CAPÍTULO VINTE E CINCO

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Mal consigo respirar. Será que eu quero mesmo ouvir isso? Christian fecha os olhos e engole em seco. Quando os abre novamente, estão brilhantes e acanhados, cheios de lembranças inquietantes.

— Era um dia quente de verão. Eu estava trabalhando bastante — diz ele, com a voz rouca, e balança a cabeça, repentinamente achando graça. — Era bem puxado, retirar entulho. Eu estava sozinho, e a Elen… a Sra. Lincoln apareceu do nada me trazendo limonada. Batemos um papo, coisas banais, até que eu fiz um comentário debochado… e ela me deu um tapa. Um tapa bem forte.

Inconscientemente, sua mão vai ao rosto e ele acaricia a própria face, seus olhos se anuviando por causa da recordação. Puta merda!

— Mas aí ela me beijou. E, quando acabou, me deu outro tapa. — Ele pisca várias vezes, aparentemente ainda confuso mesmo depois desse tempo todo. — Eu nunca tinha sido beijado antes, nem nunca tinha levado um tapa daquele jeito.

Ah! Ela partiu para cima dele. Um menino.

— Você quer ouvir isso? — pergunta Christian.

SimNão…

— Só se você quiser me contar. — Estou deitada fitando-o, e minha voz sai bem baixa, minha mente a mil.

— Estou tentando contextualizar.

Faço um gesto com a cabeça, anuindo e — espero — incentivando-o a prosseguir. Porém, suspeito de que eu talvez esteja parecendo uma estátua, imóvel, em choque, os olhos arregalados.

Ele franze o cenho, seu olhar procurando o meu, tentando avaliar minha reação. Depois se deita de costas e fica mirando o teto.

— Bem, naturalmente eu fiquei confuso, irado e cheio de tesão. Quer dizer, uma mulher mais velha, toda gostosa, aparece e se atira em cima de você daquela maneira… — Ele balança a cabeça como se ainda não conseguisse acreditar.

Gostosa? Fico enojada.

— Ela voltou para dentro da casa, deixando-me sozinho no quintal. Agiu como se nada tivesse acontecido. Fiquei completamente perdido. Então voltei ao meu trabalho, despejando o entulho na caçamba. Quando saí de lá, à noite, ela me pediu para voltar no dia seguinte. Nem mencionou o que tinha acontecido. E no outro dia, quando eu voltei, mal podia esperar para ver a Sra. Lincoln de novo. — Ele fala num murmúrio, como se fosse uma confissão sombria; e, francamente, é mesmo.

— Ela não me tocou quando me beijou — continua ele, e vira o rosto para mim. — Você tem que entender… minha vida era o inferno na terra. Eu tinha quinze anos, era alto para a minha idade, vivia com tesão o tempo todo, os hormônios ensandecidos. As garotas da escola…

Ele para por um momento, mas eu imagino o quadro: um adolescente amedrontado e solitário, mas atraente. Meu coração se contorce.

— Eu vivia com raiva, uma raiva tão grande, irado com todo mundo, eu mesmo, minha família. Não tinha amigos. Meu analista na época era um babaca completo. E os meus pais… eles me mantinham com rédea curta, não conseguiam entender.

Ele volta a olhar para o teto e passa a mão no cabelo. Minha mão está coçando de vontade de fazer o mesmo, mas fico no meu lugar.

— Eu simplesmente não suportava que ninguém me tocasse. Não suportava. Não suportava ninguém perto de mim. Eu me metia em brigas… porra, muitas brigas. E umas bem pesadas. Fui expulso de algumas escolas. Mas era uma maneira de extravasar. De tolerar algum tipo de contato físico. — Ele interrompe o relato novamente. — Bom, você já tem uma ideia. E quando ela me beijou, só segurou o meu rosto. Não tocou em mim. — Quase não ouço sua voz.

Ela devia saber. Talvez Grace tivesse lhe contado. Ah, meu pobre Cinquenta Tons. Preciso dobrar as mãos embaixo do travesseiro e deitar a cabeça por cima para resistir à necessidade que sinto de abraçá-lo.

— Bom, no dia seguinte eu voltei até a casa, sem saber o que esperar. Vou poupar você dos detalhes sórdidos, mas a coisa toda se repetiu. E foi assim que o nosso relacionamento começou.

Puta merda, é doloroso ouvir isso.

Ele deita de lado novamente, para me olhar.

— E sabe de uma coisa, Ana? Meu mundo achou um foco. Claro e nítido. Em tudo. Era exatamente daquilo que eu precisava. Ela era um sopro de ar fresco. Tomava as decisões todas, me afastava daquela merda, me deixava respirar.

Puta merda.

— E mesmo quando acabou, meu mundo continuou em foco por causa dela. E assim permaneceu até que eu encontrei você.

Que espécie de comentário devo fazer depois disso? Hesitante, ele põe uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.

— Você fez meu mundo virar de cabeça para baixo. — Ele fecha os olhos, e, quando os abre novamente, vejo que estão tomados pela emoção. — Meu mundo era organizado, calmo e controlado. Aí você entrou na minha vida, com essa sua boca afiada, a sua inocência, a sua beleza e a sua coragem discreta… e todo o resto, tudo antes de você simplesmente ficou bobo, vazio, medíocre… nada.

Ai, meu Deus.

— Eu me apaixonei — sussurra ele.

Paro de respirar. Ele acaricia minha face.

— E eu também — murmuro, com o fio de respiração que ainda me resta.

Seus olhos se suavizam.

— Eu sei — diz ele sem produzir som, só mexendo os lábios.

— Você sabe?

— Sei.

Aleluia! Sorrio tímida.

— Finalmente — sussurro.

Ele aquiesce.

— E isso colocou tudo em perspectiva para mim. Quando eu era mais jovem, a Elena era o centro do meu mundo. Não havia nada que eu não fizesse por ela. E ela também fazia muito por mim. Ela me fez parar de beber. Fez com que eu me empenhasse nos estudos… Você sabe, ela me forneceu uma forma de lidar com o que acontecia à minha volta, algo que eu não tinha antes, e me permitiu experimentar coisas que eu nunca tinha imaginado fazer.

— Contato físico — digo.

Ele aquiesce.

— Em certo sentido.

Franzo o cenho, sem entender.

Ele hesita diante da minha reação.

Conte!, peço-lhe.

— Se você cresce com uma autoimagem inteiramente negativa, pensando que é algum tipo de rejeitado, um selvagem incapaz de ser amado, você acha que merece apanhar.

Christian… você não é nada disso.

Ele faz uma pausa e passa a mão no cabelo.

— Ana, é muito mais fácil lidar com a dor do lado de fora… — Novamente, trata-se de uma confissão.

Ah.

— Ela canalizou minha raiva. — Seus lábios se apertam em uma expressão triste. — Principalmente por dentro; agora eu percebo isso. O Dr. Flynn tem tocado nesse ponto já faz algum tempo. Mas há pouco eu enxerguei nossa relação pelo que era. Você sabe… no meu aniversário.

Estremeço quando me vem à mente a desagradável lembrança de Elena e Christian se digladiando verbalmente na festa de aniversário dele.

