
— Oi — diz ele com voz macia, e a resposta me desarma porque estou esperando raiva, mas, em todo caso, ele parece aliviado.
— Oi — murmuro.
— Eu estava preocupado com você.
— Eu sei. Me desculpe por não ter respondido, mas estou bem.
Ele fica em silêncio um instante antes de falar.
— Sua noite foi agradável? — pergunta com uma polidez seca.
— Foi. Terminamos de embalar tudo e Kate e eu jantamos comida chinesa com José.
Fecho os olhos com força ao dizer o nome de José. Christian não fala nada.
— E você? — pergunto para encher o repentino abismo de silêncio ensurdecedor. Não vou deixá-lo me fazer sentir culpada por causa de José.
Finalmente, ele suspira.
— Fui a um jantar beneficente. Foi mortalmente chato. Saí assim que pude.
Ele está com uma voz muito triste e resignada. Fico com o coração apertado. Visualizo-o naquela noite, sentado ao piano em sua sala enorme, e a insuportável melancolia doce e amarga da música que ele tocava.
— Eu queria que você estivesse aqui — sussurro, porque sinto uma necessidade urgente de abraçá-lo. Tranquilizá-lo. Embora ele não vá permitir. Quero estar perto dele.
— Queria? — murmura ele em tom morno.
Puta merda. Esse tom não é dele, e fico apreensiva, sentindo o couro cabeludo formigar.
— Queria — digo.
Depois de uma eternidade, ele suspira.
— Então até domingo?
— É, até domingo — murmuro, sentindo um arrepio.
— Boa noite.
— Boa noite, senhor.
Minha forma de tratamento o pega desprevenido. Vejo pela expiração brusca que ele deu.
— Boa sorte com sua mudança amanhã, Anastasia.
A voz dele é doce. E estamos como dois adolescentes na hora de desligar o telefone, nenhum deles querendo fazer isso.
— Desliga você — sussurro.
Finalmente, noto o sorriso dele.
— Não, desliga você.
E sei que ele abriu o sorriso.
— Não quero.
— Nem eu.
— Você ficou muito zangado comigo?
— Fiquei.
— Ainda está?
— Não.
— Então não vai me castigar?
— Não. Sou de reagir na hora.
— Já notei.
— Pode desligar agora, Srta. Steele.
— Quer que eu faça isso mesmo, senhor?
— Vá se deitar, Anastasia.
— Sim, senhor.
Ambos permanecemos na linha.
— Algum dia acha que conseguirá fazer o que lhe mandam?
Ele está achando graça e ao mesmo tempo exasperado.
— Pode ser. Vamos ver depois de domingo.
E aperto em “finalizar” no telefone.
z
Elliot fica em pé admirando seu trabalho. Ele reconectou nossa tevê ao sistema de satélite no apartamento da Pike Place Market. Kate e eu nos deixamos cair no sofá dando risadinhas, impressionadas com suas proezas com a furadeira. A tela plana está estranha na parede de tijolos do armazém transformado em apartamento, mas, sem dúvida, vou me acostumar com isso.
— Está vendo, baby? É fácil!
Ele dá um largo sorriso para Kate, e ela quase literalmente se dissolve no sofá.
Reviro os olhos para a dupla.
— Eu adoraria ficar, baby, mas minha irmã chegou de Paris. Hoje temos um jantar de família obrigatório.
— Dá para você vir aqui depois? — pergunta Kate timidamente, toda meiga, de um jeito que não é dela.
Levanto e me dirijo à cozinha com o pretexto de desembalar uma das caixas. Eles vão ficar melosos.
— Vou ver se posso fugir — promete ele.
— Eu desço com você.
Kate sorri.
— Tchau, Ana.
Eliot sorri.
— Tchau, Elliot. Diga “oi” para o Christian por mim.
— Só “oi”? — pergunta ele, erguendo sugestivamente as sobrancelhas.
— Só.
Enrubesço. Ele pisca para mim, e fico vermelha quando ele sai atrás de Kate.
Elliot é adorável e muito diferente de Christian. É caloroso, extrovertido, sensual, muito sensual, sensual demais, com Kate. Eles mal conseguem ficar sem se tocar — para ser franca, é constrangedor — e estou verde de inveja.
Kate volta uns vinte minutos depois com uma pizza, e nos sentamos, cercadas de caixas, em nosso novo espaço aberto, comendo direto da caixa. O pai de Kate nos deixou orgulhosas. O apartamento não é grande, mas tem um bom tamanho, três quartos e uma grande área de estar que dá para o Pike Place Market. É todo de assoalho de madeira e tijolos aparentes, e as bancadas da cozinha são de cimento queimado, muito utilitário, muito contemporâneo. Estamos adorando o fato de estar no coração da cidade.
Às oito, o interfone toca. Kate se levanta de um salto — e fico com o coração na boca.
— Entrega, Srta. Steele, Srta. Kavanagh.
Inesperadamente, o sentimento de decepção toma conta de mim. Não é Christian.
— Segundo andar, apartamento dois.
