CAPÍTULO TRÊS

_________________________________________


Olho horrorizada para as marcas vermelhas que cobrem meus seios. Chupões! Estou com chupões! Meu marido é um dos homens de negócios mais respeitados dos Estados Unidos, e ele me encheu desses malditos hematomas. Como eu não senti que ele estava fazendo isso comigo? Fico corada. A verdade é que eu sei exatamente por quê — o Sr. Orgasmo estava usando suas habilidades sexuais em mim.

Meu inconsciente me olha por cima dos óculos de leitura e estala a língua em sinal de desaprovação, enquanto minha deusa interior tira uma soneca na sua chaise longue, fora de combate. Fico pasma com o meu reflexo. Em cada um de meus pulsos há um círculo vermelho, por causa das algemas. Sem dúvida vão ficar roxos. Examino meus tornozelos — outros círculos. Que inferno, parece que eu sofri algum tipo de acidente. Encaro a mim mesma, tentando absorver minha aparência. Meu corpo anda muito diferente ultimamente. Desde que o conheci, meu corpo mudou de forma sutil… Fiquei mais magra e mais em forma, e meu cabelo está mais brilhante e bem-cortado. Minhas unhas estão pintadas, tanto as das mãos quanto as dos pés; minhas sobrancelhas, feitas e delineadas em um belo formato. Pela primeira vez na vida estou bem-cuidada — exceto por essas horrendas mordidas de amor.

Não quero pensar nos meus cuidados de beleza nesse momento. Estou furiosa. Como ele ousa me marcar dessa maneira, como um adolescente? No pouco tempo em que estamos juntos, ele nunca me deixou com marcas de chupões. Estou horrível. E sei por que ele fez isso. Maldito maníaco por controle. Tudo bem! Meu inconsciente cruza os braços — Christian foi longe demais dessa vez. Saio silenciosamente do banheiro da suíte e entro no closet, tomando o cuidado de evitar qualquer olhadela na direção dele. Tirando o robe, visto uma calça de moletom e uma camiseta de alcinha. Desfaço a trança, pego uma escova de cabelo da pequena penteadeira e desembaraço os fios.

— Anastasia — chama Christian, e noto a tensão em sua voz. — Você está bem?

Ignoro-o. Se eu estou bem? Não, não estou bem. Depois do que ele fez comigo, duvido que eu possa usar maiô, muito menos algum dos meus biquínis ridiculamente caros, pelo resto da nossa lua de mel. Pensar nisso me deixa subitamente com raiva. Como ele ousa? Nem vou responder. Estou fervendo de raiva. Também sei me comportar como uma adolescente! Voltando para o quarto, arremesso a escova nele, viro-me e saio — não sem antes ver sua expressão surpresa, assim como sua reação instintiva de levantar o braço para proteger a cabeça, de modo que a escova resvala em seu antebraço e cai na cama.

Saio desabalada da cabine e disparo escada acima até o deque, refugiando-me na proa. Preciso de espaço para me acalmar. Está escuro, e o ar rescende a perfume. A cálida brisa traz o cheiro do Mediterrâneo, assim como a essência de jasmim e bougainvíllea da costa. O Fair Lady desliza sem esforço pelo calmo mar azul-cobalto. Apoio os cotovelos no parapeito de madeira, fitando a costa distante, onde piscam e cintilam minúsculas luzes. Inspiro profundamente e aos poucos começo a me acalmar. Percebo a presença dele atrás de mim antes de ouvi-lo falar.

— Você está brava comigo — sussurra ele.

— Que esperto você, Sherlock!

— Quão brava?

— Em uma escala de um a dez, acho que cinquenta. Ótimo, não?

— Puxa, tudo isso. — Ele soa surpreso e impressionado ao mesmo tempo.

— Isso mesmo. Estou prestes a cometer um ato de violência — digo, rangendo os dentes.

Eu me viro e o fito muito zangada, mas ele permanece em silêncio, observando-me com os olhos arregalados e cautelosos. Pela sua expressão, e por ele não ter feito nenhum movimento para me tocar, sei que ele está completamente desnorteado.

— Christian, você tem que parar de tentar me manter sob controle. Você já tinha deixado o seu ponto de vista bem claro na praia. Com muita eficiência até, se bem me lembro.

Ele dá de ombros sutilmente.

— Bem, você não vai tirar a parte de cima do biquíni de novo — murmura ele, petulante.

E isso justifica o que ele fez comigo? Eu o encaro.

— Não gosto que você deixe marcas em mim. Quer dizer, pelo menos não tantas assim. É um limite rígido! — falo com rispidez.

— Eu não gosto que você tire a roupa em público. Esse é um limite rígido para mim — resmunga ele.

— Achei que já tivéssemos estabelecido isso — digo entre dentes. — Olhe para mim!

Abaixo a camiseta para mostrar a parte superior dos meus seios. Christian me encara fixamente, sem desviar os olhos do meu rosto, uma expressão de alerta e indecisão. Ele não está acostumado a me ver assim tão irada. Será que não consegue ver o que fez? Será que não vê como ele é ridículo? Quero gritar com ele, mas me contenho — não quero pressioná-lo demais. Só Deus sabe o que ele faria. Finalmente, Christian solta um suspiro e levanta as palmas das mãos, em um gesto conciliatório e resignado.

— Tudo bem — diz, em um tom apaziguador. — Entendi.

Aleluia!

Ótimo!

Ele passa a mão no cabelo.