— Para ela, aquela parte do nosso relacionamento era uma questão de sexo e controle, uma mulher solitária encontrando algum tipo de conforto em seu menino de estimação.

— Mas você gosta de controle — murmuro.

— É. Eu gosto. Sempre vou gostar, Ana. Eu sou assim. Abri mão disso por um curto espaço de tempo. Deixei outra pessoa tomar as decisões por mim. Eu mesmo não conseguia fazer isso; não estava em condições. Mas, com a minha submissão a ela, eu me reencontrei, e descobri a força de que precisava para tomar as rédeas da minha vida… ter o controle e tomar minhas próprias decisões.

— Tornar-se um Dominador?

— Sim.

— Decisão sua?

— Sim.

— Abandonar Harvard?

— Foi decisão minha, e a melhor que já tomei na vida. Até conhecer você.

— Eu?

— É. — Seus lábios desenham um sorriso suave. — A melhor decisão que eu já tomei na vida foi me casar com você.

Ai, meu Deus.

— Não foi começar a sua empresa?

Ele balança a cabeça em negativa.

— Nem aprender a pilotar?

Ele balança a cabeça.

— Você — diz ele sem emitir som. Ele acaricia minha face com os nós dos dedos. — Ela sabia — murmura ele.

Franzo a testa.

— Sabia o quê?

— Que eu estava completamente apaixonado. Ela me incentivou a ir para a Geórgia ver você, e que bom que fez isso. Ela achou que você entraria em pânico e se afastaria. O que realmente aconteceu.

Empalideço. Prefiro não pensar no assunto.

— Ela achava que eu precisava de todos os subterfúgios do estilo de vida de que eu gostava.

— O Dominador? — murmuro.

Ele admite.

— Dessa forma eu podia evitar me relacionar de verdade com quem quer que fosse, e isso me dava controle e me mantinha livre: ou pelo menos eu pensava assim. Tenho certeza de que você já imaginou por quê — acrescenta suavemente.

— Sua mãe biológica?

— Eu não queria sofrer de novo. E foi aí que você me deixou. — Mal ouço suas palavras. — E eu fiquei um trapo.

Ah, não.

— Eu fugi da intimidade por tanto tempo… não sei como fazer isso.

— Você está se saindo muito bem — murmuro.

Desenho o contorno dos seus lábios com o indicador. Ele os franze na forma de um beijo. Você está me contando.

— Você sente falta? — sussurro.

— Falta de quê?

— Daquele estilo de vida.

— Sinto, sim.

Ah!

Mas só na medida em que sinto falta do controle que aquilo me dava. E sinceramente, a sua façanha estúpida — ele faz uma pausa — que salvou a minha irmã — murmura, suas palavras irradiando alívio, admiração e descrença. — É assim que eu sei.

— Sabe o quê?

— Realmente sei que você me ama.

Franzo a testa.

— Sabe mesmo?

— Sim, porque você arriscou tanto… por mim, pela minha família.

Enrugo ainda mais a testa. Ele se aproxima e passa o dedo entre as minhas sobrancelhas, acima do nariz.

— Aparece um V aqui quando você franze a testa. É bem gostoso de beijar. Eu às vezes me comporto tão mal… e ainda assim você continua aqui.

— Por que está surpreso de eu continuar aqui? Eu disse que não ia abandonar você.

— Por causa da minha reação quando você me contou que estava grávida. — Ele desce o dedo pelo meu rosto. — Você tinha razão. Eu sou um adolescente.

Ah, merda… Eu realmente disse isso. Meu inconsciente me olha com ar de censura. O médico dele disse isso!

— Christian, eu disse coisas horríveis.

Ele encosta o indicador nos meus lábios.

— Shh. Eu merecia ouvir. Além disso, estou lhe contando uma história. — Ele gira, deitando de costas novamente. — Quando você me disse que estava grávida… — Ele faz uma pausa. — Eu tinha pensado que seria só você e eu por um tempo. Eu tinha considerado a hipótese de uma criança, mas só de maneira abstrata. Eu tinha uma vaga ideia de um filho em algum momento no futuro.

Só um? Não… Não um filho único. Não como eu. Talvez não seja a melhor hora para eu tocar nesse assunto.

— Você ainda é tão jovem, e sei que é discretamente ambiciosa.

Ambiciosa? Eu?

— Bom, você me deixou sem chão. Nossa, aquilo me pegou de surpresa. Quando perguntei o que havia de errado, jamais, nem em um milhão de anos, eu imaginaria que você pudesse estar grávida. — Ele solta um suspiro. — Eu fiquei com tanta raiva… Raiva de você. De mim. De todo mundo. E isso me trouxe de volta aquela sensação de não ter nada sob o meu controle. Eu tinha que sair. Fui procurar o Flynn, mas ele estava ocupado, em um evento de associação de pais na escola. — Christian faz uma pausa e ergue uma sobrancelha.

— Que ironia — sussurro. Ele dá um sorriso, concordando.

— Então eu andei e andei e andei, e aí… me vi em frente ao salão. A Elena estava saindo. Ela ficou surpresa em me ver. E, verdade seja dita, também fiquei surpreso de estar naquele lugar. Ela percebeu que eu estava irritado e me convidou para beber alguma coisa.

Ah, merda. Direto ao ponto. Meu coração dispara. Será que eu realmente quero saber o que aconteceu? Meu inconsciente me censura com o olhar novamente, uma sobrancelha bem delineada erguida em sinal de alerta.

— Fomos a um bar tranquilo que eu conheço e tomamos uma garrafa de vinho. Ela se desculpou pelo modo como tinha se comportado da última vez que nos viu. Ficou magoada porque a minha mãe não quer mais saber dela, o que restringiu o círculo social que ela frequentava, mas compreende. Falamos sobre o negócio, que está indo bem apesar da recessão… E eu mencionei que você gostaria de ter filhos.

Franzo o cenho.

— Pensei que você tinha contado a ela que eu estava grávida.

Ele me observa, o rosto com uma expressão sincera.

— Não, não contei.

— Por que não me disse isso antes?

Ele dá de ombros.

— Não tive oportunidade.

— Teve sim.

— Não consegui encontrar você na manhã seguinte, Ana. E quando encontrei, você estava tão furiosa comigo…

Ah, sim.

— Estava mesmo.

— Enfim, em algum momento daquela noite, já no meio da segunda garrafa de vinho, ela se inclinou para me tocar. E eu fiquei paralisado — murmura ele, jogando o braço por cima dos olhos.

Meu couro cabeludo começa a pinicar. O que é isso?

— Ela viu que eu me retraí com o seu toque. Nós dois ficamos chocados. — A voz dele está baixa, muito baixa.

Christian, olhe para mim! Eu puxo seu braço, e ele se vira para me encarar. Merda. Seu rosto está pálido, os olhos arregalados.

— E aí? — falo baixinho.

Ele franze a testa e engole em seco.

Ah… O que ele não está me contando? Será que eu quero saber?

— Ela me passou uma cantada. — Ele está chocado, dá para perceber.

Todo o ar se esvai do meu corpo. Sinto-me exaurida e acho que meu coração parou de bater. Aquela Monstra Filha da Mãe!

