CAPÍTULO DEZ

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Meu coração está batendo forte e o sangue ressoa alto nos meus tímpanos; o álcool que flui pelo meu organismo amplifica o som.

— Ele está…? — gaguejo, incapaz de terminar a frase e encarando Ryan aterrorizada, de olhos arregalados. Não consigo nem olhar para a figura caída no chão.

— Não, madame. Apenas desmaiado.

O alívio percorre o meu corpo. Ah, graças a Deus.

— E você? — pergunto, ainda olhando para Ryan.

Percebo que não sei seu primeiro nome. Ele está ofegante como se tivesse corrido uma maratona. Ele limpa o canto da boca, enxugando o sangue, e vejo que um hematoma está se formando em seu rosto.

— Foi uma luta dos diabos, mas eu estou bem, Sra. Grey.

Ele sorri de forma tranquilizadora. Se eu o conhecesse melhor, diria que parece até um pouco convencido.

— E Gail? A Sra. Jones?

Ah, não… Será que ela está bem? Será que se machucou?

— Estou aqui, Ana.

Olhando para trás, vejo-a de camisola e robe, o cabelo solto, o rosto pálido e os olhos arregalados — como os meus, imagino.

— Ryan me acordou. Insistiu em que eu viesse para cá. — Ela aponta para trás, na direção do escritório de Taylor. — Não aconteceu nada comigo. E a senhora, está bem?

Faço que sim várias vezes, num movimento de cabeça frenético, e percebo que ela deve ter acabado de sair do quarto do pânico, que é contíguo ao escritório de Taylor. Quem diria que precisaríamos desse cômodo tão cedo? Christian insistiu na sua instalação logo depois do nosso noivado — e eu desdenhei a ideia. Agora, ao ver Gail parada à entrada, fico aliviada por ele ter tomado essa precaução.

Um rangido na porta do hall me distrai. As dobradiças estão despencando. Que diabo aconteceu com aquilo?

— Ele estava sozinho? — pergunto a Ryan.

— Sim, madame. Do contrário a senhora não estaria aqui, posso lhe garantir. — Ele parece levemente ofendido.

— Como ele entrou? — pergunto, ignorando seu tom de voz.

— Pelo elevador de serviço. Ele é bem ousado, madame.

Olho para a figura caída de Jack. Ele está usando um uniforme esfarrapado — um macacão, eu acho.

— Quando?

— Uns dez minutos atrás. Eu vi no monitor de segurança. Ele estava de luvas… Meio estranho em pleno verão. Então o reconheci e decidi deixá-lo entrar. Assim poderíamos pegar o sujeito. A senhora não estava aqui e Gail estava segura, então achei que seria agora ou nunca. — Mais uma vez Ryan parece satisfeito consigo mesmo; Sawyer olha para ele com ar de desaprovação.

Luvas? O pensamento me distrai, e dou mais uma olhada em Jack. Sim, ele está usando luvas de couro marrom. Assustador.

— E agora? — Tento descartar os desdobramentos que surgem na minha cabeça.

— Precisamos amarrá-lo — responde Ryan.

— Amarrá-lo?

— Para o caso de ele acordar. — Ryan dirige um olhar rápido para Sawyer.

— Do que você precisa? — pergunta a Sra. Jones, dando um passo à frente. Ela recuperou a compostura.

— Alguma coisa para prender; barbante ou corda — responde Ryan.

Braçadeiras. Fico ruborizada quando as lembranças da noite passada invadem minha mente. Esfrego os punhos reflexivamente e dou uma olhada rápida na pele do local: não, nenhuma marca. Ainda bem.

— Eu tenho braçadeiras. Serve?

Todos os olhos se voltam para mim.

— Sim, madame. Perfeito — diz Sawyer, todo sério.

Quero que o chão me engula, mas me viro e vou até o quarto. Às vezes é preciso simplesmente encarar as coisas de frente, sem pudores. Talvez seja a combinação do medo com o álcool que está me deixando audaciosa.

Quando retorno, a Sra. Jones está conferindo a bagunça no hall e a Srta. Prescott chegou. Entrego as braçadeiras a Sawyer, que, devagar e com um cuidado desnecessário, prende as mãos de Hyde às costas. A Sra. Jones desaparece na cozinha e volta com um kit de primeiros socorros. Ela pega o braço de Ryan e o leva até a entrada do salão, para cuidar do corte em seu supercílio. Ele se encolhe quando ela passa de leve um antisséptico. Então reparo na Glock no chão, com um silenciador acoplado. Puta merda! Jack estava armado? A bile sobe à minha garganta e eu tento segurar.

— Não toque, Sra. Grey — diz Prescott quando eu me inclino para pegar a arma.

Sawyer surge do escritório de Taylor com luvas de borracha.

— Eu cuido disso, Sra. Grey — diz ele.

— É dele? — pergunto.

— Sim, madame — diz Ryan, estremecendo mais uma vez devido aos cuidados da Sra. Jones.

Minha nossa. Ryan lutou com um homem armado na minha casa. O pensamento me dá arrepios. Sawyer se abaixa e pega cuidadosamente a Glock.

— Você deveria estar fazendo isso? — pergunto.

— O Sr. Grey esperaria isso de mim, madame.

Sawyer coloca a arma em um saco plástico e se agacha para revistar Jack. Ele para e, do bolso do homem, puxa apenas um pouco para fora um rolo de fita adesiva. Sawyer fica branco e enfia a fita de volta.

