CAPÍTULO NOVE
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Pela manhã, acordo antes de o despertador tocar e vejo Christian enrolado em mim, a cabeça no meu peito, o braço em volta da minha cintura e a perna entre as minhas. E ele está no meu lado da cama. É sempre a mesma coisa. Se discutimos à noite, é assim que ele fica durante o sono, todo enrolado em mim, deixando-me com calor e incomodada.
Ah, meu Cinquenta Tons. Tão carente em alguns aspectos. Quem diria? A imagem que tenho de Christian como um menininho sujo e infeliz me persegue. Acaricio delicadamente seu cabelo, agora mais curto, e minha melancolia desaparece. Ele se mexe, e seus olhos sonolentos encontram os meus. Ele pisca algumas vezes à medida que vai despertando.
— Oi — murmura ele, e sorri.
— Oi. — Adoro acordar com esse sorriso.
Ele se aninha nos meus seios e deixa escapar um gemido de apreciação, que vem bem do fundo da garganta. Suas mãos descem pelo meu corpo a partir da cintura, passando levemente sobre o frio cetim da minha camisola.
— Que tentação você é — murmura ele. — Mas, apesar da tentação — ele olha o relógio —, tenho que levantar.
Ele se espreguiça, se solta de mim e se levanta.
Eu me recosto na cabeceira da cama, coloco as mãos atrás da cabeça e aproveito o espetáculo: Christian tirando a roupa para entrar no banho. Ele é perfeito. Eu não mudaria um fio de cabelo dele.
— Admirando a vista, Sra. Grey? — Christian levanta uma sobrancelha irônica para mim.
— É uma bela vista, Sr. Grey.
Ele ri e joga a calça do pijama em mim de um jeito que quase cai no meu rosto, mas eu a pego a tempo, dando risadinhas como uma menina. Com um sorriso malicioso, ele puxa o edredom, coloca um joelho na cama, agarra meus tornozelos e me arrasta na direção dele, de modo que minha camisola sobe. Dou um grito agudo e ele engatinha por cima do meu corpo, deixando uma trilha de beijos no meu joelho, na minha coxa… na minha… ah… Christian!
* * *
— BOM DIA, Sra. Grey — cumprimenta-me a Sra. Jones.
Fico ruborizada, constrangida, recordando-me do seu momento de intimidade com Taylor ontem à noite.
— Bom dia — respondo enquanto ela me oferece uma xícara de chá.
Sento-me num banco alto ao lado do meu marido, que parece simplesmente radiante: recém-saído do banho, o cabelo molhado, usando uma camisa branca engomada e aquela gravata prateada. Minha preferida. Tenho deliciosas lembranças dela.
— Como vai, Sra. Grey? — pergunta ele, os olhos calorosos.
— Acho que você sabe, Sr. Grey. — E ergo o olhar com o rosto para baixo.
Ele sorri.
— Coma — ordena. — Você não comeu ontem.
Ah, meu Cinquenta Tons mandão!
— Eu não comi porque você estava sendo um babaca.
A Sra. Jones derruba alguma coisa com um estrondo na pia, fazendo-me pular de susto. Christian parece não se dar conta do barulho. Ignorando-a, ele continua a me olhar impassivo.
— Babaca ou não, coma. — Seu tom de voz é sério. Não vou discutir.
— Tudo bem! Pegando a colher, comendo granola… — murmuro, como uma adolescente petulante.
Pego o iogurte grego e coloco um pouco sobre o meu cereal, seguido de um punhado de blueberries. Olho de esguelha na direção da Sra. Jones e ela capta o meu olhar. Sorrio, e ela abre um sorriso caloroso em resposta. Ela providenciou o meu café da manhã preferido, que me foi apresentado durante a nossa lua de mel.
— Talvez eu tenha que ir a Nova York no final da semana. — O anúncio do Christian interrompe meus devaneios.
— Ah.
— Devo dormir uma noite lá. Quero que você vá comigo.
— Christian, eu não vou ter folga.
Ele me olha daquele seu jeito que diz “Ah, jura? Mas eu sou o seu chefe”. Solto um suspiro.
— Sei que você é o dono da empresa, mas eu passei três semanas fora. Por favor. Como você espera que eu administre um negócio se nunca estou lá? Vou ficar bem. Presumo que você vá levar o Taylor, mas o Sawyer e o Ryan vão estar aqui… — Paro de falar, porque Christian está sorrindo para mim. — O quê? — pergunto rispidamente.
— Nada. Só você — diz ele.
Fecho a cara. Ele está rindo de mim? Então um pensamento horrível surge na minha mente.
— Como você vai para Nova York?
