CAPÍTULO VINTE E SEIS
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Acordo com um sobressalto. Penso que acabei de cair escada abaixo num sonho, e me sento depressa, momentaneamente desorientada. Está escuro, e estou sozinha na cama de Christian. Algo me despertou, um pensamento ruim. Olho para o despertador na mesa de cabeceira dele. São cinco da manhã, mas me sinto descansada. Por quê? Ah — é a diferença de fuso horário — são oito da manhã na Geórgia. Puta merda... preciso tomar a pílula. Levanto-me da cama, agradecida por seja lá o que tenha me despertado. Ouço notas ao longe no piano. Christian está tocando. Isso eu preciso ver. Adoro vê-lo tocar. Nua, pego o roupão de banho na cadeira e o visto andando pelo corredor ao som mágico do lamento melódico que vem da sala.
Envolto na escuridão, Christian toca sentado numa bolha de luz, e seu cabelo brilha com reflexos acobreados. Parece nu, embora eu saiba que está com a calça do pijama. Está concentrado, tocando lindamente, absorto na melancolia da música. Hesito, observando-o da penumbra, sem querer interrompê-lo. Quero abraçá-lo. Ele parece perdido, triste até, e dolorosamente só — ou talvez seja apenas a música, impregnada de uma tristeza muito pungente. Ele termina a peça, para por uma fração de segundo, depois repete-a. Vou me encaminhando com cautela para ele, como a mariposa atraída pela chama... a ideia me faz sorrir. Ele ergue os olhos para mim e franze a testa antes de tornar a olhar para as mãos.
Ah, merda, será que ele está puto pelo fato de eu o estar perturbando?
— Você devia estar dormindo — censura num tom afável.
Dá para ver que ele está preocupado com alguma coisa.
— Você também — retruco num tom não tão afável.
Ele torna a erguer os olhos, esboçando um sorriso.
— Está me repreendendo, Srta. Steele?
— Estou sim, Sr. Grey.
— Bem, não consigo dormir.
Ele torna a franzir a testa e vejo em seu rosto um sinal de irritação ou raiva. De mim? Com certeza, não.
Ignoro sua expressão e, numa atitude muito corajosa, sento-me a seu lado no banco do piano, encostando a cabeça em seus ombros nus para observar seus dedos ágeis e habilidosos acariciarem as teclas. Ele faz uma pausa quase imperceptível e depois continua a peça até o fim.
— O que estava tocando? — pergunto baixinho.
— Chopin. “Prelúdio opus vinte e oito, número quatro em mi menor”, se lhe interessar — murmura ele.
— Sempre me interesso pelo que você faz.
Ele se vira e pressiona docemente os lábios em meus cabelos.
— Eu não tinha intenção de acordá-la.
— Não acordou. Toque aquela outra.
— Outra?
— A peça de Bach que tocou na primeira noite em que estive aqui.
— Ah, “Marcello”.
Ele começa a tocar lentamente e com determinação. Sinto o movimento de suas mãos e seus ombros ali encostada nele de olhos fechados. As notas tristes e sentidas se irradiam num compasso lento e melancólico à nossa volta, ecoando nas paredes. É uma peça de uma beleza assombrosa, mais triste ainda que a de Chopin, e me perco na beleza do lamento. Até certo ponto, ela reflete como me sinto. O desejo pungente que tenho de conhecer melhor esse homem, de tentar entender a tristeza dele. Antes do que eu gostaria, a peça termina.
— Por que só toca essas músicas tristes?
Endireito-me no banco e vejo-o encolher os ombros em resposta à minha pergunta com uma expressão desconfiada.
— Então você só tinha seis anos quando começou a tocar? — provoco.
Ele balança a cabeça, com uma expressão mais desconfiada ainda. Passado um instante, fala.
— Eu me dediquei a aprender piano para agradar minha mãe.
— Para se encaixar na família perfeita?
— Sim, por assim dizer — responde evasivo. — Por que está acordada? Não precisa se recuperar dos esforços de ontem?
— São oito da manhã para mim. E preciso tomar a pílula.
Ele ergue as sobrancelhas, surpreso.
— Bem lembrado — murmura, e dá para ver que está impressionado. — Só você começaria a usar uma pílula que tenha hora certa para ser tomada numa região de fuso horário diferente. Talvez deva esperar meia hora e depois mais meia hora amanhã de manhã. Aí, acabará chegando a um horário razoável.
— Ótimo plano — suspiro. — Então o que faremos em meia hora? — pisco inocentemente para ele.
— Posso pensar em algumas coisas.
Ele sorri lascivamente. Olho impassível para ele, com as entranhas derretendo sob seu olhar cúmplice.
— Poderíamos conversar — sugiro calmamente.
Ele fica amuado.
— Prefiro o que tenho em mente.
Ele me põe no colo.
— Você sempre prefere fazer sexo a conversar.
