CONHEÇA O CINQUENTA TONS

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Segunda-feira, 9 de maio de 2011

—Amanhã — murmuro, dispensando Claude Bastille, que está à porta do meu escritório.

— Golfe esta semana, Grey?

Bastille abre um sorriso arrogante, contando como certa sua vitória no golfe.

Faço uma careta quando ele vira as costas e sai. Suas últimas palavras colocam sal nas minhas feridas, porque, apesar das minhas heroicas tentativas na academia hoje de manhã, meu personal trainer acabou comigo. Bastille é o único que pode me vencer, e agora ele quer me maltratar mais, dessa vez no campo de golfe. Eu detesto golfe, mas tantos negócios são feitos durante as partidas que preciso suportar suas aulas também por lá... E, embora eu odeie admitir, Bastille me ajuda a melhorar meu jogo.

Enquanto contemplo a silhueta de Seattle no horizonte, a conhecida sensação de tédio se instala na minha consciência. Meu estado de espírito está nublado e cinza como o tempo. Meus dias se misturam sem diferença, e eu estou precisando de algum tipo de diversão. Trabalhei o fim de semana inteiro e agora, nos limites contínuos do meu escritório, estou inquieto. Eu não deveria me sentir assim, não depois de várias disputas com Bastille. Mas me sinto.

Franzo o cenho. A verdade é que a única coisa que captou meu interesse recentemente foi minha decisão de mandar dois navios cargueiros para o Sudão. O que me lembra: Ros tem que me trazer os números e as logísticas. Por que raios ela está demorando tanto? Com a intenção de descobrir o que ela está fazendo, verifico a agenda e pego o telefone.

Ah, meu Deus! Tenho que dar uma maldita entrevista para o jornal da WSU, com a persistente Srta. Kavanagh. Por que eu aceitei fazer essa merda? Eu detesto entrevistas — perguntas inúteis vindas de idiotas vazios, mal informados e fúteis. O telefone toca.

— Sim — falo rispidamente com Andrea, como se a culpa fosse dela. Pelo menos posso fazer essa entrevista durar o mínimo possível.

— A Srta. Anastasia Steele está aqui para vê-lo, Sr. Grey.

— Steele? Eu estava esperando Katherine Kavanagh.

— É a Srta. Anastasia Steele que está aqui, senhor.

Faço cara feia. Odeio coisas inesperadas.

— Mande-a entrar — murmuro, sabendo que pareço um adolescente mal-humorado, mas não dou a mínima.

Ora, ora... A Srta. Kavanagh não está disponível. Conheço o pai dela, o proprietário da Kavanagh Media. Já fizemos negócios, e ele parece um empresário sagaz e um ser humano racional. Essa entrevista é um favor que estou prestando a ele — que vou cobrar mais tarde quando precisar. E devo admitir que fiquei vagamente curioso quanto à filha, interessado em ver se ela conseguiu fugir às feições do pai.

Uma agitação na porta me traz de volta à Terra quando um redemoinho de longos cabelos castanhos, braços pálidos e botas marrons mergulham de cabeça no meu escritório. Reviro os olhos e reprimo meu aborrecimento natural com tanta falta de jeito enquanto corro para a garota que aterrissou de quatro no chão. Segurando-a pelos ombros estreitos, ajudo-a a se levantar.

Olhos claros, de um azul brilhante, e constrangidos encontram os meus e me fazem parar. São de uma cor espetacular — um franco azul-claro —, e, por um horrível momento, acho que ela é capaz de ver dentro de mim. Eu me sinto... exposto. A sensação é desconcertante. Ela tem um rosto pequeno e meigo, que está corado agora, um inocente cor-de-rosa. Eu me pergunto rapidamente se toda a sua pele é desse jeito — perfeita — e como ficaria avermelhada e quente depois de um golpe de vara. Merda. Detenho meus pensamentos devaneadores, com medo da direção que estão tomando. O que é que você está pensando, Grey? Essa garota é muito nova. Ela me olha pasma, e quase reviro os olhos de novo. Isso, isso mesmo, é só um rosto, e a beleza é só do lado de fora. Quero afastar o olhar admirador e incauto desses grandes olhos azuis.

Hora do espetáculo, Grey. Vamos nos divertir.

Srta. Kavanagh? Sou Christian Grey. Tudo bem? Gostaria de se sentar?

Lá vem de novo aquele rubor. No controle mais uma vez, eu a examino. Ela é atraente, de uma maneira estranha — frágil, pálida, com uma longa cabeleira cor de mogno mal contida por um elástico de cabelo. Sim, é atraente. Estendo a mão e ela gagueja o começo de um pedido de desculpas envergonhado e coloca sua pequena mão na minha. Sua pele é fria e macia, mas o aperto de mãos é surpreendentemente firme.

— A Srta. Kavanagh está indisposta, e me mandou no lugar dela. Espero que não se importe, Sr. Grey. — Sua voz é baixa e hesitante, e ela pisca erraticamente, os longos cílios vibrando sobre os grandes olhos azuis.

Incapaz de esconder o divertimento na minha voz, pois me lembro da sua entrada pouco elegante na minha sala, pergunto quem é ela.

— Anastasia Steele. Estudo Literatura Inglesa com Kate, hum... Katherine... hum... a Srta. Kavanagh, na WSU em Vancouver.

Um tipo nervoso, tímido e estudioso, hein? É o que parece; terrivelmente malvestida, escondendo sua estrutura pequena embaixo de um suéter disforme e uma saia evasé marrom. Minha nossa, ela não tem nenhum senso de moda? Ela olha nervosamente ao redor — para toda parte do meu escritório menos para mim, noto com ironia, achando graça.

Como essa jovem pode ser jornalista? Ela não tem um único osso assertivo no corpo. É charmosamente estabanada, meiga, suave... submissa. Balanço a cabeça, surpreso com a direção de meus pensamentos. Murmurando alguma banalidade, convido-a a se sentar, e então percebo que ela admira compenetrada os quadros da minha sala. Antes que eu possa me deter, forneço uma explicação sobre eles.