Fita adesiva? Minha mente registra de maneira vaga essa informação, enquanto observo os procedimentos fascinada e com um estranho desinteresse. Então a bile sobe à minha garganta de novo quando percebo as implicações disso. Rapidamente afasto esses pensamentos da minha cabeça. Não pense nisso, Ana.

— Não devemos chamar a polícia? — murmuro, tentando esconder meu medo. Quero Hyde fora da minha casa, e quanto mais cedo melhor.

Ryan e Sawyer se entreolham.

— Acho que deveríamos chamar a polícia — digo, dessa vez mais firme, me perguntando o que estará acontecendo entre os dois.

— Acabei de tentar falar com o Taylor, mas ele não atende o celular. Talvez esteja dormindo. — Sawyer olha para o relógio. — É uma e quarenta e cinco da manhã na Costa Leste.

Ah, não.

— Você ligou para o Christian? — sussurro.

— Não, madame.

— Estava ligando para o Taylor para pedir instruções?

Sawyer parece constrangido por um momento.

— Sim, madame.

Uma parte de mim se arrepia. Esse homem — dou mais uma olhada para Hyde — invadiu minha casa e precisa ser retirado pela polícia. Porém, olhando para os quatro, para seus olhos ansiosos, sinto que tem alguma coisa que eu não sei ou não percebi; então, decido ligar para Christian. Meu couro cabeludo está formigando. Sei que ele está bravo comigo — muito, muito bravo —, e hesito ao imaginar o que ele vai falar. E sei que ele vai ficar estressado porque não está aqui e só poderá estar amanhã à noite. Sei que já o preocupei o suficiente esta noite. Talvez eu não devesse ligar. E então algo me ocorre. Merda. E se eu estivesse aqui? Fico lívida diante dessa ideia. Graças aos céus, eu estava fora. Talvez minha desobediência não cause tanto problema afinal.

— Ele está bem? — pergunto, apontando para Jack.

— Ele vai sentir o crânio dolorido quando acordar — responde Ryan, olhando para Jack com desprezo. — Mas precisaríamos chamar os paramédicos para ter certeza.

Pego meu BlackBerry da bolsa e, antes que eu possa pensar muito na extensão da raiva de Christian, disco seu número. Cai direto na caixa postal. Ele deve ter desligado o telefone de tão irritado que está. Não consigo pensar no que falar. Virando-me de costas, vou para o início do corredor, para longe de todos.

— Oi. Sou eu. Por favor, não fique zangado. Tivemos um incidente no apartamento. Mas está tudo sob controle, então não se preocupe. Ninguém se machucou. Quando puder, ligue para mim. — Desligo. — Chame a polícia — ordeno a Sawyer.

Ele concorda com um aceno de cabeça, pega seu celular e dá o telefonema.

* * *

O OFICIAL SKINNER conduz uma intensa conversa com Ryan à mesa de jantar. O oficial Walker está com Sawyer no escritório de Taylor. Não sei onde Prescott está, talvez no escritório de Taylor também. O detetive Clark me enche de perguntas ríspidas, sentado ao meu lado no sofá da sala. Ele é alto, moreno e seria bonito se não fosse pela imutável cara fechada. Suspeito de que ele tenha sido acordado e tirado da sua cama quentinha porque a casa de um dos executivos mais influentes e ricos de Seattle foi invadida.

— Ele era seu chefe? — pergunta Clark sucintamente.

— Era.

Estou cansada — exausta mesmo — e quero dormir. Ainda não tive notícias de Christian. Pelo menos os paramédicos já removeram Hyde. A Sra. Jones entrega uma xícara de chá para o detetive Clark e outra para mim.

— Obrigado. — Clark se vira de volta para mim. — E onde está o Sr. Grey?

— Em Nova York. A negócios. Ele volta amanhã à noite. Quer dizer, hoje à noite. — Já passa da meia-noite.

— Hyde é nosso conhecido — murmura o detetive Clark. — Vou precisar que a senhora vá à delegacia prestar depoimento. Mas isso pode esperar. Está tarde, e já tem alguns repórteres acampados na calçada. A senhora se importa se eu der uma olhada por aí?

— Claro que não — digo, aliviada por que as perguntas dele acabaram.

Estremeço ao pensar nos fotógrafos lá fora. Bem, eles só serão um problema amanhã. Tenho que lembrar de ligar para minha mãe e Ray caso eles venham a saber de alguma coisa e fiquem preocupados.

— Sra. Grey, por que não vai se deitar? — sugere a Sra. Jones, sua voz cheia de carinho e preocupação.

Olhando nos seus olhos calorosos e gentis, repentinamente sinto uma necessidade esmagadora de chorar. Ela se aproxima e acaricia meu ombro.

— Estamos em segurança agora — murmura ela. — Tudo isso vai parecer melhor de manhã, depois que a senhora tiver dormido um pouco. E o Sr. Grey volta à noite.

Olho nervosa para ela, mal contendo as lágrimas. Christian vai ficar tão bravo.

— A senhora deseja alguma coisa antes de ir para a cama? — pergunta ela.

Percebo agora como estou com fome.

— Adoraria alguma coisa para comer.

Ela abre um sorriso.

— Um sanduíche e um copo de leite?

Aceito agradecida, e ela vai para a cozinha. Ryan ainda está com o oficial Skinner. No hall, o detetive Clark examina a bagunça à saída do elevador. Ele parece atencioso, apesar da expressão fechada. E subitamente fico com saudades — saudades de Christian. Segurando a cabeça entre as mãos, desejo fervorosamente que ele estivesse aqui. Ele saberia o que fazer. Que noite. Quero me aconchegar no seu colo, sentir seu abraço e ouvi-lo dizer que me ama, muito embora eu não faça o que ele manda — mas isso só será possível à noite. No fundo, sinto certa irritação… Por que ele não me disse que havia aumentado a segurança para todo mundo? O que exatamente havia no computador de Jack? Ele é tão frustrante, mas no momento eu não me importo. Quero meu marido. Sinto falta dele.