Rio, e me seguro nele para me equilibrar.
— É verdade. Especialmente com você. — Ele esfrega o nariz em meu cabelo e começa a deixar uma trilha de beijos do meu ouvido até meu pescoço. — Talvez no piano — sussurra.
Ai, nossa. Meu corpo todo se contrai diante dessa ideia. Piano. Nossa.
— Quero esclarecer uma coisa — sussurro, enquanto minha pulsação começa a acelerar, e minha deusa interior fecha os olhos, deleitando-se com a sensação dos lábios dele nos meus.
Ele para um pouco antes de prosseguir com aquele ataque sensual.
— Sempre muito ansiosa por informações, Srta. Steele. O que precisa de esclarecimento? — suspira colado em minha nuca, continuando a trilha de beijos doces.
— Nós — sussurro fechando os olhos.
— Hum. O que tem nós?
Ele interrompe os beijos em meu ombro.
— O contrato.
Ele levanta a cabeça para me olhar, a expressão divertida, e suspira, acariciando minha bochecha com a ponta dos dedos.
— Bem, acho que o contrato é irrelevante, você não acha? — Sua voz é grave e rouca, seus olhos, meigos.
— Irrelevante?
— Irrelevante.
Ele sorri. Olho para ele curiosa.
— Mas você estava tão entusiasmado.
— Bem, isso foi antes. Enfim, as Regras não são irrelevantes, ainda estão de pé.
Sua expressão fica ligeiramente mais dura.
— Antes? Antes de quê?
— Antes do... — Ele para, e a expressão desconfiada volta. — Mais. — Encolhe os ombros.
— Ah.
— Além disso, já estivemos duas vezes no quarto de jogos, e você não fugiu gritando.
— Esperava que eu fugisse?
— Nada que você faz é esperado, Anastasia — diz ele secamente.
— Então vou ser clara. Você só quer que eu siga a parte das Regras do contrato o tempo todo mas não o restante do contrato?
— Menos no quarto de jogos. Quero que siga o espírito do contrato no quarto de jogos, e sim, quero que você siga as Regras, o tempo todo. Então saberei que estará segura, e eu poderei ter você sempre que quiser.
— E se eu infringir uma das Regras?
— Aí eu vou puni-la.
— Mas não vai precisar da minha permissão?
— Vou, sim.
— E se eu não der?
Ele me olha um instante, com uma expressão confusa.
— Se você não der, vou ter que encontrar um jeito de persuadi-la.
Eu me afasto dele e me levanto. Preciso me distanciar. Ele fecha a cara e olha para mim. Parece intrigado e desconfiado de novo.
— Então o lado da punição permanece.
— Sim, mas só se você infringir as Regras.
— Vou precisar relê-las — digo, tentando recordar o detalhe.
— Vou buscá-las para você.
O tom dele de repente fica profissional.
Puxa. O assunto ficou sério muito depressa. Ele se levanta do piano e vai num passo ágil até o escritório. Meu couro cabeludo comicha. Preciso de um chá. O futuro de nossa assim chamada relação está sendo discutido às cinco e quarenta e cinco da manhã quando ele está preocupado com outra coisa — será que isso é prudente? Vou para a cozinha, que continua às escuras. Cadê os interruptores de luz? Encontro-os, acendo-os, e ponho água na chaleira. Minha pílula! Procuro dentro da bolsa, que deixei no balcão da cozinha, e logo encontro a caixa. Um gole e pronto. Quando termino, Christian está de volta, sentado num dos bancos, observando-me com atenção.
— Aqui está.
Ele empurra uma folha impressa na minha direção, e vejo que riscou umas coisas.
REGRAS
Obediência:
A Submissa obedecerá a quaisquer instruções dadas pelo Dominador imediatamente, sem hesitação ou reserva, e com presteza. A Submissa concordará com qualquer atividade sexual que o Dominador julgar adequada e prazerosa salvo aquelas atividades que estão resumidas em limites rígidos (Apêndice 2). Ela fará isso avidamente e sem hesitação.
Sono:
A Submissa assegurará alcançar um mínimo de sete horas de sono por noite quando não estiver com o Dominador.
Alimentação:
A submissa consumirá regularmente os alimentos previamente listados (Apêndice 4) para conservar a saúde. A Submissa não comerá nada entre as refeições, com a exceção de frutas.
Roupas:
Durante a Vigência, a Submissa só usará roupas aprovadas pelo Dominador. O Dominador fornecerá à Submissa um orçamento para o vestuário, que a Submissa deverá usar. O Dominador acompanhará ad hoc a Submissa nas compras de vestuário. Se o Dominador solicitar, a Submissa usará, durante a Vigência deste contrato, quaisquer adornos solicitados pelo Dominador, na presença do Dominador e em qualquer outra hora que o Dominador julgar adequado.