— Me desculpe. Por favor, não fique com raiva de mim.

Até que enfim ele parece arrependido — usando minhas próprias palavras comigo.

— Você às vezes parece um adolescente — repreendo-o, insistindo no assunto, mas minha voz perdeu o tom de briga e ele sabe disso.

Christian dá um passo na minha direção e levanta a mão, cauteloso, para colocar meu cabelo atrás da orelha.

— Eu sei — admite ele suavemente. — Tenho muito o que aprender.

As palavras do Dr. Flynn me voltam à memória: Emocionalmente, Christian é um adolescente, Ana. Ele pulou totalmente essa fase da vida. Canalizou todas as suas energias para o sucesso no mundo dos negócios, o que alcançou além de todas as expectativas. E agora o seu mundo emocional tem que correr atrás do tempo perdido.

Meu coração se enternece um pouco.

— Nós dois temos. — Suspiro e, cuidadosamente, levanto a mão, pousando-a no peito dele, na altura do coração. Ele não recua como costumava fazer, mas enrijece o corpo. Coloca a mão em cima da minha e dá um sorriso tímido.

— Acabei de aprender que você tem um bom braço e uma boa pontaria, Sra. Grey. Eu nunca teria imaginado, mas costumo subestimá-la. E sempre me surpreendo.

Levanto as sobrancelhas.

— Já pratiquei muito com o Ray. Sei lançar e atirar bem na mira, Sr. Grey, e é bom você se lembrar disso.

— Vou me esforçar para me lembrar, Sra. Grey, ou ao menos garantir que todos os objetos capazes de servir como projéteis não estejam à mão e que você não tenha acesso a um revólver. — Ele sorri maliciosamente.

Eu também sorrio, apertando os olhos para retrucar:

— Tenho meus recursos.

— Ah, se tem — murmura ele, e solta minha mão para me puxar para si.

Christian me abraça, enterrando o nariz no meu cabelo. Retribuo, apertando-o com força, e sinto a tensão deixando seu corpo enquanto ele roça o rosto no meu.

— Estou perdoado?

— Eu estou?

Sinto seu sorriso.

— Está — responde ele.

— Idem.

Continuamos abraçados, minha irritação já esquecida. O cheiro que vem do seu corpo é muito bom, seja ele um adolescente ou não. Como posso resistir a esse homem?

— Está com fome? — pergunta ele depois de um tempo.

Estou de olhos fechados, minha cabeça recostada a seu peito.

— Sim. Faminta. Toda a nossa… hã… atividade abriu meu apetite. Mas não estou vestida para um jantar.

Tenho certeza de que minha calça de moletom e minha blusa de ficar em casa receberiam olhares de desaprovação na sala de jantar.

— Para mim você está ótima, Anastasia. Além disso, o barco é nosso esta semana. Podemos nos vestir como quisermos. Imagine que hoje é uma terça-feira casual na Côte D’Azur. De qualquer maneira, pensei em comermos no deque.

— É, seria bom.

Ele me beija — um fervoroso beijo de “desculpas” —, e então seguimos de mãos dadas até a proa, onde o gaspacho nos espera.

* * *

O GARÇOM SERVE nosso crème brulée e discretamente se retira.

— Por que você sempre faz uma trança no meu cabelo? — pergunto a Christian, por curiosidade.

Estamos à mesa, sentados um ao lado do outro, minha perna enroscada na dele. Prestes a pegar a colher de sobremesa, ele faz uma pausa e franze o cenho.

— Não quero que seu cabelo fique preso em alguma coisa — responde baixinho, e, por um momento, perde-se em pensamentos. — Hábito, eu acho — continua ele, absorto. E de repente franze o cenho, arregala os olhos, as pupilas dilatando em sinal de alarme.

Do que ele se lembrou? Algo doloroso, alguma recordação de infância, eu acho. Não quero que ele fique pensando nisso. Inclino-me para a frente e encosto o indicador nos seus lábios.

— Não, não importa. Não preciso saber. Só estava curiosa.

Dou um sorriso afetuoso e tranquilizador. Sua expressão é tensa; depois de um momento, porém, ele visivelmente baixa a guarda, demonstrando alívio. Eu me inclino para beijá-lo no cantinho da boca.

— Eu amo você — digo em um sussurro. Como resposta, ele abre aquele seu sorriso tímido de doer o coração; eu me derreto. — Sempre vou amar você, Christian.

— E eu, você — diz ele suavemente.

— Apesar da minha desobediência? — brinco, erguendo as sobrancelhas.

— Por causa da sua desobediência, Anastasia. — Ele dá uma risada.

Quebro a camada de açúcar queimado da minha sobremesa com a colher e balanço a cabeça. Será que algum dia vou entender esse homem? Hmm — o crème brulée está delicioso.

* * *

ASSIM QUE O GARÇOM retira nossos pratos, Christian pega a garrafa de vinho rosé e enche a minha taça. Verifico se estamos sozinhos e pergunto:

— Por que você me disse para não ir ao banheiro?

— Quer realmente saber? — Ele dá um meio-sorriso, os olhos iluminados por um brilho indecente.

— Será que eu quero? — Olho para ele com os olhos apertados, tomando um gole de vinho.

— Quanto mais cheia a sua bexiga, mais intenso o orgasmo, Ana.

Fico ruborizada.

— Ah, entendi.

Nossa, isso explica muita coisa.

Ele ri, com ar de sabe-tudo. Será que sempre estarei atrás do Sr. Especialista em Sexo em termos de conhecimento?