— Foi só um instante, suspenso no tempo. Ela viu minha expressão e percebeu que tinha ido longe demais. Eu disse… não. Não penso nela naqueles termos há anos, e além do mais — ele engole em seco —, eu amo você. Eu disse a ela que eu amo a minha mulher.

Eu o fito. Não sei o que dizer.

— Ela recuou imediatamente. Pediu desculpas mais uma vez, fez parecer que tinha sido uma brincadeira. Sabe, ela disse que estava feliz com o Isaac e com o negócio, e que não queria causar mal a nós dois. Disse que sentia falta da minha amizade, mas que entendia que minha vida agora era com você. E foi muito estranho, tendo em vista o que aconteceu na última vez que estivemos no mesmo ambiente. Concordei inteiramente com ela. Então nos despedimos, dissemos um adeus definitivo. Eu disse que nunca mais iria procurá-la, e ela foi embora.

Engulo em seco, o medo trespassando meu coração.

— Vocês se beijaram?

— Não! — grunhe ele. — Eu não conseguiria ficar assim tão perto dela.

Ah, bem.

— Eu me sentia horrível e queria vir para casa, para perto de você. Mas… eu sabia que tinha agido muito mal. Então fiquei no bar e acabei com a garrafa, e depois comecei a tomar bourbon. Enquanto eu estava bebendo, me lembrei do que você me disse um tempo atrás: “Se fosse meu filho…” E comecei a pensar no Júnior e em como tinha começado a minha relação com Elena. E isso me deixou… desconfortável. Eu nunca tinha pensado nisso dessa forma.

Uma lembrança surge em minha mente: uma conversa sussurrada quando eu estava semiconsciente — a voz de Christian: “Mas me encontrar com ela finalmente colocou tudo numa nova perspectiva para mim. Você sabe… com relação à criança. Pela primeira vez eu senti… O que nós dois fizemos… foi errado.” Ele estava falando com Grace.

— E foi só isso?

— Basicamente.

— Ah.

— Ah?

— Acabou?

— Acabou. Acabou desde que eu pus os olhos em você. Finalmente eu percebi naquela noite, e ela também.

— Desculpe — balbucio.

Ele franze a testa.

— Pelo quê?

— Por ter ficado tão furiosa no dia seguinte.

Ele solta um gemido rouco.

— Baby, eu entendo a fúria. — Ele faz uma pausa e suspira. — Sabe, Ana, eu quero você só para mim. Não quero dividir você. O que nós temos… eu nunca tive antes. Quero ser o centro do seu universo, pelo menos por um tempo.

Ah, Christian.

— E você é. Isso não vai mudar.

Ele me dá um sorriso triste, indulgente e resignado.

— Ana — murmura ele. — Isso simplesmente não é verdade.

Fico com os olhos marejados.

— Como é possível? — continua ele.

Ah, não.

— Merda… não chore, Ana. Por favor, não chore. — Ele acaricia meu rosto.

— Sinto muito. — Meu lábio inferior treme, e ele esfrega o polegar na minha boca, tranquilizando-me.

— Não, Ana, não. Não fique assim. Você vai ter alguém mais para amar também. E você tem razão. É assim que deve ser.

— O Pontinho também vai amar você. Você vai ser o centro do mundo do Pontinho… do Júnior — murmuro. — Os filhos amam os pais incondicionalmente, Christian. É assim que eles vêm ao mundo. Programados para amar. Todos os bebês… até você. Pense naquele livro infantil de que você gostava quando era criança. Você ainda queria a sua mãe. Você a amava.

Ele franze o cenho e puxa a mão, fechando-a e apoiando-a no queixo.

— Não — sussurra ele.

— Sim. Você a amava. — Minhas lágrimas agora descem livremente. — É claro que amava. Você não tinha escolha. É por isso que é tão doloroso.

Ele me olha fixamente, com uma expressão inflamada.

— É por isso que você é capaz de me amar — murmuro. — Perdoe a sua mãe. Ela tinha a própria dor para suportar. Ela foi uma péssima mãe, mas você a amava.

Ele me olha sem dizer uma palavra, os olhos assombrados — por lembranças que não posso nem sonhar em desvendar.

Ah, por favor, não pare de falar.

Após um tempo, ele diz:

— Eu costumava escovar o cabelo dela. Ela era bonita.

— Basta olhar para você que ninguém duvida.

— Ela foi uma péssima mãe. — Sua voz está quase inaudível.

Concordo, e ele fecha os olhos.

— Tenho medo de ser um péssimo pai.

Acaricio seu querido rosto. Ah, meu amor, meu amor.

— Christian, como você pode pensar que eu deixaria você ser um péssimo pai?

Ele abre os olhos e me encara por um tempo que parece uma eternidade. E começa a sorrir quando o alívio pouco a pouco ilumina seu rosto.

— É mesmo, você não deixaria. — Ele acaricia meu rosto com as costas da mão, olhando-me com admiração. — Meu Deus, você é tão forte, Sra. Grey. Eu amo tanto você. — Ele beija minha testa. — Nunca pensei que fosse capaz.

— Ah, Christian — murmuro, tentando conter minha emoção.

— Bom, e esse é o fim da minha história.

— Foi uma história e tanto…

Ele sorri melancolicamente, mas acho que está aliviado.

— Como está a sua cabeça?

— Minha cabeça? — Na verdade, está a ponto de explodir, com tudo o que você me contou!

— Ainda dói?

— Não.

— Ótimo. Acho que é bom você dormir agora.

Dormir! Como vou conseguir dormir depois de tudo isso?

— Durma — ordena ele, severo. — Você precisa.

Faço beicinho.

— Tenho uma pergunta.

— Ah, é? Qual? — Ele me olha com cautela.

— Por que você de repente ficou tão… comunicativo, por falta de palavra melhor?

Ele enruga a testa.

— Está me contando tudo isso, quando normalmente extrair informação de você é uma tarefa bastante difícil e cansativa.

— É?

— Você sabe que é.

— Por que estou sendo comunicativo? Não sei dizer. Talvez por ter visto você praticamente morta no chão frio de concreto. Ou porque vou ser pai. Não sei. Você disse que queria saber, e eu não desejo que a Elena se torne um problema entre nós. Ela não pode. Ela agora é passado, e eu já lhe disse isso muitas e muitas vezes.

— Se ela não tivesse dado em cima de você… vocês ainda seriam amigos?

— Isso é mais do que uma pergunta.

— Desculpe. Não precisa me responder. — Fico vermelha. — Você já se dispôs a contar muito mais do que eu jamais imaginei.

Seu olhar se suaviza.

— Não, acho que não, mas ela era uma questão não resolvida para mim desde o meu aniversário. Agora ela cruzou a linha, e acabou. Por favor, acredite. Não vou mais me encontrar com ela. Você disse que ela era um limite rígido para você. Esse é um termo que eu compreendo — responde ele, com sinceridade.

Tudo bem. Vou deixar esse assunto para trás. Meu inconsciente relaxa na cadeira. Finalmente!

— Boa noite, Christian. Obrigada pela história tão esclarecedora.

