CAPÍTULO SETE

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—Você acha? — pergunta Christian, surpreso.

— É a linha do maxilar. — Aponto para a tela. — E os brincos e o formato dos ombros. E ele tem o mesmo porte também. Deve estar usando uma peruca; ou então cortou e pintou o cabelo.

— Barney, você ouviu isso? — Christian pousa o telefone sobre a mesa e ativa o viva-voz. — Aparentemente você conhece o seu ex-chefe nos mínimos detalhes, Sra. Grey — murmura, e não parece nem um pouco satisfeito. Olho zangada para ele, mas sou salva por Barney.

— Sim, senhor, ouvi o que a Sra. Grey disse. Estou agora mesmo passando toda a gravação digitalizada do circuito fechado de TV por um software de reconhecimento de fisionomia. Vamos ver por onde mais esse filho da puta… perdão, madame: onde esse homem esteve dentro da empresa.

Olho ansiosa para Christian, que ignora o xingamento de Barney. Está examinando a foto na tela bem de perto.

— Por que ele faria isso? — pergunto a Christian.

Ele dá de ombros.

— Vingança, talvez. Não sei. Não dá para entender por que algumas pessoas se comportam de determinada maneira. Só estou com raiva de você ter trabalhado tão próxima dele. — Seus lábios se apertam, formando uma linha tensa e fina, e ele passa o braço pela minha cintura.

— Temos também o conteúdo do hard drive dele, senhor — acrescenta Barney.

— Sim, eu me lembro. Você tem o endereço do Sr. Hyde? — pergunta Christian, rispidamente.

— Tenho sim, senhor.

— Alerte Welch.

— Com certeza. Também vou dar uma olhada nas imagens das câmeras de segurança da cidade e ver se consigo rastrear os movimentos dele.

— Procure saber qual é o carro dele.

— Sim, senhor.

— Barney pode fazer tudo isso? — sussurro.

Christian faz que sim e abre um sorriso presunçoso.

— O que tem no hard drive? — sussurro.

O rosto de Christian se endurece e ele balança a cabeça.

— Nada de mais — diz, os lábios apertados, o sorriso fechado.

— Conte.

— Não.

— É sobre você ou sobre mim?

— Sobre mim. — Ele suspira.

— Que tipo de coisa? Seu estilo de vida?

Christian balança a cabeça em negativa e encosta o dedo indicador nos meus lábios para me fazer calar a boca. Faço cara feia para ele. Mas ele aperta os olhos, e é um aviso claro de que devo segurar a língua.

— É um Camaro 2006. Vou mandar os detalhes para Welch também — diz Barney, animadamente, ao telefone.

— Ótimo. Quero que você me avise em que outros lugares do meu prédio esse canalha andou. E compare essa imagem com a foto que consta no arquivo de funcionários da SIP. — Christian me encara, cético. — Quero ter certeza de que é ele.

— Já fiz isso, senhor, e a Sra. Grey tem razão. É mesmo Jack Hyde.

Abro um sorriso largo. Viu? Posso ser útil. Christian acaricia minhas costas.

— Muito bem, Sra. Grey. — Ele sorri, o rancor de antes já esquecido. E, dirigindo-se a Barney, diz: — Quero que me informe quando tiver rastreado todos os movimentos dele no QG. E também verifique se ele teve acesso a outras propriedades da GEH e avise à equipe de segurança para que possam fazer outra varredura em todos os prédios.

— Sim, senhor.

— Obrigado, Barney. — Christian desliga.

— Ora, ora, Sra. Grey, parece que você não é só decorativa, mas útil também.

Seus olhos se iluminam com uma expressão de diversão maldosa. Sei que ele está me provocando.

— Decorativa? — zombo, entrando na provocação.

— Muito — fala ele baixinho, plantando um selinho carinhoso em meus lábios.

— Você é muito mais decorativo do que eu, Sr. Grey.

Ele sorri e me beija com mais força, enrolando minha trança no seu pulso e me envolvendo em seus braços. Quando paramos para tomar fôlego, meu coração está disparado.

— Está com fome? — pergunta ele.

— Não.

— Eu estou.

— Fome de quê?

— Bem… De comida, na verdade.

— Vou preparar alguma coisa para você. — Dou uma risadinha.

— Adoro ouvir isso.

— Eu oferecendo comida para você?

— Você rindo.

Ele beija meu cabelo e eu me levanto.

— E então, o que gostaria de comer, senhor? — pergunto docemente.

Ele aperta os olhos.

— Está sendo gentil, Sra. Grey?

— Sempre, Sr. Grey.

Ele abre um sorriso de esfinge.

— Olhe que ainda posso deitar você no meu joelho — murmura ele, sedutoramente.

— Eu sei. — Sorrio. E, apoiando-me nos braços da sua cadeira, inclino-me e lhe dou um beijo. — Essa é uma das coisas que eu amo em você. Mas guarde as palmadas para depois. Agora você está com fome.

Ele abre seu sorriso de menino, e meu coração se derrete.

— Ah, Sra. Grey, o que eu vou fazer com você?

— Vai responder à minha pergunta: o que quer comer?

— Alguma coisa leve. Surpreenda-me — diz ele, repetindo minhas palavras no quarto de jogos hoje mais cedo.

— Vou ver o que posso fazer.

Saio rebolando do escritório e vou à cozinha. Mas desanimo quando encontro a Sra. Jones lá.

— Olá, Sra. Jones.

— Sra. Grey. Quer comer algo?

— Hmm…

Ela está mexendo uma panela no fogão, algo com um cheiro delicioso.

— Eu ia fazer sanduíches para o Sr. Grey e para mim.

Ela faz uma pausa por uma fração de segundo.

— Claro — diz ela. — O Sr. Grey gosta de baguete. Tem no congelador já cortada para sanduíche. Posso preparar para a senhora, madame.

— Eu sei. Mas eu gostaria de fazer.

— Entendo. Vou abrir um espaço para a senhora.

— O que está cozinhando?

— Molho à bolonhesa. Vocês podem usar a qualquer momento. Vou congelar. — Ela sorri calorosamente e abaixa o fogo.

— Hmm… De que o Christian gosta quando vai comer… um sanduíche?

Fico meio constrangida com o que acabei de falar. Será que a Sra. Jones vai entender o duplo sentido?

— A senhora pode usar qualquer coisa, desde que seja na baguete ele vai comer.

Sorrimos uma para a outra.

— Tudo bem, obrigada.

Vou até o congelador e pego o pão já cortado, embalado em um saco ziploc. Ponho dois pedaços em um prato, enfio no micro-ondas e coloco para descongelar.

A Sra. Jones desapareceu. Franzo a testa e volto para a geladeira para procurar ingredientes. Suponho que dependerá de mim estabelecer os parâmetros sob os quais eu e a Sra. Jones vamos operar. Gosto da ideia de cozinhar para Christian nos fins de semana. Será ótimo ter a Sra. Jones para se ocupar dessa tarefa durante a semana — a última coisa que eu vou querer fazer quando chegar do trabalho vai ser cozinhar. Hmm… Um pouco como a rotina de Christian com suas submissas. Balanço a cabeça. Não devo pensar muito nisso. Encontro presunto na geladeira e um abacate perfeitamente maduro.

Quando estou adicionando uma pitada de sal e gotas de limão ao abacate amassado, Christian surge do escritório com as plantas da casa nova nas mãos. Ele as coloca no balcão, vem todo alegre até onde estou e me abraça, beijando meu pescoço.

— Descalça e na cozinha — murmura ele.

— O comentário machista não é descalça e grávida na cozinha? — Abro um sorriso malicioso.

Ele fica imóvel, o corpo inteiro tenso contra o meu.

— Ainda não — declara ele, com uma evidente apreensão na voz.

— Não! Ainda não!

Ele relaxa.

— Nisso nós concordamos, Sra. Grey.

— Mas você quer filhos, não quer?

