CAPÍTULO VINTE E DOIS
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Faço as unhas, uma massagem e já tomei duas taças de champanhe. A sala da primeira classe tem muitas vantagens. A cada gole de Moët, sinto-me ligeiramente mais propensa a perdoar Christian e sua intervenção. Abro o MacBook, esperando testar a teoria de que ele funciona em qualquer lugar do planeta.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Gestos excessivamente extravagantes
Data: 30 de maio de 2011 21:53
Para: Christian Grey
Prezado Sr. Grey,
O que realmente me deixa alarmada é como soube em que voo eu estava.
Sua perseguição não conhece limites. Esperemos que o Dr. Flynn já tenha voltado das férias.
Fiz as unhas, uma massagem nas costas e tomei duas taças de champanhe — uma forma muito agradável de começar minha viagem.
Obrigada.
Ana
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De: Christian Grey
Assunto: Não há de quê
Data: 30 de maio de 2011 21:59
Para: Anastasia Steele
Cara Srta. Steele,
O Dr. Flynn já voltou, e tenho uma consulta esta semana.
Quem fez a massagem nas suas costas?
Christian Grey
CEO com amigos nos lugares certos,
Grey Enterprises Holdings, Inc.
A-há! Tempo de recuperação do investimento. Nosso voo foi chamado, então tenho que lhe mandar um e-mail do avião. Será mais seguro. Quase me abraço com uma alegria travessa.
* * *
A PRIMEIRA CLASSE é muito espaçosa. Com um coquetel de champanhe em punho, instalo-me na suntuosa poltrona de couro ao lado da janela enquanto a cabine vai enchendo devagar. Ligo para Ray para lhe contar onde estou — uma ligação curta, felizmente, pois é muito tarde para ele.
— Te amo, pai — murmuro.
— Boa noite.
Desligo.
Ray parece estar bem. Fico olhando para o meu Mac, e, com a mesma alegria infantil crescendo, abro o laptop e acesso meu e-mail.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Mãos fortes e competentes
Data: 30 de maio de 2011 22:22
Para: Christian Grey
Prezado Senhor,
Um rapaz muito agradável massageou minhas costas. Sim. Muito agradável mesmo. Eu não teria conhecido Jean-Paul na sala de embarque normal — portanto, obrigada mais uma vez por este presente. Não sei se é permitido enviar e-mails depois da decolagem, e preciso do meu sono de beleza, já que não ando dormindo muito bem ultimamente.
Durma bem, Sr. Grey.
Pensando no senhor,
Ana
Ah, ele vai ficar uma fera — e eu estarei no ar e inalcançável. Bem-feito. Se eu estivesse na sala de embarque normal, Jean-Paul não teria posto as mãos em mim. Ele era um rapaz muito simpático, louro e com um bronzeado artificial — francamente, quem é bronzeado em Seattle? Simplesmente não dá. Acho que ele era gay — mas vou guardar esse detalhe só para mim. Fico olhando para meu e-mail. Kate tem razão. Com ele, não precisa de muito. Meu inconsciente me olha de cara feia. Quer mesmo provocá-lo? Ele foi um amor com você, você sabe! Ele gosta de você e quer que você viaje com estilo. Sim, mas poderia ter me perguntado ou me avisado. Não me deixar com cara de idiota no check-in. Aperto “enviar” e aguardo, sentindo-me uma garota muito má.
— Srta. Steele, a senhora vai precisar guardar seu laptop para a decolagem — diz educadamente a comissária supermaquiada. Ela me dá um susto. Minha consciência culpada está em ação.
— Ah, sinto muito.
Merda. Agora vou ter que esperar para ver se ele respondeu. A comissária me entrega uma manta e um cobertor macios, mostrando os dentes perfeitos. Coloco a manta nos joelhos. Às vezes é bom a gente se sentir mimada.
A primeira classe encheu, a não ser por um lugar ao meu lado, que continua desocupado. Ah, não... uma ideia perturbadora me passa pela cabeça. Vai ver que a poltrona é do Christian. Ah, merda... não... ele não faria isso. Faria? Eu lhe disse que não queria que viesse comigo. Olho aflita para o relógio, e aí a voz impessoal da cabine de comando anuncia: “Tripulação, portas em automático, preparar para a decolagem.”
O que significa isso? Estão fechando as portas? Fico na expectativa, o couro cabeludo formigando e o coração disparado. A poltrona ao meu lado é a única desocupada na cabine de dezesseis lugares. O avião sacode ao se afastar do portão de embarque, e suspiro aliviada mas um pouco decepcionada também... nada de Christian durante quatro dias. Dou uma olhada no BlackBerry.
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De: Christian Grey
Assunto: Aproveite enquanto pode
Data: 30 de maio de 2011 22:25
Para: Anastasia Steele
Cara Srta. Steele,
Sei o que está tentando fazer — e pode acreditar, conseguiu. Da próxima vez, você estará no porão de carga, amarrada e amordaçada dentro de um caixote. Acredite em mim quando digo que tê-la nesse estado me dará muito mais prazer do que simplesmente fazer um upgrade na sua passagem.
Aguardo ansioso a sua volta.
Christian Grey
CEO Com Coceira na Mão
Grey Enterprises Holdings, Inc.