— Ah, sim. Bem…

Tento desesperadamente mudar de assunto. Ele vem em meu socorro:

— O que você quer fazer o resto da noite? — Ele inclina a cabeça para o lado e abre aquele seu sorrisinho torto.

O que você quiser, Christian. Testar sua teoria de novo? Dou de ombros.

— Eu sei o que eu quero fazer — murmura. E, pegando sua taça de vinho, ele se levanta e estende a mão para mim. — Venha.

Pego sua mão e sou conduzida ao salão principal.

Seu iPod está conectado ao alto-falante, sobre o aparador. Ele liga o aparelho e escolhe uma música.

— Dance comigo. — Ele me puxa para seus braços.

— Já que você insiste…

— Eu insisto, Sra. Grey.

Uma melodia provocante e cafona começa a tocar. É um ritmo latino? Christian sorri maliciosamente para mim e começa a se mover, fazendo meus pés deslizarem ao me guiar pelo salão.

Um homem com voz açucarada canta apaixonadamente. Eu conheço a música, mas não consigo reconhecer de onde. Christian me joga para trás, dou um gritinho de surpresa e rio. Ele sorri, os olhos transbordando bom humor. Então ele me levanta de volta e rodopia comigo nos braços.

— Você dança tão bem — digo. — Parece até que eu sei dançar também.

Ele me lança um sorriso enigmático, mas não diz uma palavra; fico me perguntando se é porque ele está pensando nela… na Mrs. Robinson, a mulher que o ensinou a dançar — e a fazer sexo. Eu não me lembrava dela havia algum tempo. Christian não a menciona desde seu aniversário e, pelo que eu saiba, a relação profissional deles já é águas passadas. Embora relutante, tenho que admitir: ela foi uma boa professora.

Ele me abaixa de novo e me dá um rápido beijo na boca.

— Eu sentiria falta do seu amor — murmuro, repetindo a letra da música.

— Eu sentiria mais do que falta do seu amor — diz ele, e me gira mais uma vez. Então canta suavemente no meu ouvido, deixando-me em êxtase.

A música acaba e Christian me fita, os olhos escuros e luminosos, sem mais traços de humor; subitamente fico sem fôlego.

— Vem para a cama comigo? — sussurra ele, em um pedido sincero que toca meu coração.

Christian, você me ouviu dizer “eu aceito” duas semanas e meia atrás: eu sou sua. Mas sei que essa é a sua maneira de pedir desculpas e ter certeza de que está tudo bem entre nós depois da briga.

* * *

QUANDO ACORDO, O brilho do sol entra pelas escotilhas e a água reflete desenhos tremeluzentes no teto da cabine. Christian não está aqui. Eu me espreguiço e sorrio. Hmm… Eu toparia mais uma sessão de sexo punitivo seguido de amor reconciliatório qualquer outro dia. Como é maravilhoso ir para a cama com dois homens diferentes — o Christian zangado e o Christian eu-quero-me-desculpar-com-você-de-qualquer-maneira. É difícil dizer de qual gosto mais.

Eu me levanto e vou ao banheiro. Quando abro a porta, encontro Christian lá dentro fazendo a barba. Nu, exceto por uma toalha enrolada na cintura. Ele se vira e sorri, sem se incomodar por eu tê-lo interrompido. Já descobri que Christian nunca vai trancar a porta se ele for a única pessoa no cômodo — ele tem um motivo razoável para agir assim, e não gosto de pensar no assunto.

— Bom dia, Sra. Grey — diz ele, irradiando bom humor.

— Bom dia.

Sorrio de volta, observando-o. Adoro vê-lo fazer a barba. Ele eleva o queixo e raspa embaixo, com movimentos longos e metódicos, e eu me pego inconscientemente imitando-o. Estico o lábio superior para baixo, assim como ele, para raspar entre o nariz e a boca. Ele se vira e sorri, metade do rosto ainda coberta de espuma de barbear.

— Aproveitando o espetáculo? — pergunta.

Ah, Christian, eu poderia passar horas olhando você.

— Um dos meus programas preferidos — murmuro, ao que ele se inclina e me dá um selinho, sujando meu rosto de espuma.

— Quer que eu faça de novo? — sussurra ele, maldosamente, segurando o barbeador.

Franzo os lábios para ele.

— Não — resmungo, fingindo estar zangada. — Vou depilar da próxima vez.

Lembro-me da alegria de Christian em Londres, quando ele descobriu que, durante a única reunião a que ele deveria comparecer, eu havia raspado completamente meus pelos pubianos, só por curiosidade. Claro que eu não tinha alcançado os altos padrões do Sr. Exigente…

— O que foi que você fez? — exclama Christian.

Ele não consegue esconder que está horrorizado, embora ache engraçado. Senta-se na cama da nossa suíte no hotel Brown’s, perto de Piccadilly, acende a luz do abajur e me olha fixamente, boquiaberto. Deve ser meia-noite. Fico tão vermelha quanto o feltro que cobre as mesas do quarto de jogos, e tento puxar minha camisola de seda para baixo, para que ele não possa ver. Ele pega minha mão para me impedir.

— Ana!

— Eu… hmm… raspei.

— Isso eu posso ver. Por quê? — Ele está sorrindo de orelha a orelha.

Cubro o rosto com as mãos. Por que estou com tanta vergonha?

— Ei — diz ele suavemente, e puxa minha mão para longe. — Não esconda. — Ele está mordendo o lábio para não rir. — Diga. Por quê?