— Aqui está, querida.

É a Sra. Jones, interrompendo meu turbilhão interior. Quando ergo o olhar, ela me entrega um sanduíche de manteiga de amendoim e geleia, os olhos brilhantes. Não como um desses há anos. Sorrio timidamente e ataco meu lanche.

Quando finalmente me deito na cama, me encolho do lado de Christian, vestindo uma camiseta sua. Tanto o travesseiro quanto a roupa têm o cheiro dele, e, ao adormecer, silenciosamente desejo que ele volte para casa em segurança… e de bom humor.

* * *

ACORDO COM UM sobressalto. Já está claro e minha cabeça dói, latejando nas têmporas. Ah, não. Espero que não seja ressaca. Abrindo os olhos com cautela, percebo que a cadeira do quarto não está no mesmo lugar e que Christian está sentado nela. Ele está de smoking, a ponta da gravata-borboleta saindo do bolso do paletó. Será que estou sonhando? Seu braço esquerdo está apoiado na cadeira, e na sua mão há um copo de vidro decorado contendo um líquido âmbar. Conhaque? Uísque? Não tenho ideia. Uma de suas longas pernas está cruzada sobre a outra, o tornozelo sobre o joelho. Ele está usando meias pretas e sapatos sociais. Seu cotovelo direito descansa no braço da cadeira, a mão no queixo, e ele passa o dedo indicador devagar e ritmadamente de um lado a outro do lábio inferior. Sob a luz do começo da manhã, seus olhos queimam com intensidade e gravidade, mas sua expressão geral é completamente indecifrável.

Meu coração quase para. Ele está aqui. Como chegou? Deve ter partido de Nova York à noite. Há quanto tempo ele está aqui, me olhando dormir?

— Oi — sussurro.

Ele me olha friamente e meu coração quase para mais uma vez. Ah, não. Ele tira o dedo comprido da boca, engole o restante do drinque e coloca o copo na mesa de cabeceira. Eu meio que espero um beijo, mas ele não faz isso. Apenas se recosta, continuando a me observar, a expressão impassível.

— Olá — diz ele finalmente, a voz baixa. E sei que ainda está zangado. Muito zangado.

— Você voltou.

— Parece que sim.

Devagar, eu levanto o corpo para me colocar sentada, sem tirar os olhos dele. Minha boca está seca.

— Há quanto tempo você está aí me observando dormir?

— Tempo suficiente.

— Ainda está zangado. — Mal consigo falar.

Ele me encara, como se refletisse sobre a resposta.

— Zangado — repete ele, como se testasse a palavra, pesando suas nuances, seus significados. — Não, Ana. Estou muito, muito mais que zangado.

Droga. Tento engolir, mas é difícil com a boca seca.

— Muito mais que zangado… Isso não parece bom.

Ele me fita, completamente impassivo, e não responde. Um silêncio absoluto se instala entre nós. Pego o meu copo d’água e tomo um gole, tentando controlar meus batimentos cardíacos.

— Ryan pegou o Jack. — Tento um outro caminho e coloco meu copo ao lado do dele na mesa de cabeceira.

— Eu sei — responde ele, gelado.

Claro que ele sabe.

— Vai ficar monossilábico por muito tempo?

As sobrancelhas dele se movem ligeiramente, registrando sua surpresa, como se ele não esperasse essa pergunta.

— Vou — diz ele finalmente.

Ah… tudo bem. O que fazer? Defesa — a melhor forma de ataque.

— Sinto muito por ter saído.

— Sente mesmo?

— Não — murmuro depois de uma pausa, porque é a verdade.

— Então por que disse isso?

— Porque eu não quero que você fique bravo comigo.

Ele suspira pesadamente, como se estivesse segurando essa tensão há mil horas, e passa a mão pelo cabelo. Ele está lindo. Furioso, mas lindo. Fico aliviada por vê-lo ali — ele voltou —, furioso, mas inteiro.

— Acho que o detetive Clark quer falar com você.

— Com certeza.

— Christian, por favor…

— Por favor o quê?

— Não seja tão frio.

Suas sobrancelhas se arqueiam de surpresa mais uma vez.

— Anastasia, frieza não é o que eu estou sentindo no momento. Estou queimando por dentro. Queimando de raiva. Não sei como lidar com esses… — ele levanta a mão, procurando a palavra — … sentimentos. — Seu tom é amargo.

Ah, merda. A honestidade dele me desarma. Tudo o que quero é sentar no seu colo. É o que eu quero fazer desde que voltei para casa ontem à noite. Que se dane. Vou até ele, pegando-o de surpresa e deitando constrangedoramente no seu colo, onde me aninho. Ao contrário do que eu temia, ele não me afasta. Depois de um tempo, ele dobra os braços em volta de mim e enterra o nariz no meu cabelo. Christian está cheirando a uísque. Quanto ele bebeu? Também sinto o cheiro da sua loção de banho. Cheiro de Christian. Abraço seu pescoço e me aconchego em sua garganta, e ele suspira mais uma vez, agora profundamente.

— Ah, Sra. Grey. O que eu faço com você?

Ele beija a minha cabeça. Fecho os olhos, saboreando nosso contato.

— Quanto você bebeu?

Ele fica imóvel.