Exercícios:
O Dominador fornecerá à Submissa um personal trainer para sessões de uma hora de exercícios, quatro três vezes por semana, em horário a ser combinado de comum acordo entre o personal trainer e a Submissa. O personal trainer reportará ao Dominador o progresso da Submissa.
Higiene pessoal/Beleza:
A Submissa se manterá sempre limpa e com os pelos raspados e/ou depilados. A Submissa visitará um salão de beleza à escolha do Dominador com frequência a ser decidida pelo Dominador e se submeterá a tratamentos que o Dominador julgar adequados.
Segurança pessoal:
A Submissa não se excederá na bebida, não fumará, não fará uso de drogas recreativas nem se colocará desnecessariamente em qualquer situação de risco.
Qualidades pessoais:
A Submissa não se envolverá em quaisquer relações sexuais com qualquer outra pessoa senão o Dominador. A Submissa se conduzirá sempre de forma respeitosa e recatada. Ela deve reconhecer que seu comportamento se reflete diretamente no Dominador. Ela será responsabilizada por quaisquer crimes, delitos e má conduta incorridos quando não na presença do Dominador.
O não cumprimento de quaisquer das regras acima resultará em punição imediata, cuja natureza será determinada pelo Dominador.
— Então o negócio da obediência continua de pé?
— Sim. — Ele sorri.
Balanço a cabeça, achando graça, e, antes que eu me dê conta, reviro os olhos para ele.
— Você revirou os olhos para mim, Anastasia? — sussurra ele.
Ai, porra.
— É possível, depende de qual seja sua reação.
— A mesma de sempre — diz ele, balançando a cabeça, os olhos acesos.
Engulo em seco instintivamente e um estremecimento de excitação me percorre.
— Então... — Puta merda. O que vou fazer?
— Sim? — Ele passa a língua no lábio inferior.
— Quer me bater agora?
— Quero. E vou.
— Ah, é mesmo, Sr. Grey? — desafio, rindo para ele. É um jogo a dois.
— Vai me impedir?
— Primeiro você vai ter que me pegar.
Ele arregala os olhos um pouquinho e sorri, levantando-se devagar.
— Ah, é mesmo, Srta. Steele?
O balcão da cozinha está entre nós. Nunca agradeci tanto a sua existência quanto neste momento.
— E você está mordendo o lábio — suspira ele, chegando devagarinho para a sua esquerda enquanto chego para a minha.
— Você não faria isso — provoco. — Afinal, você revira os olhos.
Tento raciocinar com ele. Ele continua a chegar para sua esquerda, como eu.
— Sim, mas você acaba de estabelecer um padrão de excitação mais alto com esse jogo. — Seus olhos ardem, sôfregos.
— Sou muito ágil, você sabe. — Experimento demonstrar displicência.
— Eu também.
Ele está me perseguindo em sua própria cozinha.
— Você vem caladinha? — pergunta ele.
— Vou?
— Srta. Steele, como assim? — Ele dá uma risadinha. — Vai ser pior para você se eu tiver que ir pegá-la.
— Só se você me pegar, Christian. E, no momento, não pretendo deixar você fazer isso.
— Anastasia, você pode cair e se machucar. E com isso vai estar infringindo a regra número sete, agora, seis.
— Ando em perigo desde que conheci você, Sr. Grey, com ou sem regras.
— Sim, é verdade.
Ele para, e fecha a cara.
De repente, avança sobre mim, fazendo-me gritar e correr para a mesa da sala de jantar. Consigo fugir, colocando a mesa entre nós. Meu coração está disparado e já senti uma descarga de adrenalina... puxa... isso é emocionante. Voltei a ser criança, embora isso não esteja certo. Observo-o com cautela vir andando decidido para mim. Vou me afastando aos poucos.
— Você sabe mesmo distrair um homem, Anastasia.
— Nosso objetivo é satisfazer, Sr. Grey. Distraí-lo de quê?
— Da vida. Do universo. — Ele faz um gesto vago com uma das mãos.
— Você pareceu, sim, muito preocupado quando estava brincando.
Ele para e cruza os braços, a expressão divertida.
— Podemos passar o dia inteiro fazendo isso, baby, mas eu vou pegá-la, e simplesmente vai ser pior para você quando isso acontecer.
— Você não me pega, não.
Não posso ser excessivamente confiante. Repito isso como um mantra. Meu inconsciente achou os tênis, e está em posição de largada.
— Qualquer pessoa acharia que você não quer que eu te pegue.
— Eu não quero. A questão é essa. Sinto-me em relação à punição do mesmo jeito que se sente ao ser tocado por mim.
A atitude dele muda numa fração de segundo. O Christian brincalhão desaparece, e ele fica olhando para mim como se eu o tivesse esbofeteado. Está lívido.
— É esse o seu sentimento? — sussurra ele.
Essas cinco palavras, e a forma como ele as pronuncia, dizem muito.