Seus olhos dançam de alegria. Por que ele está achando isso tão engraçado?

— Pare de rir de mim.

— Não estou rindo de você. Desculpe. Estou… encantado.

— Ah…

— Vamos, diga. Por quê?

Respiro fundo.

— Hoje de manhã, depois que você saiu para a reunião, eu estava tomando banho e fiquei me lembrando de todas as suas regras.

Ele não diz nada. O bom humor na sua expressão desaparece e ele me olha com cautela.

— E eu vi que já tinha cumprido quase todas, e pensei também em como eu me sentia a respeito disso; então me lembrei do salão de beleza e pensei… que você podia gostar. Não tive coragem suficiente para depilar. — Minha voz diminuiu até tornar-se um suspiro.

Ele me fita, os olhos brilhando — dessa vez não por achar graça da minha loucura, mas cheios de amor.

— Ah, Ana — suspira Christian. Ele se inclina e me dá um beijo terno. — Você me encanta — sussurra contra minha boca, e me beija de novo, segurando meu rosto com as mãos.

Depois de um momento sem fôlego, ele levanta o corpo e se apoia em um cotovelo. Seu bom humor está de volta.

— Acho que tenho que fazer uma inspeção minuciosa no seu trabalho manual, Sra. Grey.

— O quê? Não.

Ele só pode estar de brincadeira! Eu me cubro, protegendo minha área recém-desmatada.

— Ah, não faça isso, Anastasia.

Ele pega minhas mãos e as afasta, movendo-se agilmente de modo a ficar entre minhas pernas e a prender minhas mãos dos lados. Então me lança um olhar ardente, que poderia causar sérios incêndios, mas, antes que eu arda em chamas, ele desliza os lábios desde a minha barriga descoberta até meu sexo. Eu me contorço embaixo dele, relutantemente conformada com meu destino.

— Ora, o que temos aqui?

Christian dá um beijo onde, até essa manhã, havia pelos pubianos, e então passa na minha pele seu queixo áspero de barba por fazer.

— Ah! — exclamo.

Uau… isso mexe comigo.

Seus olhos buscam os meus, cheios de desejo obsceno.

— Acho que faltou um pedacinho — murmura ele, e puxa gentilmente a minha pele, expondo uma reentrância.

— Ah… droga — exclamo, torcendo para que isso dê um fim ao exame francamente intrusivo que ele está fazendo.

— Tenho uma ideia.

Ele salta nu da cama e vai até o banheiro.

O que será que ele está fazendo? Ele volta instantes depois, trazendo um copo d’água, uma caneca, meu barbeador, seu pincel de barba, um sabonete e uma toalha. Coloca a água, o pincel, o sabonete e o barbeador na mesa de cabeceira e me olha fixamente, segurando a toalha.

Ah, não! Meu inconsciente atira com força para o lado as Obras completas de Charles Dickens, levanta-se da poltrona e coloca as mãos na cintura.

— Não. Não. Não — protesto, minha voz em tom agudo.

— Sra. Grey, se é para fazer um trabalho, então que seja bem-feito. Levante os quadris. — Seus olhos brilham como uma tempestade de verão.

— Christian! Você não vai me raspar.

Ele inclina a cabeça para o lado.

— Por que não?

Eu fico vermelha… Não é óbvio o porquê?

— Porque… é tão…

— Íntimo? — sussurra ele. — Ana, intimidade é o que eu mais quero ter com você, e você sabe disso. Além do mais, depois de certas coisas que já fizemos, não venha dar uma de tímida comigo. Eu conheço essa parte do seu corpo melhor do que você.

Olho embasbacada para ele. Tão arrogante… É verdade, ele a conhece muito bem — mas mesmo assim…

— Isso é estranho! — Minha voz soa afetada e aguda.

— Não é estranho; é excitante.

Excitante? Jura?

Isso excita você? — Não consigo esconder a perplexidade na minha voz.

Ele solta um suspiro irritado.

— Não está vendo que sim? — E dá uma olhadela para o próprio membro. — Eu quero raspar você — sussurra.

Ah, que se dane. Eu me deito, cobrindo o rosto com o braço para não ter que assistir à cena.

— Se isso o faz feliz, Christian, vá em frente. Você é tão excêntrico — resmungo, ao mesmo tempo que levanto os quadris, e ele coloca a toalha embaixo, depois dá um beijo na parte interna da minha coxa.

— Ah, baby, você tem toda a razão.

Ouço o barulho da água quando ele mergulha o pincel de barba no copo, e depois a suave torção do pincel na caneca. Ele pega meu tornozelo esquerdo e abre minhas pernas, e a cama afunda um pouco quando ele se senta entre elas.

— Eu queria mesmo amarrar você agora — murmura ele.

— Prometo ficar parada.

— Ótimo.

Dou um suspiro quando ele passa o pincel cheio de espuma na região que cobre meu osso púbico. Está morno. A água no copo deve estar quente. Eu me contorço um pouco. Faz cócegas… Mas é gostoso.

— Não se mexa — repreende-me Christian, e passa o pincel de novo. — Ou eu amarro mesmo você — acrescenta, sombriamente, e um arrepio delicioso percorre minha coluna.

— Você já fez isso antes? — pergunto hesitante quando ele pega a lâmina de barbear.

— Não.

— Ah. Que bom. — Dou um sorriso amarelo.

— Mais uma primeira vez, Sra. Grey.

— Hmm. Eu gosto de primeiras vezes.