— Por quê?

— Você não costuma tomar nada forte.

— Esse é o meu segundo copo. Tive uma noite exaustiva, Anastasia. Dê um desconto.

Eu sorrio.

— Se você insiste, Sr. Grey — sussurro em seu pescoço. — Você está divinamente cheiroso. Dormi do seu lado da cama, porque o travesseiro tem o seu cheiro.

Ele faz carinho no meu cabelo.

— Foi isso, então? Fiquei me perguntando por que você estava daquele lado. Ainda estou com muita raiva de você.

— Eu sei.

Sua mão acaricia ritmadamente minhas costas.

— E eu de você — sussurro.

Ele faz uma pausa.

— E o que eu fiz, me diga, para merecer a sua ira?

— Eu digo mais tarde, quando você não estiver mais queimando de raiva.

Beijo seu pescoço. Ele fecha os olhos e se inclina para o meu beijo, mas não faz nenhum movimento para me beijar de volta. Seus braços me apertam com mais força.

— Quando eu penso no que poderia ter acontecido… — Sua voz é quase um suspiro. Débil, embargada.

— Eu estou bem.

— Ah, Ana. — É quase um soluço.

— Eu estou bem. Estamos todos bem. Um pouco abalados. Mas Gail está bem. Ryan está bem. E Jack se foi.

Ele balança a cabeça.

— Embora você não tenha nenhum crédito nisso — murmura ele.

O quê? Inclino-me para trás e o encaro com frieza.

— O que você quer dizer?

— Não quero discutir sobre isso agora, Ana.

Bem, talvez eu queira, mas é melhor não. Pelo menos ele está falando comigo. Eu me aninho no seu colo mais uma vez. Seus dedos sobem para a minha cabeça e começam a brincar com meu cabelo.

— Quero punir você — sussurra ele. — Espancar você até não poder mais.

Meu coração parece saltar pela boca. Porra.

— Eu sei — sussurro, sentindo meu couro cabeludo formigar.

— Talvez eu faça isso.

— Espero que não.

Ele me abraça mais apertado.

— Ana, Ana, Ana. Até um santo perderia a paciência com você.

— Eu poderia acusá-lo de muitas coisas, Sr. Grey, mas não de ser santo.

Finalmente sou abençoada com sua risada relutante.

— É verdade; sempre usando bons argumentos, Sra. Grey. — Ele beija minha testa e se remexe na cadeira. — Volte para a cama. Você dormiu tarde também. — E, com um movimento rápido, ele me pega e me joga de volta no colchão.

— Deita comigo?

— Não. Tenho umas coisas para fazer. — Ele se inclina e pega o copo. — Volte a dormir. Eu acordo você daqui a algumas horas.

— Ainda está zangado comigo?

— Estou.

— Vou dormir mais, então.

— Ótimo. — Ele me cobre e beija minha testa mais uma vez. — Durma.

E, como ainda estou atordoada pela noite passada, além de aliviada por ele já ter voltado e emocionalmente fatigada pelo nosso reencontro, faço exatamente o que ele manda. Enquanto adormeço, fico curiosa mas aliviada, dado o gosto horroroso na minha boca, em saber por que ele não se utilizou do seu costumeiro mecanismo de lidar com essas situações e não avançou sobre mim com sua típica perversidade.

* * *

— AQUI: SUCO DE LARANJA para você — diz Christian, e meus olhos se abrem de novo.

Tive as duas horas de sono mais repousantes de que me lembro, e acordo renovada, a cabeça não mais latejando. O suco de laranja é uma visão feliz — assim como meu marido. Ele está de moletom. E eu momentaneamente me recordo do Hotel Heathman e da primeira vez que acordei a seu lado. Sua camiseta regata cinza está encharcada de suor. Ou ele andou malhando na academia do porão ou saiu para dar uma corrida, mas ele não deveria ficar tão bonito assim depois de fazer exercícios.

— Vou tomar um banho — murmura ele, e desaparece no banheiro.

Franzo a testa. Ele continua distante. Ou está distraído, com tudo o que aconteceu, ou ainda está com raiva ou… o quê? Ergo o corpo, sentando-me, e pego o suco de laranja, que bebo rápido. Está delicioso, geladinho, tornando a minha boca um lugar muito melhor. Desço da cama, ansiosa para diminuir a distância — real e metafísica — entre meu marido e eu. Dou uma olhada rápida para o relógio. São oito horas. Tiro a camiseta de Christian que eu estava vestindo e vou atrás dele no banheiro. Encontro-o no chuveiro, lavando o cabelo, e não hesito. Coloco-me muito discretamente atrás dele, que se enrijece no momento em que o envolvo em meus braços — a parte da frente do meu corpo contra as suas costas musculosas e molhadas. Ignoro sua reação; continuo segurando-o apertado, e colo a face na sua pele, fechando os olhos. Depois de um momento ele muda de posição, de forma que estamos ambos embaixo do chuveiro de água quente, e continua lavando o cabelo. Deixo a água correr pelo meu corpo enquanto me aninho junto ao homem que amo. Penso em todas as vezes que transamos e em todas as vezes que ele fez amor comigo aqui. Franzo o cenho. Ele nunca ficou tão quieto. Virando a cabeça, começo a traçar uma linha de beijos nas suas costas. Seu corpo se enrijece de novo.

— Ana — diz ele; é um alerta.

— Hmm…

Desço as mãos devagar pelo seu abdômen firme. Ele segura minhas duas mãos, interrompendo-me abruptamente, balançando a cabeça.

— Não. — Mais um alerta.