Eu me inclino para beijá-lo, e nossos lábios se tocam brevemente, mas ele recua quando tento intensificar o beijo.

— Não — murmura. — Estou desesperado para fazer amor com você.

— Então faça.

— Não, você precisa descansar, e está tarde. Vá dormir.

Ele apaga a luz da cabeceira, nos fazendo mergulhar na escuridão.

— Eu amo você incondicionalmente, Christian — murmuro, e me aconchego ao seu lado.

— Eu sei — sussurra ele, e posso sentir seu sorriso tímido.

Acordo com um sobressalto. A luz inunda o quarto, e Christian não está na cama. Olho para o relógio e vejo que são sete e cinquenta e três. Inspiro profundamente e estremeço, pois minhas costelas doem muito — embora não tanto quanto ontem. Acho que posso voltar ao trabalho. Trabalhosim. Quero ir trabalhar.

Hoje é segunda-feira, e ontem passei o dia todo de preguiça na cama. Christian me deixou sair apenas por pouco tempo, para ver Ray. Francamente, ele ainda é maníaco por controle. Sorrio com ternura. O meu maníaco por controle. Ele anda atencioso, amoroso e falante... e não me toca desde que voltei para casa. Faço cara feia. Vou ter que tomar uma atitude quanto a isso. Minha cabeça não incomoda mais, a dor em torno das costelas já aliviou — embora eu tenha que admitir que preciso tomar cuidado ao rir —, mas estou frustrada. Acho que nunca fiquei tanto tempo sem sexo desde... bem, desde a primeira vez.

Acho que nós dois recuperamos nosso equilíbrio. Christian está muito mais relaxado; a longa história que ele me contou parece ter servido para apaziguar alguns fantasmas, para ele e para mim. Vamos ver.

Tomo um banho rápido e, após me secar, passo a escolher cuidadosamente uma roupa. Procuro algo sensual. Algo que excite Christian a ponto de fazê-lo entrar em ação. Quem diria que um homem tão insaciável pudesse efetivamente exercer tanto autocontrole? Não faço questão de saber como Christian aprendeu a ter tanta disciplina em relação ao próprio corpo. Nós não falamos da Monstra Filha da Mãe nem mais uma vez depois da sua explosão confessional. Espero não voltar ao assunto. Para mim, ela está morta e enterrada.

Escolho uma saia preta quase indecente de tão curta e uma blusa branca de seda com babados. Visto meias sete oitavos com renda e meus scarpins pretos de salto alto Louboutin. Um pouco de rímel e brilho nos lábios para manter uma aparência natural e, após umas escovadas vigorosas, deixo meu cabelo solto. Pronto. Acho que assim está bom.

Christian está tomando o café da manhã no balcão. Sua garfada de omelete para a caminho da boca quando me vê. Ele franze o cenho.

— Bom dia, Sra. Grey. Vai a algum lugar?

— Trabalhar. — Sorrio docemente.

— Pois eu acho que não — diz Christian, com um deboche bem-humorado. — A Dra. Singh disse uma semana de descanso.

— Christian, eu não vou passar o dia inteiro deitada na cama sozinha. Então é melhor eu ir trabalhar. Bom dia, Gail.

— Sra. Grey. — A Sra. Jones tenta esconder o sorriso. — Gostaria de tomar o café da manhã?

— Sim, por favor.

— Granola?

— Prefiro ovos mexidos com torrada de pão integral.

Ela sorri, e a expressão de Christian deixa transparecer sua surpresa.

— Pois não, Sra. Grey — diz a Sra. Jones.

— Ana, você não vai trabalhar.

— Mas...

— Não. É simples assim. Não discuta.

Christian está inflexível. Eu o fuzilo com o olhar, e só então reparo que ele ainda está com a calça do pijama e a camiseta que usou para dormir.

— Você não vai trabalhar? — pergunto.

— Não.

Será que estou ficando maluca?

Hoje é segunda-feira, não é?

Ele sorri.

— Da última vez que eu olhei, era.

Eu semicerro os olhos.

— Vai fugir do trabalho hoje?

— Não vou deixar você aqui sozinha para se meter em alguma enrascada. E a Dra. Singh disse que só daqui a uma semana você poderia voltar ao trabalho. Lembra?

Sento-me num banco ao lado dele e levanto a saia um pouco. A Sra. Jones coloca uma xícara de chá na minha frente.

— Você está com uma aparência boa — diz Christian. Cruzo as pernas. — Muito boa. Principalmente aqui. — Com o dedo, ele traça uma linha sobre a faixa de pele que aparece acima da minha meia. Minha pulsação acelera quando o sinto tocar minha pele. — Essa saia é muito curta — murmura ele, os olhos seguindo seu dedo, a voz denotando uma leve reprovação.

— É mesmo? Não tinha reparado.

Christian me fita com a boca retorcida num riso de irritação e divertimento ao mesmo tempo.

— Verdade, Sra. Grey?

Fico vermelha.

— Não sei se esse traje é adequado para o ambiente de trabalho — murmura ele.

— Bom, já que eu não vou trabalhar, isso é discutível.

— Discutível?

— Discutível. — Articulo as sílabas em silêncio.

Ele sorri novamente e volta a comer sua omelete.

— Tenho uma ideia melhor.

— Você tem?

Ele me fita com os olhos semicerrados, seu olhar cinzento escurecendo. Eu inspiro com força. Ah, meu Deus. Já não era sem tempo.

— Podemos ir ver o que o Elliot está aprontando na reforma da casa.

O quê? Ah! Que sacanagem! Lembro vagamente que estávamos para fazer isso antes de Ray sofrer o acidente.

— Eu adoraria.

— Ótimo. — Ele ri.

— Você não tem que ir trabalhar?

— Não. Ros já voltou de Taiwan. Tudo correu bem. Hoje está tudo em seus devidos lugares.

— Pensei que você é que iria a Taiwan.

Ele emite um som rouco.

— Ana, você estava no hospital.

— Ah.

— Isso mesmo: ah. Então hoje eu vou aproveitar e passar um tempo com a minha esposa. — Ele estala os lábios após tomar um gole de café.

— Aproveitar... comigo? — Não consigo disfarçar a esperança na voz.

A Sra. Jones coloca os ovos mexidos na minha frente, novamente mal disfarçando o sorriso.

Christian sorri.

— Aproveitar com você — anui ele.

Estou com tanta fome que paro de flertar com o meu marido.

— É bom ver você comer — murmura ele. Então se levanta e se inclina para beijar minha cabeça. — Vou tomar um banho.

— Hmm... posso ir junto para esfregar as suas costas? — pergunto, com a boca cheia de torrada e ovos mexidos.

— Não. Coma.

Ao se afastar do balcão, Christian tira a camiseta, oferecendo-me uma bela visão de seus ombros esculpidos e de suas costas nuas enquanto sai tranquilamente do salão. Paro de mastigar por um instante. Ele está fazendo isso de propósito. Por quê?

* * *

CHRISTIAN ESTÁ RELAXADO na Drive North. Acabamos de deixar Ray e o Sr. Rodriguez assistindo a um jogo de futebol na nova televisão de tela plana que desconfio ter sido comprada por Christian para o quarto de Ray no hospital.