— No jatinho da empresa. Por quê?
— Só queria saber se você iria no Charlie Tango. — Minha voz sai baixa e um arrepio desce pela minha espinha.
Eu me lembro da última vez que ele voou nesse helicóptero. Uma onda de náusea me atinge quando me recordo das horas tensas que passei à espera de notícias. Deve ter sido o momento mais difícil da minha vida. Noto que a Sra. Jones também ficou imóvel. Tento descartar esse pensamento.
— Eu não poderia ir a Nova York no Charlie Tango. Ele não tem autonomia para um voo desses. Além disso, os engenheiros só vão liberá-lo daqui a duas semanas.
Graças aos céus. Meu sorriso é em parte de alívio, mas também de satisfação em saber que o desaparecimento do Charlie Tango ocupou grande parte da atenção e do tempo de Christian ao longo das últimas semanas.
— Bem, fico feliz que o conserto esteja quase pronto, mas…
Paro de falar. Será que posso lhe contar que vou ficar muito nervosa da próxima vez que ele entrar naquele helicóptero?
— O que foi? — pergunta ele, terminando o omelete.
Dou de ombros.
— Ana? — insiste ele, dessa vez mais firme.
— Eu só… Você sabe. Da última vez que você voou nele… Eu pensei… todos pensamos… que você tinha… — Não consigo terminar a frase, e a expressão de Christian se suaviza.
— Ei. — Ele acaricia meu rosto com as costas dos dedos. — Aquilo foi sabotagem.
Uma expressão sombria cruza seu rosto, e por um momento me pergunto se ele sabe quem foi o responsável.
— Eu não aguentaria perder você — murmuro.
— Cinco pessoas foram demitidas por causa daquilo, Ana. Não vai acontecer de novo.
— Cinco?
Ele confirma com a cabeça, a expressão séria.
Caramba!
— Isso me lembra uma coisa. Tem uma arma na sua gaveta.
Ele franze a testa diante do meu comentário fora de propósito e, provavelmente, também pelo meu tom acusatório, embora não fosse essa a minha intenção.
— É da Leila — diz ele finalmente.
— Está completamente carregada.
— Como você sabe? — Ele franze ainda mais a testa.
— Eu vi ontem.
Ele me olha zangado.
— Não quero você mexendo com armas. Espero que tenha colocado de volta a trava de segurança.
Fico sem reação por um momento, estupefata.
— Christian, aquele revólver não tem trava de segurança. Você não entende nada de armas?
Seus olhos se arregalam.
— Hã… Não.
Taylor tosse discretamente à entrada. Christian assente com a cabeça para ele.
— Temos que ir — diz Christian.
Ele se levanta, distraído, e veste o paletó cinza. Vou atrás dele pelo corredor.
Ele está com a arma da Leila. Estou chocada com essa novidade, e me pergunto rapidamente o que terá acontecido com ela. Será que ainda está em… onde é mesmo? Algum lugar no leste. New Hampshire? Não consigo me lembrar.
— Bom dia, Taylor — diz Christian.
— Bom dia, Sr. e Sra. Grey.
Ele nos cumprimenta com um aceno de cabeça, mas toma o cuidado de não me olhar nos olhos. Fico aliviada, lembrando de como estava pouco coberta quando esbarramos um com o outro ontem à noite.
— Vou só escovar os dentes — murmuro.
Christian sempre escova os dentes antes do café da manhã. Não entendo por quê.
* * *
— VOCÊ DEVERIA PEDIR ao Taylor para ensiná-lo a atirar — digo quando estamos no elevador. Christian me encara com um ar de quem acha graça.
— Deveria, é? — diz ele secamente.
— Sim.
— Anastasia, eu tenho desprezo por armas. Minha mãe cuidou de muitas vítimas de crimes com armas de fogo e meu pai condena veementemente as armas. Eu cresci imbuído desse espírito. Ajudo pelo menos duas iniciativas para o controle de armas aqui em Washington.
— Ah. O Taylor anda armado?
Ele pressiona os lábios.
— Às vezes.
— Você não aprova? — pergunto, enquanto Christian me apressa para fora do elevador ao chegarmos ao térreo.
— Não — diz ele, os lábios cerrados. — Digamos que eu e o Taylor temos visões muito diferentes no que diz respeito ao controle de armas.
Estou com o Taylor nessa.
Christian abre a porta da entrada para mim e eu me dirijo para o carro. Ele não me deixa ir sozinha para a SIP desde que descobriu que o Charlie Tango foi sabotado. Sawyer sorri com simpatia, segurando a porta aberta para Christian e eu entrarmos no carro.