— Um artista local. Trouton.

— São lindos. Tornam extraordinário um objeto comum — diz ela sonhadoramente, perdida no belo e requintado trabalho artístico dos meus quadros. Seu perfil é delicado: nariz arrebitado, lábios macios e cheios, e nas suas palavras ela expressou exatamente os meus sentimentos. “Tornam extraordinário um objeto comum.” É uma observação perspicaz. A Srta. Steele é inteligente.

Balbucio algo em concordância e observo aquele rubor surgir devagar na sua pele, mais uma vez. Quando me sento do lado oposto ao dela, tento controlar meus pensamentos.

Ela pesca uma folha de papel amassada e um gravador digital da bolsa excessivamente grande. Gravador? Isso não acabou junto com as fitas VHS? Caramba — ela se atrapalha com os polegares, deixando aquela coisa cair duas vezes na minha mesinha Bauhaus. Fica óbvio que nunca fez isso antes, mas, por alguma razão que não consigo entender, acho engraçado. Normalmente esse tipo de falta de jeito me irrita muito, mas agora escondo meu sorriso sob o dedo indicador e resisto à vontade de eu mesmo ajeitar o gravador para ela.

Enquanto ela fica cada vez mais atrapalhada, ocorre-me que eu poderia aperfeiçoar sua coordenação motora com a ajuda de um chicote. Usado com eficiência, um chicote pode deixar até a mais nervosa das mulheres de joelhos. Esse pensamento me faz mudar de posição na cadeira, um tanto desconfortável. Ela olha para cima e morde o lábio inferior. Porra! Como eu não notei essa boca antes?

— Desculpe, não estou acostumada com isso.

Posso perceber — meu pensamento é irônico —, mas no momento não dou a mínima, porque não consigo parar de olhar para a sua boca.

Não tenha pressa, Srta. Steele.

Preciso de um momento para controlar minha mente. Grey... pare com isso.

— O senhor se incomoda se eu gravar a entrevista? — pergunta ela, o rosto demonstrando franqueza e expectativa.

Tenho vontade de rir. Ah, pelo amor de Deus.

Depois de todo esse esforço para configurar o gravador, é agora que me pergunta?

Ela pisca várias vezes, os olhos bem abertos e desnorteados por um instante, e sinto uma atípica pontada de culpa. Deixe de ser babaca, Grey.

— Não, não me importo — murmuro, tentando me livrar desse olhar.

— Kate, quer dizer, a Srta. Kavanagh... explicou-lhe para o que era a entrevista?

— Sim. Para sair na edição de formatura do jornal da faculdade, já que eu vou entregar os diplomas na cerimônia de graduação deste ano.

Por que eu fui concordar com isso, não sei. Sam, o RP, me disse que era uma honra, e que o Departamento de Ciências Ambientais de Vancouver precisava da publicidade a fim de atrair uma verba extra para igualar a doação que eu fiz para eles.

A Srta. Steele pisca seus grandes olhos azuis, como se minhas palavras fossem uma surpresa, e — merda — parece desaprovar o que eu disse! Será que ela não fez nenhuma pesquisa antes da entrevista? Ela deveria saber disso. Esse pensamento esfria o meu sangue. É... desagradável; não é o que eu espero dela nem de nenhuma outra pessoa a quem eu ceda meu tempo.

— Ótimo. Tenho algumas perguntas, Sr. Grey.

Ela prende uma mecha de cabelo atrás da orelha, distraindo-me do meu aborrecimento.

— Achei que poderia ter — murmuro secamente.

Vamos fazê-la se contorcer. Como se adivinhasse, ela se contorce, depois se recompõe, sentando-se ereta e ajeitando os ombros estreitos. Inclinando-se para a frente, ela pressiona o botão de “gravar” e franze o cenho quando olha para suas anotações amarrotadas.

— O senhor é muito jovem para ter construído um império deste porte. A que deve seu sucesso?

Ah, meu Deus! Será que ela não consegue fazer melhor do que isso? Que pergunta mais enfadonha, porra. Nem um pingo de originalidade. É decepcionante. Dou minha resposta habitual, de que tenho excelentes pessoas nos Estados Unidos trabalhando para mim. Pessoas em quem confio, presumindo que confio em alguém, e pago bem — blá-blá-blá... Mas, Srta. Steele, a verdade é que eu sou um puta de um gênio no que faço. Para mim, é tão fácil como roubar doce de criança. Comprar empresas mal administradas e com problemas e consertá-las ou, se estiverem realmente quebradas, separar seus ativos e vendê-los pela melhor oferta. É simplesmente uma questão de saber a diferença entre as duas coisas, e, invariavelmente, a questão se resume às pessoas que estão no comando dessas empresas. Para se ter sucesso nos negócios, você precisa de profissionais eficientes, e eu sei julgar bem as pessoas, melhor do que a maioria.

— Quem sabe o senhor simplesmente tenha sorte — diz ela calmamente.

Sorte? Um arrepio de aborrecimento me percorre. Sorte? Não tem porra nenhuma de sorte envolvida aqui, Srta. Steele. Ela parece despretensiosa e tranquila, mas essa pergunta! Ninguém nunca me perguntou se eu tive sorte. Trata-se de um trabalho árduo, trazer pessoas para trabalharem comigo, mantê-las em rédea curta, fazer um segundo julgamento sobre elas se for preciso; e, se não forem capazes de realizar suas tarefas, livrar-me delas de maneira implacável. É isso o que eu faço, e faço bem. Não tem nada a ver com sorte. Ah, que se foda. Exibindo erudição, menciono as palavras do meu empresário americano preferido.

— O senhor fala como um maníaco por controle — diz ela, totalmente séria.

Como é que é?

Talvez esses olhos sem malícia possam mesmo ver dentro de mim. Controle é meu sobrenome.