— Eu também. Lá vai. — E, com uma delicadeza que me surpreende, ele passa a lâmina por minha pele sensível. — Fique parada — repete, distraidamente, e sei que ele está na verdade muito concentrado.

Em questão de minutos ele pega a toalha e tira o excesso de espuma.

— Pronto. Assim está melhor — conclui, e eu finalmente tiro o braço do rosto para fitá-lo: ele afasta o corpo, para admirar seu trabalho.

— Satisfeito? — pergunto, a voz rouca.

— Muito.

Ele abre um sorriso maldoso e lentamente começa a enfiar um dedo em mim.

— Mas aquilo foi divertido — diz Christian, com olhos de zombaria.

— Para você, talvez.

Tento fazer beicinho. Mas ele tem razão… foi… excitante.

— Vou ter que lembrar a você que o que fizemos depois foi bastante satisfatório.

Christian volta a se barbear. Olho rapidamente para baixo. Ah, sim, foi bastante satisfatório. Eu não tinha ideia de que a ausência de pelos pubianos pudesse fazer tanta diferença.

— Ei, estou apenas implicando com você. Não é assim que fazem os maridos desesperadamente apaixonados por suas esposas?

Christian ergue meu queixo e me fita, os olhos subitamente cheios de ansiedade, e tenta decifrar minha expressão.

Hmm… Hora da vingança.

— Sente-se — murmuro.

Ele me olha sem entender. Empurro-o suavemente para o tamborete branco do banheiro. Perplexo, ele se senta e eu tiro a lâmina de barbear da sua mão.

— Ana — adverte ele quando percebe minha intenção. Eu me inclino para baixo e lhe dou um beijo.

— Ponha a cabeça para trás — sussurro.

Ele hesita.

— Olho por olho, Sr. Grey.

Ele me encara incrédulo e um tanto temeroso, mas está se divertindo.

— Você sabe o que está fazendo? — pergunta Christian, em voz baixa.

Balanço a cabeça em negativa, devagar e deliberadamente, tentando parecer o mais séria possível. Ele fecha os olhos e faz um gesto de lamentação, mas se rende e joga a cabeça para trás.

Puta merda, ele vai deixar que eu o barbeie. Vacilante, deslizo a mão para o cabelo úmido em sua testa, agarrando-o firmemente para mantê-lo imóvel. Ele aperta os olhos já fechados e entreabre a boca para inspirar. Muito delicadamente, passo a lâmina do pescoço até o queixo, revelando um caminho de pele embaixo da espuma. Christian solta o ar.

— Estava achando que eu ia machucar você?

— Eu nunca sei o que você vai fazer, Ana, mas não; pelo menos não intencionalmente.

Passo a lâmina pelo seu pescoço de novo, abrindo um caminho ainda maior na espuma.

— Eu nunca machucaria você de propósito, Christian.

Ele abre os olhos e me abraça, enquanto eu delicadamente passo o barbeador por sua face a partir da ponta da costeleta.

— Eu sei — diz ele, virando o rosto para que eu possa terminar a bochecha. Só mais duas vezes e acabo.

— Prontinho, e sem nenhuma gota de sangue.

Abro um sorriso orgulhoso.

Ele passa a mão pela minha perna, levantando minha camisola até minha coxa, e me puxa para seu colo de forma que eu fique montada sobre ele. Eu me apoio nos seus braços, bem abaixo dos ombros — ele é realmente muito musculoso.

— Posso levar você a um lugar hoje?

— Não vamos pegar sol? — Arqueio a sobrancelha sarcasticamente.

Ele umedece os lábios, nervoso.

— Não. Não vamos pegar sol hoje. Achei que você fosse preferir outra coisa.

— Bem, já que você me cobriu de marcas e liquidou esse assunto de vez, então, claro, por que não?

Ele sabiamente opta por ignorar meu tom.

— É um pouco longe, mas merece uma visita, pelo que eu li. Foi meu pai que nos recomendou. É uma vila no alto de um morro, chamada Saint-Paul-de-Vence. Tem algumas galerias por lá. Podemos escolher algumas pinturas ou esculturas para nossa nova casa, se acharmos algo que nos agrade.

Eu me inclino para trás e o encaro. Arte… Ele quer comprar obras de arte. Como eu posso comprar obras de arte?

— O que foi? — pergunta ele.

— Eu não entendo nada de arte, Christian.

Ele dá de ombros e sorri de maneira indulgente.

— Só vamos comprar o que acharmos bonito. Nada de pensar em investimento.

Investimento? Céus!

O que foi? — pergunta ele de novo.

Balanço a cabeça.

— Olha, eu sei que a gente só viu os desenhos da arquiteta outro dia, mas não custa nada olhar. Fora que a cidade é uma área bem antiga, medieval.

Ah, a arquiteta. Ele tinha que me lembrar dela… Gia Matteo, uma amiga de Elliot que trabalhou na casa de Christian em Aspen. Durante as reuniões, ela não saía de cima do meu marido.

— O que foi agora? — exclama Christian. Balanço a cabeça, fingindo que não é nada. — Fale — insiste ele.

Como posso dizer que não gosto de Gia? Minha aversão a ela é irracional. Não quero parecer uma esposa ciumenta.

— Você ainda está com raiva pelo que eu fiz ontem? — Ele suspira e roça o nariz entre meus seios.

— Não. Estou com fome — murmuro, sabendo muito bem que isso vai desviá-lo desse tipo de pergunta.