— Por favor. — Pego a mão de Christian.
— Por favor o quê?
— Aprenda a atirar.
Ele revira os olhos.
— Não. Discussão encerrada, Anastasia.
E mais uma vez sou uma criança sendo repreendida. Abro a boca para dizer algo cortante, mas decido que não quero começar meu dia de trabalho de mau humor. Em vez disso, cruzo os braços e vejo Taylor me observando pelo espelho retrovisor. Ele parece absorto, concentrado na rua à sua frente, mas balança a cabeça um pouco, numa frustração óbvia.
Hmm… Ele também fica enlouquecido com Christian às vezes. Esse pensamento me faz sorrir, e meu bom humor está salvo.
— Onde está a Leila? — pergunto, enquanto Christian olha para fora pela janela.
— Já falei. Está em Connecticut com os pais. — Ele me olha de relance.
— Você verificou isso? Afinal, ela tem cabelo comprido. Poderia ser ela dirigindo o Dodge.
— Sim, eu verifiquei. Ela está matriculada numa escola de artes em Hamden. Começou esta semana.
— Você falou com ela? — sussurro, e meu rosto fica lívido.
Christian vira a cabeça rapidamente ao ouvir o tom da minha voz.
— Não. Foi o Flynn. — Ele investiga meu rosto à procura de uma pista para meus pensamentos.
— Entendi — murmuro, aliviada.
— O quê?
— Nada.
Christian suspira.
— Ana. O que foi?
Dou de ombros, não querendo admitir meu ciúme irracional.
Christian continua:
— Estou de olho nela, para ter certeza de que ela está do outro lado do país. Ela está melhor, Ana. Flynn a encaminhou para um psiquiatra em New Haven, e todos os relatórios têm sido bem positivos. Ela sempre se interessou por artes, então…
Ele para, o rosto ainda perscrutando o meu. E nesse momento eu suspeito de que ele esteja pagando pelas aulas de artes dela. Será que eu quero saber? Será que devo perguntar? Não é que ele não possa fazer isso, mas por que ainda se sente na obrigação? Suspiro. A bagagem de Christian nem se compara ao Bradley Kent, da aula de biologia, com suas tentativas fajutas de me beijar. Christian pega minha mão.
— Não fique pensando nisso, Anastasia — murmura ele, e eu retribuo seu gesto tranquilizador. Sei que ele está fazendo o que acha certo.
* * *
NO MEIO DA MANHÃ, tenho um intervalo entre as reuniões. Quando pego o telefone para ligar para Kate, noto um e-mail novo de Christian.
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De: Christian Grey
Assunto: Elogios
Data: 23 de agosto de 2011 09:54
Para: Anastasia Grey
Sra. Grey,
Recebi três elogios ao meu novo corte de cabelo.
Ser elogiado pelos meus funcionários é algo novo para mim. Deve ser o sorriso ridículo que aparece no meu rosto sempre que eu me lembro de ontem à noite. Você é, sem dúvida, uma mulher linda, talentosa e maravilhosa.
E toda minha.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Eu me derreto lendo isso.
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De: Anastasia Grey
Assunto: Tentando me concentrar aqui
Data: 23 de agosto de 2011 10:48
Para: Christian Grey
Sr. Grey,
Estou tentando trabalhar e não quero ser distraída por lembranças deliciosas.
Agora é a hora de confessar que eu costumava cortar o cabelo do Ray regularmente? Não tinha ideia de que seria tão útil.
E sim, eu sou sua, e você, meu marido querido e autoritário, que se recusa a exercitar seu direito constitucional, de acordo com a Segunda Emenda, de portar arma de fogo, é meu. Mas não se preocupe, eu vou protegê-lo. Sempre.
Anastasia Grey
Editora, SIP
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De: Christian Grey
Assunto: Annie Oakley
Data: 23 de agosto de 2011 10:53
Para: Anastasia Grey
Sra. Grey,
Estou encantado de ver que você falou com o depto. de TI e trocou o seu nome. :D
Dormirei em segurança na minha cama sabendo que minha esposa armada dorme ao meu lado.
Christian Grey
CEO & Hoplofóbico, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Hoplofóbico? Que diabo é isso?
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De: Anastasia Grey
Assunto: Palavras compridas
Data: 23 de agosto de 2011 10:58
Para: Christian Grey
Sr. Grey,
Mais uma vez o senhor me confunde com sua destreza linguística.
Na verdade, sua destreza em geral, e eu acho que o senhor sabe do que estou falando.
Anastasia Grey
Editora, SIP
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De: Christian Grey
Assunto: Opa!