Puta merda. Esse é o problema com o humor de Christian — nunca posso ter certeza se ele está brincando ou se está zangado de verdade. Desconfio neste momento que ele esteja zangado de verdade. Disfarçadamente, para a comissária não ver, digito uma resposta embaixo da manta.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Brincadeira?
Data: 30 de maio de 2011 22:30
Para: Christian Grey
Não sei se está brincando — e, se não estiver, acho que ficarei na Geórgia. Caixotes são limites rígidos para mim. Desculpe por tê-lo irritado. Diga que me perdoa.
A
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De: Christian Grey
Assunto: Brincadeira
Data: 30 de maio de 2011 22:31
Para: Anastasia Steele
Como pode estar mandando e-mail? Está colocando em risco a vida de todo mundo a bordo, inclusive a sua, usando o BlackBerry? Acho que isso infringe uma das regras.
Christian Grey
CEO Com Coceira nas Duas Mãos
Grey Enterprises Holdings, Inc.
Duas mãos! Guardo o BlackBerry, endireito-me na poltrona enquanto o avião taxia para a pista de decolagem, e pego meu exemplar em frangalhos de Tess — uma leitura leve para a viagem. Uma vez no ar, inclino a poltrona, e logo estou dormindo.
A comissária me acorda quando iniciamos a descida para Atlanta. A hora local cinco e quarenta e cinco da manhã, mas só dormi mais ou menos umas quatro horas... Estou grogue, porém agradecida pelo copo de suco de laranja que ela me entrega. Olho aflita para o BlackBerry. Não há mais e-mails de Christian. Bem, são quase três da manhã em Seattle, e ele provavelmente quer me impedir de atrapalhar os equipamentos eletrônicos do avião ou seja o que for que impeça os aviões de voarem se houver telefones celulares ligados.
* * *
A ESPERA EM ATLANTA é só de uma hora. E, mais uma vez, estou me deleitando na sala da primeira classe. Fui tentada a me deitar encolhida num dos sofás fofos e convidativos que afundam sob meu peso. Mas não vai dar tempo. Para me manter acordada, começo a escrever no laptop um longo e-mail para Christian deixando fluir tudo o que me vem à cabeça.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Você gosta de me assustar?
Data: 31 de maio de 2011 06:52 LESTE
Para: Christian Grey
Você sabe o quanto eu não gosto que você gaste dinheiro comigo. Sim, você é muito rico, mas mesmo assim isso me deixa constrangida, como se você estivesse me pagando pelo sexo. No entanto, gosto de viajar de primeira classe, é muito mais civilizado do que de econômica. Então, obrigada. Estou sendo sincera — e gostei, sim, da massagem do Jean-Paul. Ele era muito gay. Omiti isso no meu e-mail para provocá-lo, porque estava irritada com você, e sinto muito por isso.
Mas, como sempre, sua reação é exagerada. Você não pode escrever coisas assim para mim — amarrada e amordaçada dentro de um caixote. (Você falou sério ou era brincadeira?) Isso me assusta... você me assusta... estou completamente envolvida por seu encanto, considerando um estilo de vida com você que eu nem sabia que existia até a semana passada, e aí você escreve uma coisa assim e quero fugir aos gritos para as montanhas. Não vou fazer isso, claro, porque sentiria sua falta. Sentiria mesmo. Quero que a gente dê certo, mas estou apavorada com a profundidade do sentimento que tenho por você e com o caminho escuro para onde você está me levando. O que está oferecendo é erótico e sensual, e tenho curiosidade, mas também tenho medo de que você me machuque — física e emocionalmente. Depois de três meses, você poderia dizer adeus, e como é que vou ficar se você fizer isso? Embora tenha de admitir que esse risco existe em qualquer relacionamento. Este não é o tipo de relação que algum dia imaginei ter, especialmente para a primeira. Isso é um enorme passo para mim.
Você tinha razão ao dizer que eu não possuía um único osso submisso no corpo... e concordo com você agora. Tendo dito isso, quero estar com você, e se isso for o que tenho que fazer, eu gostaria de tentar, mas acho que não vai dar certo e vou acabar toda roxa — não fico nem um pouco entusiasmada com essa ideia.
Gostei muito de você ter dito que se esforçará mais. Só preciso pensar no que “mais” significa para mim, e essa é uma das razões pelas quais eu queria um pouco de distância. Você me deslumbra tanto que tenho dificuldade de pensar com clareza quando estamos juntos.
Estão chamando meu voo. Tenho que ir.
Depois continuo.
Sua Ana.
Aperto “enviar” e me dirijo sonolenta ao portão de embarque para tomar o outro avião. Este só tem seis lugares na primeira classe, e, quando estamos no ar, me encolho embaixo da manta macia e adormeço.
Mais cedo do que eu gostaria, sou acordada pela comissária me oferecendo mais suco de laranja ao iniciarmos a aproximação do Aeroporto Internacional de Savannah. Bebo lentamente, para lá de cansada, e me permito sentir um mínimo de excitação. Não vejo minha mãe há seis meses. Dando outra olhada disfarçada no BlackBerry, me lembro vagamente de ter enviado um e-mail longo e desconexo a Christian — mas não há resposta. São cinco da manhã em Seattle. Tomara que ele ainda esteja dormindo e não tocando lamentos tristes ao piano.
