CAPÍTULO QUATORZE

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O restaurante inteiro tem a atenção voltada para Kate e Elliot, todos respirando juntos, esperando. A ansiedade é insuportável. O silêncio se prolonga como um elástico tensionado ao máximo. A atmosfera está sufocante, cheia de apreensão e de esperança ao mesmo tempo.

Kate o encara sem expressão, enquanto ele a fita com olhos arregalados de ansiedade — de medo, até. Droga, Kate! Acabe com a tortura do homem. Por favor. Nossa… ele podia ter feito o pedido em particular.

Uma única lágrima desce pela face de Kate, que ainda assim permanece sem expressão alguma. Merda! Kate chorando? Então ela sorri, um sorriso incrédulo que se abre devagar, um sorriso que diz “Alcancei o Nirvana!”.

— Sim — sussurra ela, um sim doce e suspirante: nem um pouco a sua cara.

Por uma fração de segundo há uma pausa em que o restaurante inteiro exala um suspiro de alívio coletivo, e depois vem um barulho ensurdecedor. Aplausos espontâneos, vivas, assovios, gritaria, e de repente sinto as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, borrando minha maquiagem.

Alheios à comoção ao redor, Kate e Elliot estão em seu mundo particular. Elliot tira uma caixinha do bolso, abre-a e a oferece a Kate. Um anel. E, até onde consigo ver, um anel extremamente sofisticado — mas preciso olhar mais de perto. Então era isso que ele estava fazendo com Gia? Escolhendo o anel de noivado? Merda! Ah, estou feliz por não ter contado a Kate.

Kate olha primeiro para o anel e depois para Elliot, e então joga os braços em volta do pescoço dele. Eles se beijam, um beijo excepcionalmente recatado para os dois, e a multidão vai à loucura. Elliot se levanta e agradece a ovação com uma reverência surpreendentemente graciosa; em seguida, munido de um sorriso que deixa transparecer um ar de imensa satisfação consigo mesmo, ele volta a se sentar. Não consigo parar de olhar para eles. Tirando o anel da caixinha, Elliot o desliza com delicadeza pelo dedo de Kate, e o casal se beija mais uma vez.

Christian aperta minha mão. Eu não havia percebido que estava agarrando a dele com tanta força. Solto-o, um pouco constrangida, e ele balança a mão, dizendo um “Ai” só com o movimento dos lábios.

— Desculpe. Você sabia disso? — sussurro.

Christian sorri, e percebo que sim. Ele chama o garçom.

— Duas garrafas de Cristal, por favor. Safra 2002, se tiver.

Lanço-lhe um sorriso enviesado.

— O que foi? — pergunta ele.

— Porque a safra de 2002 é muito melhor do que a de 2003 — provoco-o.

Ele ri.

— Para um paladar criterioso, sim.

— Você tem um paladar muito criterioso, Sr. Grey, e um gosto singular. — Sorrio.

— Isso eu tenho, Sra. Grey. — Ele se inclina para mais perto de mim. — Mas o seu sabor é ainda melhor — sussurra ele, e beija um ponto específico atrás da minha orelha, provocando pequenos arrepios pela minha espinha. Fico vermelha e relembro com verdadeiro prazer sua demonstração de como faltava pano ao meu vestido.

Mia é a primeira a abraçar Kate e Elliot, e, um de cada vez, todos nós damos os parabéns ao feliz casal. Puxo Kate para um abraço apertado.

— Viu? Ele só estava tenso com o pedido — sussurro.

— Ah, Ana. — Ela ri e chora ao mesmo tempo.

— Kate, estou tão feliz por você. Parabéns.

Christian está atrás de mim. Ele aperta a mão de Elliot e — para minha surpresa e do próprio Elliot — puxa o irmão para um abraço. Ouço vagamente o que ele diz:

— É isso aí, Lelliot.

Elliot não responde. Pela primeira vez na vida, o espanto o deixa sem palavras; depois, ele retribui afetuosamente o abraço do irmão.

Lelliot?

— Obrigado, Christian — diz Elliot, emocionado.