Eu o solto na mesma hora. Ele está dizendo não? Minha mente entra em queda livre — isso já aconteceu antes? Meu inconsciente balança a cabeça, os lábios apertados, e me encara através dos seus óculos de meia-lua, com aquela sua expressão de você-realmente-abusou-dessa-vez. Eu me sinto como se tivesse levado um tapa, um tapa bem forte. Rejeitada. E uma vida inteira de insegurança produz o pensamento horroroso de que ele não me quer mais. Respiro com dificuldade, pois a dor me queima por dentro. Mas então Christian se vira, e fico aliviada de ver que ele não está completamente imune aos meus encantos. Pegando no meu queixo, ele inclina minha cabeça para trás, e eu me pego fitando seus olhos circunspectos e cinzentos.

— Ainda estou puto da vida com você — diz ele, numa voz baixa e séria.

Merda! Inclinando-se para baixo, ele descansa a testa na minha, fechando os olhos. Acaricio seu rosto.

— Não fique zangado comigo, por favor. Acho que você está exagerando — sussurro.

Ele fica tenso, pálido. Minha mão cai livre ao lado do meu corpo.

— Exagerando? — rosna ele. — Um lunático maldito entra no meu apartamento para sequestrar a minha mulher e você acha que eu estou exagerando! — A ameaça contida na voz dele é aterrorizante, e seus olhos me encaram com uma fúria que é como se eu fosse o lunático maldito.

— Não… hã… não era disso que eu estava falando. Achei que você estivesse assim porque eu dei uma saída.

Ele fecha os olhos mais uma vez, como se estivesse com dor, e balança a cabeça.

— Christian, eu não estava aqui — digo, na tentativa de apaziguá-lo e tranquilizá-lo.

— Eu sei — sussurra ele, abrindo os olhos. — E tudo porque você não consegue atender uma merda de um pedido tão simples. — Seu tom é amargo, e é minha vez de empalidecer. — Não quero discutir isso agora, no banho. Ainda estou puto com você, Anastasia. Você está me fazendo repensar certas coisas.

Ele se vira e sai de supetão do box, pegando uma toalha no caminho para o quarto, deixando-me fria e desolada debaixo da água.

Merda. Merda. Merda.

Então finalmente compreendo o que ele acabou de dizer. Sequestrar? Cacete. Jack queria me sequestrar? Lembro-me então da fita adesiva, e da minha resistência em pensar sobre o motivo para Jack estar carregando aquilo consigo. Será que Christian tem mais informações? Eu me lavo às pressas, depois passo xampu e condicionador no cabelo. Eu quero saber. Eu preciso saber. Não vou permitir que ele me deixe no escuro nessa história.

Christian não está no quarto quando eu saio. Caramba, como ele se arruma rápido. Faço o mesmo, colocando meu vestido preferido, aquele cor de ameixa, e sandálias pretas, e percebo que escolhi essa roupa porque é também uma das preferidas de Christian. Seco o cabelo vigorosamente com a toalha, depois faço um trança e a prendo num coque. Colocando brincos de brilhante nas orelhas, corro até o banheiro para passar um pouco de rímel e me olho no espelho. Estou pálida. Estou sempre pálida. Respiro fundo; tenho que me controlar. Preciso encarar as consequências da minha decisão impetuosa de me divertir um pouco com uma amiga. Suspiro, pois sei que Christian não vai encarar dessa maneira.

Não o encontro na sala. A Sra. Jones está ocupada na cozinha.

— Bom dia, Ana — diz ela, com doçura.

— Bom dia.

Abro um largo sorriso para ela. Voltei a ser Ana!

— Chá?

— Sim, obrigada.

— Alguma coisa para comer?

— Por favor. Eu queria um omelete hoje.

— Com cogumelos e espinafre?

— E queijo.

— Já está saindo.

— Cadê o Christian?

— O Sr. Grey está no escritório.

— Ele já tomou café? — Olho para os dois lugares postos no balcão.

— Não, madame.

— Obrigada.

Christian está ao telefone. Está vestindo uma camisa branca sem gravata, a visão perfeita de um CEO relaxado. Como as aparências enganam! Talvez ele nem vá à empresa hoje. Ele ergue o olhar quando apareço à porta, mas balança a cabeça para mim, indicando que não sou bem-vinda. Merda… Eu me viro e volto cabisbaixa para o balcão da cozinha. Taylor aparece, elegante em um terno escuro, com a aparência de quem desfrutou de oito horas de sono ininterruptos.

— Bom dia, Taylor — murmuro, tentando avaliar seu humor e ver se ele vai me dar alguma dica visual sobre o que aconteceu.

— Bom dia, Sra. Grey — responde ele, e percebo solidariedade nessas quatro palavras.

Retribuo com um sorriso compassivo, sabendo que ele teve que aturar um Christian raivoso e frustrado voltando para Seattle bem antes do previsto.

— Como foi o voo? — ouso perguntar.

— Longo, Sra. Grey. — Sua concisão diz mais do que mil palavras. — Como está a senhora, se me permite a pergunta? — acrescenta ele, num tom mais suave.

— Estou bem.

Ele assente com a cabeça.

— Se me der licença…

E ele vai para o escritório de Christian. Hmm. Taylor pode entrar, mas eu não.

— Aqui está.

A Sra. Jones coloca meu café da manhã na minha frente. Meu apetite já era, mas eu como mesmo assim, pois não quero ofendê-la.

Quando termino de comer o máximo que consigo, Christian ainda não saiu do escritório. Será que ele está me evitando?

— Obrigada, Sra. Jones — murmuro, descendo do banco e indo ao banheiro.