Olho para ela com frieza.

— Ah, eu controlo tudo, Srta. Steele. — E gostaria de controlá-la agora.

Os olhos dela se arregalam. Aquele lindo rubor toma seu rosto de novo, e ela morde o lábio mais uma vez. Continuo falando desconexamente, tentando me distrair da visão da sua boca.

— Além do mais, é possível conquistar um imenso poder quando nos convencemos, em nossos devaneios mais secretos, que nascemos para controlar.

— Acha que possui um imenso poder? — pergunta ela, com uma voz suave e calma, mas arqueia sua delicada sobrancelha, revelando censura nos olhos. Meu aborrecimento cresce. Ela está tentando me irritar? São suas perguntas, sua atitude ou o fato de eu achá-la atraente que estão me deixando irritado?

— Emprego mais de quarenta mil pessoas, Srta. Steele. Isso me dá certo senso de responsabilidade; ou poder, se quiser chamar assim. Se eu resolvesse não me interessar mais por telecomunicações e vendesse minha empresa, em um mês, mais ou menos, vinte mil pessoas teriam dificuldade para pagar suas hipotecas.

Sua boca se abre com a minha resposta. Assim está melhor. Engula essa, Srta. Steele. Sinto meu equilíbrio voltando.

— O senhor não tem um conselho ao qual precise responder?

— A empresa é minha. Não tenho que responder a ninguém — respondo rispidamente.

Ela deveria saber disso. Levanto uma sobrancelha, implicitamente questionando suas capacidades.

— E tem algum interesse fora o trabalho? — continua ela, de forma apressada, julgando minha reação corretamente. Ela sabe que eu estou com raiva, e, por alguma razão inexplicável, isso me satisfaz enormemente.

— Tenho interesses variados, Srta. Steele. Muito variados.

Sorrio. Imagens dela em diversas posições no quarto de jogos cruzam minha mente: algemada, com as pernas abertas na cama de dossel, esticada sobre o banco de açoitamento. Puta que pariu! De onde está vindo isso? E veja — lá está o rubor novamente. É como um mecanismo de defesa. Acalme-se, Grey.

— Mas se trabalha tanto, o que faz para relaxar?

— Relaxar?

Sorrio. Ouvir isso da sua boca inteligente parece estranho. Além do mais, quando é que eu tenho tempo para relaxar? Ela não faz ideia do número de empresas sob o meu controle? Mas ela me encara com aqueles olhos ingênuos e, para minha surpresa, me pego considerando sua pergunta. O que eu faço para relaxar? Velejo, voo, trepo... testo o limite de garotinhas como ela e as faço se ajoelharem... Pensar nisso me faz mudar de posição na cadeira, mas respondo a pergunta gentilmente, omitindo meus dois hobbies preferidos.

— O senhor investe no setor manufatureiro. Por quê, especificamente?

Sua pergunta me traz rudemente de volta ao presente.

— Gosto de construir coisas. Gosto de saber como funcionam: o que faz com que funcionem, como construí-las e desconstruí-las. E tenho adoração por navios. O que mais posso dizer?

Eles distribuem comida pelo planeta — levam bens dos que têm para os que não têm, e então retornam. Como não gostar?

— Parece que é o seu coração falando e não a lógica e os fatos.

Coração? Eu? Não. Meu coração foi maltratado ao máximo há muito tempo, tendo ficado irreconhecível.

— É possível. Embora muitas pessoas digam que eu não tenho coração.

— Por que diriam isso?

— Porque me conhecem bem.

Dou um sorriso oblíquo. Na verdade, ninguém me conhece tão bem, exceto Elena. O que será que ela diria da pequena Srta. Steele aqui? Essa garota é um poço de contradições: tímida, inquieta, obviamente inteligente e provocante de doer. Sim, tudo bem, eu admito. Ela é realmente atraente.

Ela faz a próxima pergunta mecanicamente:

— Seus amigos diriam que é fácil conhecê-lo?

— Sou uma pessoa muito fechada, Srta. Steele. Esforço-me muito para proteger minha privacidade. Não dou muitas entrevistas… — Fazendo o que faço, levando a vida que escolhi, preciso de privacidade.

— Por que aceitou dar esta?

— Porque sou benemérito da universidade e, em termos práticos, não consegui me livrar da Srta. Kavanagh. Ela não parou de importunar meu pessoal de relações públicas, e eu admiro esse tipo de tenacidade. — Mas estou feliz por você ter vindo, e não ela.

— O senhor também investe em tecnologias agrícolas. Por que se interessa por essa área?

— Não podemos comer dinheiro, Srta. Steele, e há muita gente neste planeta que não tem o que comer. — Eu a encaro com uma expressão indecifrável.

— Essa justificativa soa muito filantrópica. É algo que o torna passional? Alimentar os pobres do mundo?

Ela me fita com uma expressão inquisitiva, como se eu fosse um tipo de enigma que precisasse decifrar, mas não quero que esses grandes olhos azuis vejam minha alma sinistra. Não é uma área aberta a discussão. Jamais.

— É um negócio inteligente.

Dou de ombros, fingindo enfado, e imagino como deve ser foder sua boca inteligente para me distrair de todos os pensamentos sobre fome. Sim, essa boca precisa de treino. Este sim é um pensamento atraente, e me permito imaginá-la de joelhos na minha frente.

— O senhor tem uma filosofia? Caso tenha, qual é? — pergunta ela, mais uma vez mecanicamente.

— Não tenho uma filosofia propriamente dita. Talvez alguns princípios orientadores. Como diz Carnegie: “O homem que adquire a habilidade de tomar posse completa da própria mente, pode tomar posse de qualquer coisa a que tenha direito.” Sou muito singular, ambicioso. Gosto de controlar, a mim e a quem me cerca.

— Então gosta de possuir coisas? — Seus olhos se abrem mais.

Sim. Você, por exemplo.

Quero merecer possuí-las, mas sim, em resumo, eu gosto.

