CAPÍTULO QUINZE
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Estou com muito calor. Christian está me esquentando. Sua cabeça está no meu ombro e ele respira suavemente em meu pescoço enquanto dorme, as pernas entrelaçadas nas minhas, o braço cobrindo minha cintura. Permaneço no limite da consciência, ciente de que, se eu despertar totalmente, vou acordá-lo também, e ele nunca dorme o suficiente. Minha mente passeia de forma enevoada pelos eventos de ontem à noite. Eu bebi demais — nossa, como eu bebi. Estou admirada que Christian tenha deixado. Sorrio ao me lembrar de como ele me colocou na cama. Foi meigo, muito meigo, e inesperado também. Faço um rápido inventário mental de como estou me sentindo. Estômago? Bom. Cabeça? Surpreendentemente boa, mas anuviada. A palma da minha mão ainda está vermelha por causa dos acontecimentos da noite anterior. Nossa. Sem mais nem menos, penso nas palmas das mãos de Christian quando ele me bateu. Eu me contorço, e ele acorda.
— O que houve? — Seus sonolentos olhos cinza procuram os meus.
— Nada. Bom dia.
Passo os dedos da minha mão que não está vermelha pelo seu cabelo.
— Sra. Grey, está linda de manhã — diz ele, beijando meu rosto, e eu fico toda radiante.
— Obrigada por cuidar de mim ontem à noite.
— Eu gosto de cuidar de você. É o que eu gosto de fazer — diz ele baixinho, mas seus olhos o traem, o triunfo brilhando no fundo cinza. É como se ele tivesse ganhado o prêmio máximo do Super Bowl.
Ah, meu Cinquenta Tons.
— Você me faz sentir querida.
— Porque você é querida — murmura ele, e meu coração se derrete.
Ele agarra minha mão, mas, quando estremeço, me solta imediatamente, alarmado.
— Foi o soco? — pergunta ele.
Seus olhos tornam-se frios ao examinar os meus, sua voz tomada por uma raiva súbita.
— Eu dei um tapa nele. Não um soco.
— Aquele filho da mãe!
Achei que já tivéssemos encerrado esse assunto ontem à noite.
— Não consigo suportar que ele tenha tocado em você.
— Ele não me machucou, só foi inconveniente. Christian, eu estou bem. Minha mão está um pouco vermelha, só isso. Você sabe como é, não sabe? — Sorrio com malícia, e sua expressão muda, demonstrando uma surpresa bem-humorada.
— Ora, Sra. Grey, estou muito familiarizado com essa sensação. — Ele franze os lábios, achando graça. — E poderia voltar a senti-la neste exato minuto, se você desejasse.
— Ah, contenha-se, Sr. Grey.
Afago seu rosto com a mão dolorida, acariciando sua costeleta com os dedos. Puxo os cabelinhos com carinho. Isso o distrai, e ele pega meu pulso para dar um beijo terno na palma da minha mão. Milagrosamente, a dor desaparece.
— Por que você não me disse ontem à noite que estava doendo?
— Hmm… Eu quase não estava sentindo ontem à noite. Mas já está melhor agora.
Seus olhos se suavizam, e sua boca se contorce.
— Como está se sentindo?
— Melhor do que mereço.
— Você tem uma bela direita, Sra. Grey.
— É melhor se lembrar disso, Sr. Grey.
— Ah, é?
Ele rola de repente, ficando inteiramente em cima de mim, pressionando-me no colchão, segurando meus pulsos acima da minha cabeça. E me olha.
— Eu poderia lutar com você a qualquer hora, Sra. Grey. Na verdade, subjugar você na cama é uma das minhas fantasias. — Ele beija meu pescoço.
O quê?
— Achei que você me subjugasse o tempo todo. — Dou um gemido quando ele mordisca o lóbulo da minha orelha.
— Hmm… mas eu queria sentir alguma resistência — murmura ele, passando o nariz pelo contorno do meu maxilar.
Resistência? Fico imóvel. Ele para, soltando minhas mãos, e se apoia nos cotovelos.
— Quer que eu lute com você? Aqui? — sussurro, tentando conter a surpresa. Tudo bem: o choque. Ele admite que sim, os olhos velados mas cautelosos, avaliando minha reação.
— Agora?
Ele dá de ombros, e eu vejo a ideia passar rapidamente pela sua cabeça. Ele abre um sorriso tímido e admite de novo, devagar.