* * *
A PARTE BOA de viajar só com bagagem de mão é que é possível sair despreocupadamente do aeroporto sem esperar a vida inteira pelas malas nas esteiras. A parte boa de viajar de primeira classe é que deixam a gente desembarcar primeiro.
Minha mãe está esperando com Bob, e é muito bom vê-los. Não sei se é por causa da exaustão, da viagem longa ou de toda a situação com Christian, mas assim que minha mãe me abraça começo a chorar.
— Ah, Ana, querida. Você deve estar muito cansada.
Ela olha aflita para Bob.
— Não, mãe, é só que... estou muito feliz em ver você.
Dou um abraço apertado nela, e é um contato gostoso e acolhedor, como o lar. Com relutância, solto-a, e Bob me abraça sem jeito com um braço só. Ele parece meio trôpego, e me lembro que machucou a perna.
— Seja bem-vinda, Ana. Por que está chorando? — pergunta.
— Ai, Bob, só estou feliz em ver você também.
Olho para seu bonito rosto quadrado e seus brilhantes olhos azuis que me fitam com carinho. Gosto desse marido, mãe. Pode ficar com ele. Ele pega minha mochila.
— Nossa, Ana, o que você tem aí?
Deve ser o Mac, e vamos os três abraçados para o estacionamento.
Sempre me esqueço do calor insuportável que faz em Savannah. Saindo dos limites refrigerados do terminal de desembarque, entramos no calor da Geórgia como se o estivéssemos vestindo. Ufa! Ele mina tudo. Preciso me desvencilhar do abraço de mamãe e de Bob para tirar o casaco de capuz. Ainda bem que trouxe uns shorts. Às vezes sinto falta do calor seco de Las Vegas, onde morei com mamãe e Bob aos dezessete anos, mas custo a me acostumar com este calor úmido, mesmo às oito e meia da manhã. Quando estou no banco traseiro do utilitário esportivo Tahoe maravilhosamente refrigerado, sinto-me fraca, e meu cabelo já iniciou um protesto frisado diante do calor. Ali no Tahoe, rapidamente envio uma mensagem de texto para Ray, Kate e Christian:
*Cheguei bem em Savannah. A :)*
Penso rapidamente em José ao apertar “enviar”, e, através da névoa do meu cansaço, lembro-me de que a exposição é semana que vem. Será que eu devia convidar Christian, sabendo como ele se sente em relação a José? Será que Christian ainda vai querer me ver depois daquele e-mail? Estremeço ao pensar nisso, e então tiro o assunto da cabeça. Vou tratar disso depois. No momento, vou aproveitar a companhia de minha mãe.
— Querida, você deve estar cansada. Vai querer dormir quando chegar em casa?
— Não, mãe. Eu queria ir à praia.
* * *
ESTOU COM MEU maiô frente-única azul, tomando uma Coca Diet, numa espreguiçadeira de frente para o Oceano Atlântico. E pensar que ontem mesmo eu estava contemplando o Estuário na direção do Pacífico. Minha mãe está instalada a meu lado com um chapéu absurdamente grande à la Jackie O, bebendo a Coca dela. Estamos na Praia da Ilha Tybee, só a três quarteirões lá de casa. Ela segura minha mão. Meu cansaço desapareceu, e ali tostando ao sol, sinto-me confortável, segura, aquecida. Pela primeira vez em séculos, começo a relaxar.
— Então, Ana... me conte sobre esse homem que está deixando você nessa confusão toda.
Confusão! Como ela pode saber? O que vou dizer? Não posso entrar em maiores detalhes sobre Christian por causa do termo de confidencialidade, mas, apesar disso, será que eu escolheria falar com minha mãe sobre isso? Fico lívida com essa ideia.
— E então? — provoca ela, e aperta minha mão.
— O nome dele é Christian. Ele é muito bonito. É rico... rico demais. É muito complicado e instável.
Sim — estou felicíssima com minha síntese precisa e acurada. Viro de lado para ficar de frente para ela, na hora que ela faz o mesmo movimento. Ela me olha com aqueles olhos azul-claros.
— Complicado e instável são duas informações sobre as quais quero me concentrar, Ana.
Ah, não...
— Ah, mãe, as oscilações de humor dele me deixam tonta. Ele teve uma criação triste, e é muito fechado, difícil de avaliar.
— Você gosta dele?
— Gosto demais dele.
— É mesmo?
Ela me olha boquiaberta.
— Sim, mãe.
— Os homens são muito complicados, Ana, querida. São criaturas muito simples e literais. Normalmente o que eles falam é o que pensam mesmo. E a gente passa horas tentando analisar o que falaram, quando está na cara. Se eu fosse você, eu o tomaria ao pé da letra. Isso poderia ajudar.
Olho para ela pasma. Parece um bom conselho. Tomar Christian ao pé da letra. Na mesma hora, me vêm à cabeça umas coisas que ele disse.
Não quero perder você...
Você me enfeitiçou...
Você me seduziu completamente...
Vou sentir sua falta, também... mais do que você pensa.