— Por que não disse antes?

Ele me tira do seu colo e se levanta.

* * *

SAINT-PAUL-DE-VENCE É UM vilarejo medieval que fica no alto de um morro, todo fortificado. Um dos lugares mais pitorescos que eu já vi. Andamos abraçados, lado a lado, pelas estreitas ruas de pedra, minha mão no bolso traseiro da bermuda dele. Somos seguidos de perto por Taylor e Gaston ou Philippe — não consigo distingui-los. Passamos por um quarteirão arborizado onde três velhinhos, um deles usando uma boina tradicional apesar do calor, jogam bocha. A cidade está repleta de turistas, mas me sinto confortável atracada ao braço de Christian. Há muito o que ver — estreitas vielas e passagens que levam a pátios com intrincados chafarizes de pedra, esculturas antigas e modernas, além de fascinantes butiques e lojinhas.

Na primeira galeria, Christian olha distraidamente as fotografias eróticas à nossa frente, mordiscando a armação dos seus óculos de aviador. São os trabalhos de Florence D’elle — mulheres nuas em poses variadas.

— Não é bem o que eu tinha em mente — resmungo em desaprovação.

Elas me lembram a caixa de fotografias que achei no closet dele, no nosso closet. Será que ele chegou a de fato destruí-las?

— Nem eu — diz Christian, sorrindo ironicamente para mim.

Ele pega minha mão e continuamos nosso passeio até o próximo artista. Eu me pergunto, distraidamente, se não deveria deixá-lo tirar fotos de mim.

A exposição seguinte é de uma pintora especializada em natureza-morta: frutas e vegetais em superclose e em cores ricas e gloriosas.

— Gostei dessas. — Aponto para três pinturas de pimentas. — Elas me lembram você cortando legumes lá em casa.

Dou uma risadinha. Christian retorce a boca, tentando, em vão, disfarçar que achou graça.

— Achei que tinha me saído muito bem naquela tarefa — murmura. — Só um pouco devagar, mas… — ele me puxa para um abraço — …você estava me distraindo. Onde você colocaria?

— O quê?

Christian roça o nariz na minha orelha.

— As pinturas. Onde você colocaria?

Ele morde o lóbulo da minha orelha, e eu sinto na virilha.

— Na cozinha — murmuro.

— Hmm. Boa ideia, Sra. Grey.

Arregalo os olhos ao ver o preço. Cinco mil euros cada. Puta merda!

— São muito caras! — exclamo, quase engasgando.

— E daí? — Ele volta a roçar o nariz em mim. — Vá se acostumando, Ana.

Então me solta e vai até a mesa de uma jovem vestida inteiramente de branco, que está secando meu marido. Tenho vontade de revirar os olhos de raiva, mas volto minha atenção novamente para as pinturas. Cinco mil euros… Nossa.

* * *

ACABAMOS DE ALMOÇAR e estamos relaxando no hotel Le Saint Paul, tomando um café. A vista dos campos ao redor é deslumbrante. Os vinhedos e as plantações de girassóis formam um patchwork pela planície, salpicados aqui e ali de pequenas e graciosas casas de fazenda francesas. Está um dia tão claro e bonito que a vista alcança o mar, sua superfície reluzindo debilmente no horizonte. Christian interrompe meu devaneio:

— Você me perguntou por que eu sempre faço uma trança no seu cabelo — murmura.

Seu tom de voz me alarma. Ele parece… culpado.

— Perguntei. — Ih, lá vem.

— A prostituta drogada me deixava mexer no cabelo dela, eu acho. Não sei se é uma lembrança ou um sonho.

Caramba! A mãe biológica dele.

Ele me fita, a expressão indecifrável. Meu coração quase sai pela boca. O que dizer quando ele me fala essas coisas?

— Eu gosto que você brinque com o meu cabelo. — Minha voz é hesitante.

Ele me olha com incerteza.

— Mesmo?

— Sim. — É verdade. Pego na mão dele. — Eu acho que você amava sua mãe biológica, Christian.

Seus olhos se arregalam e ele me encara impassivelmente, sem dizer nada.

Merda. Será que fui longe demais? Diga algo, Christianpor favor. Mas ele permanece resolutamente mudo, encarando-me com olhos cinza impenetráveis enquanto o silêncio se prolonga entre nós. Parece perdido.

Então Christian olha para minha mão na dele e franze o cenho.

— Diga alguma coisa — sussurro, porque não consigo mais suportar o silêncio.

Ele balança a cabeça, exalando o ar bem lá do fundo.

— Vamos.

Ele solta minha mão e se levanta. Parece na defensiva. Será que passei dos limites? Não tenho ideia. Isso corta meu coração, e não sei se digo mais alguma coisa ou se apenas espero passar. Decido pela segunda alternativa, e obedientemente o sigo para fora do restaurante.

Lá fora, na agradável ruela, ele pega minha mão.

— Aonde você quer ir?

Ele fala! E não está zangado comigo — graças aos céus. Eu solto o ar, aliviada, e dou de ombros.

— Já fico contente por você não ter deixado de falar comigo.

— Você sabe que eu não gosto de falar disso. Passou. Acabou — responde ele, bem baixinho.

Não, Christian, não acabou. Esse pensamento me entristece, e pela primeira vez me pergunto se algum dia vai acabar. Ele sempre será o Cinquenta Tons… Meu Cinquenta Tons. Se quero mudá-lo? Não, não exatamente — apenas na medida em que quero vê-lo se sentir amado. Ergo o olhar timidamente, e aproveito um momento para admirar sua beleza cativante… Ele é meu. E não é só o encantamento do rosto e do corpo muito atraentes que me enfeitiçam. É o que há por trás dessa perfeição que me atrai, que me chama… Sua alma frágil, machucada.