Ai, meu Deus… Ele está tenso, deitado em cima de mim, e sua ereção crescente encontra de maneira tentadora minha pele macia e desejosa, distraindo-me. O que será isso? Briga? Fantasia? Será que ele vai me machucar? Minha deusa interior balança a cabeça — Jamais.
— Era isso que você queria dizer quando falou sobre vir para a cama zangado?
Ele admite mais uma vez, os olhos ainda cautelosos.
Hmm… meu Cinquenta Tons quer lutar.
— Não morda o lábio — avisa ele.
Eu solto o lábio, obediente.
— Acho que estou em desvantagem, Sr. Grey.
Bato os cílios, fazendo charme, e me contorço provocantemente embaixo dele. Isso pode ser divertido.
— Desvantagem?
— Você já me colocou na posição em que quer, não?
Ele sorri maliciosamente, e pressiona a virilha contra a minha mais uma vez.
— Bom argumento, Sra. Grey — sussurra, e me dá um beijo rápido na boca.
Então, abruptamente, muda de posição, levando-me junto, até que estou montada nele. Pego suas mãos, segurando-as junto à sua cabeça. Minha mão machucada protesta, mas ignoro a dor. Meu cabelo cai como um véu castanho à nossa volta, e mexo a cabeça de forma a fazer cócegas no rosto dele com as pontas dos fios. Ele vira a cabeça, esquivando-se, mas não tenta me impedir.
— Então quer dizer que você quer uma brincadeira bruta? — pergunto, esfregando minha virilha na dele.
Ele entreabre a boca e inspira forte.
— Quero — sussurra, e eu o solto.
— Espere.
Alcanço o copo d’água ao lado da cama. Deve ter sido Christian que o deixou ali. A água está fresca e ainda tem gás — fresca demais para estar ali há muito tempo —, e me pergunto a que horas ele veio para a cama.
Enquanto tomo um longo gole, Christian vai desenhando pequenos círculos com os dedos ao longo das minhas coxas, fazendo minha pele formigar, depois agarra e aperta minha bunda exposta. Hmm.
Inspirando-me em seu incrível repertório, inclino-me para a frente e o beijo, despejando água gelada dentro de sua boca.
Ele bebe.
— Muito gostoso, Sra. Grey — murmura ele, abrindo um sorriso infantil e divertido.
Depois de colocar o copo de volta na mesa de cabeceira, tiro suas mãos da minha bunda e as seguro junto à sua cabeça mais uma vez.
— Então eu devo mostrar resistência? — Sorrio maliciosamente.
— Isso mesmo.
— Não sou muito boa atriz.
— Tente. — Ele sorri.
Inclino-me para baixo e dou-lhe um beijo casto.
— Tudo bem, vou tentar — sussurro, passando os dentes no queixo dele, sentindo sua barba por fazer me arranhando.
Christian produz um som baixo e sensual na garganta e se mexe, jogando-me na cama ao seu lado. Solto um grito de surpresa, e logo ele está sobre mim, e começo a me debater, mas ele agarra minhas mãos. Seguro seu peito com violência e o empurro com todas as minhas forças, tentando tirá-lo de cima de mim, enquanto, com o joelho, ele tenta abrir minhas pernas.
Continuo empurrando seu peito — Caramba, que homem pesado —, mas ele não recua nem se imobiliza, como teria feito antes. Ele está gostando! Christian tenta agarrar meus pulsos, e finalmente pega um deles, apesar das minhas corajosas tentativas de soltá-lo. É minha mão machucada, então não tenho como resistir, mas agarro o cabelo dele com a outra mão e puxo com força.
— Ai!
Ele consegue soltar a cabeça e me encara com o olhar feroz e libidinoso.
— Selvagem — balbucia ele, sua voz cheia de um deleite lascivo.
Em resposta a apenas essa única palavra sussurrada, minha libido explode, e eu paro de atuar. Mais uma vez luto em vão para soltar minha mão da dele. Ao mesmo tempo, tento cruzar os tornozelos para conter sua investida. Mas ele é muito pesado. Ah! É frustrante e excitante.
Com um gemido, Christian captura minha outra mão. Segurando meus dois pulsos com a mão esquerda, ele faz a direita viajar vagarosamente — de maneira quase insolente — pelo meu corpo, apalpando e acariciando por onde passa, beliscando meu mamilo no caminho.