Olho para minha mãe. Ela está no quarto casamento. Talvez saiba alguma coisa sobre os homens afinal de contas.
— Quase todos os homens são mal-humorados, querida, uns mais que outros. Pense no seu pai, por exemplo...
Ela fica com um olhar meigo e tristonho sempre que pensa em meu pai. Meu pai verdadeiro, esse homem mítico que não conheci, arrebatado da gente de forma tão cruel num acidente de treino de combate quando era da marinha. Uma parte minha acha que minha mãe anda procurando meu pai esse tempo todo... talvez finalmente tenha encontrado o que procura em Bob. Pena que não conseguiu encontrar com Ray.
— Eu achava que seu pai era mal-humorado. Mas quando olho para trás, só acho que ele estava muito envolvido com o trabalho dele e tentando nos sustentar. — Ela suspira. — Era muito jovem, nós dois éramos. Talvez a questão fosse essa.
Humm... Christian não é exatamente velho. Sorrio com carinho para ela. Ela é capaz de ficar muito emotiva falando do meu pai, mas tenho certeza de que ele não tinha nada dos maus humores de Christian.
— Bob quer nos levar para jantar fora hoje. No clube de golfe dele.
— Ah, não! O Bob começou a jogar golfe?
Debocho incrédula.
— Nem me fale — reclama minha mãe, revirando os olhos.
* * *
APÓS UM ALMOÇO leve em casa, começo a desfazer a mala. E vou me dar o capricho de um cochilo. Minha mãe desapareceu para moldar umas velas ou o que quer que ela faça com elas, e Bob está no trabalho, de modo que tenho tempo de botar o sono em dia. Ligo o Mac. São duas da tarde na Geórgia, onze da manhã em Seattle. Pergunto-me se tenho uma resposta de Christian. Com agitação, abro meu e-mail.
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De: Christian Grey
Assunto: Finalmente!
Data: 31 de maio de 2011 07:30
Para: Anastasia Steele
Anastasia,
Estou aborrecido porque, assim que a gente se afasta um pouco, você se comunica aberta e honestamente comigo. Por que não pode fazer isso quando estamos juntos?
Sim, eu sou rico. Vá se acostumando com isso. Por que eu não deveria gastar dinheiro com você? Já contamos a seu pai que sou seu namorado, pelo amor de Deus. Não é o que os namorados fazem? Como seu Dominador, eu esperaria que você aceitasse sem discutir o que quer que eu gaste com você. Por falar nisso, conte a sua mãe, também.
Não sei como responder a seu comentário sobre se sentir uma puta. Sei que não foi isso que escreveu, mas é o que sugere. Não sei o que posso dizer ou fazer para erradicar esses sentimentos. Eu gostaria que você tivesse tudo do melhor. Dou um duro extraordinário para poder gastar meu dinheiro como achar melhor. Eu poderia lhe comprar o que você quisesse, Anastasia, e quero comprar. Chame isso de redistribuição de riqueza, se quiser. Ou saiba simplesmente que eu não pensaria, nem jamais poderia pensar em você do jeito que você descreveu, e fico furioso por ser esta a maneira como você se vê. Para uma moça tão inteligente, espirituosa e bonita, você tem alguns autênticos problemas de autoestima, e me dá vontade de marcar uma consulta para você com o Dr. Flynn.
Peço desculpas por tê-la assustado. Acho abominável a ideia de lhe causar medo. Acha mesmo que eu iria deixá-la viajar no porão? Ofereci-lhe meu jato particular, por favor. Sim, foi uma brincadeira, de mau gosto, é óbvio. No entanto, o fato é que pensar em você amarrada e amordaçada me excita (isso não é brincadeira — é verdade). Posso ficar sem o caixote: não ligo para caixotes. Sei que você tem problemas com amordaçamento, já falamos sobre isso, e se/ou quando eu amordaçá-la, vamos discutir antes. O que acho que você não percebe é que, em relações Dom/sub, é a sub que tem todo o poder. Não eu. No ancoradouro você disse não. Não posso tocar em você se você disser não; por isso temos um contrato — o que você fará e o que não fará. Se experimentarmos coisas e você não gostar, podemos rever o contrato. Isso é com você, não comigo. E se você não quiser ser amarrada e amordaçada dentro de um caixote, então isso não vai acontecer.
Quero compartilhar meu estilo de vida com você. Eu nunca quis tanto uma coisa. Francamente, estou assombrado com você, com o fato de uma pessoa tão inocente estar disposta a tentar. Isso me diz mais do que você jamais poderia imaginar. Você não consegue ver que estou envolvido pelo seu encanto, também, embora eu já tenha lhe dito isso inúmeras vezes. Não quero perdê-la. Estou aflito por você ter viajado quase cinco mil quilômetros para se afastar de mim por uns dias, porque não consegue pensar com clareza perto de mim. É a mesma coisa comigo, Anastasia. Perco o juízo quando estamos juntos — esta é a profundidade do meu sentimento por você.
Entendo seu nervosismo. Tentei, sim, ficar longe de você. Eu sabia que você não tinha experiência, embora eu jamais a tivesse perseguido se soubesse exatamente quão inocente você era — e no entanto você ainda consegue me desarmar completamente de um jeito que ninguém conseguiu antes. Seu e-mail, por exemplo: Li-o e reli-o inúmeras vezes tentando entender seu ponto de vista. Três meses é uma quantidade de tempo arbitrária. Poderíamos estabelecer seis meses, um ano? Quanto tempo quer que seja? O que a deixaria confortável? Diga.