Enquanto escovo os dentes, lembro do mau humor em que Christian ficou por causa dos votos do casamento. Ele também se entocou no escritório na ocasião, só de pirraça. Será que é isso? Pirraça? Então sinto um arrepio ao me lembrar do pesadelo que ele teve logo depois. Será que aquilo vai acontecer de novo? Nós realmente precisamos conversar. Preciso saber sobre Jack e lhe perguntar sobre o reforço da segurança para os Grey — todos os detalhes que foram ocultados de mim, mas não de Kate. Obviamente, Elliot conversa decentemente com ela.

Olho o relógio. São oito e cinquenta — estou atrasada para o trabalho. Termino de escovar os dentes, passo um pouquinho de gloss na boca, pego meu paletó preto superleve e volto para a sala. É um alívio ver que Christian está lá, tomando seu café da manhã.

— Está saindo? — pergunta ele quando me vê.

— Para o trabalho? Sim, claro.

Corajosamente, vou até ele e apoio as mãos na ponta do balcão. Ele me encara sem expressão alguma.

— Christian, nós voltamos não faz nem uma semana. Tenho que ir trabalhar.

— Mas…

Ele para de falar e passa a mão no cabelo. A Sra. Jones sai silenciosamente do recinto. Discrição, Gail, discrição.

— Sei que temos muito o que conversar. Talvez, se você tiver se acalmado, a gente possa fazer isso de noite.

Sua boca se abre em espanto.

— Acalmado? — Sua voz está assustadoramente suave.

Fico vermelha.

— Você sabe o que eu quero dizer.

— Não, Anastasia. Não sei o que você quer dizer.

— Não quero brigar. Só vim perguntar se eu posso ir no meu carro.

— Não. Não pode — responde ele, rispidamente.

— Tudo bem. — Aquiesço de imediato.

Ele me olha desarmado. Estava obviamente esperando que eu criasse caso.

— A Prescott vai acompanhar você. — Seu tom é um pouco menos beligerante.

Droga, a Prescott não. Quero fazer bico e protestar, mas decido acatar o que ele diz. Agora que Jack foi pego, com certeza poderemos amenizar as medidas de segurança.

Recordo-me da conversa ao estilo “palavras de sabedoria” que tive com minha mãe na véspera do meu casamento. Ana, querida, você realmente terá que escolher que batalhas lutar. E vai ser a mesma coisa com os seus filhos quando você os tiver. Bem, pelo menos ele está me deixando ir trabalhar.

— Tudo bem — balbucio.

E como não quero deixá-lo assim com tantas questões não resolvidas e tanta tensão entre nós, eu me aproximo hesitantemente. Seu corpo se tensiona, os olhos quase se arregalam, e por um momento ele parece tão vulnerável que me toca lá no fundo escuro do meu coração. Ah, Christian, eu sinto muito. Dou um beijo casto no canto da sua boca. Ele fecha os olhos como se saboreasse imensamente meu toque.

— Não me odeie — sussurro.

Ele pega minha mão.

— Eu não odeio você.

— Você não me deu nem um beijo — sussurro.

Ele me olha com suspeita.

— Eu sei — murmura.

Quero desesperadamente lhe perguntar por quê, mas não sei se quero ouvir a resposta. Então, bruscamente, ele se levanta e segura meu rosto entre as mãos, e no segundo seguinte sua boca está colada na minha, buscando-me com violência. Solto uma exclamação de surpresa, inadvertidamente concedendo acesso à sua língua. Ele aproveita a chance, invadindo minha boca, clamando por mim, e logo quando estou começando a retribuir o beijo ele me solta, a respiração mais rápida.

— O Taylor vai levar você e a Prescott para a SIP — diz Christian, os olhos ardendo de avidez. — Taylor! — grita ele.

Fico ruborizada, tentando recuperar a compostura.

— Sim, senhor. — Taylor surge à porta.

— Diga à Prescott que a Sra. Grey está indo para o trabalho. Você pode levar as duas, por favor?

— Certamente. — E, virando-se, Taylor desaparece.

— Se você pudesse tentar não se meter em nenhuma confusão hoje, eu agradeceria — balbucia Christian.

— Vou ver o que posso fazer.

Sorrio docemente. Um pequeno e relutante sorriso aparece em seu rosto, mas ele não se deixa entregar.

— Até mais tarde, então — diz friamente.

— Até mais tarde — sussurro.

Prescott e eu pegamos o elevador de serviço até a garagem subterrânea, para evitar a mídia do lado de fora. A prisão de Jack e o fato de que ele foi apreendido no nosso apartamento são agora de conhecimento público. Ao entrar no Audi, pergunto-me se haverá mais paparazzi esperando na SIP, como no dia do anúncio do nosso noivado.

Percorremos algumas ruas em silêncio por um tempo, até eu me lembrar de ligar primeiro para Ray e depois para minha mãe, a fim de tranquilizá-los e dizer que eu e Christian estamos bem. Felizmente, ambos os telefonemas são curtos, e quando desligo estamos justamente chegando à SIP. Como eu temia, há um aglomerado de repórteres e fotógrafos esperando. Eles se viram todos de uma vez, olhando com expectativa para o Audi.

— Tem certeza de que quer fazer isso, Sra. Grey? — pergunta Taylor.

Parte de mim quer ir para casa, mas isso significaria passar o dia com o Sr. Ardendo de Raiva. Espero que, com um pouco de tempo, ele comece a ver as coisas por outra perspectiva. Jack está detido na polícia; logo, Christian deveria estar feliz, mas não está. Parte de mim entende a razão; esse problema está quase totalmente fora do seu controle, inclusive eu, mas não tenho tempo para pensar nisso agora.