Ah, não. Elas me dizem muito mais sobre ele e sobre como ele se sente. Falam do seu medo e de sua aversão. Franzo as sobrancelhas. Não, o que eu sinto não é tão forte. De jeito nenhum. É?
— Não. Isso não me afeta tanto, mas dá uma ideia — murmuro, fitando-o com ansiedade.
— Ah — diz ele.
Merda. Ele parece completa e absolutamente perdido, como se eu tivesse puxado o tapete de debaixo dos pés.
Respirando fundo, dou a volta na mesa até estar parada na frente dele, fitando seus olhos apreensivos.
— Você odeia tanto isso? — suspira ele, horrorizado.
— Bem... não — tranquilizo-o. Nossa, é isso que ele sente em relação a ser tocado? — Não. Tenho um sentimento ambivalente em relação a isso. Não gosto, mas não odeio.
— Mas ontem à noite, no quarto de jogos, você...
— Faço isso por você, Christian, porque você precisa. Eu não. Você não me machucou ontem à noite. Aquilo foi num contexto diferente, e consigo racionalizar isso internamente, e confio em você. Mas quando você quer me punir, fico com medo de que me machuque.
Seus olhos escurecem como uma tempestade turbulenta. Passa um bom tempo até ele responder docemente.
— Quero machucar você. Mas não além do que você é capaz de aguentar.
Porra!
— Por quê?
Ele passa a mão pelo cabelo, e dá de ombros.
— Eu simplesmente preciso disso. — Faz uma pausa, olhando angustiado para mim, fecha os olhos e balança a cabeça. — Não sei dizer.
— Não sabe ou não quer?
— Não quero.
— Então sabe por quê.
— Sei.
— Mas não quer me dizer.
— Se eu disser, você vai sair correndo dessa sala para nunca mais voltar. — Ele me olha desconfiado. — Não posso correr esse risco, Anastasia.
— Quer que eu fique?
— Mais do que você pensa. Eu não suportaria perdê-la.
Nossa.
Ele me olha, e, de repente, me puxa para seus braços e está me beijando, beijando-me com paixão. Isso me pega completamente desprevenida, e sinto seu pânico e sua carência desesperada naquele beijo.
— Não me deixe. Dormindo, você disse que não me deixaria, e me implorou para que eu não a deixasse — murmura ele em meus lábios.
Ah... as minhas confissões noturnas.
— Eu não quero ir embora.
E fico com o coração apertado, virado pelo avesso.
Este é um homem carente. Seu medo é óbvio, mas ele está perdido... em algum lugar em sua escuridão. Seus olhos estão arregalados, tristes e torturados. Posso tranquilizá-lo, juntando-me a ele por um instante na escuridão e trazê-lo para a luz.
— Mostre — sussurro.
— Mostrar?
— Mostre o quanto isso pode doer.
— O quê?
— A punição. Quero saber até que ponto pode ser doloroso.
Christian recua, completamente confuso.
— Você experimentaria?
— Sim. Eu disse que experimentaria.
Mas tenho outro motivo. Se eu fizer isso por ele, talvez ele me deixe tocá-lo.
Ele pisca.
— Ana, você é muito confusa.
— Eu estou confusa. Estou tentando entender. E você vai saber, de uma vez por todas, se eu consigo fazer isso. Se eu conseguir lidar com isso, então talvez você...
As palavras me faltam, e seus olhos tornam a se arregalar. Ele sabe que estou me referindo à questão do toque. Por um momento, ele parece dilacerado, mas depois uma determinação ferrenha se instala em suas feições, e ele aperta os olhos, olhando-me com curiosidade, como se estivesse ponderando alternativas.
Bruscamente, ele me segura firme pelo braço, e sobe comigo para o quarto de jogos. Prazer e dor, recompensa e punição — suas palavras de muito tempo atrás ecoam em minha mente.
— Vou mostrar o quanto pode machucar — e você pode tomar sua decisão. — Ele para ao lado da porta. — Está preparada?
Balanço a cabeça, já decidida, e fico vagamente atordoada, sentindo o sangue me fugir do rosto.
Ele abre a porta e, ainda segurando meu braço, pega o que parece um cinto da estante ao lado da porta, depois me leva para o banco de couro vermelho na outra ponta do quarto.
— Debruce no banco — murmura com doçura.
Tudo bem, dá para eu fazer isso. Debruço-me no couro liso e macio. Ele me deixou de roupão. Numa parte sossegada do meu cérebro, estou vagamente surpresa por ele não ter me obrigado a despi-lo. Puta merda, isso vai doer... eu sei.
— Estamos aqui porque você disse sim, Anastasia. E fugiu de mim. Vou bater seis vezes, e você vai contar comigo.
Por que ele simplesmente não bate logo? Ele sempre complica tanto a ação de me punir. Reviro os olhos, sabendo perfeitamente bem que ele não me vê.