Entendo que se trate de um grande passo para você. Tenho que ganhar sua confiança, mas, do mesmo modo, você tem que me avisar quando eu não estiver conseguindo fazer isso. Você parece muito forte e independente, e aí eu leio o que você escreveu aqui, e vejo outro lado seu. Temos que guiar um ao outro, Anastasia, e só você pode me dar as deixas. Você tem que ser honesta comigo, e temos que encontrar um jeito de fazer este acordo funcionar.
Você se preocupa em não ser submissa. Bem, talvez isso seja verdade. Dito isso, você só assume a atitude correta de uma sub no quarto de jogos. Parece que é o único lugar em que me deixa exercer um controle adequado sobre você e é o único lugar em que você obedece. “Exemplar” é o termo que me ocorre. E eu nunca bateria em você para deixá-la roxa, meu objetivo é o cor-de-rosa. Fora do quarto de jogos, gosto que você me desafie. Trata-se de uma experiência muito nova e revigorante, e eu não iria querer mudar isso. Portanto, sim, me diga o que quer em termos de mais. Vou me esforçar para conservar a mente aberta, e tentarei lhe dar o espaço de que precisa e ficar longe de você enquanto estiver na Geórgia. Aguardo com ansiedade seu próximo e-mail.
Enquanto isso, divirta-se. Mas não exagere.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Puta merda. Ele escreveu uma redação, como se estivéssemos de novo na escola — e a maior parte dela é boa. Releio apavorada a sua epístola, e me encolho na cama extra praticamente abraçada com o Mac. Estabelecer o prazo de um ano para nosso acordo? Tenho esse poder? Putz, vou ter que pensar nisso. Tomar suas palavras ao pé da letra, é o que minha mãe diz. Ele não quer me perder. Já disse isso duas vezes! Quer fazer com que isso dê certo. Ah, Christian, eu também! Ele vai tentar ficar longe! Será que isso significa que poderia não conseguir ficar? De repente, torço para que não consiga. Quero vê-lo. Estamos afastados há menos de vinte e quatro horas, e, sabendo que vou ficar quatro dias sem poder vê-lo, percebo o quanto sinto sua falta. O quanto o amo.
z
— Ana, querida.
A voz é meiga e carinhosa, cheia de amor e doces lembranças do passado.
Sinto uma mão delicada passando em meu rosto. Minha mãe me acorda, e estou agarrada com o laptop.
— Ana, meu amor — continua ela com aquela voz macia e musical enquanto pisco sonolenta na claridade rosada do crepúsculo.
— Oi, mãe.
Espreguiço-me e sorrio.
— Vamos sair para jantar em meia hora. Você quer vir? — pergunta ela de maneira amável.
— Ah, sim, mãe, claro.
Tento, mas não consigo conter um bocejo.
— É um objeto impressionante.
Ela aponta para o laptop.
Ah, merda.
— Ah... isso? — digo buscando um tom displicente e surpreso.
Será que mamãe vai notar? Ela parece ter ficado mais esperta depois que arranjei um “namorado”.
— Christian me emprestou. Acho que eu poderia pilotar um ônibus espacial com isso, mas só uso para mandar e-mails e ter acesso à internet.
Realmente, não é nada. Olhando desconfiada para mim, ela se senta na cama e coloca atrás da minha orelha um cacho de cabelo que se soltou.
— Ele escreveu para você?
Ah, puta merda.
— Escreveu.
Minha displicência está minguando, e enrubesço.
— Vai ver que ele está sentindo sua falta, não é?
— Espero que sim, mãe.
— O que ele diz?
Droga. Tento freneticamente pensar em alguma parte daquele e-mail que eu possa contar a minha mãe. Tenho certeza de que ela não quer ouvir sobre Dominadores nem sobre seu hábito de amarrar e amordaçar, mas não posso mesmo lhe contar porque existe o Termo de Confidencialidade.
— Ele disse para eu me divertir mas não exagerar.
— Isso é razoável. Vou deixar você se aprontar, querida. — Ela se inclina e beija minha testa. — Estou muito feliz por estar aqui, Ana. É ótimo ver você.
E com essa declaração de amor, ela se retira.
Hum, Christian e razoável... dois conceitos que julguei serem mutuamente excludentes, mas depois do e-mail dele, talvez tudo seja possível. Vou precisar de tempo para digerir suas palavras. Provavelmente depois do jantar — e posso lhe responder então. Levanto da cama, tiro depressa a camiseta e o short e vou para o chuveiro.
Trouxe o vestido frente única de Kate que usei na formatura. É a única peça formal que tenho. Uma vantagem do calor é que a roupa desamassa, então acho que vai dar para ir com esse vestido ao clube de golfe. Enquanto me visto, abro o laptop. Não há novidade nenhuma de Christian, e fico decepcionada. Muito rapidamente, digito um e-mail para ele.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Loquaz?