Uivo em resposta, o prazer produzindo fisgadas curtas, agudas e quentes do meu mamilo até a virilha. Faço outra tentativa vã de afastá-lo, mas ele está todo em cima de mim.
Quando ele tenta me beijar, jogo a cabeça para o lado a fim de impedi-lo. Prontamente, sua mão insolente larga a barra da minha camiseta para subir até o meu queixo, segurando-me enquanto ele passa os dentes pelo meu maxilar, numa referência ao que eu lhe fiz antes.
— Ah, baby, resista — murmura ele.
Eu giro e torço o corpo, tentando me libertar da sua prisão impiedosa, mas é inútil. Ele é muito mais forte do que eu. Christian está mordendo de leve meu lábio inferior, e sua língua tenta invadir minha boca. Então percebo que não quero resistir. Eu o desejo — agora, mais do que nunca. Paro de resistir e, fervorosamente, retribuo seu beijo. Não ligo se não escovei os dentes. Não ligo para o jogo que deveríamos estar jogando. O desejo, quente e intenso, flui pela minha corrente sanguínea, e eu me entrego. Descruzando os tornozelos, abraço seu quadril com minhas pernas e, com os calcanhares, desço seu pijama.
— Ana — sussurra ele, e me beija em todos os lugares.
E então não estamos mais lutando, somos só mãos e línguas e tato e gosto, em movimentos rápidos e urgentes.
— Pele — murmura ele com a voz rouca, a respiração ofegante. E, me puxando para cima, tira minha camiseta com um único e preciso movimento.
— Você — sussurro ao me sentar na cama, porque é a única coisa que me vem à cabeça.
Agarro seu pijama e o puxo para baixo com violência, libertando sua ereção. Pego-o e o aperto. Ele está duro. Christian inspira com força, o ar assobiando ao passar por entre seus dentes, e eu me deleito diante de sua resposta.
— Foder — murmura ele.
Christian inclina o corpo para trás, levantando minhas coxas e me jogando na cama, enquanto eu o puxo e o aperto mais forte, subindo e descendo a mão pela sua ereção. Sentindo uma gota de umidade na ponta, desenho um redemoinho com o polegar. Quando ele me deita no colchão, eu levo o polegar à boca para sentir seu gosto, e suas mãos viajam pelo meu corpo, acariciando meu quadril, minha barriga, meus seios.
— É bom? — pergunta ele, em cima de mim e com o torso erguido, os olhos em chamas.
— Sim. Prove.
Enfio o polegar na sua boca; ele chupa e morde meu dedo. Dou um gemido, seguro sua cabeça e o puxo para mim, para poder beijá-lo. Envolvendo-o com minhas pernas, tiro de vez seu pijama com os pés e então subo nele, mantendo as pernas em volta da sua cintura. Seus lábios percorrem o contorno do meu rosto, mordiscando de leve.
— Você é tão linda. — Ele enterra a cabeça na base do meu pescoço. — Que pele linda. — Sua respiração é suave à medida que seus lábios deslizam para os meus seios.
O quê? Estou ofegante, confusa — ávida, e agora em compasso de espera. Achei que seria rápido.
— Christian. — Ouço o sutil apelo na minha voz e me inclino para baixo, enterrando as mãos no seu cabelo.
— Quieta — sussurra ele, e circula meu mamilo com a língua antes de colocá-lo na boca e sugar com força.
— Ah!
Eu gemo e me contorço, erguendo a pélvis para provocá-lo. Ele sorri encostado à minha pele e volta a atenção para meu outro seio.
— Ansiosa, Sra. Grey? — Ele então suga com força meu mamilo. Agarro seu cabelo. Ele geme e ergue o olhar. — Vou fazer você parar — ameaça ele.
— Me possua — imploro.
— Tudo a seu tempo — murmura ele, com a boca ainda grudada na minha pele.
Sua mão viaja com uma velocidade irritantemente lenta para o meu quadril enquanto ele reverencia meu mamilo com a boca. Solto um gemido alto, a respiração curta e rápida, e tento mais uma vez guiá-lo para dentro de mim, erguendo meu corpo ao encontro do dele. Ele já está duro, pronto e perto do clímax, mas demora o quanto pode comigo.
Foda-se. Eu me debato e torço o corpo, determinada a afastá-lo de mim de novo.