Christian tem andado mais calmo desde “a conversa”. É como se ele tivesse tirado um grande peso de cima dos próprios ombros. A sombra da Mrs. Robinson não está mais tão presente entre nós; talvez por eu ter decidido não me preocupar mais... ou então por ele ter decidido assim — não sei dizer. Eu agora me sinto mais próxima dele do que jamais me senti. Talvez porque ele finalmente confiou em mim. Espero que continue a confiar. Além disso, ele está aceitando melhor a vinda do bebê. Ainda não saiu para comprar um berço, mas tenho grandes expectativas.

Eu o contemplo, devorando-o com os olhos enquanto ele dirige. Ele tem o ar descontraído, tranquilo… e sensual, com o cabelo despenteado, óculos Ray-ban, paletó listrado, camisa de linho branco e calça jeans.

Ele me olha e aperta minha perna logo acima do joelho, seus dedos me acariciando delicadamente.

— Que bom que você não mudou de roupa.

Na verdade, eu vesti uma jaqueta jeans e troquei os sapatos por outros sem saltos, mas continuo de minissaia. Seus dedos descansam sobre meu joelho. Coloco a mão sobre a dele.

— Você vai continuar me provocando?

— Talvez. — Christian sorri.

— Por quê?

— Porque sim. — Ele alarga o sorriso, mais infantil do que nunca.

— Olhe que eu posso pagar na mesma moeda — murmuro.

Seus dedos se movem provocativamente por cima da minha coxa.

— Vá em frente, Sra. Grey. — Seu sorriso se amplia ainda mais.

Pego sua mão e a coloco de volta sobre seu joelho.

— Bom, segure essas mãos nervosas.

Ele ri.

— Como quiser, Sra. Grey.

Droga. Desse jeito, meu tiro vai sair pela culatra.

* * *

CHRISTIAN PARA NA entrada para carros da nossa casa nova. Ele estaciona junto ao teclado numérico e digita um número; os portões de ferro branco trabalhado se abrem. Subimos a alameda ladeada de árvores, sob uma cobertura de folhas mescladas de verde, amarelo e cobre. A grama alta da campina já está ficando com tons dourados, mas ainda há algumas flores silvestres amarelas pincelando a relva. O dia está bonito. O sol brilha no céu e o cheiro acre e salgado do canal se mistura com o aroma do outono vindouro no ar. É um lugar tranquilo. E pensar que vamos construir nosso lar aqui!

A alameda faz uma curva e adiante surge nossa casa. Estacionados na frente estão vários grandes caminhões com o logotipo da Grey Construction gravado nas laterais. A casa está coberta de andaimes, onde trabalham diversos operários com capacetes de obra.

Christian para o carro em frente ao pórtico e desliga o motor. Posso sentir seu entusiasmo.

— Vamos procurar o Elliot.

— Ele está aqui?

— Espero que sim. Pelo que ele está recebendo...

Solto um resmungo de desdém, e Christian ri ao sairmos do carro.

— E aí, mano! — grita Elliot de algum lugar desconhecido. Ambos olhamos em volta. — Aqui em cima! — Ele está no telhado, acenando para nós e sorrindo de orelha a orelha. — Já era hora de vocês darem uma passada por aqui. Fiquem aí mesmo. Estou descendo.

Dou uma olhada para Christian, que dá de ombros. Alguns minutos depois, Elliot aparece na porta da frente.

— E aí, mano. — Ele aperta a mão de Christian. — E como vai você, senhorinha? — Ele me levanta e me gira no ar.

— Melhor, obrigada. — Dou uma risadinha sem ar, minhas costelas protestando. Christian olha zangado para o irmão, mas Elliot o ignora.

— Vamos para o escritório. Vocês vão precisar disso aqui. — E dá tapinhas no capacete.

* * *

A CASA É APENAS o esqueleto. O piso está coberto com um material duro e fibroso que parece aniagem; algumas das paredes originais desapareceram, substituídas por outras. Elliot nos conduz pelo local, explicando o que está acontecendo, enquanto os operários — e algumas operárias — trabalham por toda parte ao nosso redor. Fico aliviada ao ver que a escada de pedra, com sua intricada balaustrada de ferro, permanece no mesmo lugar, inteiramente coberta por capas de proteção brancas.

Na sala de estar principal, a parede dos fundos foi removida para dar lugar à parede de vidro proposta por Gia, e o terraço está começando a ser alterado. Apesar da bagunça, a vista ainda é estonteante. O novo visual da reforma é harmonioso, combinando com o charme antigo da casa… Gia fez um bom trabalho. Elliot explica pacientemente os passos da obra e nos dá uma estimativa de tempo para cada parte. Ele espera que possamos estar instalados até o Natal, embora Christian considere esse prazo excessivamente otimista.

Puxa vida — passar o Natal com vista para o Canal. Mal posso esperar. Uma onda de entusiasmo se forma dentro de mim. Vejo a nós dois enfeitando uma árvore enorme, enquanto um menininho de cabelo acobreado nos observa maravilhado.

Elliot termina a excursão pela cozinha.

— Vou deixar vocês dois livres para andar por aí. Cuidado. Estamos num canteiro de obras.

— Claro. Obrigado, Elliot — murmura Christian, pegando a minha mão. — Feliz? — ele me pergunta quando nos vemos sozinhos. Estou olhando para a estrutura do cômodo e imaginando onde vou pendurar os quadros de pimenta que compramos na França.

— Muito. Adorei. E você?

— Idem. — Ele sorri.

— Ótimo. Eu estava pensando nos quadros de pimenta aqui.

Christian aquiesce.

— Quero colocar nesta casa as suas fotos que o José tirou. Você tem que decidir onde.

Fico vermelha.

— Em algum lugar onde eu não precise vê-las sempre.

— Não fale assim — repreende-me ele, esfregando o polegar no meu lábio inferior. — São os meus quadros prediletos. Adoro o que está no meu escritório.

— Não sei por quê — murmuro, e beijo seu polegar.

— Tem coisas piores para se fazer do que ficar olhando o seu lindo rosto sorridente o dia inteiro. Está com fome?

— Fome de quê? — sussurro.

Ele dá um sorriso malicioso, seus olhos escurecendo. Desejo e esperança começam a correr em minhas veias.

— De comida, Sra. Grey. — E ele pousa um beijo suave na minha boca.

Faço cara de zangada e solto um suspiro.

— Estou. Ultimamente eu ando sempre com fome.

— Podemos fazer um piquenique, nós três.

— Nós três? Alguém mais está vindo?

Christian inclina a cabeça para o lado.

— Daqui a uns sete ou oito meses.

Ah… Pontinho. Abro um sorriso bobo para ele.

— Achei que você fosse gostar de comer ao ar livre.

— Na campina? — indago.

Ele faz que sim.

— Claro. — Sorrio.

— Este vai ser um excelente lugar para se criar uma família — murmura ele, me olhando.

Família! Mais de um? Será que me atrevo a mencionar isso agora?

Christian estende os dedos sobre a minha barriga. Puta merda. Prendo a respiração e coloco minha mão sobre a dele.

— É difícil de acreditar — sussurra ele, e pela primeira vez percebo fascinação em sua voz.