Data: 31 de maio de 2011 19:08 LESTE
Para: Christian Grey
Senhor, o senhor é um escritor muito prolixo. Tenho que ir jantar no clube de golfe de Bob, e, só para sua informação, estou revirando os olhos para a ideia. Mas como sua pessoa e sua mão coçando estão muito longe de mim, meu traseiro está seguro, por ora. Adorei seu e-mail. Responderei quando puder. Já sinto sua falta.
Aproveite a tarde.
Sua Ana
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De: Christian Grey
Assunto: Seu traseiro
Data: 31 de maio de 2011 16:10
Para: Anastasia Steele
Prezada Srta. Steele,
O título deste e-mail está me distraindo. Não é preciso dizer que ele está seguro — por ora.
Aproveite o jantar, e eu também sinto sua falta, especialmente do seu traseiro e das suas gracinhas.
Minha tarde será monótona, animada apenas pelos meus pensamentos em você e em seu hábito de revirar os olhos. Acho que foi você que tão acertadamente me mostrou que eu também tenho esse costume desagradável.
Christian Grey
CEO e Revirador de Olhos
Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Revirar os olhos
Data: 31 de maio de 2011 19:14 LESTE
Para: Christian Grey
Caro Sr. Grey,
Pare de me enviar e-mails. Estou tentando me aprontar para o jantar. Você me distrai muito, mesmo quando está do outro lado do país. E, sim — quem bate em você quando revira os olhos?
Sua Ana
Aperto em “enviar”, e imediatamente a imagem daquela bruxa má da Mrs. Robinson me vem à cabeça. Simplesmente não consigo imaginar. Christian apanhando de uma pessoa da idade da minha mãe, simplesmente não dá. De novo me pergunto se isso lhe causou muitos danos. Minha boca se contrai numa expressão triste. Preciso de uma boneca de vodu para espetar uns alfinetes, talvez assim eu possa descarregar um pouco da raiva que sinto dessa mulher estranha.
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De: Christian Grey
Assunto: Seu traseiro
Data: 31 de maio de 2011 16:18
Para: Anastasia Steele
Cara Srta. Steele,
Ainda prefiro meu título ao seu, em vários aspectos. Ainda bem que sou o mestre do meu próprio destino e ninguém me castiga. A não ser minha mãe, às vezes, e o Dr. Flynn, claro. E você.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Castigar... Eu?
Data: 31 de maio de 2011 19:22 LESTE
Para: Christian Grey
Prezado senhor,
Quando já tive coragem de castigá-lo? Acho que está me confundindo com outra pessoa... o que é muito preocupante. Realmente tenho que me aprontar.
Sua Ana
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De: Christian Grey
Assunto: Seu traseiro
Data: 31 de maio de 2011 16:25
Para: Anastasia Steele
Cara Srta. Steele,
Você faz isso o tempo todo por escrito. Posso fechar o zíper do seu vestido?
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Por algum motivo desconhecido, as palavras dele saltam da tela e me fazem arquejar. Ah... ele quer fazer um joguinho.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Conteúdo adulto
Data: 31 de maio de 2011 19:28 LESTE
Para: Christian Grey
Eu preferiria que você o abrisse.
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De: Christian Grey
Assunto: Cuidado com o que deseja...
Data: 31 de maio de 2011 16:31
Para: Anastasia Steele
EU TAMBÉM.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Arfando
Data: 31 de maio de 2011 19:33 LESTE
Para: Christian Grey
Devagarinho...
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De: Christian Grey
Assunto: Gemendo...
Data: 31 de maio de 2011 16:35
Para: Anastasia Steele
Eu queria estar aí.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Gemendo
Data: 31 de maio de 2011 19:37 LESTE
Para: Christian Grey
EU TAMBÉM...
— Ana! — Minha mãe me chama, sobressaltando-me. Merda. Por que me sinto tão culpada?
— Já vou, mãe.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Gemendo
Data: 31 de maio de 2011 19:39 LESTE
Para: Christian Grey
Tenho que ir.
Até mais, baby.
Entro correndo no hall, onde Bob e minha mãe aguardam. Minha mãe tem uma expressão preocupada.
— Querida, está se sentindo bem? Está com o rosto vermelho.
— Mãe, estou bem.
— Você está linda, querida.
— Ah, esse vestido é da Kate. Gostou?
Ela faz uma expressão ainda mais preocupada.
— Por que está usando o vestido da Kate?
Ah... não.
— Bom, eu gosto dele e ela não — improviso depressa.
Ela me olha com malícia enquanto Bob destila impaciência com uma cara triste e faminta.
— Amanhã levo você para fazer compras — diz ela.
— Ah, mãe, não precisa. Tenho muita roupa.
— Será que não posso fazer nada pela minha filha? Vamos, Bob está morrendo de fome.
— Estou mesmo — geme Bob, esfregando a barriga e fazendo cara de sofrimento.
Rio e ele revira os olhos, e saímos de casa.
* * *
MAIS TARDE, QUANDO estou no banho me refrescando embaixo da água fresca, penso no quanto minha mãe mudou. Pelo que vi no jantar, ela estava na dela: engraçada e sedutora e entre muitos amigos do clube de golfe. Bob estava carinhoso e atencioso... eles parecem fazer muito bem um ao outro. Estou muito feliz por ela. Isso significa que posso parar de me preocupar, de criticar suas decisões e esquecer os dias sombrios do Marido Número Três. Bob é protetor. E ela está me dando bons conselhos. Desde quando? Desde que conheci Christian. Por quê?