Data: 23 de agosto de 2011 11:01
Para: Anastasia Grey
Sra. Grey,
Está flertando comigo?
Christian Grey
CEO Chocado, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Grey
Assunto: Você preferiria…
Data: 23 de agosto de 2011 11:04
Para: Christian Grey
… que eu flertasse com outra pessoa?
Anastasia Grey
Editora Corajosa, SIP
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De: Christian Grey
Assunto: Grrrrr
Data: 23 de agosto de 2011 11:09
Para: Anastasia Grey
NÃO!
Christian Grey
CEO Possessivo, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Grey
Assunto: Uau…
Data: 23 de agosto de 2011 11:14
Para: Christian Grey
Você está rosnando para mim? Porque isso meio que dá tesão.
Anastasia Grey
Editora se contorcendo (no bom sentido), SIP
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De: Christian Grey
Assunto: Cuidado
Data: 23 de agosto de 2011 11:16
Para: Anastasia Grey
Flertando e brincando comigo, Sra. Grey?
Talvez eu lhe faça uma visita hoje à tarde.
Christian Grey
CEO Priápico, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Grey
Assunto: Ah, não!
Data: 23 de agosto de 2011 11:20
Para: Christian Grey
Vou me comportar. Não quero o chefe do chefe do meu chefe em cima de mim no trabalho. ;)
Agora me deixe trabalhar. O chefe do chefe do meu chefe pode me dar um pé na bunda.
Anastasia Grey
Editora, SIP
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De: Christian Grey
Assunto: &*%$&*&*
Data: 23 de agosto de 2011 11:23
Para: Anastasia Grey
Pode acreditar que tem muitas coisas que ele gostaria de fazer com a sua bunda agora. Mas não com o pé.
Christian Grey
CEO & Fanático por Bundas, Grey Enterprises Holdings, Inc.
A resposta dele me faz rir.
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De: Anastasia Grey
Assunto: Vá embora!
Data: 23 de agosto de 2011 11:26
Para: Christian Grey
Você não tem um império para administrar?
Pare de me atrapalhar.
Tenho uma reunião agora.
Achei que você preferisse peitos…
Pense na minha bunda e eu penso na sua…
Amo vc. Bj.
Anastasia Grey
Editora Agora Molhadinha, SIP
Não consigo evitar um ar deprimido quando Sawyer me leva para o trabalho na quinta. A ameaça da viagem de Christian a Nova York a negócios se concretizou e, embora ele tenha partido há apenas algumas horas, já sinto saudades. Ligo o computador e tem um e-mail me esperando. Fico mais animada imediatamente.
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De: Christian Grey
Assunto: Já com saudades
Data: 25 de agosto de 2011 04:32
Para: Anastasia Grey
Sra. Grey,
Você estava encantadora esta manhã.
Comporte-se enquanto eu estiver fora.
Amo você.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Esta será a primeira noite em que dormiremos separados desde o casamento. Pretendo me encontrar com Kate para tomar uns drinques — que vão me ajudar a dormir. Impulsivamente, respondo o e-mail, mesmo sabendo que ele ainda está no avião.
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De: Anastasia Grey
Assunto: Comporte-se!
Data: 25 de agosto de 2011 09:03
Para: Christian Grey
Avise quando pousar — até lá vou ficar preocupada.
E vou me comportar. Afinal, que tipo de besteira eu posso fazer ao lado de Kate?
Anastasia Grey
Editora, SIP
Clico em “enviar” e dou um gole no meu café com leite, cortesia da Hannah. Quem diria que um dia eu adoraria café? Apesar de ter combinado de sair à noite com Kate, sinto como se uma parte de mim estivesse faltando. Uma parte que no momento se encontra a trinta e cinco mil pés de altura, a caminho de Nova York. Não pensei que eu fosse me sentir assim tão insegura e ansiosa só porque Christian está longe. Tenho certeza de que com o tempo vou deixar de sentir essa perda e insegurança, não é? Deixo escapar um suspiro pesado e continuo meu trabalho.
Quase na hora do almoço, começo a checar obsessivamente meus e-mails e meu BlackBerry por uma mensagem. Cadê ele? Será que chegou bem? Hannah pergunta se eu quero almoçar, mas estou muito apreensiva, então a dispenso. Sei que é irracional, mas preciso ter certeza de que ele chegou são e salvo.
O telefone da minha sala toca, assustando-me.
— Ana St… Ana Grey.
— Oi. — A voz de Christian é calorosa e traz um traço de divertimento. O alívio me percorre.
— Oi. — Estou sorrindo de orelha a orelha. — Como foi o voo?
— Longo. O que você e a Kate vão fazer hoje?