Ele levanta a barra do meu roupão, e, por alguma razão, isso dá uma sensação de intimidade maior do que a nudez. Acaricia delicadamente minha bunda, passando as mãos quentes nas duas nádegas e descendo até o alto das coxas.
— Estou fazendo isso para você se lembrar de não fugir de mim, e, por mais excitante que isso seja, eu não quero nunca que você fuja de mim — sussurra ele.
E não deixo de perceber a ironia. Eu estava fugindo para evitar isso. Se ele tivesse aberto os braços, eu teria corrido para ele, não dele.
— E você revirou os olhos para mim. Você sabe o que eu acho disso.
De repente, aquele tom aflito e assustado em sua voz desaparece. Ele voltou de onde quer que tenha estado. Ouço isso em sua voz, no jeito que ele põe os dedos nas minhas costas, me segurando — e o clima no quarto muda.
Fecho os olhos, preparando-me para o golpe. Ele vem com força, batendo no meu traseiro, e o impacto da correada é tudo que eu temia. Grito automaticamente e aspiro uma enorme tragada de ar.
— Conte, Anastasia — ordena ele.
— Um! — grito para ele, e a palavra soa como um expletivo.
Ele torna a me bater, e a dor lateja e ecoa ao longo da correada. Puta merda... isso arde.
— Dois! — grito.
A sensação de gritar é muito boa.
A respiração dele está ofegante e áspera, e a minha é quase inexistente enquanto tento me concentrar para encontrar um pouco de força mental. Levo mais uma correada.
— Três!
As lágrimas brotam em meus olhos, inoportunas. Isso é pior do que eu pensava, muito pior do que espancamento. Ele não está pegando leve.
— Quatro! — grito, e a correia torna a estalar, e agora as lágrimas me escorrem pelo rosto.
Não quero chorar. Fico com raiva de estar chorando. Ele me bate de novo.
— Cinco!
Minha voz é mais um soluço engasgado, estrangulado, e, neste momento, penso que o odeio. Mais uma, não aguento mais. Meu traseiro está pegando fogo.
— Seis — sussurro, sentindo de novo na pele a dor abrasadora, e escuto-o largar a correia atrás de mim, e ele está me puxando para seus braços, todo ofegante e compassivo... e eu não quero nada com ele.
— Solte-me... não...
E me dou conta de que estou me debatendo para me desvencilhar dele, empurrando-o. Lutando com ele.
— Não me toque! — sibilo.
Endireito-me e olho para ele, e ele está me observando como se eu pudesse sair correndo, olhos arregalados, desconcertado. Limpo as lágrimas com as costas da mão, irritada, fuzilando-o com os olhos.
— É disso que você realmente gosta? De mim, assim? — Uso a manga do roupão para secar o nariz.
Ele me olha desconfiado.
— Bem, você é um filho da puta.
— Ana — apela ele, chocado.
— Não se atreva a apelar para mim! Você precisa se resolver, Grey!
E, com isso, dou meia-volta com firmeza e saio do quarto de jogos, fechando a porta calmamente ao passar.
Segurando a maçaneta, fico um instante encostada na porta atrás de mim. Aonde ir? Será que fujo? Será que fico? Estou muito furiosa, lágrimas escaldantes me escorrem pelo rosto, e eu as afasto com um gesto violento. Só quero ficar encolhida. Ficar encolhida e me recuperar de algum modo. Recompor minha fé abalada. Como pude ser tão idiota? Claro que isso dói.
Timidamente, esfrego minha bunda. Aah! Está doendo. Aonde ir? Não para o quarto dele. Para o meu quarto, ou para o quarto que será meu, não, é meu... era meu. Era por isso que ele queria que eu ficasse com esse quarto. Ele sabia que eu precisaria ficar longe dele.
Corro para lá toda rígida, consciente de que Christian pode me seguir. Ainda está escuro no quarto, a aurora é apenas um fiapo no horizonte. Ajeito-me desajeitada na cama, tomando cuidado para não me sentar sobre a parte dolorida. Não tiro o roupão e me enrolo nele, encolhida, e desabo — soluçando violentamente no travesseiro.
O que eu estava pensando? Por que deixei que ele fizesse isso comigo? Eu queria o lado escuro, explorar quão ruim poderia ser — mas é muito escuro para mim. Não posso fazer isso. No entanto, é o que ele faz. É assim que ele tem prazer.
Que toque monumental para me acordar. E, para ser justa com ele, ele me avisou várias vezes. Ele não é normal. Tem carências que não posso satisfazer. Vejo isso agora. Não quero que torne a me bater assim, jamais. Penso nas duas vezes em que me bateu, e em quão afável foi comigo em comparação a hoje. Será que isso lhe basta? Soluço com mais força no travesseiro. Vou perdê-lo. Ele não vai querer estar comigo se eu não lhe der isso. Por que, por que, por que me apaixonei por ele? Por quê? Por que não posso amar José, ou Paul Clayton, ou alguém feito eu?