Ele me olha daquele jeito, nariz empinado, meio arrogante, meio irônico, meio alerta, todo sensual, depois passa o braço pela minha cintura e caminhamos entre os turistas até o lugar onde Philippe/Gaston estacionou a espaçosa Mercedes. Volto a deslizar a mão para dentro do bolso traseiro da sua bermuda, aliviada por ele não estar zangado. Mas, honestamente, que criança de quatro anos não ama a mãe, por pior que seja? Eu suspiro pesadamente e o aperto mais em meu abraço. Sei que atrás de nós a equipe de segurança nos espreita, e me pergunto vagamente se eles almoçaram.

Christian para em frente a uma lojinha que vende joias finas e observa a vitrine, depois olha para mim. Ele pega minha mão livre e passa o polegar pela linha vermelha esmaecida da marca da algema, avaliando o estrago.

— Não está dolorido — tranquilizo-o.

Ele se vira para tirar minha outra mão do seu bolso, e a vira delicadamente para examinar meu pulso. O relógio Omega de platina que ele me deu durante o café da manhã da nossa primeira manhã em Londres cobre a linha vermelha. A inscrição ainda me extasia.

Anastasia


Você é meu Mais


Meu Amor, Minha Vida


Christian

Apesar de tudo, de toda a sua personalidade difícil, meu marido também pode ser muito romântico. Olho para as leves marcas vermelhas nos meus pulsos. Mas também pode ser selvagem às vezes. Soltando minha mão esquerda, ele ergue meu queixo com os dedos e examina a minha expressão, os olhos preocupados.

— Não está doendo — repito.

Ele puxa minha mão para seus lábios e dá um suave beijo de desculpas na parte interna do meu pulso.

— Venha — diz ele, e me leva para dentro da loja.

* * *

— AQUI.

Christian abre a pulseira de platina que acabou de comprar. É primoroso, tão delicadamente talhado, as filigranas em formato de minúsculas flores abstratas com pequenos brilhantes no miolo. Ele fecha a pulseira. É uma faixa larga de platina que fica justa no pulso, de forma que esconde a marca vermelha. E custou trinta mil euros, penso, apesar de eu não ter conseguido acompanhar toda a conversa em francês com a vendedora. Nunca usei nada tão caro.

— Pronto, assim está melhor — murmura ele.

— Melhor? — sussurro, mirando fixamente seus luminosos olhos cinzentos, consciente de que a vendedora magrela está nos encarando com um olhar de inveja e desaprovação.

— Você sabe por quê — diz ele.

— Eu não preciso disso.

Balanço meu pulso e a pulseira se movimenta, captando a luz da tarde que entra pela vitrine da loja. Os brilhantes formam pequenos arco-íris reluzentes, que dançam pelas paredes.

— Mas eu preciso — retruca ele, com total sinceridade.

Por quê? Por que ele precisa disso? Será que se sente culpado? Pelo quê? Pelas marcas? Pela sua mãe biológica? Por não confiar em mim? Ah, Christian.

— Não, não precisa. Você já me deu tanto! Uma lua de mel mágica, Londres, Paris, a Côte D’Azur… e você. Sou uma mulher de muita sorte — sussurro, e seus olhos parecem relaxar.

— Não, Anastasia, eu é que sou um homem de muita sorte.

— Obrigada.

Esticando-me nas pontas dos pés, coloco os braços em volta do seu pescoço e o beijo… Não por me dar a pulseira, mas por ser meu.

* * *

DE VOLTA AO CARRO, Christian está introspectivo, olhando os campos de girassóis em cores vivas, as flores seguindo o sol da tarde e expondo-se a sua luz. Um dos gêmeos — acho que é Gaston — está dirigindo e Taylor está a seu lado, no banco da frente. Christian está remoendo alguma coisa. Aperto sua mão, tranquilizando-o. Ele me olha, e então solta minha mão para acariciar meu joelho. Estou vestindo uma saia curta rodada nas cores azul e branca e uma blusa justa azul, sem mangas. Christian hesita, e não sei se sua mão vai subir em direção à minha coxa ou descer para minha canela. O toque delicado dos seus dedos desperta expectativas em mim, e eu prendo a respiração. O que ele vai fazer? Ele escolhe descer, e de repente agarra meu tornozelo e puxa meu pé para seu colo. Eu giro o corpo de forma a ficar de frente para ele no banco de trás do carro.

— Quero o outro também.

Dou uma espiada rápida em Taylor e Gaston, cujos olhos se mantêm firmes na estrada, e coloco meu outro pé sobre o colo dele. Com um ar tranquilo, ele alcança a porta e aperta um botão. Na nossa frente, uma tela de privacidade levemente escurecida desliza de um painel e, dez segundos depois, estamos efetivamente sozinhos. Uau… Não é de admirar que esse carro tenha tanto espaço aqui atrás.

— Quero ver seus tornozelos.

É uma boa explicação. Ele me olha com a expressão tensa. As marcas das algemas? Caramba… Achei que já tivéssemos superado isso. Se há marcas, estão escondidas pelas tiras da sandália. Não me recordo de ter visto nenhuma essa manhã. Delicadamente, ele alisa com o polegar o peito do meu pé, provocando em mim um leve tremor. Um sorriso surge em seus lábios e com destreza ele abre uma tira da sandália. Seu sorriso some quando vê as marcas vermelhas mais fortes.