Ah, não.
— Só vamos sair para relaxar, tomar alguma coisa.
Christian não fala nada.
— Sawyer e a mulher nova, Prescott, também vão, para garantir nossa segurança — acrescento, numa tentativa de apaziguá-lo.
— Achei que a Kate fosse lá em casa.
— Ela prefere dar uma saída rápida. — Por favor, deixe-me sair!
Christian suspira pesadamente.
— Por que você não me falou? — pergunta ele, em voz baixa. Muito baixa.
Protesto mentalmente.
— Christian, vamos ficar bem. O Ryan, o Sawyer e a Prescott estão aqui. É só uma saída rápida.
Christian permanece em resoluto silêncio, e eu sei que ele não está feliz.
— Eu a vi poucas vezes desde que nós estamos juntos. Por favor. Ela é a minha melhor amiga.
— Ana, eu não quero afastar você dos seus amigos. Mas pensei que ela fosse lá em casa.
— Tudo bem — eu cedo. — Vamos ficar em casa.
— Só enquanto aquele lunático está solto. Por favor.
— Eu já disse que sim — murmuro, exasperada, e reviro os olhos com impaciência.
Christian bufa de leve no telefone.
— Eu sempre sei quando você está revirando os olhos para mim.
Faço uma careta para o telefone.
— Olha, me desculpe. Eu não queria preocupar você. Vou falar com a Kate.
— Ótimo — diz ele, com evidente alívio. Sinto-me culpada por preocupá-lo.
— Onde você está?
— Na pista do JFK.
— Ah, então você acabou de pousar.
— Sim. Você pediu para eu ligar assim que pousasse.
Sorrio. Meu inconsciente me encara com ar de desdém. Viu? Ele faz o que promete.
— Bem, Sr. Grey, pelo menos um de nós dois é escrupuloso.
Ele ri.
— Sra. Grey, seu dom para hipérboles não conhece limites. O que vou fazer com você?
— Tenho certeza de que você vai pensar em algo criativo. Você é bom nisso.
— Você está flertando comigo?
— Estou.
Sinto-o sorrir.
— É melhor eu ir. Ana, faça o que lhe pedirem, por favor. A equipe de segurança sabe o que faz.
— Pode deixar, Christian, vou fazer. — Soo exasperada de novo. Tudo bem, já entendi.
— A gente se vê amanhã à noite. Ligo mais tarde.
— Para me vigiar?
— Isso.
— Ora, por favor, Christian! — exclamo, repreendendo-o.
— Au revoir, Sra. Grey.
— Au revoir, Christian. Amo você.
Ele inspira com força.
— Também amo você, Ana.
Nenhum de nós dois desliga.
— Desligue, Christian — sussurro.
— Mas que mandona que você é!
— Você é que é mandão.
— Minha. — Ele suspira. — Faça o que lhe pedirem. Desligue.
— Sim, senhor.
Desligo o telefone e sorrio estupidamente.
Alguns minutos depois, um e-mail aparece na minha caixa de entrada.
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De: Christian Grey
Assunto: Dedos coçando
Data: 25 de agosto de 2011 13:42 LESTE
Para: Anastasia Grey
Sra. Grey,
Você, como sempre, foi muito divertida ao telefone.
É sério. Faça o que mandarem.
Preciso saber que você está segura.
Amo você.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Sinceramente, o mandão é ele. Mas bastou um telefonema e toda a minha tensão desapareceu. Ele chegou bem e está preocupando-se comigo, como de costume. Abraço a mim mesma momentaneamente. Meu Deus, como eu amo esse homem. Então Hannah bate à porta, distraindo-me; trazendo-me de volta para o presente.
* * *
KATE ESTÁ LINDA. Com uma calça jeans branca e justa e uma blusa vermelha, ela está pronta para arrasar. Encontro-a conversando animadamente com Claire na recepção quando entro.
— Ana! — exclama ela, me dando um abraço estilo Kate. Então se afasta um pouco, segurando minhas mãos.
— Veja só quem está parecendo a mulher de um magnata! Quem diria, a pequena Ana Steele? Você está tão… sofisticada!
Ela abre um enorme sorriso. Reviro os olhos em modéstia. Estou usando um vestido creme com um cinto azul-marinho e sapatos de salto alto da mesma cor.
— Que bom ver você, Kate. — E retribuo seu abraço.
— Então, aonde vamos?
— Christian quer que a gente fique em casa.
— Ah, sério? Não podemos fugir para um drinque rápido no Café Zig Zag? Eu reservei uma mesa.
Abro a boca para protestar.
— Por favor… — choraminga ela, e faz um beicinho gracioso.