— Taylor, dê a volta até o portão para carga e descarga, por favor.

— Sim, madame.

* * *

É UMA HORA da tarde e eu consegui ficar imersa no trabalho a manhã toda. Batem à porta e Elizabeth coloca a cabeça para dentro.

— Posso entrar um momento? — pergunta ela alegremente.

— Claro — murmuro, surpresa pela sua visita não agendada.

Ela entra e se senta, jogando para trás o longo cabelo preto.

— Só queria ver se você está bem. O Roach me pediu para dar uma passada aqui — acrescenta apressadamente, seu rosto ficando vermelho. — Sabe, depois de tudo o que aconteceu ontem à noite…

A prisão de Jack Hyde está em todos os jornais, mas ninguém parece ter feito a conexão com o incêndio na empresa de Christian ainda.

— Estou bem — respondo, tentando não pensar muito profundamente sobre como me sinto.

Jack queria me fazer mal. Bem, isso não é novidade. Ele já havia tentado antes. É com Christian que estou mais preocupada.

Olho rapidamente o meu e-mail. Ainda não há nenhum novo dele. Não sei se eu deveria escrever algo ou se estaria apenas provocando mais ainda o Sr. Ardendo de Raiva.

— Que bom — responde Elizabeth, e, uma vez na vida, seu sorriso parece sincero. — Se eu puder fazer alguma coisa… qualquer coisa que você precise… é só me falar.

— Pode deixar.

Ela se levanta.

— Eu sei como você está ocupada, Ana. Vou deixá-la voltar ao trabalho.

— Hm… Obrigada.

Essa deve ter sido a reunião mais curta e mais sem sentido do hemisfério ocidental no dia de hoje. Por que Roach a mandou aqui? Talvez ele esteja preocupado, já que sou a esposa do seu chefe. Afasto os pensamentos sombrios e pego meu BlackBerry, na esperança de que haja uma mensagem de Christian. Nesse momento, soa o meu e-mail do trabalho.


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De: Christian Grey

Assunto: Depoimento

Data: 26 de agosto de 2011 13:04

Para: Anastasia Grey


Anastasia,

O detetive Clark irá à sua sala hoje às três da tarde para pegar o seu depoimento.

Insisti em que ele fosse até você, já que não quero que você vá até a delegacia.

Christian Grey


CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.

Fico olhando para o e-mail dele por cinco minutos inteiros, tentando formular uma resposta leve e engenhosa para levantar seu astral. Não consigo pensar em nada, portanto escolho ser sucinta.


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De: Anastasia Grey

Assunto: Depoimento

Data: 26 de agosto de 2011 13:12

Para: Christian Grey


Ok.

Bj,

Anastasia Grey


Editora, SIP

Fico olhando para a tela por mais cinco minutos, ansiosa pela resposta, mas não chega nada. Christian não está para brincadeiras hoje.

Eu me reclino na cadeira. Será que posso condená-lo? Meu pobre marido devia estar fora de si nas primeiras horas desta manhã. Então algo me ocorre. Christian estava de smoking quando acordei hoje. A que horas ele decidiu voltar de Nova York? Ele normalmente deixa o trabalho entre dez e onze. Ontem à noite, a essa hora, eu ainda estava com Kate.

Será que Christian voltou porque eu tinha saído ou por causa do incidente com Jack? Se foi porque eu estava fora me divertindo, ele não teria ideia sobre Jack, sobre a polícia, nada — só quando pousasse em Seattle. De repente, descobrir isso é muito importante para mim. Se Christian voltou só porque eu estava no bar, então foi um exagero. Meu inconsciente faz um ruído de desprezo e assume sua expressão de harpia. Tudo bem, estou feliz que ele tenha voltado, então talvez seja irrelevante. Mas ainda assim — Christian deve ter sofrido um choque danado quando pousou. Não é de admirar que ele esteja tão confuso hoje. Suas palavras voltam à minha mente: “Ainda estou puto com você, Anastasia. Você está me fazendo repensar certas coisas.

Eu preciso saber — ele voltou por causa dos meus controversos drinques ou por causa do maldito lunático?


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De: Anastasia Grey

Assunto: Seu voo

Data: 26 de agosto de 2011 13:24

Para: Christian Grey


A que horas você decidiu voltar para Seattle ontem?

Anastasia Grey


Editora, SIP


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De: Christian Grey

Assunto: Seu voo

Data: 26 de agosto de 2011 13:26

Para: Anastasia Grey


Por quê?

Christian Grey


CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.


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De: Anastasia Grey

Assunto: Seu voo

Data: 26 de agosto de 2011 13:29

Para: Christian Grey


Curiosidade.

Anastasia Grey


Editora, SIP


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De: Christian Grey

Assunto: Seu voo

Data: 26 de agosto de 2011 13:32

Para: Anastasia Grey


A curiosidade matou o gato.

Christian Grey


CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.


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De: Anastasia Grey

Assunto: Hã?

Data: 26 de agosto de 2011 13:35

Para: Christian Grey


O que foi essa referência oblíqua? Mais uma ameaça?

Você sabe aonde quero chegar com isso, não sabe?

Você resolveu voltar porque eu saí para tomar um drinque com uma amiga mesmo você tendo pedido que eu não fosse ou porque tinha um homem louco no seu apartamento?

Anastasia Grey


Editora, SIP

Encaro a tela. Não há resposta. Olho para o relógio no computador. Uma e quarenta e cinco e ainda nada.