Christian dá um abraço rápido em Kate, um tanto constrangido, mantendo uma distância de quase um braço. Sei que ele adota um posicionamento de tolerância em relação a ela, na melhor das hipóteses, e de ambivalência a maior parte do tempo; então, isso já é um progresso. Soltando-a, ele diz, tão baixo que só nós duas conseguimos ouvir:

— Espero que você seja tão feliz no seu casamento quanto eu sou no meu.

— Obrigada, Christian. Também espero — diz Kate polidamente.

O garçom retorna com o champanhe e abre a garrafa com um floreio comedido.

Christian ergue sua taça.

— A Kate e meu querido irmão, Elliot. Parabéns.

Todos damos um golinho na bebida; bem, eu tomo um golão. Hmm, o Cristal é delicioso, faz com que eu me lembre da primeira vez que tomei esse champanhe, no clube noturno de Christian, e também do nosso memorável percurso de elevador até o primeiro andar, mais tarde na mesma noite.

Christian me olha com o cenho franzido.

— Está pensando em quê? — sussurra ele.

— Na primeira vez em que eu tomei esse champanhe.

Sua expressão torna-se ainda mais inquisidora.

— Estávamos no seu clube — lembro-lhe.

Ele sorri.

— Ah, sim. Lembrei. — E pisca para mim.

— Elliot, já tem data? — pergunta Mia.

Elliot olha irritado para a irmã.

— Eu acabei de pedir a mão de Kate. Vamos manter você informada, está bem?

— Ah, marquem para o Natal. Seria tão romântico… Além do mais, vocês não esqueceriam a data do aniversário de casamento. — Ela bate palmas, deliciada.

— Vou pensar no assunto. — E ele sorri, irônico.

— Depois do champanhe, podemos por favor ir dançar? — Virando-se para Christian, ela o fita com os olhos castanhos bem abertos.

— Acho que é melhor perguntarmos a Elliot e Kate o que eles gostariam de fazer.

Todos nos voltamos ao mesmo tempo para eles, à espera de uma resposta. Elliot dá de ombros e Kate fica roxa. Seu desejo carnal pelo noivo é tão evidente que eu quase cuspo o champanhe de quatrocentos dólares na mesa toda.

* * *

A ZAX É A BOATE mais exclusiva de Aspen — ou pelo menos é o que Mia diz. Christian vai até o início da pequena fila abraçando minha cintura, e imediatamente o deixam entrar. Por um momento me pergunto se ele é o dono do lugar. Olho para o relógio — onze e meia da noite, e estou me sentindo tonta. As duas taças de champanhe e as diversas outras de Pouilly-Fumé que tomei durante o jantar estão começando a fazer efeito, e é um alívio ter o braço de Christian me segurando.

— Sr. Grey, bem-vindo novamente — cumprimenta uma loura muito bonita de pernas bem longas, vestida com um shortinho preto de cetim, uma blusa sem manga da mesma cor e uma pequena gravata-borboleta vermelha. Ela abre um sorriso largo, revelando dentes perfeitos entre lábios escarlate que combinam com a gravata.

— Max vai se encarregar dos casacos.

Um jovem todo de preto — mas sem cetim, felizmente — sorri ao se oferecer para pegar meu casaco. Seus olhos escuros são calorosos e convidativos. Sou a única de casaco no grupo — Christian insistiu em que eu pegasse o trench coat de Mia para cobrir as costas —, portanto Max só tem que se dirigir a mim.

— Belo casaco — diz ele, encarando-me intensamente.

Ao meu lado, Christian se eriça e lança para Max um olhar que diz “cai fora”. Ele fica vermelho e rapidamente entrega a Christian o número para recolher o casaco.

— Vou acompanhar vocês até a mesa.

A Srta. Shortinho Sexy de Cetim tremula os cílios para o meu marido, sacode o cabelão louro e entra na boate desfilando. Seguro Christian ainda mais forte, e ele me olha interrogativamente por um momento. Depois, sorri com ironia enquanto seguimos a Srta. Shortinho Sexy de Cetim até a área do bar.