Kate deve estar pegando essa mania da Mia. Ela normalmente não faz beicinho. Eu realmente gostaria de tomar um drinque no Zig Zag. Foi tão divertido da última vez que fomos lá, e é perto de onde Kate mora.
Levanto o dedo indicador.
— Um.
Ela sorri.
— Um.
Kate me dá o braço e vamos passeando até o carro, que está estacionado no meio-fio, Sawyer ao volante. Somos seguidas pela Srta. Belinda Prescott, que é nova na equipe de segurança — uma mulher alta, negra, com uma postura direta e objetiva. Ainda tenho que quebrar o gelo entre nós, talvez por ela ser tão fria e profissional. Nenhuma decisão foi tomada ainda, mas, assim como os outros da equipe, ela foi escolhida a dedo por Taylor. Prescott está vestida como Sawyer, com um terninho escuro e formal.
— Pode nos levar ao Zig Zag, por favor, Sawyer?
Sawyer se vira para me olhar e eu sei que ele quer dizer alguma coisa. Obviamente recebeu ordens. Ele hesita.
— O Café Zig Zag. Vamos tomar só um drinque.
Dou uma olhadela de lado para Kate: ela está encarando Sawyer com hostilidade. Pobre homem.
— Sim, madame.
— O Sr. Grey solicitou que a senhora voltasse para o apartamento — intromete-se Prescott.
— O Sr. Grey não está aqui — falo rispidamente. — Para o Zig Zag, por favor.
— Madame — replica Sawyer, com um olhar de esguelha para Prescott, que sabiamente segura a língua.
Kate olha pasma para mim, como se não conseguisse acreditar no que vê e ouve. Franzo os lábios e dou de ombros. Tudo bem, então estou sendo um pouco mais assertiva do que eu costumava ser. Kate faz que sim com a cabeça enquanto Sawyer arranca com o carro rumo ao trânsito do início da noite.
— Você sabe que a Grace e a Mia estão enlouquecendo com o reforço na segurança — comenta Kate casualmente.
Olho para ela boquiaberta, pareço estúpida.
— Você não sabia? — Ela parece incrédula.
— Sabia do quê?
— A segurança para todos os Grey foi triplicada. Quadruplicada, até.
— Sério?
— Ele não contou para você?
Fico vermelha.
— Não. — Porra, Christian! — Você sabe por quê?
— Jack Hyde.
— O que tem o Jack? Pensei que ele estivesse atrás só do Christian — exclamo.
Meu Deus. Por que ele não me disse?
— Desde segunda-feira — acrescenta Kate.
Segunda-feira? Hmm… Nós identificamos Jack no domingo. Mas por que todos os Grey?
— Como você sabe de tudo isso?
— Elliot.
Claro.
— Christian não falou nada disso para você, não é?
Fico vermelha mais uma vez.
— Não.
— Ah, Ana, que droga.
Suspiro. Como sempre, Kate enfiou o punhal bem no coração, no seu costumeiro estilo impiedoso de enfiar punhais.
— Você sabe por quê?
Se Christian não vai me contar, talvez Kate conte.
— Elliot disse que tem a ver com alguma informação que foi armazenada no computador do Jack Hyde quando ele trabalhava na SIP.
Droga.
— Você está brincando.
Um surto de raiva cresce dentro de mim. Como a Kate sabe disso e eu não?
Ergo o olhar e vejo Sawyer me observando pelo retrovisor. Então o sinal abre e ele arranca, olhando para a rua à frente. Levo o dedo aos lábios e Kate concorda com a cabeça. Aposto que Sawyer sabe também e eu não.
— Como vai Elliot? — pergunto, para mudar de assunto.
Kate sorri estupidamente, dizendo-me tudo o que eu preciso saber.
Sawyer para ao sair do túnel que leva ao Café Zig Zag, e Prescott abre a porta para mim. Saio do carro e Kate salta atrás de mim. Damos os braços e vagueamos pela passagem, seguidas por Prescott, que está com uma expressão ameaçadora no rosto. Ah, pelo amor de Deus, é só um drinque. Sawyer vai estacionar.
* * *
— E ENTÃO, DE ONDE Elliot conhece a Gia? — pergunto, tomando um gole do meu segundo mojito de morango.
O bar é íntimo e aconchegante e eu não quero ir embora. Kate e eu não paramos de falar. Eu havia esquecido como gosto de estar com ela. É uma sensação libertadora sair, relaxar, aproveitar a companhia da minha amiga. Penso em mandar uma mensagem de texto para Christian, mas descarto a ideia. Ele só vai ficar zangado e me obrigar a ir para casa como uma criança desobediente.