Ah, o olhar desconsolado dele quando fui embora. Fui muito cruel, chocada com a selvageria... será que ele vai me perdoar?... será que eu vou perdoá-lo? Meus pensamentos estão todos malucos e confusos, ecoando e ricocheteando no interior do meu crânio. Meu inconsciente balança a cabeça, e minha deusa interior sumiu. Ah, esta é uma manhã de alma negra para mim. Estou só. Quero minha mãe. Eu me lembro de suas palavras de despedida no aeroporto.
Faça o que seu coração mandar, querida, e, por favor, por favor, tente não pensar demais. Relaxe e aproveite a vida. Você é muito jovem, querida. Ainda tem muito que viver, simplesmente deixe rolar. Você merece o melhor de tudo.
Fiz, sim, o que meu coração mandou, e fiquei com a bunda doendo e o espírito abatido por causa disso. Tenho que ir. Chega... Tenho que ir embora. Ele não serve para mim, e eu não sirvo para ele. Como podemos fazer isso dar certo? E a ideia de não tornar a vê-lo praticamente me sufoca... meu Cinquenta Tons.
Ouço a porta abrir. Ah não — ele está aqui. Ele põe uma coisa na mesa de cabeceira, e sinto a cama mexer com seu peso quando ele se deita atrás de mim.
— Quieta — suspira, e quero me afastar dele, chegar para o outro lado da cama, mas estou paralisada. Não consigo me mexer e fico ali, rígida, inflexível. — Não brigue comigo, Ana, por favor — diz docemente, puxando-me para seus braços, enterrando o nariz no meu cabelo, beijando-me o pescoço. — Não me odeie — diz baixinho, colado em mim, a voz tristíssima. Sinto outra vez um aperto no coração e desabafo com uma onda de soluços mudos. Ele continua me dando beijos ternos, mas eu continuo alheia e ressabiada.
Ficamos séculos deitados assim sem dizer palavra. Ele se limita a me abraçar, e, aos pouquinhos, vou relaxando e paro de chorar. A aurora chega e vai embora, e a luminosidade suave vai aumentando à medida que amanhece, e continuamos ali calados.
— Trouxe um Advil e um creme de arnica para você — diz ele muito tempo depois.
Viro-me muito devagar para ficar de frente para ele. Estou com a cabeça deitada em seu braço. Seu olhar duro é cauteloso.
Olho para aquele rosto lindo. Ele não está revelando nada, mas continua me fitando, sem piscar. Ah, ele é tão impressionantemente lindo... Em pouquíssimo tempo, tornou-se uma pessoa tão querida para mim. Levanto o braço para afagar seu rosto, passando as pontas dos dedos naquela barba por fazer. Ele fecha os olhos e solta a respiração.
— Eu sinto muito — murmuro.
Ele abre os olhos e me olha intrigado.
— Por quê?
— Pelo que eu disse.
— Você não me disse nada que eu não soubesse. — E seu olhar aliviado fica mais suave. — Sinto muito por ter machucado você.
Encolho os ombros.
— Eu pedi.
E agora sei. Engulo em seco. Lá vai. Preciso dizer a minha parte.
— Acho que não posso ser tudo que você quer que eu seja.
Ele arregala os olhos e pisca, de novo com aquele olhar ressabiado.
— Você é tudo que eu quero que seja.
O quê?
— Não entendo. Eu não sou obediente e você pode ter certeza que não vou deixar você fazer aquilo comigo de novo. E é disso que você precisa, você disse.
Ele torna a fechar os olhos, e vejo milhares de emoções passando pelo seu rosto. Quando os abre, sua expressão é de desalento. Ah, não.
— Tem razão. Eu devo deixar você ir embora. Não sirvo para você.
Meu couro cabeludo comicha e fico toda arrepiada, e o mundo me foge, deixando um abismo imenso à minha frente para eu cair. Ah, não.
— Não quero ir — sussurro.
Porra, é isso aí. Dá ou desce. Mais uma vez, meus olhos ficam marejados.
— Também não quero que vá — sussurra ele, a voz rouca. Afaga meu rosto com doçura e limpa uma lágrima com o polegar. — Fiquei cheio de vida desde que conheci você.
Seu polegar traça o contorno do meu lábio inferior.
— Eu também — sussurro. — Eu me apaixonei por você, Christian.
Ele torna a arregalar os olhos, mas, agora, de puro e autêntico medo.
— Não — sussurra ele como se eu tivesse lhe dado um soco.
Ah, não.
— Você não pode me amar, Ana. Não... é um erro.
Ele está apavorado.
— Errado? Errado por quê?
— Bem, olha só pra você. Não posso fazer você feliz.
A voz dele é angustiada.
— Mas você me faz feliz.
Fico séria.