A iluminação ali é reduzida, as paredes pretas, e os móveis, vermelho-escuros. Há mesas ao longo de duas paredes, e um grande bar em forma de U no centro. Está cheio, levando-se em consideração que estamos fora de temporada, mas não lotado, e a frequência é composta por abastados de Aspen a fim de se divertir em um sábado à noite. As pessoas estão vestidas de maneira casual, e pela primeira vez na vida sinto que meu traje está um pouco demais… hmm, melhor dizendo, de menos. Não sei bem qual dos dois. O chão e as paredes vibram com a música que pulsa na pista de dança atrás do bar, e as luzes giram e piscam. Zonza como estou, chego a pensar que se trata de um pesadelo epilético.

Shortinho Sexy de Cetim nos leva até uma mesa em um canto isolado por uma corda. É perto do bar e dá acesso à pista de dança. Claramente, o melhor lugar da boate.

— Logo alguém virá anotar seus pedidos.

Ela nos dirige seu sorriso de dois mil megawatts e, com uma piscadela final para o meu marido, volta desfilando para o lugar de onde veio. Mia já está saltitando, doida para ir logo dançar, e Ethan decide acompanhá-la.

— Champanhe? — pergunta Christian quando eles estão quase indo para a pista de dança, de mãos dadas. Ethan ergue o polegar e Mia faz que sim com a cabeça entusiasmadamente.

Kate e Elliot se recostam no assento de veludo macio, as mãos entrelaçadas. Eles parecem extremamente felizes, suas feições suaves e radiantes sob o brilho das pequenas velas que tremulam nos castiçais de cristal dispostos sobre a mesa baixa. Christian, com um gesto, pede que eu me sente, e corro para perto de Kate. Ele ocupa um lugar ao meu lado e ansiosamente examina o ambiente à nossa volta.

— Quero ver seu anel — digo bem alto, por causa da música.

Vou sair daqui rouca. Kate sorri exultante e levanta a mão. O anel é primoroso, um solitário em uma garra finamente elaborada, e pequenos brilhantes de cada lado. Tem um estilo retrô vitoriano.

— É lindo.

Ela concorda, encantada, e, inclinando-se para a frente, aperta a coxa de Elliot. Ele se abaixa e a beija.

— Vão para um quarto! — grito.

Elliot sorri.

Uma jovem de cabelo escuro e curto vem anotar os nossos pedidos. Ela exibe um sorriso travesso e veste o mesmo shortinho sexy de cetim preto, que parece ser o uniforme da casa.

— O que vão querer beber? — pergunta Christian.

— Você não vai pagar a conta aqui também — reclama Elliot.

— Não comece com isso, Elliot — diz Christian calmamente.

Apesar da resistência de Kate, Elliot e Ethan, Christian pagou pelo jantar. Ele simplesmente ignorou as objeções de todos e não quis nem saber do dinheiro deles. Olho-o apaixonadamente. Meu Cinquenta Tons… sempre no controle.

Elliot abre a boca para dizer algo, mas, sabiamente, desiste.

— Vou querer uma cerveja — responde ele.

— Kate? — pergunta Christian.

— Mais champanhe, por favor. O Cristal é uma delícia. Mas é claro que o Ethan ia preferir uma cerveja.

Ela sorri toda meiga — sim, meiga — para Christian. Kate não cabe em si de tanta felicidade. Sinto a alegria irradiar dela, e é um prazer estar aqui para testemunhar esse momento.

— Ana?

— Champanhe, por favor.

— Uma garrafa de Cristal, três de Peroni e uma de água mineral gelada, seis copos — exige ele, no seu modo direto e autoritário de costume.

Até que isso é sexy.

Obrigada, senhor. Eu já trago.

A Srta. Shortinho Sexy Número Dois abre um sorriso gracioso para Christian, mas o poupa do piscar de olhos, ainda que suas faces estejam um pouco vermelhas.

Balanço a cabeça, resignada. Ele é meu, querida.

— O que foi? — pergunta ele.

— Ela não ficou fazendo charme para você. — Dou um sorriso enviezado.

— Ah. E deveria? — Ele não consegue esconder que está achando graça.

— É costume entre as mulheres. — Meu tom é irônico.

Ele sorri.