— Mas o que…
Agarrando minhas mãos, Christian as segura contra a cama, meus braços bem abertos, e joga todo o peso do corpo sobre mim, dominando-me completamente. Estou sem fôlego, descontrolada.
— Você queria resistência — digo, ofegante.
Christian ergue o torso, ainda em cima de mim, e me encara, suas mãos sem soltar meus pulsos. Posiciono meus calcanhares embaixo de sua bunda e o puxo para mim. Mas ele nem se mexe. Argh!
— Não quer uma brincadeira mais leve? — pergunta ele, maravilhado, os olhos brilhando de excitação.
— Só quero que você faça amor comigo, Christian.
Ele poderia ser mais complicado? Primeiro estamos brigando e lutando, depois ele fica todo terno e doce. Isso me confunde. Estou na cama com o Sr. Inconstante.
— Por favor.
Forço os calcanhares na bunda dele mais uma vez. Olhos cinzentos em chamas procuram os meus. Ah, o que será que ele está pensando? Ele parece momentaneamente perplexo e confuso. Solta as minhas mãos e se senta sobre os calcanhares, puxando-me para o seu colo.
— Tudo bem, Sra. Grey, vamos fazer do seu jeito.
Ele então me levanta e me coloca sobre si, de maneira que eu fico montada nele.
— Ah!
É isso. É isso o que eu quero. É disso que eu preciso. Abraçando o pescoço dele, enfio os dedos no seu cabelo, exaltando-me na sensação de tê-lo dentro de mim. Começo a me movimentar. O controle agora é meu e eu o guio no meu ritmo, na minha velocidade. Ele geme, sua boca encontra a minha, e nos perdemos.
* * *
PASSO OS DEDOS nos pelos do peito de Christian. Ele está deitado de costas, imóvel e quieto ao meu lado, enquanto nós dois recuperamos o fôlego. Sua mão afaga ritmadamente minhas costas.
— Você está tão calado — sussurro, e beijo seu ombro. Ele se vira e me olha, mas sua expressão não revela nada. — Foi divertido.
Merda, tem alguma coisa errada?
— Você me deixa confuso, Ana.
— Confuso?
Ele muda de posição para que fiquemos cara a cara.
— É. Você. Dando as cartas. É… diferente.
— Diferente bom ou diferente ruim?
Passo um dedo pelos seus lábios. Ele franze a testa, como se não entendesse bem a pergunta. Absorto, beija meu dedo.
— Diferente bom — diz, mas não soa convincente.
— Você nunca cedeu a essa fantasia antes?
Fico corada ao fazer a pergunta. Eu realmente quero saber mais sobre a vida sexual colorida… hmm, caleidoscópica do meu marido antes de mim? Meu inconsciente me olha com cautela por trás dos óculos de leitura de armação de tartaruga. Você quer realmente mexer nisso?
— Não, Anastasia. Você pode me tocar.
É uma explicação simples mas que diz muito. Claro, as outras quinze não podiam.
— A Mrs. Robinson podia tocar em você. — Murmuro essas palavras antes que meu cérebro registre o que eu disse. Merda. Por que eu a mencionei?
Ele fica estático. Seus olhos se arregalam, assumindo uma expressão de “Ah, não, aonde ela quer chegar com isso?”.
— Era diferente — sussurra ele.
De repente, quero saber mais.
— Diferente bom ou diferente ruim?
Ele me fita. Em seu rosto transparece dúvida e, talvez, dor. Por um brevíssimo momento ele parece estar se afogando.
— Ruim, eu acho. — Suas palavras são quase inaudíveis.
Puta merda!
— Achei que você gostasse.
— Eu gostava. Na época.
— E agora não?
Ele me encara, os olhos arregalados, e então balança a cabeça devagar.
Ai, meu Deus…
— Ah, Christian.
Sinto-me completamente oprimida pelos sentimentos que me invadem. Meu menino perdido. Eu me jogo em cima dele e beijo seu rosto, seu pescoço, seu peito, suas pequenas cicatrizes redondas. Ele geme, puxa-me para si e me beija apaixonadamente. E muito devagar, ternamente, no seu ritmo, ele faz amor comigo mais uma vez.