— Quero, claro. Mais para a frente. Ainda não estou pronto para dividir você. — E beija meu pescoço de novo.

Ah… dividir?

— O que você está fazendo? Parece gostoso.

Ele me beija atrás da orelha, e sei que é para me distrair. Um arrepio delicioso desce pela minha espinha.

— Coisas gostosas de comer. — Sorrio maliciosamente, recuperando meu senso de humor.

Ele sorri contra meu pescoço e mordisca o lóbulo da minha orelha.

— Meu prato preferido.

Dou uma cotovelada nele.

— Sra. Grey, assim você me machuca. — Ele aperta a lateral do corpo como se estivesse sentindo dor.

— Fracote — murmuro, em tom de desaprovação.

— Fracote? — repete ele, sem acreditar. E dá uma palmada na minha bunda, fazendo-me soltar um gritinho. — Ande logo com a minha comida, criada. E mais tarde vou lhe mostrar o fracote que eu sou. — Ele me dá mais uma palmada de brincadeira e vai até a geladeira. — Quer uma taça de vinho?

— Por favor.

* * *

CHRISTIAN ESPALHA SOBRE o balcão da cozinha as plantas feitas por Gia. Ela realmente tem ideias espetaculares.

— Adoro a proposta de fazer a parede atrás da escada toda de vidro, mas…

— Mas? — ele logo indaga.

Suspiro.

— Não quero perder todo o caráter da casa.

— Caráter?

— É. O que a Gia está propondo é bem radical, mas… bem… eu me apaixonei pela casa como ela é… com seus defeitos e qualidades.

A testa de Christian franze como se isso fosse um anátema para ele.

— Eu meio que gosto do jeito que é — sussurro. Será que isso vai irritá-lo?

Ele me observa fixamente.

— Quero que essa casa seja do jeito que você quiser. O que você quiser. Ela é sua.

— Eu quero que você também goste da casa. Que também fique feliz lá.

— Vou ficar feliz onde você estiver. É simples assim, Ana.

Seu olhar sustenta o meu. Ele está sendo sincero, inteiramente sincero. Apenas o olho, sentindo meu coração se expandir. Nossa, ele realmente me ama.

— Bem — engulo em seco, brigando com o pequeno nó de emoção preso na garganta —, eu gosto da parede de vidro. Talvez possamos pedir a ela para incorporar na casa de uma maneira mais harmoniosa.

Christian sorri.

— Claro. O que você quiser. O que acha das plantas para o andar de cima e para o porão?

— Isso eu achei legal.

— Ótimo.

Ok… Fico toda tensa para fazer a pergunta de um milhão de dólares:

— Quer acrescentar um quarto de jogos?

Sinto o rubor tão familiar aparecer no meu rosto quando lanço a pergunta. As sobrancelhas de Christian se erguem imediatamente.

— Você quer? — replica ele, surpreso e ao mesmo tempo se divertindo com a discussão.

Dou de ombros.

— Ah… Se você quiser.

Ele me analisa por um momento.

— Por enquanto vamos deixar nossas opções em aberto. Afinal, vai ser uma casa de família.

Fico surpresa com o desapontamento que sinto. Acho que ele tem razão… Mas quando será que teremos uma família? Pode levar anos.

— Além disso, podemos improvisar.

— Eu gosto de improvisos — sussurro.

Ele dá um grande sorriso.

— Tem mais uma coisa que eu quero discutir com você.

Christian aponta para o nosso quarto, e começamos uma discussão detalhada sobre os banheiros e os closets separados.

* * *

QUANDO TERMINAMOS, são nove e meia da noite.

— Vai voltar a trabalhar? — pergunto enquanto Christian enrola as plantas.

— Se você não quiser, eu não volto. — Ele sorri. — O que quer fazer?

— Podíamos ficar vendo TV.

Não quero ler nem ir para a cama… ainda não.

— Tudo bem — concorda Christian prontamente, e vamos juntos até a sala de TV.

Já ficamos sentados aqui umas três vezes, talvez quatro, e Christian em geral lê um livro. Ele não se interessa nem um pouco por televisão. Eu me aconchego ao seu lado no sofá, sentada em cima das minhas pernas dobradas e descansando a cabeça em seu ombro. Ele liga a TV de tela plana com o controle remoto e zapeia despreocupadamente pelos canais.

— Alguma bobagem específica que você queira ver?

— Você não gosta muito de TV, não é? — murmuro sardonicamente.

Ele balança a cabeça.

— Perda de tempo. Mas vou ver alguma coisa com você.

— Achei que podíamos dar uns amassos.

Ele vira o rosto rapidamente para mim.

— Amassos? — E me encara como se eu tivesse duas cabeças. Até interrompe a interminável troca de canais, parando numa novela espanhola de imagem estourada.

— É. — Por que ele parece tão horrorizado?

— Podemos ir para a cama e dar uns amassos.

— A gente faz isso o tempo todo. Quando foi a última vez que você deu uns amassos em frente à TV? — pergunto, tímida e provocante ao mesmo tempo.

Ele dá de ombros e balança a cabeça. Apertando o controle remoto de novo, troca mais alguns canais antes de escolher um episódio antigo de Arquivo X.

— Christian?

— Eu nunca fiz isso — diz calmamente.

— Nunca?

— Não.

— Nem mesmo com a Mrs. Robinson?

Ele faz um som de desprezo.

— Baby, eu fiz muitas coisas com a Mrs. Robinson. Dar uns amassos não foi uma delas. — Ele sorri maliciosamente para mim e então aperta os olhos com uma curiosidade divertida. — Você já fez?

Fico corada.

— Claro. — Bem, mais ou menos…

— O quê? Com quem?

Ah, não. Não quero ter essa conversa.

— Conte para mim — insiste ele.

Olho para meus dedos entrelaçados. Ele delicadamente cobre minhas mãos com a dele. Quando levanto os olhos, ele está sorrindo para mim.

— Quero saber. Para eu fazer esse cara em pedacinhos, seja quem for.

Dou uma risada.

— Bem, a primeira vez…

— A primeira vez! Teve mais de um canalha? — rosna ele.

Dou outro risinho.

— Por que a surpresa, Sr. Grey?

Ele franze a testa por um instante, passa a mão no cabelo e me olha como se me visse por uma luz completamente diferente. Depois dá de ombros.

— Só estou surpreso. Quer dizer… dada a sua pouca experiência.

Fico corada.

— Já me atualizei bastante desde que estamos juntos.

— É verdade. — Ele sorri. — Mas conte. Quero saber.

Encaro seus pacientes olhos cinzentos, tentando descobrir qual o seu estado de espírito. Será que isso vai deixá-lo aborrecido ou será que ele quer mesmo saber? Não quero vê-lo irritado… Ele fica impossível quando está irritado.

— Você realmente quer que eu diga?

Ele faz que sim com a cabeça, apenas uma vez, e seus lábios se torcem em um sorriso arrogante e bem-humorado.

— Morei por pouco tempo no Texas com a minha mãe e o Marido Número Três dela. Eu estava no segundo ano do ensino médio. O nome dele era Bradley. Era a minha dupla no laboratório de física.

— Quantos anos você tinha?

— Quinze.

— E o que ele está fazendo agora?

— Não sei.

— E até onde vocês chegaram?

— Christian! — repreendo-o.

E de repente ele agarra meus joelhos, depois meus tornozelos, e me levanta de modo a me fazer cair de costas no sofá, para depois colocar-se suavemente sobre mim, prendendo-me embaixo de si, uma perna entre as minhas. É tão rápido que eu grito de surpresa. Ele pega minhas mãos e as levanta acima da minha cabeça.

— Então, esse Bradley… Ele levou a bola até a grande área? — murmura ele, roçando o nariz pelo meu e me dando beijinhos suaves no canto da boca.

— Levou — digo contra sua boca.

Ele solta uma das mãos para poder apertar meu queixo e me segurar enquanto sua língua invade a minha boca, e eu me entrego ao seu beijo ardente.