— O senhor parece ser um consumidor voraz.

Sua voz transborda desaprovação, irritando-me novamente. Ela fala como uma garota rica que sempre teve o que quis, porém, olhando mais atentamente para suas roupas — Walmart, ou talvez Old Navy —, sei que não é.

Eu realmente poderia cuidar de você.

Merda, de onde veio isso? Mas, pensando bem, estou mesmo precisando de uma nova submissa. Já faz... o quê?... dois meses desde Susannah? E aqui estou eu, salivando por essa garota de cabelo castanho. Tento um sorriso e concordo com ela. Não há nada de errado com o consumo — afinal, é ele que conduz o que sobrou da economia americana.

— O senhor foi adotado. Até que ponto acha que isso moldou sua maneira de ser?

O que isso tem a ver com o preço do petróleo, cacete? Faço cara de desgosto. Que pergunta ridícula. Se eu tivesse ficado com a prostituta drogada, provavelmente estaria morto. Dou uma resposta vaga, tentando não alterar o tom da minha voz, mas ela insiste, perguntando quantos anos eu tinha quando fui adotado. Cale a boca dessa garota, Grey!

Isso é assunto de domínio público, Srta. Steele. — Minha voz é glacial. Ela deveria saber isso. Agora parece arrependida. Ótimo.

— O senhor teve que sacrificar a vida familiar por causa do trabalho.

— Isso não é uma pergunta — retruco rispidamente.

Ela enrubesce de novo e morde aquele maldito lábio. Mas tem a delicadeza de se desculpar.

— O senhor teve que sacrificar a família por causa do trabalho?

Que me importa a porra de uma família?

Eu tenho uma família. Tenho um irmão, uma irmã e pais amorosos. Não tenho interesse em expandir minha família além desse ponto.

— O senhor é gay, Sr. Grey?

Que merda é essa?! Não acredito que ela tenha dito isso em voz alta! A pergunta que minha própria família não ousa, para meu divertimento. Como ela ousa! Tenho que lutar contra a vontade de arrastá-la para fora da cadeira, colocá-la de costas sobre os meus joelhos e arrancar seu couro, e então trepar com ela em cima da minha mesa, com as suas mãos amarradas com força às costas. Isso responderia à pergunta. Como pode esta mulher ser tão frustrante? Respiro fundo para me acalmar. Para meu deleite vingativo, ela parece bastante constrangida com a própria pergunta.

— Não, Anastasia, não sou. — Arqueio as sobrancelhas, mas mantenho a expressão impassível. Anastasia. É um bonito nome. Gosto da maneira como a minha língua se dobra para pronunciá-lo.

— Peço desculpas. Está... hum... escrito aqui. — Nervosa, ela coloca o cabelo atrás da orelha.

Ela não conhece as próprias perguntas? Talvez não tenham sido escritas por ela. Eu lhe questiono isso, e ela fica branca. Puta merda, é uma menina realmente muito atraente, só um pouco apagada. Eu iria mais longe, até: diria que ela é linda.

— Hmm... não. Kate... A Srta. Kavanagh. Ela compilou as perguntas.

— Vocês são colegas no jornal dos alunos?

— Não. Eu divido o apartamento com ela.

Não é de se admirar que esteja tão atrapalhada. Coço o queixo, pensando se devo ou não deixar as coisas bem piores para ela.

— Você se ofereceu para fazer esta entrevista? — indago, e sou recompensado com um olhar submisso: olhos bem abertos, temendo a minha reação. Gosto do efeito que provoco nela.

— Fui convocada. Ela está passando mal — diz, suavemente.

— Isso explica muita coisa.

Alguém bate à porta e Andrea aparece.

— Sr. Grey, desculpe interromper, mas a próxima reunião é em dois minutos.

— Ainda não terminamos aqui, Andrea. Por favor, cancele a próxima reunião.

Andrea olha pasma para mim. Eu a encaro. Fora! Agora! Estou ocupado com a pequena Srta. Steele aqui. Andrea fica rubra, mas se recompõe rapidamente.

— Está bem, Sr. Grey — diz ela, e, virando-se, sai da sala.

Volto minhas atenções para essa criatura intrigante e frustrante no meu sofá.

— Onde estávamos, Srta. Steele?

— Por favor, não quero incomodá-lo.

Ah, não, baby. É a minha vez agora. Quero saber se existem segredos escondidos atrás desses lindos olhos.

— Quero saber sobre você. Acho que é muito justo.

Quando me inclino para trás e pressiono os lábios com os dedos, seus olhos se voltam para minha boca e ela engole em seco. Ah, simo efeito usual. E é gratificante saber que ela não está completamente alheia aos meus encantos.

— Não há muito que saber — diz ela, o rubor voltando. Eu a estou intimidando. Ótimo.

— Quais são seus planos para depois que se formar?

Ela dá de ombros.

— Não fiz planos, Sr. Grey. Só preciso passar nas provas finais.

— Temos um excelente programa de estágios aqui.

Cacete. O que deu em mim para falar isso? Estou quebrando uma regra de ouro — nunca, nunca transar com alguém do trabalho. Mas, Grey, você não está transando com essa garota. Ela parece surpresa, e seus dentes se enterram no lábio inferior novamente. Por que isso é tão excitante?

Ah. Vou me lembrar disso — balbucia ela. Então, pensando melhor, acrescenta: — Apesar de não ter certeza se me encaixaria aqui.

Ora essa, e por que não? O que tem de errado com a minha empresa?

Por que diz isso? — pergunto.

— É óbvio, não é?

— Não para mim. — Fico confuso com a sua resposta.

Ela se afoba de novo ao pegar o gravador. Merda, ela está indo embora. Mentalmente, repasso minha agenda para esta tarde — nada que não possa esperar.

— Gostaria que eu a levasse para conhecer a empresa?

— Tenho certeza de que o senhor é ocupado demais, Sr. Grey, e tenho uma longa viagem pela frente.