— Eu sei. Ah! Aqui. Tenho uma prova. Uma foto.

— Você tem? O primeiro sorriso do bebê?

Tiro da carteira a ultrassonografia do Pontinho.

— Está vendo?

Christian examina a imagem atentamente, olhando por vários segundos.

— Ah… Pontinho. Claro, estou vendo. — Ele parece distante, admirado.

— Seu filho — sussurro.

— Nosso filho — corrige-me ele.

— O primeiro de muitos.

— Muitos? — Ele arregala os olhos de susto.

— Pelo menos dois.

— Dois? — Ele pronuncia a palavra com cautela. — Não podemos pensar em uma criança de cada vez?

Eu sorrio.

— Claro.

Saímos novamente, voltando à quente tarde de outono.

— Quando você vai contar para os seus pais?

— Logo — murmuro. — Pensei em contar ao Ray hoje de manhã, mas o Sr. Rodriguez estava lá. — Dou de ombros.

Christian aquiesce e abre a capota do R8. Lá dentro há uma cesta de piquenique e a toalha xadrez que compramos em Londres.

— Venha — diz ele, segurando a cesta e a toalha com uma das mãos e estendendo a outra na minha direção. Juntos caminhamos até a campina.

* * *

— CLARO, ROS, pode providenciar.

Christian desliga. É o terceiro telefonema durante o nosso piquenique. Ele chutou para longe os sapatos e as meias e agora está me observando, os braços sobre os joelhos dobrados. Seu paletó está jogado sobre a minha jaqueta, por causa do sol quente. Estou deitada a seu lado, estirada na toalha de piquenique, nós dois rodeados pela grama alta verde e dourada, longe do barulho da casa e fora do alcance dos olhos curiosos dos operários. Estamos em nosso refúgio bucólico. Ele me dá na boca mais um morango, que eu mastigo com prazer, fitando seus olhos, que começam a escurecer.

— Gostoso? — sussurra ele.

— Muito.

— Saciada?

— De morangos, já.

Seus olhos reluzem perigosamente, e ele sorri com malícia.

— A Sra. Jones prepara um piquenique de primeira — diz.

— Ah, isso é — sussurro.

Subitamente mudando de posição, ele se deita de forma a descansar a cabeça na minha barriga. Fecha os olhos e parece satisfeito. Enfio os dedos no seu cabelo.

Ele solta um suspiro pesado, depois franze o rosto e verifica o número que aparece na tela do seu BlackBerry. Revirando os olhos, atende a ligação.

— Welch — fala rápido. Ele se enrijece, ouve por um ou dois segundos e de repente se ergue de um salto.

— Dia e noite… Obrigado — diz entre os dentes, e desliga.

A metamorfose em seu estado de espírito é instantânea. Adeus ao meu marido provocante e galanteador, que foi substituído por um frio e calculista mestre do universo. Ele estreita os olhos por um momento e depois me dirige um sorriso frio e assustador. Sinto um calafrio na espinha. Christian pega o BlackBerry e pressiona um número de discagem rápida.

— Ros, quantas ações da Madeireira Lincoln nós temos? — Ele se ajoelha.

Meu couro cabeludo começa a pinicar. Ah, não, o que é isso?

Então, incorpore as ações à GEH e demita a diretoria… menos o CEO… Não me interessa… Já ouvi você, agora faça o que estou mandando… Obrigado… Mantenha-me informado. — Ele desliga e me olha impassível por um instante.

Puta merda! Christian está furioso.

— O que aconteceu?

— Linc — murmura ele.

— Linc? O ex da Elena?

— Ele mesmo. Foi ele quem pagou a fiança do Hyde.

Olho para ele boquiaberta; estou chocada. Ele pressiona com força os lábios.

— Bom… ele vai parecer um idiota — murmuro, abismada. — Afinal, o Hyde cometeu outro crime depois que foi solto.

Os olhos de Christian se estreitam, e ele sorri.

— Muito bem colocado, Sra. Grey.

— O que você acabou de fazer? — Eu me ajoelho, encarando-o.

— Acabei de foder com ele.

Ah!

— Hmm… isso parece um pouco impulsivo — murmuro.

— Sou um cara que age na empolgação do momento.

— Sei bem disso.

Seus olhos se estreitam e seus lábios se apertam.

— Eu tinha esse plano na manga já faz algum tempo — diz ele secamente.

Franzo a testa.

— É?

Ele faz uma pausa, parecendo pesar algo mentalmente, e depois respira fundo.

— Um tempo atrás, quando eu tinha vinte e um anos, Linc encheu a mulher de porrada. Quebrou o maxilar dela, o braço esquerdo e quatro costelas, porque ela estava transando comigo. — Seus olhos endurecem. — E agora eu descobri que ele pagou a fiança de um homem que tentou me matar, sequestrou a minha irmã e fraturou o crânio da minha esposa. Já chega. Acho que é hora de dar o troco.

Fico lívida. Puta merda.

— Muito bem colocado, Sr. Grey — sussurro.

— Ana, é assim que eu ajo. Normalmente não sou vingativo, mas não posso deixar o Linc se safar dessa vez. O que ele fez com a Elena… Bom, ela devia ter dado queixa, mas não. Preferiu assim.

Ele continua: Mas ele realmente ultrapassou todos os limites com o Hyde. O Linc tornou tudo isso pessoal quando começou a perseguir a minha família. Vou acabar com ele, fazer a sua empresa quebrar bem debaixo do nariz dele e vender as partes para quem der a maior oferta. Vou fazer com que ele peça falência.

Puxa…

— Além disso — Christian ri afetadamente —, vamos faturar um bom dinheiro com o negócio.

Os olhos que eu encaro são cinzentos e estão em chamas, mas subitamente se suavizam.

— Eu não queria assustar você — sussurra ele.

— Você não me assustou — minto.

Ele levanta uma sobrancelha, achando graça.

— Você só me pegou de surpresa — murmuro, e depois engulo em seco. Christian às vezes é bem assustador.

Ele roça os lábios nos meus.

— Vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para manter você segura. Para manter a minha família segura. Para deixar este menininho em segurança — murmura ele, e estende a mão sobre a minha barriga, acariciando delicadamente.

Ah… Minha respiração fica suspensa. Christian me encara, os olhos escurecendo. Seus lábios se abrem quando ele inspira e, em um movimento deliberado, as pontas dos seus dedos roçam meu sexo.

Puta merda. O desejo detona como um dispositivo incendiário, ardendo nas minhas veias. Agarro sua cabeça, meus dedos se enfiando no seu cabelo, e o puxo forte até minha boca encontrar a dele. Ele leva um susto, surpreso com meu ataque, e dá livre acesso à minha língua dentro de sua boca. Ele geme e retribui meu beijo, seus lábios e sua língua famintos pelos meus, e durante um instante nós consumimos um ao outro, perdidos em línguas, lábios e respirações e a sensação mais do que doce de redescobrir um ao outro.

Ah, eu quero esse homem. Já faz muito tempo. E o quero aqui, agora, ao ar livre, na nossa campina.