— Assim? — sussurra Christian ao tomar fôlego.

— Não… nada parecido — respondo, e todo o meu sangue parece fluir para o sul do meu corpo.

Soltando meu queixo, ele percorre meu corpo com a mão e chega até os seios.

— Ele fez isso? Tocou você assim?

Seu polegar desliza por sobre a minha blusa em meu mamilo, suave e repetidamente, até deixá-lo enrijecido com seu toque hábil.

— Não. — Eu me contorço embaixo dele.

— Ele chegou a passar pela marca do pênalti? — murmura ele no meu ouvido.

Sua mão desce para minhas costelas, passa pela minha cintura e vai até meus quadris. Ele pega um lóbulo da minha orelha com os dentes e puxa delicadamente.

— Não — sussurro.

Na TV, Mulder fala alguma coisa sobre os elementos mais indesejados do FBI.

Christian para, levanta o corpo e aperta o “mudo” no controle remoto. Depois me olha.

— E o sujeito número dois? Chegou à marca do pênalti com você?

Seus olhos ardem em fogo… Irado? Excitado? É difícil dizer. Ele desliza o corpo para o meu lado e leva a mão para dentro da minha calça de moletom.

— Não — sussurro, presa no seu olhar carnal. Christian sorri maldosamente.

— Ótimo. — Ele coloca a mão no meu sexo. — Sem calcinha, Sra. Grey. Aprovado.

Ele me beija de novo à medida que seus dedos se mexem de maneira mais mágica, seu polegar deslizando sobre meu clitóris, provocando-me, enquanto empurra o dedo indicador para dentro de mim com uma lentidão primorosa.

— Eu só queria dar uns amassos — digo, gemendo.

Christian para.

— Não é o que estamos fazendo?

— Não. Sem sexo.

— O quê?

— Sem sexo…

— Sem sexo, é? — Ele tira a mão da minha calça. — Aqui.

Ele passa o indicador nos meus lábios, e sinto meu gosto salgado e pegajoso. Empurra o dedo para dentro da minha boca, imitando o que estava fazendo no minuto anterior. Então se vira e fica entre minhas pernas, sua ereção me pressionando. Dá estocadas uma, duas vezes, e de novo. Fico ofegante quando sua calça roça em mim do jeito certo. Ele empurra mais uma vez, espremendo-se contra meu corpo.

— É isso que você quer? — murmura ele, e move os quadris ritmadamente, se balançando contra mim.

— Isso — gemo.

Sua mão volta a se concentrar no meu mamilo e seus dentes arranham meu maxilar.

— Você tem ideia de como é gostosa, Ana?

Sua voz está rouca, e ele se movimenta com mais violência contra mim. Abro a boca para articular uma resposta, mas fracasso miseravelmente, gemendo alto. Ele captura minha boca mais uma vez, prendendo meu lábio inferior com os dentes antes de enfiar a língua de novo. Então solta meu outro pulso, e minhas mãos sobem avidamente pelos seus ombros e pelo seu cabelo enquanto nos beijamos. Quando puxo seu cabelo, ele geme e me olha nos olhos.

— Ah…

— Você gosta que eu toque em você? — sussurro.

Suas sobrancelhas se franzem rapidamente, como se ele não entendesse a pergunta. Ele para de pressionar o corpo contra o meu.

— Claro que sim. Eu adoro que você me toque, Ana. Sou como um homem faminto em um banquete quando se trata do seu toque. — Sua voz transmite uma sinceridade apaixonada.

Minha Nossa…

Ele se ajoelha entre as minhas pernas e me ergue para poder tirar minha blusa. Estou sem nada embaixo. Agarrando a barra da própria camisa, ele a passa por cima da cabeça e a joga no chão. Depois, ainda de joelhos, arrasta-me para o seu colo, os braços enganchados logo acima da minha bunda.

— Toque em mim — sussurra.

Caramba… Hesitantemente, estendo o braço e com as pontas dos dedos acaricio os pelos do seu peito sobre seu esterno, onde estão as cicatrizes das queimaduras. Ele inspira forte e suas pupilas dilatam, mas não é de medo. É uma resposta sensual ao meu toque. Ele me observa com atenção enquanto meus dedos dançam delicadamente sobre sua pele, primeiro em um mamilo e depois no outro. Eles se contraem com minhas carícias. Curvando-me para a frente, distribuo beijos suaves pelo peito dele, e minhas mãos se movem para seus ombros, sentindo as linhas firmes e definidas dos músculos e dos tendões. Uau… Ele está em boa forma.

— Eu quero você — murmura ele, acendendo o sinal verde para a minha libido.

Meus dedos penetram por entre seu cabelo, puxando sua cabeça para trás para que eu possa ter acesso a sua boca, o fogo queimando alto e quente na minha barriga. Ele geme e me empurra de volta para o sofá, depois senta-se e arranca minha calça, abrindo a braguilha da dele ao mesmo tempo.

— Gol — sussurra, e rapidamente me preenche.

— Ah… — gemo, e ele para, segurando meu rosto entre as mãos.

— Eu amo você, Sra. Grey — murmura ele, e muito devagar, muito gentilmente, faz amor comigo até que eu desabe, gritando seu nome e me enroscando em volta dele, não querendo nunca soltá-lo.

* * *

ESTOU DEITADA ESPARRAMADA sobre seu peito. Estamos no chão da sala de TV.

— Sabe, você ignorou completamente a pequena área. — Meus dedos traçam uma linha nos seus músculos peitorais.

Ele ri.

— Fica para a próxima. — E me dá um beijo no alto da cabeça.

Olho para a tela da televisão, que está passando os créditos finais do Arquivo X. Christian alcança o controle remoto e coloca som de novo.

— Você gostava dessa série? — pergunto.

— Quando eu era criança.

Ah… Christian criança… kickboxing, Arquivo X e nenhum toque.

— E você? — pergunta ele.

— Não é da minha época.

— Você é tão jovem. — Christian sorri carinhosamente. — Eu gosto de dar uns amassos em você, Sra. Grey.

— Digo o mesmo, Sr. Grey.

Beijo seu peito, e ficamos deitados em silêncio vendo o Arquivo X terminar e começarem os comerciais.

— Foram três semanas perfeitas. Apesar da perseguição de carro, do incêndio e do ex-chefe psicopata. Foi como se estivéssemos numa bolha, só nós dois — murmuro sonhadoramente.

— Hmm… — sussurra Christian, do fundo da garganta. — Não sei se já estou pronto para dividir você com o resto do mundo.

— Amanhã voltamos à realidade — falo baixo, tentando disfarçar a melancolia em minha voz.

Christian suspira e passa a outra mão pelo cabelo.

— A segurança vai ficar mais rigorosa… — diz ele, mas levo o dedo aos seus lábios. Não quero ouvir isso de novo.

— Eu sei. Vou ficar bem. Prometo. — O que me faz lembrar… Mudo de posição, apoiando-me nos cotovelos para vê-lo melhor. — Por que você estava brigando com o Sawyer?

Ele enrijece o corpo imediatamente. Ah, merda.

— Porque nós fomos seguidos.

— Não foi culpa dele.

Ele me fita, nossos olhos no mesmo nível.

— Eles nunca deveriam ter deixado que você se afastasse tanto. Eles sabem disso.

Fico corada de culpa e volto à minha posição anterior, descansando no seu peito. Foi culpa minha. Eu é que queria me afastar deles.

— Isso não foi…

— Chega! — diz Christian, de repente rude. — Isso não está em discussão, Anastasia. É um fato, e eles não vão deixar que aconteça de novo.

Anastasia! Sou Anastasia quando levo bronca, assim como acontecia em casa com a minha mãe.

— Tudo bem — murmuro, acalmando-o. Não quero brigar. — O Ryan conseguiu alcançar a mulher no Dodge?

— Não. E não estou convencido de que era uma mulher.

— É mesmo? — Olho para cima de novo.