— Sra. Grey, está com ciúmes?

— Nem um pouco.

Faço um beicinho. E neste momento percebo que estou começando a tolerar as mulheres devorando meu marido com os olhos. Quase. Christian pega minha mão e beija os nós dos meus dedos.

— Você não tem motivo nenhum para sentir ciúmes, Sra. Grey — murmura ele ao meu ouvido, sua respiração me fazendo cócegas.

— Eu sei.

— Ótimo.

A garçonete retorna, e logo me vejo bebendo mais uma taça de champanhe.

— Aqui. — Christian me oferece um copo d’água. — Beba isto.

Franzo o cenho e vejo-o, mais do que ouço, suspirar.

— Três taças de vinho branco no jantar e duas de champanhe depois de um daiquiri de morango e duas taças de Frascati no almoço. Beba. Agora, Ana.

Como Christian sabe dos drinques da tarde? Faço uma careta para meu marido, mas realmente ele tem razão. Pego o copo d’água e engulo tudo de uma vez, de uma maneira nada feminina, como protesto por ter que obedecê-lo… de novo. Enxugo a boca com as costas da mão.

— Boa menina — diz ele, com um sorriso irônico. — Você já vomitou em cima de mim uma vez. Não quero repetir a experiência tão cedo.

— Não sei do que está reclamando. Você acabou dormindo comigo.

Ele sorri, e seu olhar se ameniza.

— É verdade.

Ethan e Mia voltam.

— Ethan cansou, por enquanto. Venham, garotas. Vamos incendiar a pista. Precisamos queimar as calorias da musse de chocolate.

Kate se levanta imediatamente.

— Você vem? — pergunta ela a Elliot.

— Prefiro ficar olhando você — diz ele. E sou obrigada a virar para o outro lado rapidamente, corando diante do olhar que ele lança para Kate. Ela sorri quando eu me levanto.

— Vou queimar algumas calorias — digo, e, me curvando, sussurro no ouvido de Christian: — Você pode me olhar.

— Não se abaixe assim — rosna ele.

— Tudo bem.

Levanto-me bruscamente. Uau! Minha cabeça roda, e eu agarro o ombro de Christian, o lugar girando e balançando um pouco.

— Talvez você deva beber um pouco mais de água — murmura ele, com um claro tom de advertência na voz.

— Eu estou bem. Essas cadeiras é que são baixas, e o meu sapato é alto.

Kate me pega pela mão; inspirando profundamente, sigo Kate e Mia, em perfeito equilíbrio, até a pista de dança.

A música está pulsando, um ritmo tecno com batidas graves. A pista não está lotada, o que significa que temos algum espaço. É uma mistura eclética de gente — tanto jovens quanto um pessoal mais velho se acabando na noite. Eu nunca soube dançar muito bem. Na verdade, só fui começar depois que conheci Christian. Kate me abraça.

— Estou tão feliz — grita ela, mais alto que a música, e começa a dançar.

Mia está fazendo o que costuma fazer, sorrindo para nós duas e se movimentando para todo lado. Nossa, ela está tomando muito espaço. Dou uma olhadela para a mesa. Nossos homens estão nos observando. Começo a me mexer. O ritmo é pulsante. Fecho os olhos e me entrego à batida.

Ao abrir os olhos novamente, vejo a pista de dança se enchendo. Kate, Mia e eu somos forçadas a ficar mais próximas. E, para minha surpresa, percebo que estou realmente me divertindo. Começo a me mexer um pouco mais… com coragem. Kate ergue os dois polegares para mim, e eu sorrio alegre para ela.

Fecho os olhos. Por que foi que eu passei os primeiros vinte anos da minha vida sem fazer isso? Preferi ler a dançar. Na época de Jane Austen não tinha músicas assim tão animadas para fazê-la se sacudir, e Thomas Hardy… Ih, ele morreria de culpa por não estar dançando com a primeira esposa. Dou uma risada quando penso isso.

Foi Christian. Ele fez com que eu me sentisse segura a respeito do meu corpo e de como movimentá-lo.