Quando termino, seco-me rapidamente, com muita vontade de voltar para Christian. Há um e-mail à minha espera, enviado logo depois que saí para jantar.
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De: Christian Grey
Assunto: Plágio
Data: 31 de maio de 2011 16:41
Para: Anastasia Steele
Você roubou minha fala.
E me deixou louco.
Bom jantar.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Quem é você para gritar pega ladrão?
Data: 31 de maio de 2011 22:18 LESTE
Para: Christian Grey
Senhor, creio que vai descobrir que a fala originalmente era de Elliot.
Louco?
Sua Ana
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De: Christian Grey
Assunto: Assunto inacabado
Data: 31 de maio de 2011 19:22
Para: Anastasia Steele
Srta. Steele,
Você voltou. Saiu tão de repente — logo na hora em que as coisas estavam ficando interessantes.
Elliot não é muito original. Deve ter roubado essa fala de alguém.
Como foi o jantar?
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Assunto inacabado?
Data: 31 de maio de 2011 22:26 LESTE
Para: Christian Grey
O jantar foi farto — você vai gostar de saber que comi demais.
Ficando interessante? Como?
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De: Christian Grey
Assunto: Assunto inacabado — Definitivamente
Data: 31 de maio de 2011 19:30
Para: Anastasia Steele
Está sendo deliberadamente obtusa? Pensei que tivesse simplesmente me pedido para abrir seu zíper.
E eu estava ansioso para fazer exatamente isso. Também gostei de saber que você comeu bem.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Bem... Sempre há o fim de semana
Data: 31 de maio de 2011 22:36 LESTE
Para: Christian Grey
Claro que comi... É só a insegurança que sinto a seu lado que me tira o apetite.
E eu nunca seria obtusa sem querer, Sr. Grey.
Com certeza já deve ter entendido isso. ;)
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De: Christian Grey
Assunto: Não posso esperar
Data: 31 de maio de 2011 19:40
Para: Anastasia Steele
Vou me lembrar disso, Srta. Steele, e, sem dúvida, usar essa informação a meu favor.
Lamento saber que lhe tiro o apetite. Julguei provocar um efeito mais concupiscente em você. É o efeito que ando experimentando, e é muito prazeroso, também.
Aguardo com muita ansiedade a próxima vez.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Linguística ginasta
Data: 31 de maio de 2011 22:36 LESTE
Para: Christian Grey
Anda brincando com o dicionário de novo?
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De: Christian Grey
Assunto: No flagra
Data: 31 de maio de 2011 19:40
Para: Anastasia Steele
Você me conhece muito bem, Srta. Steele.
Vou sair para jantar com uma velha amiga agora, portanto estarei dirigindo.
Até mais, baby©.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Que velha amiga? Não pensei que Christian tivesse alguma velha amiga, a não ser... ela? Por que ele ainda tem que falar com ela? De repente, fico roxa de ciúmes. Quero bater em alguma coisa, de preferência na Mrs. Robinson. Desligo o laptop mal-humorada e vou me deitar.
Eu deveria realmente responder ao longo e-mail dele de hoje de manhã, mas, de repente, fiquei muito zangada. Por que ele não consegue vê-la pelo que ela é — uma molestadora de crianças? Apago a luz, espumando, olhando para o escuro. Como ela se atreve? Como ela se atreve a se meter com um adolescente vulnerável? Ela ainda está fazendo isso? Por que eles pararam? Vários cenários me passam pela cabeça: se ele tinha ficado farto, então por que ainda é amigo dela? Idem para ela — será que ela é casada? Divorciada? Putz — será que tem filhos? Será que teve filhos com Christian? Meu inconsciente empina a cabeça feia, lasciva, e fico chocada e nauseada com essa ideia. Será que o Dr. Flynn sabe sobre ela?
Levanto com esforço da cama e torno a ligar a máquina do mal. Estou numa missão. Tamborilo os dedos com impaciência enquanto a tela azul não aparece. Seleciono o Google Images e digito “Christian Grey” no mecanismo de busca. A tela subitamente se enche de imagens de Christian: de traje a rigor, de terno, putz — as fotos de José do Heathman, de camisa branca e calça de flanela. Como essas fotos chegaram na internet? Nossa, ele está bem.
Passo adiante rapidamente: algumas imagens com sócios em empreendimentos, depois uma foto atrás da outra do homem mais fotogênico que conheço intimamente. Intimamente? Será que conheço Christian intimamente? Conheço-o sexualmente, e imagino que há muito mais a descobrir. Sei que ele é instável, difícil, engraçado, frio, caloroso... minha nossa, o homem é uma contradição ambulante. Clico na página seguinte. Ele continua sozinho em todas as fotografias, e me lembro de Kate mencionar não ter conseguido encontrar nenhuma fotografia dele com uma figura feminina, o que suscitou sua pergunta sobre ele ser gay. Então, na terceira página, há uma foto minha, com ele, na minha formatura. A única foto dele com uma mulher, e sou eu.