— Não me fale daquela vaca! — solta Kate.
A reação dela me faz rir.
— O que tem de tão engraçado nisso, Steele? — reclama ela, mas sei que é de brincadeira.
— Eu também não gosto dela.
— Ah, é?
— É. Ela ficava toda se jogando em cima do Christian.
— Ela teve um caso com Elliot. — Kate faz bico.
— Não!
Ela confirma com a cabeça, os lábios apertados e o rosto fechado numa carranca Katherine Kavanagh devidamente patenteada.
— Coisa rápida. Ano passado, eu acho. É uma alpinista social. Não me admira que tenha se interessado pelo Christian.
— Christian já tem dona. Eu disse a ela para deixá-lo em paz, ou então não trabalharia mais para mim.
Kate me olha boquiaberta de novo, atordoada. Confirmo com a cabeça, orgulhosa, e ela levanta o copo para fazer um brinde, impressionada e sorridente.
— Sra. Anastasia Grey! Muito bem!
Brindamos.
* * *
— ELLIOT TEM uma arma?
— Não. Ele é totalmente contra. — Kate mexe seu terceiro drinque.
— Christian também. Acho que foi influência de Grace e Carrick — murmuro. Estou me sentindo um pouco tonta.
— Carrick é um homem bom.
— Ele queria um acordo pré-nupcial — murmuro tristemente.
— Ah, Ana. — Ela estende a mão por cima da mesa e pega no meu braço. — Ele só estava protegendo o filho dele. Como nós duas sabemos, está escrito golpe do baú na sua testa. — Ela sorri, e eu mostro a língua para ela, depois dou uma risada.
— Muito maduro, Sra. Grey — diz ela, sorrindo. Parece Christian falando. — Você vai fazer a mesma coisa pelo seu filho um dia.
— Meu filho?
Nunca havia passado pela minha cabeça que meus filhos seriam ricos. Droga. Eles vão ter tudo o que quiserem. Quer dizer… tudo mesmo. Isso exige mais reflexão — mas não agora. Dou uma olhada em Prescott e Sawyer, que estão sentados a uma mesa próxima, diante de copos de água mineral com gás, observando os muitos frequentadores da noite e a nós duas.
— Você acha que devemos comer? — pergunto.
— Não. Devemos beber — diz Kate.
— Por que você está tão a fim de beber?
— Porque quase não vejo mais você. Não imaginei que você fosse se casar com o primeiro cara que virasse a sua cabeça. — Ela faz beicinho de novo. — Sinceramente, você se casou tão rápido que eu pensei que estivesse grávida.
Dou uma risada.
— Todo mundo pensou isso. Mas não vamos voltar a esse assunto. Por favor! E eu preciso ir ao banheiro.
Prescott me acompanha. Ela não fala nada. E não precisa. A desaprovação irradia dela como um gás letal.
— Não saio sozinha desde que me casei — articulo as palavras, sem emitir som, para a porta fechada da cabine.
Faço uma careta, sabendo que ela está do outro lado da porta, esperando eu terminar de fazer xixi. O que exatamente Hyde faria em um bar, aliás? Christian está apenas exagerando, como de costume.
* * *
— KATE, ESTÁ TARDE. É melhor irmos embora.
São dez e quinze e eu acabei com o meu quarto mojito de morango. Estou definitivamente sentindo os efeitos do álcool, sentindo-me tonta e quente. Christian vai ficar bem. No devido tempo.
— Claro, Ana. Foi muito bom ver você. Você parece tão mais, não sei… confiante. Dá para ver que o casamento lhe fez bem.
Sinto meu rosto esquentar. Vindo da Srta. Katherine Kavanagh, isso é um indubitável elogio.
— É verdade — sussurro.
Provavelmente porque eu bebi demais, meus olhos ficam cheios d’água. Eu não poderia estar mais feliz. Apesar de toda a sua bagagem, sua natureza, seus Cinquenta Tons, eu conheci e me casei com o homem dos meus sonhos. Rapidamente mudo de assunto para frear meus pensamentos sentimentais, porque senão eu sei que vou chorar.
— Eu realmente adorei nossa noite. — Pego a mão de Kate. — Obrigada por me arrastar para fora de casa!
Nós nos abraçamos. Quando ela me solta, aceno para Sawyer e ele entrega a Prescott as chaves do carro.
— Tenho certeza de que a Sra. Certinha-Prescott contou ao Christian que eu não estou em casa. Ele vai ficar muito bravo — murmuro para Kate.
E talvez ele pense em alguma maneira deliciosa de me punir… Tomara.