— Não no momento, não fazendo o que quero fazer.
Puta merda. É isso aí mesmo. Tudo se resume a isso — incompatibilidade — e penso em todas aquelas pobres submissas.
— A gente nunca vai superar isso, não é? — pergunto, apavorada.
Ele balança a cabeça, desanimado. Fecho os olhos. Não aguento olhar para ele.
— Bem... é melhor eu ir, então — murmuro, fazendo uma careta ao me sentar na cama.
— Não, não vá.
Ele parece em pânico.
— Não adianta eu ficar.
De repente, sinto-me cansada, cansadíssima mesmo, e quero ir embora já. Levanto da cama, e Christian me acompanha.
— Vou me vestir. Gostaria de um pouco de privacidade — digo, num tom monótono e vazio ao deixá-lo em pé ali no quarto.
Ao descer as escadas, olho a grande sala, pensando em como, há apenas algumas horas, eu descansara a cabeça em seu ombro enquanto ele tocava piano. Tanta coisa aconteceu desde então. Abri os olhos e entrevi a extensão de sua depravação, e agora sei que ele não tem capacidade de amar — de dar e receber amor. O que eu mais temia aconteceu. E o estranho é que isso me torna livre.
A dor é tamanha que me recuso a reconhecê-la. Sinto-me anestesiada. De certa forma, saí do meu corpo e sou agora uma mera observadora dessa tragédia que vem pela frente. Tomo tranquilamente uma ducha rápida, focando apenas em cada um dos momentos seguintes. Apertar o vidro de sabonete líquido. Colocar o sabonete líquido de volta na prateleira. Esfregar a bucha no rosto, nos ombros... e no corpo todo, só ações simples, exigindo apenas pensamentos simples e mecânicos.
Termino o banho — e, como não lavei a cabeça, posso me secar depressa. Visto o roupão e pego a calça jeans e a camisa na minha mala. A calça arranha meu traseiro, mas, sinceramente, é uma dor que acho positiva, pois me distrai do que está acontecendo com meu coração despedaçado.
Abaixo-me para fechar a mala e bato o olho na sacola com o presente de Christian, o kit de um planador Blanik L23, um aeromodelo para ele montar. As lágrimas ameaçam. Ah, não... tempos mais felizes, quando havia esperança de mais. Tiro o kit da caixa, sabendo que preciso dar o presente a ele. Arranco uma folha do meu caderno, escrevo às pressas um bilhete para ele e o deixo em cima da caixa.
Isso me faz lembrar uma época feliz.
Obrigada.
Ana.
Olho-me no espelho. Um fantasma pálido e atormentado olha para mim. Faço um coque e não tomo conhecimento de quão inchadas estão minhas pálpebras de tanto chorar. Meu inconsciente aprova com um aceno de cabeça. Até ele sabe não ser debochado agora. Não posso acreditar que meu mundo esteja desmoronando e virando um monte estéril de cinzas à minha volta, todos os meus sonhos e as minhas esperanças desfeitos. Não, não, não pense nisso. Agora não, ainda não. Respirando fundo, pego a mala, e, depois de deixar o kit do planador com o bilhete no travesseiro dele, vou para a sala.
Christian está ao telefone, de calça jeans preta e camisa de malha, descalço.
— Ele disse o quê? — grita, sobressaltando-me. — Bem, ele poderia ter nos dito a verdade, porra. Qual é o telefone dele? Preciso ligar para ele... Welch, isso é uma verdadeira cagada. — Ele não tira aqueles olhos escuros e sorumbáticos de mim. — Encontre-a — diz secamente e desliga.
Vou até o sofá e pego a mochila, fazendo o possível para ignorá-lo. Tiro o Mac dali de dentro e volto para a cozinha, colocando o laptop cuidadosamente no balcão, junto com o BlackBerry e a chave do carro. Quando me viro, ele está me olhando estupefato e horrorizado.
— Preciso do dinheiro que o Taylor conseguiu com meu fusca.
Minha voz está clara e calma, sem emoção... extraordinário.
— Ana, eu não quero essas coisas, elas são suas — diz ele incrédulo. — Leve-as com você.
— Não, Christian. Eu só aceitei como empréstimo, e não as quero mais.
— Ana, seja sensata — até agora ele me censura.
— Não quero nada que me lembre de você. Só preciso do dinheiro que Taylor conseguiu com meu carro.
Minha voz é bem monótona.
Ele arqueja.
— Está realmente tentando me magoar?
— Não. — Fico séria, olhando para ele. Claro que não... eu te amo. — Não estou. Estou tentando me proteger — sussurro. Porque você não me quer do jeito que eu quero você.
— Por favor, Ana, leve essas coisas.
— Christian, eu não quero brigar. Só preciso do dinheiro.
Ele estreita os olhos, mas já não me intimida. Bem, só um pouquinho. Olho impassível para ele, sem pestanejar nem recuar.