— Vai voltar dirigindo para Vancouver? — Olho para fora da janela. É longe à beça, e está chovendo. Merda. Ela não deveria dirigir com esse tempo, mas não posso proibi-la. Pensar nisso me irrita. — Bem, seria melhor dirigir com cuidado. — Minha voz é mais severa do que eu pretendia.

Ela quer ir embora, e, por alguma razão que não sei explicar, não quero que ela se vá.

— Conseguiu tudo de que precisava? — acrescento, em um nítido esforço para fazê-la ficar mais.

— Sim, senhor — responde ela calmamente.

Sua resposta me derruba — a maneira como essas palavras soam, saindo daquela boca inteligente —, e rapidamente imagino aquela boca à minha disposição.

— Obrigada pela entrevista, Sr. Grey.

— O prazer foi meu — respondo.

E é verdade, porque faz muito tempo que não fico fascinado assim por alguém. Esse pensamento me perturba.

Ela se levanta e eu estendo a mão, ansioso para tocá-la.

— Até a próxima, Srta. Steele. — Minha voz é baixa; ela coloca sua pequena mão na minha.

Sim, eu quero chicotear e comer essa garota no quarto de jogos. Tê-la aprisionada e ávida... precisando de mim, confiando em mim. Engulo em seco. Isso não vai acontecer, Grey.

— Sr. Grey. — Ela acena com a cabeça e recolhe logo a mão... rápido demais.

Merda, não posso deixar que ela se vá assim. É evidente que está desesperada para sair daqui. Irritação e inspiração me atingem simultaneamente enquanto a vejo sair.

— Só estou garantindo que passe pela porta, Srta. Steele.

Ela fica corada no ato, seu delicioso tom de rosa.

— É muita consideração sua, Sr. Grey — retruca ela.

A Srta. Steele sabe ser poderosa! Dou um sorriso enquanto ela sai, e então a sigo. Tanto Andrea como Olivia me olham em choque. Sim, sim. Estou apenas levando a garota até a saída.

Você veio de casaco? — pergunto.

— De jaqueta.

Faço cara feia para Olivia, que tem um sorriso bobo no rosto, e ela imediatamente se levanta de um salto para apanhar uma jaqueta azul-marinho. Eu a pego das mãos dela e a olho fixamente, impelindo-a a se sentar. Por Deus, Olivia é irritante — cercando-me o tempo todo.

Hmm. A jaqueta é do Walmart. A Srta. Anastasia Steele deveria se vestir melhor. Eu seguro a jaqueta para ela e, enquanto a coloco sobre seus ombros estreitos, toco a pele da sua nuca. Ela fica imóvel com o contato, e empalidece. Sim! Ela se sente afetada por mim. Saber disso me dá uma imensa satisfação. Indo até o elevador, aperto o botão, e ela fica irrequieta ao meu lado.

Ah, eu poderia acabar com essa inquietação, baby.

As portas se abrem e ela escapa para dentro e depois se vira para me encarar.

— Anastasia — murmuro em despedida.

— Christian — sussurra ela.

E as portas do elevador se fecham, deixando meu nome suspenso no ar, soando estranho e não familiar, mas sensual como os diabos.

Mas que merda. O que foi isso?

Preciso saber mais sobre essa garota.

— Andrea — falo rispidamente ao me dirigir de volta à minha sala —, coloque o Welch na linha comigo, agora.

Sentado à mesa esperando pela ligação, observo as pinturas na parede, e as palavras da Srta. Steele me vêm à mente: “Tornam extraordinário um objeto comum.” Ela poderia facilmente estar descrevendo a si mesma.

Meu telefone toca.

— Estou com o Sr. Welch na linha para o senhor.

— Pode passar.

— Sim, senhor.

— Welch, preciso checar uns antecedentes.

* * *

Sábado, 14 de maio de 2011


Anastasia Rose Steele



Data de nascimento: 10 de setembro de 1989, Montesano, WA Endereço: Rua Green, 1114 SW, apartamento 7,


Haven Heights, Vancouver, WA, 98888 Nº celular: 360 959 4352 Nº identidade: 987-65-4320 Dados bancários: Banco Wells Fargo, Vancouver, WA 98888


Cc: 309361 Saldo: US$ 683,16 Ocupação: Estudante de graduação


WSU — Vancouver


Literatura Inglesa — Especialização em Inglês Avaliação desempenho: Excelente Educação anterior: Colégio Montesano — Ensino médio Pontos no exame SAT: 2150 Trabalho: Loja de Material de Construção Clayton’s,


Estrada Vancouver, Portland, OR


(meio período) Pai: Franklin A. Lambert


Nascimento: 1º de setembro de 1969


falecido em 11 de setembro de 1989 Mãe: Carla May Wilks Adams


Nascimento: 18 de julho de 1970


casou-se com Frank Lambert — 1º de março de 1989,


enviuvou em 11 de setembro de 1989


casou-se com Raymond Steele — 6 de junho de 1990,


divorciou-se em 12 de julho de 2006


casou-se com Stephen M. Morton — 16 de agosto de 2006,


divorciou-se em 31 de janeiro de 2007


casou-se com Robbin (Bob) Adams — 6 de abril de 2009 Filiações políticas: Não encontradas Filiações religiosas: Não encontradas Orientação sexual: Desconhecida Relacionamentos: Nenhuma indicação no presente


Olho para o resumo pela centésima vez desde que o recebi, dois dias atrás, procurando compreender a enigmática Srta. Anastasia Rose Steele. Não consigo tirar essa maldita mulher da cabeça, e isso está começando a me irritar. Durante a última semana, inclusive no meio de reuniões maçantes, me peguei pensando na entrevista. Seus dedos atrapalhados no gravador, a maneira como ela colocava o cabelo atrás da orelha, a mania de morder o lábio. Ah, sim. Aquela porra daquele lábio sendo mordido me persegue o tempo todo.