— Ana — fala ele, sem fôlego, em êxtase, e sua mão desliza pela lateral do meu corpo até a bainha da minha saia. Eu me contorço para desabotoar a camisa dele, e sou só dedos e polegares. — Uau, Ana… pare. — Ele se afasta, o maxilar contraído, e agarra as minhas mãos.

— Não. — Meus dentes prendem seu lábio inferior, e eu puxo. — Não — murmuro novamente, encarando-o. Eu o solto. — Quero você.

Ele inspira profundamente. Está dividido, a indecisão estampada em seus luminosos olhos cinzentos.

— Por favor, eu preciso de você. — Todos os poros do meu ser suplicam. É isso o que fazemos.

Ele geme, capitulando, e sua boca encontra a minha, moldando meus lábios junto aos seus. Uma das mãos agarra a minha cabeça enquanto a outra desliza pelo meu corpo até a minha cintura, e cuidadosamente ele me faz deitar de costas e se deita também, ao meu lado, sem jamais desfazer o contato com a minha boca.

Ele se afasta e ergue o torso, olhando-me fixamente de cima.

— Você é tão linda, Sra. Grey.

Acaricio seu lindo rosto.

— Você também, Sr. Grey. Por dentro e por fora.

Ele franze o cenho, e meus dedos traçam uma linha nas rugas formadas em sua testa.

— Não faça essa cara. Para mim, você é lindo sim, mesmo quando está zangado — sussurro.

Ele geme mais uma vez, e sua boca se prende à minha, empurrando-me para o gramado macio por baixo da toalha.

— Senti sua falta — murmura ele, e seus dentes arranham de leve o meu queixo. Meu coração dispara.

— Também senti sua falta. Ah, Christian.

Seguro seu cabelo com força, e com a outra mão aperto seu ombro.

Seus lábios descem até o meu pescoço, deixando beijos doces no caminho, e seus dedos também agem, desabotoando minha blusa com destreza, de cima a baixo. Abrindo-a com avidez, Christian beija a curva macia dos meus seios. Ele solta murmúrios de apreciação, sons baixos e guturais, que ecoam dentro do meu corpo até os locais mais íntimos e profundos.

— Seu corpo está mudando — sussurra ele. Seu polegar brinca com o meu mamilo até torná-lo ereto, duro contra o sutiã. — Gostei — acrescenta.

Observo sua língua contornar a linha do sutiã, saboreando a pele dos meus seios, provocando-me. Agarrando o bojo do meu sutiã delicadamente com os dentes, ele o abaixa, liberando meu seio. No processo, seu nariz roça meu mamilo, que se contrai com o toque e o frescor da suave brisa de outono. Seus lábios se fecham em volta do bico do meu seio; Christian chupa demorada e intensamente.

— Ah! — gemo, inspirando com força, e depois estremeço, pois a dor se irradia para além das minhas costelas machucadas.

— Ana! — exclama Christian, e me fita com censura e preocupação. — Era disso que eu estava falando — adverte. — Sua falta de instinto de autopreservação. Não quero machucar você.

— Não... não pare — choramingo. Ele me encara, travando uma batalha consigo mesmo. — Por favor.

— Aqui.

Subitamente ele muda de posição, fazendo-me montar nele, minha minissaia agora enrolada ao redor do meu quadril. Suas mãos deslizam para as minhas coxas, até encontrar minhas meias.

— Pronto. Assim está melhor, e eu ainda posso apreciar a vista.

Ele enfia o indicador no outro bojo do sutiã, liberando também meu outro seio. Então agarra os dois, e jogo a cabeça para trás, empurrando-os para suas mãos habilidosas e convidativas. Ele me provoca, puxando e girando meus mamilos até eu gritar, e depois se senta para ficarmos com os narizes colados, seus olhos gulosos pregados nos meus. Ele me beija, seus dedos ainda me provocando. Eu agarro sua camisa e abro os dois primeiros botões, e isso funciona como uma sobrecarga de sensações: quero beijá-lo em todas as partes, despi-lo, fazer amor com ele agora mesmo.

— Ei… — Ele segura minha cabeça delicadamente e a puxa para trás, seus olhos escuros cheios de promessas sensuais. — Não temos pressa. Vá devagar. Quero saborear você.

— Christian, faz tanto tempo... — Estou ofegante.

— Devagar — sussurra ele, e é uma ordem. Ele beija o canto direito da minha boca. — Devagar. — Agora o esquerdo. — Sem pressa, baby. — Puxa meu lábio inferior com os dentes. — Vamos bem devagar. — Enfia os dedos no meu cabelo, mantendo-me imóvel quando sua língua invade minha boca, buscando, provando, acalmando… inflamando. Ah, meu homem sabe beijar.

Acaricio seu rosto, depois levo as mãos hesitantemente para seu queixo e seu pescoço, e então recomeço a desabotoar sua camisa, lentamente, enquanto ele continua me beijando. Abro sua camisa devagar, passando os dedos pelas suas clavículas, sentindo sua pele quente e sedosa. Empurro-o delicadamente de costas, até que fique deitado por baixo de mim. Estou sentada sobre ele e o encaro, ciente de que estou me contorcendo sobre sua ereção cada vez maior. Hmm. Com os dedos, desenho uma linha imaginária dos seus lábios até o queixo, depois até o pescoço, passando pelo pomo de adão, até chegar à pequenina cavidade na base da garganta. Meu homem lindo. Então me abaixo, e deposito beijos no mesmo caminho traçado pelos meus dedos. Agarro seu queixo com os dentes e beijo seu pescoço. Ele fecha os olhos.

— Ah.

Christian geme e joga a cabeça para trás, dando-me acesso mais livre para a base do seu pescoço, a boca relaxada e aberta em silenciosa veneração. O Sr. Grey entregue e excitado é uma visão tão estimulante… e me deixa excitada também.

Com a língua, traço uma trilha pelo esterno dele, enrolando os pelos do seu peito. Hmm. Que gosto bom. Que cheiro bom. Inebriante. Beijo duas das suas pequenas cicatrizes redondas, uma de cada vez, e quando ele me agarra pelo quadril, deixo meus dedos sobre seu tórax e o encaro. Sua respiração está ofegante.

— Você quer isso? Aqui? — pergunta ele, quase sem ar, os olhos encobertos por uma extasiante combinação de amor e luxúria.

— Quero — murmuro, e meus lábios e minha língua descem pelo seu peito até o mamilo. Puxo e giro delicadamente com os dentes.

— Ah, Ana — murmura ele, e, passando os braços pela minha cintura, me levanta, abrindo o botão e o zíper da calça e libertando sua ereção.

Ele me acomoda novamente, e eu me empurro contra ele, deliciada com a sensação de tê-lo quente e duro por baixo de mim. Ele desliza as mãos pelas minhas coxas, parando no ponto onde a meia se encontra com a pele, as mãos desenhando círculos pequenos e provocantes no alto das minhas coxas de modo a que as pontas dos seus polegares me tocam… me tocam onde quero ser tocada. Minha respiração fica arfante.

— Espero que você não seja apegada a essa calcinha — murmura ele, os olhos selvagens e brilhantes.