* * *
— ANA TYSON. DERRUBANDO adversários bem mais pesados que ela! — diz Ethan, aplaudindo quando chego à cozinha para o café da manhã. Ele está sentado com Mia e Kate no balcão, enquanto a Sra. Bentley faz waffles. Christian não está em nenhum lugar à vista.
— Bom dia, Sra. Grey. — A Sra. Bentley sorri. — O que gostaria para o café?
— Bom dia. O que tiver, obrigada. Cadê o Christian?
— Lá fora. — Kate gesticula com a cabeça na direção do quintal.
Olho pela janela que dá para o quintal e, mais além, para as montanhas. Está claro, um dia de verão bem azul, e meu lindo marido está a cerca de seis metros de distância, absorto em uma conversa séria com um homem.
— É o Sr. Bentley — diz Mia do balcão.
Eu me viro para olhá-la, surpresa pelo seu tom emburrado. Ela lança um olhar maldoso para Ethan. Ai, céus. E me pergunto mais uma vez o que estará acontecendo entre eles. Franzindo o cenho, volto a observar meu marido e o Sr. Bentley.
O marido da Sra. Bentley é magro mas musculoso, com cabelo claro e olhos escuros. Ele veste uma calça cargo e uma camiseta do corpo de bombeiros de Aspen. Christian está de calça jeans e camiseta. Enquanto os dois atravessam o gramado a passos lentos em direção à casa, entretidos na conversa, Christian casualmente se abaixa para apanhar o que parece ser um bambu que deve ter voado pelo ar ou ter sido jogado no canteiro de flores. Ele para e, distraidamente, segura o bambu com o braço esticado, como se o estivesse pesando com muito critério, e com ele golpeia o ar, uma só vez.
Ah…
O Sr. Bentley aparenta não achar nada estranho no comportamento de Christian. Eles continuam a conversa, mais perto da casa dessa vez; então, param de novo, e Christian repete o gesto. A ponta do bambu atinge o solo. Olhando para cima, Christian me vê à janela. De repente, sinto como se o estivesse espionando. Ele para. Aceno constrangida e depois dou meia-volta, retornando para o balcão onde os outros tomam café.
— O que você estava fazendo? — pergunta Kate.
— Só olhando o Christian.
— Você está realmente apaixonada — comenta ela, fungando.
— E você não, futura cunhada? — respondo, sorrindo e tentando esquecer a visão perturbadora de Christian empunhando uma vara. Levo um susto quando Kate se levanta de um salto e me abraça.
— Irmã! — exclama ela, e é difícil não ser contagiada por sua alegria.
— Ei, dorminhoca. — É Christian me acordando. — Já vamos pousar. Coloque o cinto.
Tateio em volta, sonolenta, procurando o cinto de segurança, mas Christian já o está prendendo para mim. Ele beija minha testa e então volta a se recostar em seu assento. Deito a cabeça no seu ombro de novo e fecho os olhos.
Uma caminhada por uma trilha interminável e um almoço-piquenique no topo de uma montanha espetacular me deixaram exausta. Os outros também estão quietos — até mesmo Mia. Ela parece desanimada, como aliás esteve o dia todo. Como será que vão seus esforços com Ethan? Nem sei onde eles dormiram na noite passada. Meus olhos encontram os dela, e abro um sorriso para perguntar se está tudo bem. Ela me devolve um rápido e triste sorriso e volta para seu livro. Dou uma espiada em Christian. Ele está trabalhando em um contrato ou algo do tipo, lendo e fazendo anotações nas margens. Mas parece relaxado. Elliot ronca de leve ao lado de Kate.
Ainda tenho que encurralar Elliot num canto e interrogá-lo sobre Gia, mas tem sido impossível tirá-lo de perto de Kate. Christian não está interessado o suficiente para perguntar, o que é irritante, mas eu não o pressionei. Estávamos nos divertindo tanto. Elliot descansa a mão no joelho de Kate, num gesto possessivo. Ela parece radiante. E pensar que apenas ontem à tarde ela estava tão insegura com relação ao namorado… Como foi mesmo que Christian o chamou? Lelliot. Deve ser um apelido familiar. É fofo; melhor do que “mulherengo”. Elliot de súbito abre os olhos e me fita diretamente. Fico vermelha, por ser pega encarando-o.
Ele sorri.
— Adoro quando você fica vermelha, Ana — ele me provoca, espreguiçando-se.
Kate me olha com seu sorriso de quem está mais do que satisfeita, mais feliz que pinto no lixo.