E agora aqui estou eu, estacionado em frente à Clayton’s, a modesta loja de material de construção no subúrbio de Portland onde ela trabalha.

Você é um idiota, Grey. Por que está aqui?

Eu sabia que ia dar nisso. A semana inteira... Sabia que precisava vê-la de novo. Soube desde que ela disse meu nome no elevador e desapareceu. Tentei resistir. Esperei por cinco dias, cinco malditos dias, para ver se conseguia esquecer. E eu não costumo esperar. Odeio esperar… Nunca efetivamente corri atrás de uma mulher. As mulheres que tive entendiam exatamente o que eu queria delas. Meu medo é que a Srta. Steele seja muito jovem e não esteja interessada no que eu tenho a oferecer... Será? Será que ela daria uma boa submissa? Balanço a cabeça. Só existe uma maneira de descobrir... então aqui estou eu, um idiota, sentado em um estacionamento suburbano numa região sombria de Portland.

Seus antecedentes não tinham nada de notável — exceto pelo último fato, que tem estado em primeiro plano na minha mente. Essa é a razão pela qual estou aqui. Por que não tem namorado, Srta. Steele? Orientação sexual desconhecida — talvez ela seja homossexual. Bufo, achando improvável. Eu me recordo da pergunta que ela fez durante a entrevista, seu grande constrangimento, a maneira como sua pele ficou rosada de rubor... Merda. Estou sofrendo com esses pensamentos ridículos desde que a conheci.

É por isso que você está aqui.

Estou me coçando para vê-la de novo — aqueles olhos azuis vêm me assombrando, mesmo nos meus sonhos. Não a mencionei ao Flynn, e fico feliz por isso, porque estou me comportando como um caçador à espreita. Talvez eu devesse contar a ele. Reviro os olhos — não quero que ele fique me perturbando com aquela baboseira de seguir uma resolução. Preciso apenas de uma distração... e agora a única distração que eu quero trabalha como balconista de uma loja de material de construção.

Você veio até aqui. Vamos ver se a pequena Srta. Steele é tão atraente como você se lembra. Hora do espetáculo, Grey. Salto do carro e me encaminho para a entrada da loja. Um sino produz um som eletrônico monótono quando entro.

A loja é bem maior do que parece por fora, e, embora seja quase hora do almoço, o lugar está vazio para um sábado. Há corredores e mais corredores das bugigangas que se espera de um lugar assim. Eu tinha esquecido as possibilidades que uma loja de material de construção pode apresentar para alguém como eu. Praticamente só compro on-line as coisas de que preciso, mas, enquanto estou aqui, talvez adquira alguns itens... Velcro, argola de chaveiro — Sim. Vou encontrar a deliciosa Srta. Steele e me divertir.

Demoro três segundos para avistá-la. Ela está debruçada sobre o balcão, olhando atentamente para a tela de um computador e comendo seu almoço — um sanduíche. Sem pensar, ela limpa uma migalha de pão no canto dos lábios e a enfia na boca, sugando os dedos. Meu pênis se contorce. Porra! Quantos anos eu tenho, quatorze? Minha reação é irritante pra cacete. Talvez essa resposta adolescente pare se eu a acorrentar, se eu comer e açoitar essa garota... e não necessariamente nessa ordem. É. É disso que eu preciso.

Ela está completamente absorvida na sua tarefa, o que me dá a oportunidade de observá-la. Pensamentos obscenos à parte, ela é atraente, muito atraente. Eu me lembrava bem.

Ela ergue o olhar e congela, fixando em mim seus olhos inteligentes e sagazes — os mais azuis dos azuis, e que parecem ver dentro de mim. É tão desconcertante quanto da primeira vez que a vi. Ela apenas olha, chocada, eu acho, e não sei se essa é uma reação boa ou ruim.

— Srta. Steele. Que surpresa agradável.

— Sr. Grey — sussurra ela, ofegante e nervosa.

Ah... é uma reação boa.

— Eu estava pela área. Preciso me abastecer de algumas coisas. É um prazer tornar a vê-la, Srta. Steele.

Um prazer mesmo. Ela está com uma camiseta justa e calça jeans, e não com aquela merda disforme que vestia no início da semana. O que vejo agora são pernas compridas, cintura fina e seios perfeitos. Ela continua boquiaberta, e tenho que reprimir minha vontade de me aproximar dela e agarrar seu queixo para fechar sua boca. Vim de Seattle só para vê-la, e, pela maneira como você está agora, valeu a pena.

Ana, meu nome é Ana. Em que posso servi-lo, Sr. Grey?

Ela respira profundamente, ajeita os ombros da maneira como fez durante a entrevista e me dá um sorriso falso que com certeza é reservado aos clientes.

E começa o jogo, Srta. Steele.

Estou precisando de alguns artigos. Para começar gostaria de umas braçadeiras de plástico.

Seus lábios se entreabrem quando ela inspira com força.

Você ficaria impressionada com o que eu posso fazer com apenas umas braçadeiras, Srta. Steele.

Temos de vários tamanhos. Posso lhe mostrar?

— Por favor. Vá na frente, Srta. Steele.

Ela sai de trás do balcão e gesticula em direção a um dos corredores. Está de tênis. Distraidamente, imagino como ela ficaria de saltos altíssimos. Louboutins... teria que ser Louboutins.

— Estão na seção de artigos de eletricidade, corredor oito. — Sua voz vacila e ela fica vermelha... de novo.

Ela se sente afetada por mim. A esperança cresce no meu peito. Cadê o gay agora? Dou um sorriso malicioso.

— Vá na frente — murmuro, estendendo a mão para deixá-la guiar o caminho.

Com ela à frente, tenho espaço e tempo para admirar sua bunda fantástica. Ela realmente é um pacote completo: doce, educada e linda, com todos os atributos físicos que eu valorizo em uma submissa. Mas a pergunta que não quer calar é: Será que ela poderia ser uma submissa? Não deve saber nada sobre meu estilo de vida, mas quero muito apresentá-lo a ela. Você está se precipitando, Grey.