Kate abre a porta para o entregador. O rapaz fica de queixo caído ao ver Kate ali de calça jeans justa, camiseta e cabelo preso num coque no alto da cabeça deixando uns cachinhos escaparem. Ela deixa os homens assim. Ele segura uma garrafa de champanhe que tem amarrado um fio com um balão em forma de helicóptero. Ela dá um sorriso deslumbrante para despachar o rapaz e começa a ler o cartão para mim.
Senhoritas,
Boa sorte no novo lar.
Christian Grey
Kate balança a cabeça num gesto de reprovação.
— Por que ele não pode escrever simplesmente “Christian”? E esse balão esquisito em forma de helicóptero?
— Charlie Tango.
— O quê?
— Christian me trouxe para Seattle no helicóptero dele — digo encolhendo os ombros.
Kate me olha boquiaberta. Devo dizer que adoro essas ocasiões — Katherine Kavanagh calada e embasbacada — são muito raras. Permito-me o luxo de me dar um breve instante para usufruir disso.
— É, ele tem um helicóptero, que ele mesmo pilota — afirmo com orgulho.
— Claro que o filho da mãe podre de rico tem um helicóptero. Por que não me contou?
Kate me olha com uma expressão acusadora, mas está rindo, balançando a cabeça, incrédula.
— Ando com muita coisa na cabeça ultimamente.
Ela franze a testa.
— Você vai ficar bem enquanto eu estiver fora?
— Claro — respondo num tom tranquilizador. Cidade nova, trabalho novo, namorado pirado.
— Deu nosso endereço a ele?
— Não, mas me perseguir é uma das suas especialidades — reflito friamente.
Kate franze mais a testa.
— De certa forma, não me surpreende. Ele me preocupa, Ana. Pelo menos é um bom champanhe e está gelado.
Claro. Só Christian mandaria um champanhe gelado, ou mandaria a secretária fazer isso... ou talvez Taylor. Abrimos a garrafa e pegamos nossas xícaras — elas foram os últimos artigos a serem embalados.
— Bollinger Grande Année Rosé 1999, uma excelente safra — sorrio para Kate, e fazemos tim-tim com as xícaras.
* * *
ACORDO CEDO NUMA manhã cinzenta de domingo depois de uma noite de um sono surpreendentemente reparador e fico na cama olhando para minhas caixas. Você devia estar desembalando essas caixas, reclama meu inconsciente, contraindo aqueles lábios de gavião. Não... hoje é o dia. Minha deusa interior não cabe em si, saltitando de um pé para o outro. A expectativa paira pesada e portentosa sobre minha cabeça como a nuvem negra de uma tempestade tropical. Sinto um frio na barriga — assim como uma dor mais sombria, carnal e cativante ao tentar imaginar o que ele fará comigo... e claro, tenho que assinar aquele maldito contrato, ou não? Ouço o tilintar da caixa de entrada da máquina do mal no chão ao lado da minha cama.
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De: Christian Grey
Assunto: Minha vida em números
Data: 29 de maio de 2011 08:04
Para: Anastasia Steele
Se vier de carro, você precisará deste código de acesso à garagem subterrânea do Escala: 146963.
Estacione na vaga 5 — é uma das minhas.
Código do elevador: 1880
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Uma safra excelente
Data: 29 de maio de 2011 08:08
Para: Christian Grey
Sim, senhor. Entendido.
Obrigada pelo champanhe e pelo Charlie Tango inflável, que está agora amarrado na minha cama.
Ana
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De: Christian Grey
Assunto: Inveja
Data: 29 de maio de 2011 08:11
Para: Anastasia Steele
De nada.
Não se atrase.
Charlie Tango sortudo.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Reviro os olhos diante de sua tirania, mas sua última linha me faz sorrir. Vou para o banheiro, me perguntando se Elliot conseguiu voltar ontem à noite e me esforçando muito para controlar os nervos.
* * *
CONSIGO DIRIGIR O Audi de salto alto! Ao meio-dia e cinquenta e cinco minutos, precisamente, entro na garagem do Escala e estaciono na vaga cinco. Quantas vagas ele possui? O Audi SUV e o R8 estão aqui, ao lado de dois Audis SUVs menores... humm. Confiro no espelho luminoso do quebra-sol o rímel que raramente uso. Eu não tinha um espelho desses no fusca.
Vai, garota! Minha deusa interior está de pompons em punho — está no modo animadora de torcida. Na infinidade de espelhos do elevador, confiro meu vestido cor de ameixa — bem, o vestido cor de ameixa de Kate. Da última vez que o usei, ele quis me despir. Meu corpo reage ao pensar nisso. A sensação é simplesmente intensa, e relaxo. Estou usando a roupa de baixo que Taylor comprou para mim. Coro pensando naquele cabelo cortado à máquina rondando pelos corredores da Agent Provocateur ou onde quer que tenha feito a compra. As portas se abrem, e estou diante do saguão do apartamento número um.
Taylor está parado à porta quando saio do elevador.
— Boa tarde, Srta. Steele — diz.
— Ah, por favor, me chame de Ana.
— Ana — Ele sorri. — O Sr. Grey está à sua espera.
Aposto que sim.