De repente, duas mãos estão na minha cintura. Sorrio. Christian veio dançar comigo. Eu me movimento, e suas mãos descem para apertar minha bunda, retornando depois para a minha cintura.

Abro os olhos. E Mia está me encarando horrorizada. Merda… Estou me saindo tão mal assim? Pego nas mãos de Christian. Estão cabeludas. Puta que pariu! Não são dele. Giro o corpo e vejo um gigante louro, com mais dentes do que o natural e sorrindo abertamente para exibi-los.

— Tire as mãos de mim! — berro, mais alto do que a música pulsante; estou apoplética de raiva.

— Que isso, doçura, só estamos nos divertindo.

Ele sorri, levantando as mãos de macaco, os olhos azuis brilhando sob as luzes ultravioleta pulsantes.

Antes de me dar conta do que estou fazendo, dou um tapa forte no seu rosto.

Ai! Merda… Minha mão. Está ardendo.

— Saia de perto de mim! — grito.

Ele me encara, apalpando a face vermelha. Estico minha mão ilesa na frente do seu rosto, abrindo bem os dedos para mostrar a aliança.

— Eu sou casada, seu babaca!

Ele dá de ombros, um tanto arrogante, e abre um sorriso frouxo de desculpas.

Olho ao redor freneticamente. Mia, à minha direita, encara com raiva o Gigante Louro. Kate está entretida nos seus passos de dança. Não vejo Christian à mesa. Espero que ele tenha ido ao banheiro. Dou um passo para trás e encosto em alguém cujo corpo eu conheço muito bem. Ah, merda. Christian passa o braço pela minha cintura e me puxa para o lado.

— Tire as mãos de cima da minha mulher, seu filho da puta. — Ele não está gritando, mas de alguma maneira ouve-se sua voz acima da música.

Puta merda!

Ela sabe se cuidar sozinha — grita o Gigante Louro.

Ele então tira a mão do rosto, de onde o acertei, e Christian o atinge. É como se eu estivesse assistindo a tudo em câmera lenta. Um soco no queixo perfeitamente calculado, movendo-se a tamanha velocidade, mas com tão pouco dispêndio de energia, que o Gigante Louro só percebe quando é atingido. Ele desaba no chão como o desprezível monte de lixo que é.

Puta que pariu.

Christian, não! — exclamo, em pânico, e me coloco na sua frente para contê-lo. Merda, ele vai matar o cara. — Eu já dei um tapa nele — berro, mais alto que a música.

Christian parece não me ver. Ele está encarando o gigante com uma crueldade que eu nunca vi antes nos seus olhos. Bem, talvez uma vez, antes de Jack Hyde dar em cima de mim.

As outras pessoas na pista se afastam como uma onda concêntrica num lago, abrindo espaço à nossa volta e mantendo uma distância segura. O Gigante Louro se levanta com dificuldade no momento em que Elliot se junta a nós.

Ah, não! Kate está comigo, olhando embasbacada para todos nós, e Elliot agarra o braço de Christian. Nessa hora, Ethan também aparece.

— Pega leve, cara. Não fiz por mal.

O Gigante Louro levanta as mãos admitindo a derrota e batendo rapidamente em retirada. Christian o segue com os olhos para longe dali. Ele não olha para mim.

A música muda, a letra explícita de “Sexy Bitch” dando lugar a um tecno pulsante cantado por uma mulher com voz apaixonada. Elliot olha para mim, depois para Christian e, soltando o irmão, puxa Kate para dançar. Coloco os braços em torno do pescoço de Christian, até que ele finalmente faz contato visual comigo, os olhos ainda em chamas — primitivos e ferozes. Um vislumbre de um adolescente brigão. Puta merda.

Ele examina meu rosto.

— Você está bem? — pergunta, finalmente.

— Estou.

Esfrego a palma da mão, tentando aliviar a ardência, e encosto ambas as mãos no peito dele — uma delas latejando. Eu nunca havia batido em ninguém antes. O que foi que me deu? Tocar em mim não era o pior crime contra a humanidade. Ou era?