— Está em Portland a trabalho? — pergunta ela, interrompendo meus pensamentos. Sua voz é alta, tentando fingir desinteresse. Tenho vontade de rir, o que é animador. As mulheres raramente me fazem rir.

— Eu estava visitando a divisão agrícola da WSU. Fica em Vancouver — minto. Na verdade, estou aqui para ver você, Srta. Steele.

Ela fica vermelha, e eu me sinto um merda.

— No momento, estou financiando umas pesquisas em rotação de culturas e ciência do solo. — Isso, pelo menos, é verdade.

— Tudo parte do seu plano de alimentar o mundo? — Seus lábios se transformam em um meio sorriso.

— Mais ou menos — murmuro.

Ela está rindo de mim? Ah, eu adoraria colocar um fim nisso, se for verdade. Mas como começar? Talvez com um jantar, em vez da entrevista costumeira... Isso sim seria uma novidade: levar uma pretendente para jantar.

Chegamos às braçadeiras, que estão organizadas de acordo com tamanhos e cores. Distraidamente, meus dedos percorrem os pacotes. Eu poderia apenas convidá-la para jantar. Como em um encontro? Será que ela iria? Quando a olho, ela está examinando os próprios dedos. Não consegue olhar para mim... isso é promissor. Escolho as braçadeiras maiores. Afinal, são mais flexíveis — podem acomodar tornozelos e pulsos de uma vez só.

— Estas vão servir — murmuro, e ela ruboriza novamente.

— Mais alguma coisa? — pergunta rapidamente. Ou está sendo superatenciosa ou quer que eu vá logo embora, não sei dizer.

— Eu gostaria de fita adesiva.

— Está fazendo uma reforma?

Reprimo um som de desdém.

— Não, não estou reformando.

Não seguro um pincel há muito tempo. Pensar nisso me faz sorrir; tenho gente para fazer essa porcaria toda.

— Por aqui — murmura ela, parecendo desapontada. — As fitas adesivas ficam no corredor de decoração.

Vamos, Grey. Você não tem muito tempo. Engate uma conversa.

Trabalha aqui há muito tempo?

É claro que já sei a resposta. Ao contrário de outras pessoas, eu pesquiso. Ela cora mais uma vez — caramba, como é tímida. Não tenho a menor chance. Ela se vira rapidamente e segue pelo corredor em direção à seção com uma placa que diz DECORAÇÃO. Eu a sigo, ansioso. Virei o quê, um maldito cachorrinho?

— Quatro anos — balbucia ela quando alcançamos a fita adesiva. Ela se abaixa e pega dois rolos, cada um de uma espessura diferente.

— Vou levar essa — digo.

A mais larga é muito mais eficaz como mordaça. Ao me entregar a fita, as pontas dos nossos dedos se tocam rapidamente, reverberando na minha virilha. Porra!

Ela empalidece.

— Mais alguma coisa? — Sua voz é suave e rouca.

Estou produzindo o mesmo efeito nela que ela produz em mim. Talvez…

— Um pedaço de corda, eu acho.

— Por aqui.

Ela anda pelo corredor, dando-me outra oportunidade de apreciar sua bela bunda.

— De que tipo procura? Temos cordas de fios naturais e sintéticos… barbantes… cabos…

Merdapare. Dou um gemido por dentro, tentando afastar a imagem dela suspensa no teto do quarto de jogos.

— Vou levar quatro metros e meio de corda de fios naturais, por favor.

É mais áspera e arranha mais se você tenta se soltar… sempre uso essa.

Um tremor percorre seus dedos, mas ela mede eficientemente os quatro metros e meio. Puxando uma faca do bolso direito, corta a corda em um único gesto rápido, depois a enrola com cuidado e a prende com um nó. Impressionante.

— Você foi escoteira?

— Atividades organizadas em grupo não são minha praia, Sr. Grey.

— Qual é a sua praia, Anastasia? — Capturo seu olhar, e suas íris se dilatam quando eu a encaro. Sim!

— Livros — sussurra ela.

— Que tipo de livros?

— Ah, você sabe. O normal. Os clássicos. Literatura inglesa, principalmente.

Literatura inglesa? Brontë e Austen, aposto. Todo aquele romantismo. Merda. Isso não é bom.

— Precisa de mais alguma coisa?

— Não sei. O que mais você recomendaria? — Quero ver a reação dela.

— Para um praticante de bricolagem? — pergunta ela, surpresa.

Quero me acabar de rir. Ah, querida, bricolagem não é o que eu curto. Aquiesço, abafando minha vontade de gargalhar. Seus olhos se direcionam para o meu corpo e eu fico tenso. Ela está me examinando! Cacete.

— Macacões — ela deixa escapar.

É a coisa mais inesperada que eu já ouvi da sua boca inteligente e doce desde a pergunta “O senhor é gay?”.

— Você não ia querer estragar sua roupa. — Ela aponta para a minha calça jeans, constrangida mais uma vez.

Não resisto:

— Eu sempre poderia tirá-las.

— Hum. — Ela fica vermelha como um pimentão e olha para o chão.

— Vou levar uns macacões. Deus me livre de estragar qualquer roupa — murmuro, tentando livrá-la do seu constrangimento. Sem uma palavra, ela se vira e segue pelo corredor; mais uma vez, eu a sigo.

— Precisa de mais alguma coisa? — pergunta, sem fôlego, entregando-me um macacão azul. Ela está mortificada, os olhos baixos, o rosto corado. Minha nossa, ela me provoca certas coisas…

— Como está o artigo? — pergunto, na esperança de vê-la relaxar um pouco.

Ela ergue o olhar e abre um breve sorriso aliviado. Finalmente.

— Não o estou redigindo, Katherine é que está. A Srta. Kavanagh. A moça com quem divido a casa, ela é a redatora. Está muito feliz com ele. É a editora do jornal, e ficou arrasada por não ter podido fazer a entrevista pessoalmente.