— O Sawyer viu alguém de cabelo preso, mas ele olhou rápido. Deduziu que fosse uma mulher. Mas agora que você identificou aquele filho da mãe, talvez fosse ele. Ele usava o cabelo daquele jeito. — O asco na voz de Christian é palpável.

Não sei o que fazer com essas novidades. Christian passa a mão pelas minhas costas nuas, distraindo-me.

— Se acontecesse alguma coisa com você… — murmura ele, os olhos arregalados e sérios.

— Eu sei — sussurro. — Sinto o mesmo em relação a você. — Eu me arrepio só de pensar.

— Venha. Você está ficando com frio — diz ele, erguendo o corpo para sentar-se. — Vamos para a cama. Podemos passar pela pequena área lá.

Ele sorri maliciosamente, mais instável do que nunca, apaixonado, zangado, ansioso, sexy — meu Cinquenta Tons. Pego sua mão e ele me puxa para me levantar, e, sem um pedaço de pano sequer no corpo, sigo-o pela sala até o quarto.

* * *

NA MANHÃ SEGUINTE, Christian aperta minha mão quando paramos o carro em frente à SIP. Ele tem toda a aparência do executivo poderoso que é, com seu terno azul-marinho e uma gravata da mesma cor, e eu sorrio. Ele não se vestia assim tão chique desde o balé de Monte Carlo.

— Você sabe que não precisa fazer isso, não sabe? — murmura Christian. Fico tentada a revirar os olhos para ele, impaciente.

— Eu sei — sussurro, pois não quero que Sawyer e Ryan, sentados no banco da frente do Audi, nos ouçam. Ele franze a testa e eu sorrio. — Mas é o que eu quero — continuo. — Você sabe disso. — Eu me inclino para lhe dar um beijo, mas sua expressão preocupada não desaparece. — O que foi?

Ele olha de soslaio para Ryan, um tanto incerto, e Sawyer salta do carro.

— Vou sentir falta de ter você só para mim.

Acaricio seu rosto.

— Eu também. — Dou-lhe um beijo. — Foi uma lua de mel maravilhosa. Obrigada.

— Vá trabalhar, Sra. Grey.

— Você também, Sr. Grey.

Sawyer abre a porta. Aperto a mão de Christian mais uma vez antes de saltar para a calçada. Ao entrar no prédio, dou-lhe um pequeno aceno. Sawyer abre a porta para mim e me segue até lá dentro.

— Oi, Ana. — Claire sorri atrás da mesa da recepção.

— Claire, olá. — Sorrio de volta.

— Você parece ótima. Como foi a lua de mel?

— Foi excelente, obrigada. Como vão as coisas por aqui?

— O velho Roach está o mesmo, só a segurança que foi intensificada e a nossa sala dos servidores está sendo inspecionada. Mas a Hannah vai contar tudo para você.

Claro que vai. Abro um sorriso amigável para Claire e vou para a minha sala.

Hannah é minha assistente. Ela é alta, magra e tão eficiente que às vezes me intimida um pouco. Mas ela é um doce comigo, apesar de ser uns dois anos mais velha que eu. Minha xícara de café com leite já está à minha espera — o único café que eu admito que ela pegue para mim.

— Oi, Hannah — digo calorosamente.

— Ana, como foi a lua de mel?

— Fantástica. Aqui… Para você.

Coloco na mesa o pequeno frasco de perfume que lhe trouxe de presente, e ela bate palmas de alegria.

— Ah, obrigada! — diz, empolgada. — A correspondência urgente está na sua mesa e o Roach quer falar com você às dez. Por enquanto é só.

— Ótimo. Obrigada. E obrigada também pelo café.

Entro na minha sala, apoio a maleta na mesa e olho para a pilha de cartas. Tenho muito o que fazer.

* * *

POUCO ANTES DAS dez horas ouço batidas tímidas na porta.

— Entre.

Elizabeth enfia a cabeça no vão da porta.

— Oi, Ana. Só queria lhe dar as boas-vindas.

— Oi. Devo admitir que, lendo toda essa correspondência, eu preferia voltar para o sul da França.

Elizabeth ri, mas sua risada é forçada. Inclino a cabeça para o lado e a encaro da mesma maneira que Christian faz comigo.

— Que bom que você voltou e que está bem — diz ela. — A gente se vê daqui a pouco, na reunião com o Roach.

— Ok — murmuro, e ela sai e fecha a porta.

Franzo a testa quando me vejo sozinha. O que foi isso? Dou de ombros, descartando o pensamento. Meu e-mail soa um alarme discreto — mensagem de Christian.


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De: Christian Grey

Assunto: Esposas malcomportadas

Data: 22 de agosto de 2011 09:56

Para: Anastasia Steele


Esposa,

Mandei o e-mail abaixo e ele voltou.

Foi porque você não trocou o seu nome.

Quer me dizer alguma coisa?

Christian Grey

CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.

Anexado:

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De: Christian Grey

Assunto: FW: Bolha

Data: 22 de agosto de 2011 09:32

Para: Anastasia Grey


Sra. Grey,

Adorei todos aqueles dribles e lances de futebol ontem à noite.

Tenha uma boa volta ao trabalho.

Já estou com saudades da nossa bolha.

Bj,

Christian Grey


CEO de Volta ao Mundo Real, Grey Enterprises Holdings, Inc.

Merda. Aperto o “responder” imediatamente.


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De: Anastasia Steele

Assunto: Não Estoure a Bolha

Data: 22 de agosto de 2011 09:58

Para: Christian Grey


Marido,

Adoro suas metáforas de futebol, Sr. Grey.

Quero manter meu nome de solteira aqui.

Explico melhor hoje à noite.

Estou indo para uma reunião.

Também sinto falta da nossa bolha…

P.S.: Achei que eu tivesse que usar meu BlackBerry

Anastasia Steele


Editora, SIP

Isso vai dar briga. Já estou até vendo. Dou um suspiro e separo os papéis para a reunião.

* * *

A REUNIÃO DURA duas horas. Todos os editores estão presentes, além de Roach e Elizabeth. Discutimos questões de pessoal, estratégias, marketing, segurança e fim de ano. À medida que a reunião prossegue, fico cada vez mais desconfortável. Há uma sutil mudança na maneira como todos me tratam — uma distância e uma deferência que não existiam antes de eu sair em lua de mel. E por parte de Courtney, que gerencia o setor de não ficção, sinto uma hostilidade aberta. Talvez eu esteja apenas sendo paranoica, mas de certa forma explica as estranhas boas-vindas de Elizabeth hoje mais cedo.

Minha mente se perde e volta para o iate, depois para o quarto de jogos, e para o R8 fugindo veloz do misterioso Dodge na Interestadual 5. Talvez Christian tenha razão… Talvez eu não possa mais fazer isso. Essa ideia me deprime — isso é tudo que eu sempre quis fazer. Se eu não puder continuar aqui, o que vou fazer? Ao retornar para a minha sala, tento me livrar desses pensamentos sombrios.

De volta à minha mesa, checo rapidamente meus e-mails. Nenhuma mensagem nova de Christian. Pego o BlackBerry… Também nada. Bom. Pelo menos não houve uma reação adversa ao meu e-mail. Talvez possamos conversar sobre isso hoje à noite, como eu pedi. Acho difícil de acreditar, mas, ignorando meu sentimento de desconforto, abro o plano de marketing que me foi entregue durante a reunião.

* * *

COMO É NOSSO ritual na segunda-feira, Hannah vem até a minha sala trazendo um prato com o meu almoço embalado, cortesia da Sra. Jones, e enquanto almoçamos juntas, discutimos as metas da semana. Ela também me atualiza das fofocas do escritório, que aliás — considerando que estive fora por três semanas — são bem escassas. Estamos conversando quando batem à porta.

— Pode entrar.

Roach abre a porta e ao seu lado está Christian. Fico momentaneamente muda. Christian me lança um olhar flamejante e entra, antes de sorrir educadamente para Hannah.