— Por que esse sorriso bobo, Ana? Você gosta de deixar o Christian bravo?
— Não. Na verdade, não. Mas é fácil de acontecer. Ele é muito controlador às vezes. — Na maior parte do tempo.
— Reparei — diz Kate, fazendo uma careta.
* * *
PARAMOS EM FRENTE ao prédio de Kate. Ela me abraça forte.
— Não vire uma estranha — sussurra ela, e me dá um beijo na bochecha.
Então ela sai do carro. Eu dou tchau, estranhamente com saudade de casa. Estava sentindo falta de conversas femininas. É divertido, relaxante e me faz lembrar que ainda sou jovem. Preciso me esforçar para ver Kate mais vezes, mas a verdade é que eu adoro ficar na minha bolha com Christian. Ontem à noite fomos a um jantar de caridade juntos. Havia um monte de homens de terno e mulheres elegantes e arrumadas falando sobre preços de imóveis, a economia em declínio e sobre a queda da bolsa de valores. Ou seja, foi um saco, um saco mesmo. Então é revigorante trocar confidências com alguém da minha idade.
Meu estômago ronca. Ainda não comi. Merda — Christian! Mexo na minha bolsa e pesco meu BlackBerry. Droga — cinco ligações perdidas! Uma mensagem…
*ONDE VOCÊ SE METEU?*
E um e-mail.
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De: Christian Grey
Assunto: Furioso. Você ainda não me viu furioso
Data: 26 de agosto de 2011 00:42 LESTE
Para: Anastasia Grey
Anastasia,
Sawyer me disse que você está tomando drinques em um bar, sendo que você disse que não iria.
Tem alguma ideia de como estou aborrecido no momento?
Vejo você amanhã.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Meu ânimo desaba. Ah, merda! Estou realmente encrencada. Meu inconsciente me encara com frieza e depois dá de ombros, adotando sua expressão de você-pediu-agora-aguenta. O que eu esperava? Considero a ideia de ligar para Christian, mas é tarde e ele provavelmente está dormindo… ou andando de um lado para o outro. Decido que uma mensagem rápida é o suficiente.
*AINDA ESTOU INTEIRA. TIVE UMA NOITE ÓTIMA.
SAUDADES — POR FAVOR, NÃO FIQUE ZANGADO*
Fico olhando para o BlackBerry, desejando que ele responda, mas só há um silêncio abominável. Suspiro.
Prescott para em frente ao Escala e Sawyer sai para abrir a porta para mim. Enquanto estamos parados esperando o elevador, aproveito a oportunidade para interrogá-lo.
— A que horas o Christian telefonou?
Sawyer fica vermelho.
— Por volta das nove e meia, madame.
— Por que você não interrompeu minha conversa com Kate para que eu pudesse falar com ele?
— O Sr. Grey pediu que eu não fizesse isso.
Aperto os lábios. O elevador chega e subimos em silêncio. Subitamente sinto alívio por Christian ter uma noite inteira para se recuperar do seu acesso de raiva e por estar do outro lado do país. Isso me dá algum tempo. Por outro lado… sinto saudades dele.
A porta do elevador se abre e por um segundo eu contemplo a mesa do hall de entrada.
O que está errado nessa cena?
O vaso de flores está quebrado em pedaços por todo o chão, água, flores e pedaços de porcelana espalhados por todo lado, e a mesa está de cabeça para baixo. Meu couro cabeludo formiga; Sawyer agarra meu braço e me puxa de volta para o elevador.
— Fique aqui — sussurra ele, pegando uma arma.
Ele entra no hall e desaparece do meu campo de visão.
Eu me escondo no fundo do elevador.
— Luke! — ouço Ryan chamar do salão. — Código azul!
Código azul?
— Você pegou o invasor? — Sawyer grita de volta. — Santo Deus!
Eu me aperto contra a parede do elevador. O que está acontecendo? A adrenalina percorre meu corpo e meu coração ameaça sair pela boca. Ouço vozes suaves, e, um minuto depois, Sawyer reaparece no hall, parado na poça d’água. Seu revólver está no coldre.
— Pode entrar agora, Sra. Grey — diz ele gentilmente.
— O que aconteceu, Luke? — É um fiapo de voz que sai da minha boca.
— Tivemos visita.
Ele me segura pelo cotovelo, e fico agradecida pelo apoio: minhas pernas viraram gelatina. Passamos juntos pelas portas duplas, já abertas.
Ryan está parado na entrada do salão. Tem um corte aberto no supercílio, sangrando, e outro na boca. Ele está bem acabado, as roupas amarfanhadas. Mas o mais chocante é ver Jack Hyde caído aos seus pés.