A copiloto Beighley anuncia que estamos nos aproximando do aeroporto de Sea-Tac. Christian aperta minha mão.
— Como foi o seu fim de semana, Sra. Grey? — pergunta Christian quando já estamos no Audi, voltando para o Escala. Taylor e Ryan estão na frente.
— Bom, obrigada. — Sorrio, sentindo-me tímida de repente.
— Podemos voltar lá a qualquer hora. Leve quem você quiser.
— Podíamos levar o Ray. Ele ia gostar de pescar.
— É uma boa ideia.
— E para você, foi bom? — pergunto.
— Foi — responde ele após um instante, surpreso com a minha pergunta, eu acho. — Muito bom.
— Você parecia relaxado.
Ele dá de ombros.
— Eu sabia que você estava segura.
Franzo o cenho.
— Christian, eu estou segura a maior parte do tempo. Já falei: você vai pifar aos quarenta anos se continuar com esse nível de ansiedade. E eu quero ficar velhinha com você.
Pego sua mão. Christian me olha como se não compreendesse o que estou falando. Ele beija suavemente os nós dos meus dedos e muda de assunto.
— Como está a sua mão?
— Melhor, obrigada.
Ele sorri.
— Muito bem, Sra. Grey. Pronta para encarar a Gia de novo?
Ah, droga. Tinha esquecido que a encontraríamos hoje à noite para rever as plantas finais. Reviro os olhos.
— Talvez eu queira que você fique longe de nós duas, para protegê-lo. — Dou um sorriso malicioso.
— Para me proteger? — Ele está rindo de mim.
— Sempre, Sr. Grey. De todas as predadoras sexuais — sussurro.
Christian está escovando os dentes quando eu me deito na cama. Amanhã voltaremos à realidade: ao trabalho, aos paparazzi e à prisão de Jack — que talvez tenha um cúmplice. Hmm… Christian foi vago quando falou sobre isso. Será que ele sabe? E se soubesse, será que me contaria? Dou um suspiro. Tirar informações de Christian é como extrair um dente, e tivemos um fim de semana tão agradável… Será que quero destruir esse momento de bem-estar tentando arrancar algo dele?
Foi uma revelação vê-lo fora do seu ambiente habitual, fora deste apartamento, relaxado e feliz com a família. Será que não é por estarmos aqui, de volta ao apartamento, com todas as suas lembranças e associações, que ele fica nervoso? Talvez devêssemos nos mudar.
Ora essa. Nós vamos nos mudar — estamos reformando uma casa enorme na praia. As plantas de Gia estão prontas e aprovadas, e a equipe de Elliot deve começar as obras semana que vem. Dou uma risada quando me lembro da expressão de choque de Gia quando comentei com ela que a vira em Aspen. Acabou que não passou de uma coincidência. Ela tinha se isolado na sua casa de férias para trabalhar exclusivamente no nosso projeto. Por um momento terrível eu pensara que ela tinha dado sua opinião na escolha da aliança, mas pelo visto não. No entanto, ainda não confio em Gia. Quero ouvir a versão de Elliot. Pelo menos ela manteve distância de Christian dessa vez.
Contemplo o céu noturno. Vou sentir saudades dessa vista panorâmica… Seattle a nossos pés, tão cheia de possibilidades e ainda assim tão distante. Talvez seja esse o problema de Christian: ele ficou tempo demais isolado da vida real, graças ao seu exílio autoimposto. Com a família por perto, porém, ele é menos controlador, menos ansioso — mais livre, mais feliz. Fico imaginando o que Flynn diria de tudo isso. Caramba! Talvez seja essa a resposta. Talvez ele precise de uma família para ele. Balanço a cabeça em negativa — somos jovens demais, e ainda é tudo muito novo para nós dois. Christian entra no quarto, lindo como sempre, ainda que com uma expressão grave e pensativa.
— Tudo bem? — pergunto.
Ele anui distraidamente enquanto se ajeita na cama.
— Não estou muito ansiosa para voltar à realidade — murmuro.
— Não?
Balanço a cabeça e acaricio seu belo rosto.
— Tive um fim de semana maravilhoso. Obrigada.
Ele abre um sorriso suave.
— Você é a minha realidade, Ana — murmura, e me beija.
— Você sente falta?
— De quê? — pergunta ele, perplexo.