— Olá, você deve ser a Hannah. Sou Christian Grey — diz ele.

Hannah fica de pé meio desajeitada e estende a mão.

— Sr. Grey. P-prazer em conhecê-lo — gagueja ela ao apertar sua mão. — Posso lhe trazer um café?

— Por favor — responde ele, calorosamente.

Com um rápido e confuso olhar para mim, ela sai depressa da sala, passando por Roach, que está parado à porta tão mudo quanto eu.

— Se me der licença, Roach, eu gostaria de ter uma palavra com a Srta. Steele. — Ele pronuncia o “senhorita” lentamente… Sarcasticamente.

É por isso que ele está aqui… Ah, merda.

Claro, Sr. Grey. Ana — murmura Roach, fechando a porta da minha sala ao sair.

Recupero a fala:

— Sr. Grey, que bom ver você. — Sorrio com extrema doçura.

Srta. Steele, posso me sentar?

— A empresa é sua. — E indico a cadeira que Hannah acabou de vagar.

— De fato.

Ele sorri ferozmente para mim, mas seus olhos permanecem frios. Seu tom é ríspido. Ele está todo arrepiado de tensão — posso senti-la ao meu redor. Merda. Meu coração se aperta.

— Sua sala é bem pequena — diz ele ao se sentar à mesa de frente para mim.

— É o suficiente.

Ele me olha de maneira neutra, mas sei que está zangado. Respiro fundo. Isso não vai ser divertido.

— Então, o que posso fazer por você, Christian?

— Estou apenas conferindo meus bens.

— Seus bens? Todos eles?

— Todos eles. Alguns precisam de um reposicionamento.

— Reposicionamento? De que maneira?

— Acho que você sabe. — Sua voz é ameaçadoramente calma.

— Por favor… Não me diga que você interrompeu seu dia de trabalho depois de três semanas ausente para vir até aqui e brigar comigo por causa do meu nome. — Eu não sou um maldito bem!

Ele se ajeita na cadeira, cruza as pernas.

— Não exatamente brigar. Não.

— Christian, eu estou trabalhando.

— A mim pareceu que você estava fofocando com a sua secretária.

Minhas bochechas pegam fogo.

— Estávamos repassando nossas tarefas — falo rispidamente. — E você não respondeu à minha pergunta.

Alguém bate à porta.

— Entre! — grito, e minha voz sai muito alta.

Hannah entra trazendo uma pequena bandeja. Jarra de leite, açucareiro, café fresco em uma cafeteira francesa — pensou em tudo. Ela coloca a bandeja na minha mesa.

— Obrigada, Hannah — murmuro, envergonhada por ter gritado.

— Precisa de mais alguma coisa, Sr. Grey? — pergunta ela, sem fôlego. Minha vontade é revirar os olhos para ela, mostrando que a visita dele não me agrada.

— Não, obrigado.

E ele abre um sorriso encantadoramente sedutor. Ela enrubesce e sai sorrindo timidamente. Christian volta a atenção novamente para mim.

— Onde estávamos mesmo, Srta. Steele?

— Você estava interrompendo rudemente meu dia de trabalho para brigar comigo por causa do meu nome.

Christian pisca uma vez — surpreso, eu acho, pela veemência da minha voz. Cuidadosamente, ele tira uma poeira invisível do seu joelho com os dedos compridos e habilidosos. É para distrair. Ele está fazendo de propósito. Aperto os olhos para ele.

— Gosto de fazer visitas-surpresa. Mantêm os gerentes nos eixos, as esposas nos lugares. Sabe como é. — Ele dá de ombros, e sua boca vira uma linha arrogante.

Esposas nos lugares!

Eu não sabia que você tinha tempo sobrando para isso — disparo.

Seus olhos viram gelo.

— Por que você não quer mudar seu nome aqui? — pergunta ele, a voz mortalmente calma.

— Christian, temos que discutir isso agora?

— Eu estou aqui. Não vejo por que não discutirmos logo.

— Estou cheia de coisas para fazer, trabalho acumulado das últimas três semanas.

Seus olhos estão frios e avaliadores — distantes, até. É impressionante como ele pode parecer tão frio depois de ontem à noite, depois das últimas três semanas. Merda. Ele deve estar furioso — furioso mesmo. Quando é que ele vai aprender a encarar as coisas de uma forma mais equilibrada?

— Você tem vergonha de mim? — pergunta ele, a voz enganosamente suave.

— Não! Christian, é claro que não. — Faço cara feia para ele. — Não tem nada a ver com você.

Caramba, ele é exasperante às vezes. Um bobo de um megalomaníaco dominador.

— Como não tem nada a ver comigo?

Ele pende a cabeça para o lado, genuinamente perplexo, um pouco do seu distanciamento escoando à medida que me encara com olhos arregalados; e eu percebo que ele está magoado. Que merda! Eu o magoei. Ah, não… É a última pessoa que eu quero ver magoada. Tenho que fazê-lo enxergar a lógica. Tenho que explicar a razão da minha escolha.

— Christian, quando eu assumi esse emprego, tinha acabado de conhecer você — digo pacientemente, lutando para encontrar as palavras certas. — Não sabia que você ia comprar a empresa…

O que posso dizer desse evento na nossa curta história? Suas razões para fazê-lo eram todas insanas: sua mania de controlar tudo e sua tendência a sufocar aqueles que ama, tudo completamente sem freio graças à sua espantosa riqueza. Sei que ele quer o meu bem, mas o problema fundamental aqui é o fato de ele ser dono da SIP. Se ele nunca tivesse interferido, eu poderia continuar agindo normalmente e não teria que enfrentar meus colegas de trabalho exibindo esse ar de desagrado e cochichando recriminações. Coloco a cabeça nas mãos, apenas para não precisar olhar nos olhos dele.

— Por que isso é tão importante para você? — pergunto, tentando desesperadamente manter a calma.

Encaro seu olhar impassível, seus olhos luminosos sem deixar transparecer nada, sua mágoa de antes agora escondida. Mas mesmo enquanto faço a pergunta, bem no fundo sei a resposta antes mesmo de ele dizer.

— Quero que todo mundo saiba que você é minha.

— Eu sou sua… Olhe.

Levanto a mão esquerda, mostrando minha aliança e meu anel de noivado.

— Não é suficiente.

— Não é suficiente que eu tenha me casado com você? — Minha voz é quase um suspiro.

Ele apenas pisca, registrando o horror no meu rosto. Aonde isso vai nos levar? O que mais eu posso fazer?

— Não foi isso o que eu quis dizer — fala ele, ríspido, e passa a mão pelo cabelo, que acaba por cair em sua testa.

— O que você quis dizer?

Ele engole em seco.

— Quero que o seu mundo comece e termine em mim — diz ele, com expressão franca.

Isso me quebra completamente. É como se ele tivesse me dado um soco forte no estômago, ferindo-me e fazendo eu me dobrar de dor. E a visão que me vem à cabeça é a de um menino de olhos cinzentos e cabelo acobreado, um menino pequeno e amedrontado, dentro de roupas sujas e descombinadas e do tamanho errado para ele.

— E o meu mundo é assim — digo, e é verdade. — Estou apenas tentando estabelecer uma carreira e não quero trocar tudo pelo seu nome. Eu tenho que fazer alguma coisa, Christian. Não posso ficar presa no Escala ou na nossa casa nova sem nada para fazer. Eu ficaria maluca. Sufocada. Sempre trabalhei, e gosto de trabalhar. Este é o emprego dos meus sonhos, tudo o que eu sempre quis. Mas fazer isso não significa que eu ame você menos. Você é o meu mundo.

Minha garganta se fecha e lágrimas brotam nos meus olhos. Não posso chorar, não aqui. Repito isso várias e várias vezes na minha cabeça. Não posso chorar. Não posso chorar.

Ele me encara sem dizer nada. Então uma expressão intrigada cruza seu rosto por um momento, como se ele estivesse considerando o que eu disse.