Essa foi a maior frase dirigida a mim desde que nos conhecemos, e ela está falando sobre outra pessoa, não ela mesma. Interessante.

Antes que eu possa fazer um comentário, ela acrescenta:

— A única preocupação dela é que não tem nenhuma fotografia sua.

A obstinada Srta. Kavanagh quer uma foto. Um retrato para publicidade? Posso fazer isso. Vai me possibilitar passar mais tempo com a agradável Srta. Steele.

— Que tipo de fotografia ela quer?

Ela me olha por um momento, depois balança a cabeça.

— Bem, estou por aí. Amanhã, talvez…

Posso ficar em Portland. Trabalhar do hotel. Heathman, talvez. Vou precisar que o Taylor traga meu laptop e algumas roupas. Ou Elliot — a não ser que ele esteja galinhando por aí, que é o que ele costuma fazer no fim de semana.

— Estaria disposto a fazer uma sessão de fotos? — Ela não consegue esconder a surpresa.

Faço um ligeiro sinal positivo com a cabeça. Você nem imagina o que eu faria para passar mais tempo com você, Srta. Steele… na verdade, nem eu imagino.

Kate vai ficar encantada, se a gente conseguir encontrar um fotógrafo. — Ela sorri e seu rosto se ilumina. Nossa, ela é de tirar o fôlego.

— Fale comigo amanhã. — Pego minha carteira. — Meu cartão. O número do meu celular está aí. Você vai precisar ligar antes das dez da manhã.

E, se ela não ligar, vou voltar para Seattle e esquecer essa aventura estúpida. Este pensamento me deprime.

— Tudo bem. — Ela continua sorrindo.

Ana!

Nós dois nos viramos quando um jovem com roupas caras aparece. Ele é todo sorrisos para Anastasia Steele. Quem é esse panaca?

— Hum… com licença um instante, Sr. Grey.

Ela vai até ele e o filho da puta a engole em um abraço de gorila. Meu sangue congela. É uma resposta selvagem. Tire suas malditas patas dela. Fecho as mãos e só fico um pouco mais calmo ao ver que ela não faz nenhum movimento para retribuir o abraço.

Eles conversam em cochichos. Merda, talvez a pesquisa do Welch estivesse errada. Talvez esse cara seja seu namorado. Ele tem a idade certa e não consegue tirar os olhos dela. Ele a segura por um momento a certa distância, examinando-a, e depois fica parado, com o braço descansando no ombro dela. O gesto parece casual, mas sei que ele está querendo fazer valer seus direitos e me dizendo para me afastar. Ela parece constrangida, mudando de um pé para o outro.

Merda. É melhor eu ir embora. Então ela diz alguma coisa e faz um gesto para alcançá-lo, tocando seu braço e não sua mão. Está claro que eles não são próximos. Ótimo.

— Ah, Paul, este é Christian Grey. Sr. Grey, este é Paul Clayton. O irmão dele é o proprietário da loja. — Ela me olha de uma maneira estranha que não entendo, e continua: — Conheço Paul desde que comecei a trabalhar aqui, embora a gente não se veja muito. Ele voltou de Princeton, onde estuda administração de empresas.

O irmão do chefe, não um namorado. A extensão do alívio que sinto é inesperada e me faz franzir o cenho. Esta mulher realmente mexeu comigo.

Sr. Clayton. — Meu tom é deliberadamente ríspido.

— Sr. Grey. — Ele aperta minha mão sem firmeza. Filho da puta molenga. — Espera aí, não é o Christian Grey? Da Grey Enterprises Holdings? — Em um instante, observo-o se metamorfosear de dono do pedaço para obsequioso.

Sim, sou eu, seu babaca.

— Nossa! Há alguma coisa que eu possa lhe trazer?

— Anastasia já me atendeu, Sr. Clayton. Foi muito atenciosa. — Dê o fora.

— Legal — diz ele efusivamente, respeitoso e com os olhos bem abertos. — Depois a gente se fala, Ana.

— Claro, Paul — diz ela, e o sujeito vai embora, graças a Deus. Eu o observo desaparecer em direção aos fundos da loja. — Mais alguma coisa, Sr. Grey?

— Só isso — murmuro.

Merda, meu tempo está acabando e ainda não sei se vou vê-la de novo. Quero saber se existe alguma chance de ela considerar o que eu tenho em mente. Como posso perguntar? Estou pronto para a nova submissa que não conhece nada do assunto? Ela vai precisar de um treinamento substancial. Solto um gemido por dentro para todas as possibilidades interessantes que isso oferece… Chegar lá vai ser metade da diversão. Ela vai se interessar? Ou estou julgando-a errado?

Ela vai para detrás do balcão do caixa e registra minhas compras, sempre olhando para baixo. Olhe para mim, droga! Quero ver seus lindos olhos azuis de novo e tentar descobrir o que está pensando.

Finalmente, ela levanta a cabeça.

— São quarenta e três dólares, por favor.

Só isso?

Quer uma sacola? — pergunta ela, enquanto eu entrego meu cartão de crédito.

— Por favor, Anastasia.

Seu nome — um nome lindo para uma garota linda — dança em minha língua.

Ela empacota as compras rápida e eficientemente. É isso. Eu tenho que ir.

— Você me telefona se quiser que eu pose para as fotos?

Ela confirma com a cabeça e me devolve meu cartão de crédito.

— Ótimo. Até amanhã, talvez. — Não posso apenas ir embora. Tenho que mostrar que estou interessado. — Ah… e Anastasia, ainda bem que a Srta. Kavanagh não pôde fazer a entrevista.

Adorando sua expressão atordoada, coloco a sacola no ombro e saio da loja.

Sim, apesar do que diz meu lado racional, eu a quero. Agora tenho que esperar… esperar, porra… de novo.


Isso é tudo… por ora.

Obrigada, obrigada, obrigada por terem lido.

E L James

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