No entanto, bem no fundo, sei por que bati no Gigante Louro: porque, instintivamente, eu sabia como Christian reagiria ao ver um estranho dando em cima de mim. Eu sabia que ele perderia seu precioso autocontrole. E só de pensar que um idiota insignificante pode tirar do sério meu marido, meu amor, fico irritada. Extremamente irritada.

— Quer se sentar? — pergunta Christian, um tom de voz mais alto do que a música pulsante.

Ah, volte para mim, por favor.

Não. Dance comigo.

Ele me fita de modo impassível, sem dizer nada.

Toque em mim… a mulher canta.

— Dance comigo. — Ele ainda está bravo. — Dance. Christian, por favor.

Pego suas mãos. Christian olha ao redor, com raiva, à procura do rapaz, mas começo a me mexer em torno dele, entrelaçando-me em seu corpo.

A massa de gente voltou a nos rodear, apesar de haver agora uma zona de exclusão de cerca de meio metro à nossa volta.

— Você bateu nele? — pergunta Christian, mantendo-se imóvel. Pego suas mãos, ainda fechadas.

— Claro que sim. Pensei que fosse você, mas as mãos dele eram mais cabeludas. Por favor, dance comigo.

Enquanto Christian me fita, a chama em seus olhos muda devagar, evoluindo para outro sentimento, algo mais escuro, mais sensual. De repente, ele me agarra pelos pulsos e me puxa vigorosamente para si, segurando minhas mãos às minhas costas.

— Você quer dançar? Então vamos dançar — diz ele junto ao meu ouvido, e, quando começa a balançar o quadril ao meu redor e contra meu corpo, suas mãos segurando as minhas para trás, não consigo fazer outra coisa a não ser acompanhá-lo.

Ah… Christian sabe mexer o corpo, realmente sabe. Ele me mantém junto de si, sem me soltar; gradativamente, porém, suas mãos relaxam, libertando-me. Minhas mãos movem-se lentamente para a frente, subindo pelos braços dele, sentindo os feixes de músculos sob o casaco, chegando até os ombros. Ele me pressiona contra seu corpo e eu sigo seus movimentos — dançamos lentamente, sensualmente, acompanhando a batida pulsante da música eletrônica.

No momento em que Christian pega minha mão e me gira, primeiro para um lado e depois para o outro, sei que ele voltou para mim. Sorrio. Ele sorri.

Dançamos juntos, e é libertador — divertido. Sua raiva foi esquecida, ou suprimida, e ele me rodopia à sua volta, com total habilidade, no nosso pequeno espaço na pista, sem nunca me soltar. Com ele, torno-me graciosa, esse é o seu dom. Ele me torna sensual, porque é isso o que ele é. E me faz sentir amada, porque, apesar dos seus cinquenta tons, Christian tem muito amor para dar. Observando-o agora, vendo-o se divertir, eu compreenderia se alguém pensasse que ele não se importa com nada no mundo. Sei que seu amor é turvado por questões de controle e superproteção, mas isso não faz com que eu o ame menos.

Estou sem fôlego quando outra música começa.

— Podemos nos sentar? — pergunto, ofegante.

— Claro. — E juntos saímos da pista.

— Você me deixou suada e quente — sussurro ao voltarmos para a mesa.

Ele me puxa para seus braços.

— Eu gosto de você suada e quente. Embora prefira deixar você assim quando estamos a sós — murmura ele, e um sorriso lascivo surge em seu rosto.

Quando me sento, é como se o incidente na pista de dança nunca tivesse acontecido. Estou até um pouco surpresa de não terem nos expulsado daqui. Dou uma olhada em volta. Não tem ninguém nos observando, e não vejo mais o Gigante Louro. Talvez tenha ido embora, ou talvez ele é que tenha sido expulso. Kate e Elliot dançam de forma indecente na pista; Ethan e Mia estão mais comportados. Tomo outro gole de champanhe.

— Aqui.

Christian coloca outro copo d’água na minha frente e me fita com atenção. Sua expressão é de expectativa: Beba. Beba agora.

Faço o que ele manda. Além disso, estou com sede.

Ele pega uma garrafa de Peroni do balde de gelo que há na mesa e toma um longo gole.

— E se a imprensa estivesse aqui? — pergunto.