— Eu sufoco você? — Sua voz é triste e é o eco de uma pergunta que ele me fez antes.

— Não… Sim… Não.

Mas que conversa exasperante — não queria tratar desse assunto agora, aqui. Fecho os olhos e esfrego a testa, tentando entender como chegamos a esse ponto.

— Olhe, estávamos conversando sobre o meu nome. Quero manter meu nome aqui porque quero conservar alguma distância entre mim e você… Mas só aqui, só isso. Você sabe que todo mundo pensa que eu consegui esse emprego por sua causa, quando a realidade é… — Paro quando seus olhos se arregalam. Ah, não… Foi por causa dele?

Você quer saber por que conseguiu esse emprego, Anastasia?

Anastasia? Merda.

— O quê? O que você quer dizer?

Ele muda de posição na cadeira como se endurecesse. Será que eu quero saber?

— A gerência daqui deu a você o trabalho do Hyde para você servir de babá do cargo. Seria muito caro contratar um executivo sênior justo quando a empresa estava sendo vendida. Não tinham ideia do que o novo dono faria quando tomasse posse e, sabiamente, não queriam arcar com os altos custos da demissão. Então colocaram você no lugar do Hyde para que ocupasse o cargo até o novo dono… — ele faz uma pausa e seus lábios se torcem em um sorriso irônico — quer dizer, eu, assumir.

Puta merda.

O que você está dizendo?

Então foi por causa dele. Merda! Estou horrorizada.

Ele sorri e balança a cabeça como se lamentasse meu susto.

— Relaxe. Você mais do que cresceu com o desafio. Está se saindo muito bem. — Há uma mínima sugestão de orgulho na sua voz que quase me faz desabar.

— Ah — murmuro incoerentemente, ainda absorvendo tudo isso.

Sento-me ereta na cadeira, boquiaberta, encarando-o. Ele muda de posição de novo.

— Não quero sufocar você, Ana. Não quero colocar você em uma jaula dourada. Quer dizer… — Ele faz uma pausa, seu rosto tornando-se sombrio. — Quer dizer, minha parte racional não quer. — Ele coça o queixo pensativamente, sua mente tramando algum plano.

Opa, aonde ele quer chegar com isso? Christian olha para cima de repente, como se tivesse tido um momento de iluminação.

— Então um dos meus objetivos em vir aqui, além de lidar com a minha esposa malcomportada — diz ele, apertando os olhos —, é discutir o que vou fazer com esta empresa.

Esposa malcomportada! Não sou malcomportada e não sou um bem! Faço cara feia para Christian de novo, e já não há mais a ameaça das lágrimas.

— E quais são os seus planos?

Inclino a cabeça para o lado, imitando-o, e não consigo evitar o tom sarcástico. Seus lábios se torcem em uma sugestão de sorriso. Uau — mudança de humor de novo! Como posso me manter atualizada do estado de espírito do Sr. Instável?

— Vou mudar o nome da empresa. Para Grey Publishing.

Puta merda.

E em um ano ela será sua.

Meu queixo cai de novo — dessa vez para valer.

— É o meu presente de casamento para você.

Fecho a boca e depois volto a abri-la, tentando articular algo — mas não sai nada. Minha mente é um vazio.

— Então, vou ter que mudar o nome para Steele Publishing?

Ele está falando sério. Porra…

— Christian — sussurro quando meu cérebro finalmente se reconecta com a minha boca —, você já me deu um relógio… E eu não sei administrar um negócio.

Ele balança a cabeça de um lado para o outro e me olha com uma expressão de censura.

— Eu comecei a administrar meu negócio quando tinha vinte e um anos.

— Mas você é… você. Controlador e superdotado. Caramba, Christian, você chegou a estudar economia em Harvard por um tempo. Pelo menos você tem alguma ideia. Eu passei três anos vendendo tintas e braçadeiras em um trabalho de meio período, pelo amor de Deus. Conheço muito pouco do mundo e não sei quase nada! — O volume da minha voz aumenta, ficando mais alta ao fim do meu discurso.

— Você também é a leitora mais voraz que eu conheço — replica ele, com sinceridade. — Você ama um bom livro. Não conseguiu largar o trabalho nem quando estávamos em lua de mel. Quantos originais você leu? Quatro?

— Cinco — sussurro.

— E escreveu relatórios completos sobre todos eles. Você é uma mulher muito inteligente, Anastasia. Tenho certeza de que vai conseguir.

— Você está louco?

— Louco por você — sussurra ele.

Solto um ruído rouco, porque é a única coisa que consigo fazer. Ele aperta os olhos.

— Você vai ser motivo de piada. Comprando uma empresa para a mulherzinha, que só teve um emprego integral por poucos meses na vida adulta.

— Você acha que eu me importo com o que os outros pensam? Além disso, você não vai estar sozinha.

Fico pasma. Ele realmente perdeu a razão dessa vez.

— Christian, eu…

Coloco a cabeça entre as mãos. Minhas emoções estão num turbilhão. Ele está louco? E, vindo de algum lugar sombrio e profundo, sinto uma necessidade repentina e inapropriada de rir. Quando volto a fitá-lo, seus olhos estão arregalados.

— Está achando graça em algo, Srta. Steele?

— Estou. Em você.

Seus olhos se arregalam ainda mais; ele parece em choque, mas com certo bom humor.

— Rindo do seu marido? Isso é inaceitável. E você está mordendo o lábio.

Seus olhos se escurecem… daquela maneira. Ah, não — eu conheço esse olhar. Provocante, sedutor, obsceno… Não, não, não! Não aqui.

— Nem pense nisso — alerto-o, o medo evidente na minha voz.

— Nisso o quê, Anastasia?

— Eu conheço esse olhar. Estamos no trabalho.

Ele se inclina para a frente, os olhos grudados nos meus, olhos cor de ferro fundido, olhos famintos. Merda! Engulo em seco instintivamente.

— Estamos numa sala pequena, razoavelmente protegida dos ouvidos alheios e com uma porta que pode ser trancada — sussurra ele.

— Conduta moral inadequada. — Enuncio cada palavra com cuidado.

— Não se for com o seu marido.

— Com o chefe do chefe do meu chefe — sibilo.

— Você é minha esposa.

— Christian, não. Estou falando sério. Você pode me comer e castigar hoje à noite. Mas não agora. Não aqui!

Ele pisca e aperta os olhos mais uma vez. E então, inesperadamente, ri.

— Sete níveis de domingo? — Ele arqueia a sobrancelha, intrigado. — Vou cobrar essa promessa, Srta. Steele.

— Ah, pare com isso de Srta. Steele! — falo rispidamente, e bato na mesa: nós dois levamos um susto. — Pelo amor de Deus, Christian. Se é tão importante para você, eu mudo meu nome!

A boca dele se abre quando ele inspira fortemente. E então ele sorri de orelha a orelha, um sorriso alegre, radiante, mostrando todos os dentes. Uau…

— Ótimo. — Ele bate palmas e se levanta de repente.

E agora?

Missão cumprida. Bom, agora eu tenho trabalho a fazer. Se me der licença, Sra. Grey.

Ahhh! Esse homem me deixa louca!

— Mas…

— Mas o quê, Sra. Grey?

Eu fraquejo.

— Nada. Pode ir.

— É o que estou fazendo. A gente se vê à noite. Estou ansioso para castigá-la.

Faço cara feia.

— Ah, e eu tenho um monte de eventos sociais de negócios, quero que você me acompanhe.

Olho embasbacada para ele. Será que você pode ir logo embora?

— Vou pedir à Andrea que ligue para Hannah pedindo para ela reservar as datas na sua agenda. Tem algumas pessoas que você precisa conhecer. Você deveria deixar a Hannah cuidar dos seus horários daqui para a frente.

— Tudo bem — resmungo, em completa surpresa, desnorteamento e choque.

Ele se inclina sobre a minha mesa. O que foi agora? Sou capturada pelo seu olhar hipnótico.