Christian está sentado no sofá da sala lendo os jornais de domingo. Ergue os olhos enquanto Taylor me guia para a área de estar. A sala é exatamente como me lembro dela — parece que faz uma semana que estive aqui, mas já passou muito mais tempo. Christian tem um aspecto tranquilo e calmo — na verdade, está divino. Descalço, com uma camisa branca de linho solta e calça jeans. Tem o cabelo revolto, e os olhos brilham com malícia. Ele se levanta e vem ao meu encontro, um sorriso divertido de avaliação nos belos lábios desenhados.
Fico imóvel na entrada da sala, paralisada com sua beleza e a doce expectativa do que está por vir. A familiar eletricidade entre nós está presente, se acendendo lentamente na minha barriga, atraindo-me para ele.
— Humm... esse vestido — aprova, olhando-me. — Seja bem-vinda mais uma vez, Srta. Steele — murmura e, segurando meu queixo, abaixa-se e me dá um beijo delicado nos lábios.
O contato de sua boca com a minha reverbera por todo o meu corpo. Quase paro de respirar.
— Oi — sussurro ruborizada.
— Você chegou na hora. Gosto de pontualidade. Venha. — Ele me pega pela mão e me leva ao sofá. — Queria mostrar uma coisa para você — diz quando nos sentamos.
Ele me entrega o Seattle Times. Na página oito, há uma fotografia de nós dois juntos na cerimônia de formatura. Puta merda. Saí no jornal. Olho a legenda.
Christian Grey e uma amiga na cerimônia de formatura
na WSU Vancouver.
Rio.
— Então agora sou sua “amiga”.
— É o que parece. E está no jornal, portanto deve ser verdade — diz com ironia.
Sentado a meu lado, tem o corpo todo virado para mim, com uma das pernas dobrada embaixo da outra. Ele arruma meu cabelo para trás da orelha com aquele seu indicador comprido. Fico toda acesa com esse toque, aguardando e carente.
— Então, Anastasia, você tem uma ideia muito melhor das minhas intenções desde a última vez que esteve aqui.
— Sim.
Aonde ele quer chegar com isso?
— E, no entanto, voltou.
Assinto timidamente, e seus olhos brilham. Ele balança a cabeça como se estivesse lutando contra a ideia.
— Já comeu? — pergunta do nada.
Merda.
— Não.
— Está com fome? — Ele está realmente tentando não parecer irritado.
— Não de comida — sussurro, e suas narinas se dilatam.
Ele se inclina e sussurra no meu ouvido.
— Você está mais ansiosa que nunca, Srta. Steele, e só para deixá-la a par de um segredinho, eu também. Mas a Dra. Greene deve chegar daqui a pouco. — Ele se endireita no sofá. — Eu gostaria que você tivesse comido — censura ele brandamente.
Meu sangue, que já estava quente, esfria. Puxa vida — a consulta. Eu tinha me esquecido.
— O que pode me dizer sobre a Dra. Greene? — pergunto para mudar de assunto.
— Ela é a melhor ginecologista e obstetra de Seattle. O que mais posso dizer? — pergunta e encolhe os ombros.
— Pensei que fosse me consultar com o seu médico, e não me diga que você na verdade é uma mulher, porque eu não acreditaria.
Ele me olha como quem diz “não seja ridícula”.
— Acho que é mais apropriado você se consultar com um especialista. Não concorda? — diz ele em tom cordial.
Balanço a cabeça concordando. Meu Deus, ela é a melhor ginecologista e obstetra da cidade e ele marcou uma consulta para mim num domingo — na hora do almoço! Nem quero imaginar quanto deve custar isso. Christian franze a testa de repente, como se recordasse algo desagradável.
— Anastasia, minha mãe gostaria que você jantasse com ela hoje. Acho que Elliot vai convidar a Kate, também. Não sei como se sente em relação a isso. Vai ser estranho para mim apresentar você à minha família.
Estranho? Por quê?
— Você tem vergonha de mim? — Não consigo disfarçar o tom magoado.
— Claro que não — diz ele revirando os olhos.
— Por que é estranho?
— Porque nunca fiz isso antes.
— Por que você pode revirar os olhos, e eu não?
Ele pisca para mim.
— Eu não percebi que estava fazendo isso.
— Eu também não percebo, em geral — retruco secamente.
Christian me fuzila com os olhos, sem palavras. Taylor aparece à porta.
— A Dra. Greene está aqui, senhor.
— Acompanhe-a até o quarto da Srta. Steele.
Quarto da Srta. Steele!
— Preparada para algum método anticoncepcional? — pergunta ele ao se levantar e me estende a mão.
— Você não vem também, não é? — arquejo, chocada.
Ele ri.
— Eu pagaria um bom dinheiro para olhar, pode acreditar, Anastasia, mas acho que a médica não aprovaria.
Pego a mão dele, e ele me puxa para seus braços e me beija intensamente. Seguro-o, surpresa. A mão dele está em meus cabelos, segurando minha cabeça, e ele me puxa de encontro a si, a testa encostada na minha.
— Estou muito feliz que você esteja aqui — murmura. — Mal posso esperar para deixá-la nua.