— Você sabe. Das submissões… essas coisas — sussurro, constrangida.
Ele me fita com o olhar impassível. Depois, a dúvida cruza seu rosto, e sua expressão torna-se algo do tipo “aonde ela quer chegar com isso?”.
— Não, Anastasia, não sinto falta. — Sua voz é calma e baixa. Ele afaga meu rosto. — O Dr. Flynn me disse uma coisa quando você foi embora, algo que me marcou. Ele disse que eu não poderia ser daquela maneira se você não estivesse disposta a fazer aquilo. Foi uma revelação. — Ele faz uma pausa e franze o cenho. — Eu não conhecia outra maneira, Ana. Agora conheço. Tem sido educativo.
— Estou educando você? — zombo.
Seus olhos ficam mais suaves.
— Você sente falta? — pergunta ele.
Oh!
— Eu não quero que você me machuque, mas gosto de brincar, Christian. Você sabe disso. Se quisesse fazer alguma coisa… — Encolho os ombros, fitando-o.
— Alguma coisa?
— Você sabe, com um chicote ou o seu açoite… — Paro de falar, ruborizada.
Ele levanta a sobrancelha, surpreso.
— Bem… Vamos ver. Mas no momento eu quero o bom e velho sexo baunilha.
Seu polegar contorna meu lábio inferior e ele me beija mais uma vez.
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De: Anastasia Grey
Assunto: Bom dia
Data: 29 de agosto de 2011 09:14
Para: Christian Grey
Sr. Grey,
Só queria dizer que amo você.
É só isso.
Sempre sua,
A.
Anastasia Grey
Editora, SIP
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De: Christian Grey
Assunto: Expulsando a tristeza da segunda-feira
Data: 29 de agosto de 2011 09:18
Para: Anastasia Grey
Sra. Grey,
Que palavras gratificantes de se ouvir da esposa (seja ela malcomportada ou não) numa manhã de segunda-feira.
Saiba que eu sinto exatamente o mesmo por você.
Sinto muito pelo jantar desta noite. Espero que não seja muito entediante para você.
Bj,
Christian Grey,
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Ah sim. O jantar da Associação Americana de Construtores Navais. Reviro os olhos… Mais gente de nariz em pé. Christian realmente me arruma os programas mais fascinantes.
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De: Anastasia Grey
Assunto: Navios que passam de noite
Data: 29 de agosto de 2011 09:26
Para: Christian Grey
Prezado Sr. Grey,
Tenho certeza de que você consegue pensar em uma maneira de apimentar o jantar…
Ansiosamente,
Sra. G.
Anastasia (bem-comportada) Grey
Editora, SIP
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De: Christian Grey
Assunto: A variedade é o tempero da vida
Data: 29 de agosto de 2011 09:35
Para: Anastasia Grey
Sra. Grey,
Tenho algumas ideias…
Bj,
Christian Grey
CEO agora impaciente pelo jantar, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Todos os músculos da minha barriga se enrijecem. Hmm… Fico pensando no que ele terá em mente. Hannah bate à porta, interrompendo meus devaneios.
— Pronta para ver a agenda desta semana, Ana?
— Claro. Sente-se. — Sorrio me recuperando, e minimizo a caixa de e-mails.
— Tive que trocar alguns compromissos. O Sr. Fox, na semana que vem, e a Dra…
Meu telefone toca, interrompendo-a. É Roach. Ele me pede para ir até sua sala.
— Podemos continuar daqui a vinte minutos?
— Claro.
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De: Christian Grey
Assunto: Ontem à noite
Data: 30 de agosto de 2011 09:24
Para: Anastasia Grey
Foi… divertido.
Quem diria que o jantar anual da Associação de Construtores Navais poderia ser tão estimulante?
Como sempre, você nunca me desaponta, Sra. Grey.
Amo você.
Bj,
Christian Grey
CEO Fascinado, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Grey
Assunto: Adoro um bom jogo de bola
Data: 30 de agosto de 2011 09:33
Para: Christian Grey
Querido Sr. Grey,
Estava com saudade das bolas prateadas.
Você nunca me desaponta.
Isso é tudo.
Bj,
Sra. G.
Anastasia Grey
Editora, SIP
Hannah bate à porta, interrompendo meus pensamentos eróticos sobre a noite passada. As mãos de Christian… sua boca.
— Entre.