Christian sabe exatamente que estou me referindo ao fato de ele ter socado o Gigante Louro.

— Eu tenho advogados caros — responde ele friamente, a arrogância em pessoa.

Olho para ele de cenho franzido.

— Mas você não está acima da lei, Christian. Eu tinha a situação sob controle.

Seus olhos ficam gelados.

— Ninguém toca no que é meu — diz ele, com fria determinação, como se eu estivesse ignorando o óbvio.

Ah… Tomo mais um gole de champanhe. De repente me sinto sufocada. A música está alta, martelando na minha cabeça, que dói tanto quanto meus pés; além disso, estou tonta.

Christian pega minha mão.

— Venha, vamos embora. Quero levar você para casa — diz ele.

Kate e Elliot aparecem.

— Vocês estão indo? — pergunta ela, ansiando por uma resposta afirmativa.

— Sim — responde Christian.

— Ótimo, vamos com vocês.

* * *

ENQUANTO ESPERAMOS CHRISTIAN pegar o meu casaco, Kate me interroga:

— O que houve com aquele cara na pista?

— Ele estava passando a mão em mim.

— Eu abri os olhos e você tinha dado um tapa nele.

Dou de ombros.

— Bem, eu sabia que o Christian viraria uma usina termonuclear, e isso poderia arruinar a sua noite.

Ainda estou processando como me sinto em relação ao comportamento de Christian. Na hora, tive medo de que ele fizesse coisa ainda pior.

— Nossa noite — corrige Kate. — Ele é bem esquentado, hein? — acrescenta ela secamente, observando Christian apanhar o meu casaco.

Solto um suspiro e sorrio.

— Pode-se dizer que sim.

— Acho que você consegue controlá-lo bem.

— Controlar?

Franzo a testa. Será que eu controlo Christian?

— Aqui está — diz ele, segurando meu casaco aberto para que eu o vista.

* * *

— ACORDE, ANA.

Christian está me sacudindo delicadamente. Já chegamos em casa. Abro os olhos relutante e cambaleio para fora da minivan. Kate e Elliot desapareceram e Taylor espera pacientemente ao lado do veículo.

— Vou ter que carregar você? — pergunta Christian.

Balanço a cabeça em negativa.

— Vou buscar a Srta. Grey e o Sr. Kavanagh — avisa Taylor.

Christian concorda com um gesto de cabeça e depois me guia até a porta de casa. Meus pés estão latejando e eu o sigo cambaleante. Chegando à porta, ele se abaixa, pega meu tornozelo e arranca gentilmente meus sapatos, primeiro um, depois o outro. Ah, que alívio. Ele então se levanta e me olha, segurando meus Manolos.

— Melhor? — pergunta, achando graça.

Faço um gesto afirmativo com a cabeça.

— Tive visões deliciosas desses sapatos atrás das minhas orelhas — murmura ele, olhando para os meus sapatos pensativamente. Até que ele balança a cabeça e, pegando minha mão mais uma vez, me guia pela casa escura, e subimos a escada para o nosso quarto.

— Você está destruída, não está? — pergunta ele suavemente, fitando-me.

Admito que sim. Ele começa a abrir o cinto do meu trench coat.

— Eu faço isso — balbucio, em uma débil tentativa de afastá-lo.

— Deixa comigo.

Suspiro. Eu não tinha ideia de que estava tão cansada.

— É a altitude. Você não está acostumada. E o álcool, claro.

Com um sorriso irônico, ele tira meu casaco e o joga em uma das cadeiras do quarto. Depois, pegando minha mão, me leva ao banheiro. Por que estamos indo para lá?

Sente-se — ordena ele.

Eu me sento na cadeira e fecho os olhos. Ouço quando ele mexe em alguns frascos no armário do banheiro. Estou cansada demais para abrir os olhos e descobrir o que ele está fazendo. Um instante depois, ele inclina minha cabeça para trás com delicadeza, e eu abro os olhos, surpresa.

— Olhos fechados — diz Christian.

Puxa vida, ele está segurando um chumaço de algodão! Gentilmente, ele o esfrega no meu olho direito. Permaneço sentada, perplexa, enquanto ele metodicamente remove a minha maquiagem.