— Adorei negociar com você, Sra. Grey. — Ele se inclina ainda mais; eu permaneço paralisada em minha cadeira. Christian me dá um beijo suave e terno na boca. — Até mais tarde, querida — murmura. E então levanta-se abruptamente, pisca para mim e sai.

Descanso a cabeça na mesa, sentindo como se tivesse sido atropelada por um trator — o trator que é meu amado marido. Ele deve ser o homem mais frustrante, perturbador e teimoso do planeta. Volto a sentar-me ereta e esfrego freneticamente os olhos. O que foi que eu acabei de aceitar? Tudo bem: Ana Grey à frente da Seattle Independent Publishing — quer dizer, da Grey Publishing. Esse homem é insano. Batem à porta, e Hannah coloca a cabeça para dentro.

— Você está bem? — pergunta ela.

Apenas a encaro. Ela franze o cenho.

— Sei que você não gosta disso, mas… quer um chá?

Faço que sim com a cabeça.

— Twinings English Breakfast, fraco e sem leite?

Faço que sim mais uma vez.

— Já está saindo, Ana.

Fico com o olhar perdido, encarando a tela do computador ainda em choque. Como posso fazê-lo entender? E-mail!


_________________________________________

De: Anastasia Steele

Assunto: NÃO SOU UM BEM!

Data: 22 de agosto de 2011 14:23

Para: Christian Grey


Sr. Grey,

Da próxima vez que vier me ver, marque uma hora; assim posso ao menos estar mais preparada para a sua autoritária megalomania adolescente.

Um beijo,

Anastasia Grey <____ favor reparar no nome.


Editora, SIP


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De: Christian Grey

Assunto: Castigo

Data: 22 de agosto de 2011 14:34

Para: Anastasia Steele


Minha Querida Sra. Grey (ênfase no Minha),

O que posso dizer em minha defesa? Eu estava passando aí perto.

E não, você não é um bem, é minha esposa amada.

Como sempre, você alegrou meu dia.

Christian Grey


CEO & Megalomaníaco Autoritário, Grey Enterprises Holdings, Inc.

Ele está tentando ser engraçado, mas não estou com vontade de rir. Respiro fundo e volto para a minha correspondência.

* * *

CHRISTIAN ESTÁ QUIETO quando eu entro no carro à noite.

— Oi — murmuro.

— Oi — responde ele, cauteloso. Acho bom.

— Interrompeu o trabalho de mais alguém hoje? — pergunto, cheia de simpatia.

Uma sombra de sorriso cruza seu rosto.

— Só o do Flynn.

Ah.

Da próxima vez que você for vê-lo, vou dar uma lista de assuntos para vocês discutirem — digo acidamente.

— Você parece irritada, Sra. Grey.

Mantenho os olhos fixos à minha frente, contemplando a nuca de Ryan e de Sawyer. Christian se mexe desconfortavelmente ao meu lado.

— Ei — diz com ternura, e pega minha mão.

Em vez de me concentrar no trabalho, passei a tarde toda tentando pensar no que falar para ele. Mas só ficava mais e mais chateada com o passar das horas. Cansei do seu comportamento arrogante, petulante e, francamente, infantil. Puxo a mão, soltando-a da dele — de uma maneira arrogante, petulante e infantil.

— Está com raiva de mim? — sussurra ele.

— Sim — digo.

Cruzando os braços de maneira defensiva, fico olhando para fora pela janela. Ele se mexe no lugar mais uma vez, mas não vou me permitir olhá-lo. Não entendo por que estou tão brava — mas estou. Puta da vida.

Assim que o carro estaciona em frente ao Escala, quebro o protocolo e saio do carro com minha maleta. Entro no prédio batendo os pés, sem verificar se tem alguém me seguindo. Ryan me segue às pressas e corre para chamar o elevador.

— Que foi? — digo rispidamente quando o vejo ao meu lado. Suas faces ficam vermelhas.

— Minhas desculpas, madame — murmura ele.

Então Christian chega e se coloca ao meu lado para esperar o elevador, e Ryan se afasta.

— Então não é só comigo que você está irritada? — diz ele secamente. Encaro-o e vejo um traço de sorriso no seu rosto.

— Você está rindo de mim? — Aperto os olhos.

— Longe de mim — responde ele, levantando os braços como se eu estivesse lhe apontando uma arma.

Em seu terno azul-marinho, Christian parece fresco e limpo, com seu cabelo desajeitadamente sexy e uma expressão sincera.

— Você precisa cortar o cabelo — resmungo.

E, dando-lhe as costas, entro no elevador.

— Sério?

Ele afasta o cabelo da testa ao entrar atrás de mim no elevador.

— Sério.

Digito o código do nosso apartamento no teclado numérico.

— Então você voltou a falar comigo?

— Só o necessário.

— Por que exatamente você está com raiva de mim? Preciso de uma dica — pergunta ele com cautela.

Eu me viro e o olho boquiaberta.

— Você realmente não tem ideia? Sério, você é tão inteligente, não suspeita de nada? Não acredito que seja tão tapado.

Dá um passo atrás, assustado.

— Você está realmente brava. Achei que tivéssemos resolvido tudo hoje mais cedo na sua sala — murmura, perplexo.

— Christian, eu só capitulei diante das suas exigências petulantes. Só isso.

A porta do elevador se abre e eu saio como um furacão. Taylor está parado no corredor. Ele dá um passo para trás e rapidamente fecha a boca quando passo por ele a todo vapor.

— Oi, Taylor — murmuro.

— Sra. Grey — responde ele.

Largando minha maleta no corredor, entro na sala. A Sra. Jones está ao fogão.

— Boa noite, Sra. Grey.

— Oi, Sra. Jones — cumprimento-a.

Vou direto para a geladeira e pego uma garrafa de vinho branco. Christian me segue até a cozinha e me observa como um falcão tirar uma taça do armário. Ele despe o paletó e o coloca casualmente no balcão.

— Aceita uma bebida? — pergunto, superdoce.

— Não, obrigado — responde ele, sem tirar os olhos de mim.

Sei que ele se sente impotente. Não sabe como agir comigo. É cômico por um lado e trágico por outro. Ah, ele que se dane! Estou tendo dificuldade em localizar meu lado compassivo desde a nossa conversa de hoje à tarde. Devagar, ele tira a gravata e abre o botão do colarinho. Eu sirvo uma grande taça de sauvignon blanc e Christian passa a mão pelo cabelo. Quando me viro, a Sra. Jones desapareceu. Merda! Ela é meu escudo humano. Tomo um gole do vinho. Hmm. É bom.

— Pare com isso — sussurra Christian.

Ele avança os dois passos que nos separam e para à minha frente. Gentilmente, coloca meu cabelo atrás da orelha e acaricia o lóbulo com as pontas dos dedos, deixando-me arrepiada. Foi disso que eu senti falta o dia todo? Do seu toque? Balanço a cabeça, fazendo-o soltar minha orelha, e o encaro.

— Fale comigo — murmura ele.

— Para quê? Você não me escuta.

— Escuto sim. Você é uma das poucas pessoas a quem eu escuto.

Tomo mais um grande gole de vinho.

— É por causa do seu nome?

— Sim e não. É por causa da maneira como você lidou com o fato de que eu discordei de você. — Ergo um olhar agressivo, esperando vê-lo zangado.

Suas sobrancelhas se franzem.

— Ana, você sabe que eu tenho… problemas. Para mim é difícil abrir mão de certas coisas relacionadas a você. Você sabe disso.

— Mas eu não sou uma criança e não sou um bem.

— Eu sei. — Ele suspira.

— Então pare de me tratar como se eu fosse — sussurro, implorando.

Ele esfrega as costas dos dedos na minha face e passa a ponta do polegar no meu lábio inferior.

— Não fique zangada. Você é tão preciosa para mim… Como um bem inestimável, como uma criança — sussurra ele, uma expressão melancólica e reverente no rosto.