— Ana, o assistente do Sr. Roach acabou de ligar. Ele gostaria da sua presença numa reunião hoje de manhã. Significa que tenho que trocar mais alguns compromissos seus. Tudo bem?
Sua língua.
— Claro. Tudo bem — murmuro, tentando deter meus pensamentos desobedientes.
Ela sorri e sai da minha sala… deixando-me com minhas deliciosas lembranças da noite passada.
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De: Christian Grey
Assunto: Hyde
Data: 1º de setembro de 2011 15:24
Para: Anastasia Grey
Anastasia,
Para sua informação, o Hyde teve a fiança negada e permanece detido. Ele está sendo acusado de tentativa de sequestro e incêndio criminoso. Ainda não foi marcada a data do julgamento.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Grey
Assunto: Hyde
Data: 1º de setembro de 2011 15:53
Para: Christian Grey
Que boa notícia.
Isso significa que você vai diminuir a segurança?
Eu realmente não vou com a cara da Prescott.
Bj,
Ana
Anastasia Grey
Editora, SIP
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De: Christian Grey
Assunto: Hyde
Data: 1º de setembro de 2011 15:59
Para: Anastasia Grey
Não. A segurança continua a mesma. Sem discussão.
O que tem de errado com a Prescott? Se você não gosta dela, podemos substituí-la.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Olho de cara feia para o seu e-mail autoritário. A Prescott não é tão ruim assim.
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De: Anastasia Grey
Assunto: Não arranque os cabelos!
Data: 1º de setembro de 2011 16:03
Para: Christian Grey
Foi só uma pergunta (revirando os olhos). E vou pensar a respeito da Prescott.
Segure essa mão nervosa!
Bj,
Ana
Anastasia Grey
Editora, SIP
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De: Christian Grey
Assunto: Não me provoque
Data: 1º de setembro de 2011 16:11
Para: Anastasia Grey
Posso lhe assegurar, Sra. Grey, que meu cabelo está bem firme na cabeça — você mesma comprovou isso, não?
Já a minha mão está coçando.
Acho que vou dar um jeito nisso hoje à noite.
Bj,
Christian Grey
CEO ainda não careca, Grey Enterprises Holdings, Inc.
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De: Anastasia Grey
Assunto: Me contorcendo
Data: 1º de setembro de 2011 16:20
Para: Christian Grey
Promessas, promessas…
Agora pare de me importunar. Estou tentando trabalhar; tenho um encontro de última hora com um escritor. Vou tentar não me distrair pensando em você durante a reunião.
Bj,
A.
Anastasia Grey
Editora, SIP
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De: Anastasia Grey
Assunto: Casa, comida e palmadas
Data: 5 de setembro de 2011 09:18
Para: Christian Grey
Marido,
Você realmente sabe como entreter uma mulher.
Com certeza vou esperar receber esse tipo de tratamento todo fim de semana.
Você está me mimando. Adoro isso.
Bjs,
Sua esposa
Anastasia Grey
Editora, SIP
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De: Christian Grey
Assunto: Minha missão na vida…
Data: 5 de setembro de 2011 09:25
Para: Anastasia Grey
É mimar você, Sra. Grey.
E mantê-la segura, porque eu amo você.
Christian Grey
CEO apaixonado, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Meu Deus. Tem coisa mais romântica?
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De: Anastasia Grey
Assunto: Minha missão na vida…
Data: 5 de setembro de 2011 9:33
Para: Christian Grey
É deixar você me mimar — porque eu também amo você.
Agora deixe de ser tão bobo.
Está me fazendo chorar.
Anastasia Grey
Editora igualmente apaixonada, SIP
No dia seguinte, consulto o calendário em cima da minha mesa. Faltam só cinco dias para dez de setembro — meu aniversário. Sei que vamos dar uma passada na casa para ver o quanto Elliot e sua equipe estão progredindo. Hmm… Será que Christian tem mais algum plano? Sorrio ao pensar nisso. Hannah bate à porta.
— Entre.
Prescott está parada do lado de fora. Estranho…
— Oi, Ana — diz Hannah. — Tem uma tal de Leila Williams aqui querendo falar com você. Ela diz que é particular.
— Leila Williams? Eu não conheço nenhuma…
Minha boca fica seca, e os olhos de Hannah se arregalam diante da minha expressão.
Leila? Merda. O que será que ela quer?