— Não está doendo — murmuro.

Christian me olha de relance; sua expressão é triste, sua boca, uma linha fina. Ele faz um único gesto com a cabeça, como que para mostrar que acredita na minha palavra. Agito o pé para que a sandália se solte, mas sei que o perdi. Ele está distraído e reflexivo de novo, acariciando mecanicamente meu pé enquanto se vira para olhar pela janela do automóvel.

— Ei. O que você esperava? — pergunto com carinho.

Ele me olha e dá de ombros.

— Não esperava sentir isso que estou sentindo ao olhar para essas marcas — responde ele.

Ah! Reservado em um minuto e disponível no outro? Isso é tão… Tão Cinquenta Tons! Como posso acompanhá-lo?

— E como você se sente?

Olhos desanimados me encaram.

— Desconfortável — murmura ele.

Ah, não. Solto o cinto de segurança e chego mais perto dele, sem tirar os pés do seu colo. Quero me aconchegar contra seu corpo e abraçá-lo, e eu faria isso se fosse somente Taylor quem estivesse lá na frente. Mas saber que Gaston está ali paralisa minhas ações, mesmo com a tela divisória. Se estivesse mais escuro… Aperto suas mãos.

— Só os chupões é que me incomodam — sussurro. — Todo o resto… o que você fez — abaixo a voz ainda mais — com as algemas, eu gostei. Quer dizer, gostar é pouco. Foi incrível. Você pode fazer aquilo comigo de novo a qualquer hora.

Ele muda de posição.

— Incrível?

Minha deusa interior, surpresa, ergue o olhar do livro de Jackie Collins que estava lendo.

— Sim.

Abro um sorriso. Flexiono os dedos dos pés no seu sexo, que começa a endurecer, e vejo mais do que ouço sua inspiração aguda, seus lábios se entreabrindo.

— Você realmente deveria estar usando seu cinto de segurança, Sra. Grey.

Ele fala baixo, e eu flexiono os dedos uma vez mais. Ele inspira, seus olhos escurecem, e ele aperta meu tornozelo em advertência. Ele quer que eu pare? Que eu continue? Então faz uma pausa, fecha a cara e pesca do bolso o onipresente BlackBerry, para atender a uma chamada, enquanto olha para o relógio. Sua expressão torna-se ainda mais carregada.

— Barney — fala rispidamente.

Que saco. O trabalho nos interrompendo de novo. Tento tirar os pés do seu colo, mas ele aperta ainda mais meu tornozelo.

— Na sala do servidor? — pergunta ele, incrédulo. — Ativou o sistema de supressão de incêndio?

Incêndio! Tiro os pés do seu colo, e dessa vez ele deixa. Volto para o meu lugar, coloco o cinto e fico mexendo, nervosa, na pulseira de trinta mil euros. Christian pressiona novamente o botão na porta do seu lado e a tela de privacidade desce.

— Alguém se machucou? Algum equipamento danificado? Sei… Quando? — Christian olha para o relógio de novo e passa os dedos no cabelo. — Não. Nem os bombeiros nem a polícia. Pelo menos por enquanto.

Um incêndio? No escritório de Christian? Olho pasma para ele, um turbilhão na minha cabeça. Taylor se ajeita para ouvir melhor a conversa.

— Ele já fez isso? Bom… Tudo bem. Quero um relatório detalhado dos danos provocados. E uma lista completa de todos os que tiveram acesso ao local nos últimos cinco dias, incluindo o pessoal da limpeza… Encontre a Andrea e peça para ela me ligar… Pois é, parece que o argônio realmente funciona, vale seu peso em ouro.

Relatório dos danos? Argônio? Um sino distante da aula de química soa em minha mente — um elemento químico, eu acho.

— Eu sei que está cedo… Quero que você me envie um e-mail daqui a duas horas… Não, eu precisava saber. Obrigado por ligar.

Christian desliga e imediatamente disca um número no BlackBerry.

— Welch… Ótimo… Quando? — Ele olha para o relógio mais uma vez. — Uma hora, então… Certo… Dia e noite no armazenamento remoto de dados… Ótimo. — Ele desliga. — Philippe, preciso estar a bordo em uma hora.

Monsieur.

Merda, é o Philippe, e não o Gaston. O carro acelera.

Christian me olha rapidamente, a expressão indecifrável.

— Alguém se machucou? — pergunto baixinho.

Ele balança a cabeça.

— Pouquíssimos danos. — Ele pega minhas mãos e as aperta, para me tranquilizar. — Não se preocupe com isso. Minha equipe está trabalhando.

E lá está ele, o CEO, no comando, no controle, nem um pouco agitado.

— Onde foi o incêndio?

— Na sala do servidor.

— Na sede da empresa?

— Foi.

Suas respostas são curtas, então sei que ele não quer falar sobre o assunto.

— Por que tão poucos danos?

— A sala do servidor está equipada com o que há de mais moderno em termos de sistema de supressão de incêndio.

Obviamente.

— Ana, por favor… Não se preocupe.

— Não estou preocupada — minto.

— Não temos certeza de que o incêndio foi criminoso — diz ele, indo direto ao âmago da minha ansiedade.

Levo a mão ao pescoço, com medo. Primeiro o Charlie Tango e agora isso?

O que está por vir?

Загрузка...