— Ah. Aí está a mulher com quem eu me casei — diz ele após algumas esfregadelas.

— Não gosta de maquiagem?

— Gosto bastante, mas prefiro o que está por baixo dela. — Ele beija a minha testa. — Aqui. Pegue isso. — Ele coloca um Advil na palma da minha mão e me entrega um copo d’água.

Vejo o que é e faço um beicinho.

— Tome — ordena ele.

Reviro os olhos, mas obedeço.

— Ótimo. Você precisa de um momento sozinha? — pergunta ele, sarcasticamente.

Solto um resmungo de desaprovação.

— Tão recatado, Sr. Grey. Sim, eu preciso fazer xixi.

Ele ri.

— Quer que eu saia?

Dou uma risada.

— Você quer ficar?

Ele joga a cabeça para o lado, uma expressão bem-humorada no rosto.

— Você é um filho da puta de um pervertido. Fora. Não quero que você fique me vendo fazer xixi. Assim já é demais.

Eu me levanto e o expulso do banheiro.

* * *

QUANDO SAIO DO banheiro, ele já vestiu a calça do pijama. Hmm… Christian de pijama. Hipnotizada, contemplo seu abdômen, seus músculos, os pelos abaixo da cintura. A visão me perturba. Ele vem até mim.

— Admirando a vista? — pergunta ele, maliciosamente.

— Sempre.

— Acho que você está um pouco bêbada, Sra. Grey.

— Acho que, pela primeira vez, vou ter que concordar com você, Sr. Grey.

— Deixe que eu a ajudo a tirar o pouco pano que esse vestido tem. Realmente deveria vir com uma advertência de risco para a saúde. — Ele me vira e abre o único botão no pescoço.

— Você ficou tão zangado — murmuro.

— Fiquei, sim.

— Comigo?

— Não. Não com você. — Ele beija meu ombro. — Não dessa vez.

Sorrio. Não comigo. Isso é um progresso.

— Uma boa mudança.

— Sim. É mesmo.

Ele beija meu outro ombro e depois puxa o vestido, fazendo-o descer pelas minhas costas e cair no chão. Tira minha calcinha ao mesmo tempo, deixando-me nua. Ele pega a minha mão.

— Dê um passo — ordena, e eu piso para fora do vestido, equilibrando-me com a ajuda de sua mão.

Ele se levanta e joga meu vestido e minha calcinha na cadeira, junto com o trench coat de Mia.

— Levante os braços — exige ele suavemente.

Christian passa uma camiseta sua pela minha cabeça e a puxa para baixo, cobrindo-me. Estou pronta para ir deitar.

Ele me puxa para seus braços e me beija, meu hálito de menta misturando-se com o dele.

— Eu adoraria trepar com você, Sra. Grey, mas você bebeu demais, além de estar a quase dois mil e quinhentos metros de altitude e de não ter dormido bem a noite passada. Venha. Deite-se.

Christian puxa o edredom e eu me deito. Ele então me cobre e beija minha testa mais uma vez.

— Feche os olhos. Quando eu voltar para a cama, espero que já esteja dormindo. — É uma ameaça, uma ordem… é Christian.

— Não vá — suplico.

— Preciso dar alguns telefonemas, Ana.

— Hoje é sábado. Está tarde. Por favor.

Ele passa a mão pelo cabelo.

— Ana, se eu me deitar nessa cama agora, você não vai descansar nada. Durma.

Ele está inflexível. Fecho os olhos, e seus lábios roçam minha testa mais uma vez.

— Boa noite, baby — sussurra ele.

Imagens do dia passam em flashes pela minha mente… Christian me carregando no ombro dentro do avião. Sua preocupação, imaginando se eu iria ou não gostar da casa. Fazendo amor à tarde. O banho. A reação dele ao meu vestido. A briga com o Gigante Louro — a palma da minha mão formiga com a lembrança. E então Christian me colocando na cama.

Quem diria? Abro um largo sorriso, a palavra progresso passeando pelo meu cérebro à medida que minha mente cai no sono.

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