Caramba! Estou no Google! Fico olhando para nós dois juntos. Olho admirada para a câmera, nervosa, espantada. Isso foi justo antes de eu ter aceitado tentar. Da parte dele, Christian está lindíssimo, calmo e sereno, e está com aquela gravata. Olho para ele, um rosto tão lindo, um rosto lindo que pode estar olhando para a Mrs. Robinson Maldita neste exato momento. Salvo a foto em meus favoritos e clico em todas as dezoito páginas de resultados de busca... nada. Não acharei a Mrs. Robinson no Google. Mas tenho que saber se ele está com ela. Digito um rápido e-mail para Christian.
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De: Anastasia Steele
Assunto: Companhias apropriadas para um jantar
Data: 31 de maio de 2011 23:58 LESTE
Para: Christian Grey
Espero que você e sua amiga tenham tido um jantar muito agradável.
Ana
P.S.: Era a Mrs. Robinson?
Aperto em “enviar” e volto desanimada para a cama, resolvida a perguntar a Christian sobre sua relação com aquela mulher. Uma parte de mim está desesperada para saber mais, e outra parte quer esquecer que ele algum dia me contou. E minha menstruação começou, portanto, preciso me lembrar de tomar a pílula de manhã. Rapidamente programo um alarme na agenda do BlackBerry. Ponho-o na mesa de cabeceira, deito-me e acabo caindo num sono agitado, desejando que estivéssemos na mesma cidade, não a quatro mil quilômetros de distância um do outro.
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Após uma manhã de compras e mais uma tarde na praia, minha mãe decretou que devíamos passar a noite num bar. Deixamos Bob com a tevê e vamos ao elegante bar do hotel mais exclusivo de Savannah. Estou no segundo Cosmopolitan. Minha mãe, no terceiro. Ela está me permitindo entender um pouco mais o frágil ego masculino. É muito desconcertante.
— Está vendo, Ana, os homens acham que tudo que sai da boca de uma mulher é um problema a ser resolvido. Não uma vaga ideia que a gente gostaria de lançar e discutir um pouco e depois esquecer. Os homens preferem ação.
— Mãe, por que está me dizendo isso? — pergunto, sem conseguir esconder a exasperação.
Ela anda assim o dia inteiro.
— Querida, você parece muito perdida. Nunca levou um garoto lá em casa. Nunca teve um namorado quando estávamos em Vegas. Pensei que poderia rolar alguma coisa com aquele rapaz que você conheceu na faculdade, o José.
— Mãe, José é só um amigo.
— Eu sei, querida. Mas há alguma coisa, e acho que você não está me contando tudo. — Ela me olha, a preocupação de mãe estampada no rosto.
— Eu só precisava me afastar um pouco de Christian para botar a cabeça no lugar... mais nada. Ele tende a me perturbar.
— Perturbar?
— É. Mas eu sinto falta dele.
Franzo a testa. Passei o dia inteiro sem notícias de Christian. Nada de e-mails, nada. Estou tentada a ligar para ele para saber como está. Meu maior receio é que ele tenha sofrido um acidente de carro. O meu segundo maior receio é que Mrs. Robinson esteja de novo exercendo sua influência maligna sobre ele. Sei que isso é irracional, mas no que diz respeito a ela, parece que perdi toda a noção de objetividade.
— Querida, tenho que ir ao toalete.
A breve ausência de minha mãe me dá mais uma chance de olhar meu BlackBerry. Andei o dia inteiro tentando ver disfarçadamente meus e-mails. Finalmente, uma resposta de Christian!
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De: Christian Grey
Assunto: Companhias para jantar
Data: 1 de junho de 2011 21:40 LESTE
Para: Anastasia Steele
Sim, jantei com Mrs. Robinson. Ela é apenas uma velha amiga, Anastasia.
Estou ansioso para tornar a vê-la. Sinto sua falta.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Ele estava jantando com ela. Meu couro cabeludo formiga e a adrenalina e o ódio percorrem meu corpo quando vejo meus piores receios se confirmarem. Como ele pôde? Estou fora há dois dias, e ele corre para a peste daquela cachorra.
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De: Anastasia Steele
Assunto: VELHAS companhias para jantar
Data: 1 de junho de 2011 21:42 LESTE
Para: Christian Grey
Ela não é só uma velha amiga.
Ela já encontrou outro adolescente para comer?
Será que você ficou muito velho para ela?
Foi por isso que a relação de vocês terminou?
Aperto em “enviar” quando minha mãe volta.
— Ana, você está muito pálida. O que aconteceu?
Balanço a cabeça.
— Nada. Vamos tomar mais um Cosmopolitan — murmuro emburrada.
Ela franze as sobrancelhas, mas olha para um dos garçons e aponta para nossos copos. O garçom compreende, conhece a linguagem universal do “mais uma rodada, por favor”. Assim como ela. Dou uma olhadinha no meu BlackBerry.
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De: Christian Grey
Assunto: Cuidado...
Data: 1 de junho de 2011 21:45 LESTE
Para: Anastasia Steele
Isso não é um assunto que eu queira discutir por e-mail.
Quantos Cosmopolitans mais você vai beber?
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Puta merda, ele está aqui.