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De: Anastasia Grey

Assunto: É o seguinte…

Data: 26 de agosto de 2011 13:56

Para: Christian Grey


Vou tomar seu silêncio como uma confirmação de que você realmente voltou para Seattle porque EU MUDEI DE IDEIA. Sou uma mulher adulta e saí para tomar um drinque com uma amiga. Eu não podia avaliar os desdobramentos, em termos de segurança, do fato de eu ter MUDADO DE IDEIA porque VOCÊ NUNCA ME FALA NADA. Descobri pela Kate que, na verdade, a segurança foi reforçada para todos os Grey, e não só para nós. Acho que você em geral exagera quando se trata da minha segurança, e entendo o motivo, mas você está sempre agindo como o menino que avisava do lobo sem ser verdade.

Eu nunca sei o que é uma preocupação real ou o que é meramente algo que você encara como uma preocupação. Eu estava com dois seguranças. Achei que tanto Kate quanto eu estaríamos seguras. O fato é que estávamos mais seguras no bar do que em casa. Se eu tivesse sido INFORMADA DIREITO da situação, teria agido de maneira diferente.

Pelo que sei, as suas preocupações têm algo a ver com um material que estava no computador do Jack — ou pelo menos é o que a Kate disse. Você sabe como é irritante descobrir que minha melhor amiga sabe mais sobre o que está acontecendo com você do que eu? E eu sou sua ESPOSA. Então, você vai me falar? Ou vai continuar a me tratar como uma criança, para que eu continue a me comportar como uma?

Você não é o único que está puto da vida. Entendeu?

Ana

Anastasia Grey


Editora, SIP

Clico em “enviar”. Prontotoma essa, Grey. Inspiro profundamente. Agora fiquei uma fera. Estava me sentindo culpada e arrependida por ter me comportado mal. Bem, não estou mais.


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De: Christian Grey

Assunto: É o seguinte…

Data: 26 de agosto de 2011 13:59

Para: Anastasia Grey


Sra. Grey, como sempre, você foi franca e desafiadora em seu e-mail.

Talvez possamos discutir isso quando você voltar para NOSSA casa.

Você deveria tomar cuidado com o que fala. Ainda estou puto da vida.

Christian Grey


CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.

Tomar cuidado com o que falo! Olho para o computador de cara feia, percebendo que isso não está me levando a lugar algum. Não respondo; em vez disso, pego um original recém-recebido de um autor novo promissor e começo a ler.

* * *

MEU ENCONTRO COM o detetive Clark é tranquilo. Ele está menos carrancudo do que ontem à noite, talvez por ter conseguido dormir um pouco. Ou talvez apenas prefira trabalhar durante o dia.

— Obrigado pelo seu depoimento, Sra. Grey.

— De nada, detetive. O Hyde ainda está detido?

— Sim, madame. Ele saiu do hospital de manhã cedo. Pelas acusações que pesam sobre ele, deverá ficar conosco por um tempo. — Ele sorri, os olhos escuros enrugando-se nos cantos.

— Que bom. Tem sido uma época de bastante tensão para mim e meu marido.

— Conversei muito com o Sr. Grey esta manhã. Ele parece aliviado. Homem interessante, o seu marido.

O senhor não tem ideia.

— É, acho que sim.

Dirijo-lhe um sorriso educado, e ele sabe que está sendo dispensado.

— Caso se lembre de mais alguma coisa, pode me ligar. Aqui está meu cartão. — Com esforço, ele tira um cartão da carteira e me entrega.

— Obrigada, detetive. Pode deixar.

— Tenha um bom dia, Sra. Grey.

— Bom dia.

Quando ele sai, me pergunto quais exatamente são as acusações contra Hyde. Sem dúvida, Christian não vai me contar. Aperto os lábios, irritada.

* * *

VOLTAMOS EM SILÊNCIO até o Escala. Sawyer é quem dirige dessa vez, Prescott a seu lado, e meu coração fica cada vez mais pesado ao nos aproximamos de casa. Sei que Christian e eu vamos brigar, e não sei se tenho energia para isso.

Enquanto o elevador da garagem leva Prescott e eu à cobertura, tento ordenar meus pensamentos. O que eu quero falar? Acho que disse tudo por e-mail. Talvez ele me dê algumas respostas. Espero que sim. Não consigo não ficar nervosa. Meu coração bate acelerado, minha boca está seca, e minhas mãos suam. Não quero brigar. Mas às vezes ele é difícil demais, e eu preciso fincar o pé.

A porta do elevador se abre, revelando o hall, que está novamente limpo e arrumado. A mesa foi reerguida, e sobre ela há um novo vaso, guarnecido com um lindo arranjo de peônias brancas e cor-de-rosa. Verifico as pinturas ao entrar — as Madonas todas parecem intactas. A porta quebrada já foi consertada e voltou a funcionar; Prescott a abre gentilmente para mim. Ela esteve muito quieta hoje. Acho que prefiro assim.

Largo minha maleta no hall e entro na enorme sala de estar. Paro. Puta merda.

— Boa noite, Sra. Grey — diz Christian suavemente.

Ele está de pé ao lado do piano, vestindo uma camiseta preta justa e uma calça jeans… Aquela calça — a que ele usava no quarto de jogos. Ai, meu Deus. É uma calça de um azul-claro lavado e desbotado, rasgada no joelho — justa e excitante. Ele vem calmamente até mim, os pés descalços, o botão da calça aberto, os olhos ardentes fixos nos meus.

— Que bom que você chegou. Eu estava à sua espera.

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