Suas palavras me distraem. Como uma criança. Preciosa como uma criança… Uma criança seria preciosa para ele!

— Não sou nada disso, Christian. Sou sua esposa. Se você ficou magoado porque eu não ia usar seu nome, deveria ter dito.

— Magoado? — Ele franze bastante a testa, e sei que está avaliando essa possibilidade. Subitamente, porém, Christian fica ereto, embora ainda com uma expressão preocupada, e olha depressa para seu relógio de pulso. — A arquiteta vai estar aqui em menos de uma hora. É melhor comermos.

Ah, não. Solto um gemido por dentro. Ele não me respondeu, e agora tenho que receber Gia Matteo. Meu dia de merda acaba de ficar ainda pior. Faço uma cara feia para Christian.

— Esta discussão não acabou — murmuro.

— O que mais temos para discutir?

— Você poderia vender a empresa.

Christian emite um ruído de desprezo.

— Vender?

— Sim.

— Você acha que eu acharia um comprador no mercado de hoje?

— Quanto custou?

— Foi relativamente barata. — Seu tom é defensivo.

— E se ela fechar?

Ele sorri com afetação.

— Vamos sobreviver. Mas não vou deixar a empresa fechar, Anastasia. Não enquanto você estiver lá.

— E se eu sair?

— E vai fazer o quê?

— Não sei. Alguma outra coisa.

— Você já disse que esse é o emprego dos seus sonhos. E, perdoe-me se estiver errado, mas eu prometi perante Deus, o reverendo Walsh e uma congregação dos nossos entes e amigos mais próximos e mais queridos que eu “cuidaria de você, apoiaria suas esperanças e seus sonhos e a manteria segura ao meu lado”.

— Citar os votos de casamento não é jogar limpo comigo.

— Eu nunca prometi jogar limpo quando a questão envolvesse você. Além disso — acrescenta ele —, você já usou essa arma contra mim antes.

Faço uma cara contrariada. É verdade.

— Anastasia, se ainda está irritada comigo, desconte na cama mais tarde. — Sua voz subitamente fica baixa e cheia de desejo sensual, os olhos quentes.

O quê? Cama? Como?

Ele sorri com indulgência diante da minha expressão. Será que Christian está querendo que eu o amarre? Caramba!

— Castigo — sussurra ele. — Estou ansioso.

Opa!

Gail! — grita ele abruptamente, e quatro segundos depois a Sra. Jones está de volta.

Onde ela estava? No escritório do Taylor? Ouvindo nossa conversa? Ah, não.

— Sim, Sr. Grey?

— Gostaríamos de comer agora, por favor.

— Muito bem, senhor.

Christian não tira os olhos de mim; me observa como se eu fosse alguma criatura exótica pronta para saltar sobre ele. Tomo outro gole de vinho.

— Acho que vou tomar uma taça também — diz ele, suspirando, e passa a mão no cabelo de novo.

* * *

— NÃO QUER MAIS comer?

— Não.

Olho para meu prato de fettuccine praticamente intocado, para evitar a expressão sombria de Christian. Antes que ele possa dizer algo, levanto-me e tiro os pratos da mesa de jantar.

— Gia deve chegar daqui a pouco — murmuro.

Sua boca se retorce em uma carranca de desagrado, mas ele não diz nada.

— Pode me dar, Sra. Grey — diz a Sra. Jones quando eu entro na cozinha.

— Obrigada.

— A senhora não gostou? — pergunta ela, preocupada.

— Estava ótimo. Só não estou com fome.

Dirigindo-me um breve sorriso de solidariedade, ela se vira para esvaziar meu prato e colocar tudo na máquina de lavar louças.

— Vou fazer algumas ligações — anuncia Christian, dirigindo-me um olhar de avaliação antes de entrar no escritório.

Deixo escapar um suspiro de alívio e vou para o nosso quarto. O jantar foi estranho. Ainda estou aborrecida com Christian, mas ele parece pensar que não fez nada de errado. Será que fez? Meu inconsciente levanta uma sobrancelha para mim e me encara com pena por trás dos óculos de meia-lua. Sim, ele fez. Deixou as coisas ainda mais estranhas para mim no trabalho. Não esperou para discutir o assunto comigo quando estivéssemos na privacidade relativa da nossa casa. Como ele se sentiria se eu irrompesse pelo seu escritório, baixando a lei? E, para piorar, ele quer me dar a SIP! Como é que eu posso administrar uma empresa? Não sei quase nada de negócios.

Olho para a linha do horizonte de Seattle lá fora, sob a perolada luz cor-de-rosa do anoitecer. E, como de hábito, ele quer resolver nossas diferenças na cama… hmm… no sofá… no quarto de jogos… na bancada da cozinha… Pare! Tudo sempre termina em sexo com ele. É o mecanismo que utiliza para enfrentar os problemas.

Entro no banheiro e faço uma careta para meu reflexo no espelho. Voltar ao mundo real é difícil. Conseguimos superar nossas diferenças enquanto estávamos na nossa bolha porque ficamos muito agarrados um no outro. Mas e agora? Por um momento volto ao dia do meu casamento, lembrando-me das minhas preocupações daquele dia — casar tão depressa. Não, não devo pensar assim. Eu sabia que Christian era Cinquenta Tons quando me casei com ele. Só preciso perseverar e tentar resolver isso com ele na base da conversa.

Encaro a mim mesma no espelho, os olhos semicerrados. Estou pálida, e ainda tem aquela mulher para eu enfrentar.

Estou usando uma saia-lápis cinza e uma blusa sem mangas. Vamos lá! Minha deusa interior pega seu esmalte vermelho-meretriz. Abro dois botões da blusa, criando um pequeno decote. Lavo o rosto e refaço com cuidado a maquiagem, aplicando mais rímel do que o usual e colocando brilho extra nos lábios. Jogando a cabeça para baixo, escovo meu cabelo vigorosamente da raiz às pontas. Quando volto a erguer o corpo, ele cai como uma nuvem castanha sobre meus seios. Ajeito-o habilidosamente atrás das orelhas e vou procurar meu scarpin, para ter um pequeno salto sob meus pés.

Quando volto para a sala, Christian está com as plantas da casa espalhadas sobre a mesa de jantar. Uma música toca no aparelho de som. Paro de súbito.

— Sra. Grey — diz ele, caloroso, e me olha zombeteiramente.

— O que é isso? — pergunto. A música é maravilhosa.

— Réquiem de Fauré. Você está diferente — responde ele, distraído.

— Ah. Eu nunca tinha ouvido antes.

— É muito calma, relaxante — diz ele, e levanta uma sobrancelha. — Você fez alguma coisa com o cabelo?

— Escovei.

Sou transportada pelas vozes pungentes. Abandonando as plantas sobre a mesa, ele vem até onde estou, um caminhar vagaroso, no ritmo da música.

— Dança comigo? — murmura ele.

— Isso? Mas é um réquiem — retruco, chocada.

— É.

Ele me puxa para seus braços e me abraça, enterrando o nariz no meu cabelo e me balançando suavemente de um lado para o outro. Seu cheiro é divinamente inconfundível.

Ah… eu senti falta dele. Retribuo o abraço e tento não chorar. Por que você é tão irritante?

— Odeio brigar com você — sussurra ele.

— Então pare de ser babaca, ora essa.

Ele ri, e o som cativante reverbera pelo seu peito. Christian me aperta contra si.

— Babaca?

— Escroto.

— Prefiro babaca.

— Combina com você.

Ele ri mais uma vez e beija o alto da minha cabeça.

— Um réquiem? — murmuro, um pouco chocada de estarmos dançando essa música.

Ele dá de ombros.

— É só uma linda música, Ana.

Taylor tosse discretamente à entrada, e Christian me solta.

— A Srta. Matteo está aqui — diz ele.

Ah, que alegria!

Mande-a entrar — diz Christian.

Ele se inclina e pega minha mão quando Gia Matteo entra na sala.

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