— Aceita cheque? — pergunta ele, ácido.
— Aceito. Acho que você tem crédito para isso.
Ele não sorri, apenas se vira e vai para o estúdio. Corro os olhos demoradamente uma última vez pelo apartamento dele — pelas obras de arte nas paredes — todas abstratas, serenas, plácidas... frias, até. Combina, penso distraidamente. Meus olhos se deixam ir para o piano. Putz — se eu tivesse ficado de boca fechada, teríamos feito amor em cima do piano. Não, teríamos fodido, fodido em cima do piano. Bem, eu teria feito amor. A ideia me pesa na mente e no que me resta de coração. Ele nunca fez amor comigo, não é? Para ele, fazer amor sempre foi foder.
Christian volta e me entrega um envelope.
— Taylor conseguiu um bom preço. É um carro clássico. Pode perguntar a ele. Ele leva você para casa.
Faz um sinal de cabeça indicando um ponto atrás de mim. Viro-me, e Taylor está parado à porta, impecável como sempre naquele seu terno.
— Não precisa. Posso ir sozinha para casa, obrigada.
Viro-me de novo para Christian, e vejo a fúria mal contida em seus olhos.
— Vai me desafiar a cada vez?
— Por que mudar um hábito da vida inteira?
Encolho ligeiramente os ombros para ele, como um pedido de desculpas.
Ele fecha os olhos frustrado e passa a mão no cabelo.
— Por favor, Ana, deixe o Taylor levar você em casa.
— Vou buscar o carro, Srta. Steele — anuncia Taylor com autoridade.
Christian faz um sinal de cabeça para ele, e, quando olho, já se foi.
Viro-me para Christian. Estamos a um metro um do outro. Ele dá um passo à frente, e, instintivamente, recuo. Ele para, e a angústia em sua expressão é palpável, seus olhos cinzentos inflamados.
— Não quero que você vá — murmura, a voz cheia de desejo.
— Não posso ficar. Sei o que quero e você não pode me dar isso, e não posso dar o que você precisa.
Ele dá mais um passo à frente, e levanto as mãos.
— Não, por favor. — Recuo. Não há condição de eu tolerar ser tocada por ele agora, isso vai me matar. — Não posso fazer isso.
Pego a mala e a mochila, e me encaminho para o hall. Ele me segue, mantendo uma distância cautelosa. Aperta o botão do elevador, e as portas se abrem. Entro.
— Adeus, Christian — murmuro.
— Ana, adeus — diz ele baixinho, parecendo um homem absolutamente alquebrado, num sofrimento agonizante, refletindo como eu me sinto por dentro. Desvio o olhar dele antes que eu mude de ideia e tente consolá-lo.
As portas do elevador se fecham e lá vou eu descendo a toda para as entranhas do subsolo e para meu inferno pessoal.
* * *
TAYLOR ABRE A porta para mim, e entro no banco traseiro do carro. Evito o contato visual. Estou totalmente sem jeito e envergonhada. Sou um fracasso absoluto. Eu tinha esperado trazer o meu Cinquenta Tons para a luz, mas isso provou ser uma tarefa além das minhas parcas habilidades. Desesperadamente, tento refrear minhas emoções. Ao entrarmos na Quarta Avenida, estou olhando pela janela com o olhar perdido, e a enormidade do que fiz me submerge. Merda — eu o deixei. O único homem que já amei. O único homem com quem já dormi. Arquejo, sentindo uma dor dilacerante, e a represa se rompe. Lágrimas incontidas me escorrem pelo rosto, e eu as enxugo apressadamente com os dedos, catando os óculos escuros na bolsa. Quando paramos num sinal, Taylor me passa um lenço. Não diz nada, não olha para mim, e eu aceito agradecida.
— Obrigada — murmuro, e este pequeno e discreto ato de bondade é a minha perdição. Recosto-me no luxuoso banco de couro e choro.
* * *
O APARTAMENTO VAZIO e estranho me angustia. Ainda não moro ali tempo suficiente para me sentir em casa. Vou direto para meu quarto, e ali, murchinho, pendurado no pé da minha cama, está um balão triste em forma de helicóptero. Charlie Tango é meu retrato em todos os sentidos. Puxo-o com irritação da grade, arrebentando o fio, e me abraço a ele. Ah — o que foi que eu fiz?
Caio na cama, de sapato e tudo, e dou um grito de tristeza. A dor é indescritível... física, mental... metafísica... está em tudo, vai se entranhando em minha medula. Tristeza. Isso é tristeza — e fui eu mesma que busquei. Lá bem no meu íntimo, um pensamento desagradável vem da minha deusa interior, com aquele seu sorrisinho debochado... a dor física provocada por uma correada não é nada comparada a essa desolação. Fico encolhida ali, segurando com desespero o balão murcho e o lenço de Taylor, e me entrego à minha dor.