Seus dedos seguem o elástico na altura da minha barriga e depois deslizam para dentro, provocando-me, antes de agarrar minha calcinha com força e enfiar os polegares pelo tecido fino. A peça se rasga. Suas mãos se abrem sobre minhas coxas e seus polegares roçam no meu sexo uma vez mais. Ele flexiona o quadril, esfregando sua ereção em mim.

— Estou sentindo que você está bem molhada. — Sua voz está tingida de satisfação lasciva. De repente ele se senta, o braço em torno da minha cintura, e ficamos com os narizes colados. Ele esfrega o nariz no meu. — Vamos fazer isso devagar, Sra. Grey. Quero sentir você toda.

Ele me levanta e, em um ritmo lento, delicado e até frustrante, me abaixa sobre si. Sinto cada centímetro dele entrar em mim.

— Ah…

Gemo palavras incoerentes e agarro seus braços. Tento me levantar para provocar uma fricção agradável, mas ele me mantém no lugar.

— Todo dentro de você — murmura ele, e inclina a pélvis, metendo em mim até o fundo. Jogo a cabeça para trás e solto um grito abafado de puro prazer. — Quero ouvir você — pede. — Não… não se mexa, apenas sinta.

Abro os olhos, minha boca congelada em um silencioso Ah!. Ele está me encarando, os olhos cinzentos nublados e libidinosos fitando diretamente os meus, de um azul deslumbrado. Ele se mexe, girando o quadril, mas me mantém no lugar.

Solto um gemido. Seus lábios estão grudados no meu pescoço, me beijando.

— Esse é o meu lugar preferido. Enterrado em você — sussurra ele.

— Por favor, eu quero movimento — imploro.

— Devagar, Sra. Grey. — Ele flexiona os quadris novamente e o prazer atravessa todo o meu corpo. Prendo seu rosto entre as mãos e o beijo, consumindo-o.

— Faça amor comigo. Por favor, Christian.

Seus dentes deslizam do meu queixo até a orelha.

— Comece — sussurra ele, e me levanta, para cima e para baixo.

Minha deusa interior se vê solta, e eu o empurro de encontro ao solo e começo a me mover, saboreando a sensação de tê-lo dentro de mim… montando nele… montando nele de verdade. Com as mãos ao redor da minha cintura, ele entra no meu ritmo. Como eu senti falta disso… a inebriante sensação de tê-lo por baixo de mim, dentro de mim… o sol batendo nas minhas costas, o doce aroma do outono no ar, a brisa suave. É uma mescla embriagante de sentidos: tato, paladar, olfato e a visão de meu amado marido debaixo de mim.

— Ah, Ana — geme ele, os olhos fechados, a cabeça para trás, a boca aberta.

Ah… Eu adoro isso. E por dentro eu me aproximo… chegando lá… cada vez… mais. As mãos de Christian se movem para as minhas coxas e seus polegares delicadamente pressionam-nas no alto, e eu sinto uma explosão em volta dele… e outra… e outra… e outra, e desmorono, esparramando-me sobre seu peito quando ele, por sua vez, grita, aliviando-se e chamando o meu nome com amor e satisfação.

* * *

ELE ME ACARICIA contra o peito, aconchegando minha cabeça. Hmm. Fecho os olhos e saboreio o prazer de ter seus braços ao redor do meu corpo. Minha mão descansa sobre seu peito, sentindo a batida regular do seu coração, que vai reduzindo o ritmo e acalmando. Eu o beijo e me aninho nele, e fico maravilhada porque há um tempo nem tão longínquo assim, ele não me deixava fazer isso.

— Está melhor? — pergunta ele. Levanto a cabeça. Ele está sorrindo largamente.

— Muito melhor. E você? — Meu sorriso é tão grande quanto o dele.

— Senti saudades suas, Sra. Grey. — Ele fica sério por um instante.

— Eu também.

— Nada de heroísmo agora, viu?

— Tudo bem — prometo.

— Fale sempre comigo — murmura.

— O mesmo para você, Grey.

Ele ri.

— Muito bem colocado. Vou tentar. — Ele beija minha cabeça.

— Acho que vamos ser felizes aqui — sussurro, fechando os olhos novamente.

— Aham. Você, eu e… o Pontinho. Aliás, como se sente?

— Bem. Relaxada. Feliz.

— Ótimo.

— E você?

— Todas essas coisas — murmura ele.

Eu o fito, tentando avaliar sua expressão.

— O que foi? — indaga ele.

— Sabe, você é muito mandão durante o sexo.

— Está reclamando?

— Não, só estava pensando… você disse que sentia falta.

Ele fica imóvel, me fitando.

— Às vezes — sussurra ele.

Ah.

— Bom, vamos ter que ver o que podemos fazer com relação a isso — murmuro, e beijo-o de leve na boca, aninhando-me nele como uma trepadeira.

Imagens de nós dois juntos, no quarto de jogos; o Tallis, a mesa, a cruz, algemada na cama… Eu adoro a trepada sacana dele — nossa trepada sacana. Sim, eu posso fazer esse tipo de coisa. Posso fazer isso por ele, com ele. Posso fazer isso por mim. Minha pele formiga quando me lembro do chicote de montaria.

— Eu também gosto de jogar — murmuro, e, olhando para cima, recebo um sorriso tímido em retribuição.

— Você sabe, eu realmente gostaria de testar os seus limites — diz ele.

— Limites de quê?

— De prazer.

— Ah, acho que eu vou gostar disso.

— Bom, quem sabe quando voltarmos para casa? — sussurra ele, deixando a promessa suspensa no ar.

E me aconchego nele novamente. Eu o amo tanto.

Já se passaram dois dias desde o nosso piquenique. Dois dias desde a promessa de bom, quem sabe quando voltarmos para casa. Christian ainda está me tratando como se eu fosse quebrar a qualquer instante. Ele ainda não me deixa ir à editora, então tenho trabalhado de casa. Sentada a minha mesa, coloco de lado a pilha de cartas de propostas de livros que estou lendo e solto um suspiro. Christian e eu não voltamos ao quarto de jogos desde que eu usei a palavra de segurança. E ele disse que sente falta. Pois eu também... ainda mais agora que ele quer explorar meus limites. Fico ruborizada, pensando a que isso poderia levar. Olho para a mesa de sinuca... É sério, mal posso esperar para explorar meus limites.

Meus pensamentos são interrompidos por um som lírico e suave que enche o apartamento. Christian está tocando piano; não um de seus costumeiros lamentos, mas uma melodia doce, uma melodia carregada de esperanças — que reconheço, mas que nunca o tinha ouvido tocar.

Na ponta dos pés, me aproximo do arco da sala e fico observando Christian ao piano. É a hora do entardecer. O céu está colorido com um tom forte de cor-de-rosa, e a luz se reflete no seu cabelo cor de cobre. Ele está como sempre, lindo de tirar o fôlego, e se concentra na música, sem se dar conta da minha presença. Christian tem andado tão acessível nos últimos dias, tão atencioso... oferecendo pequenas doses do seu dia, dos seus pensamentos, dos seus planos. É como se tivesse sido aberta uma fenda em uma barragem e ele começasse a falar.

Sei que daqui a poucos minutos ele virá ver como estou, o que me dá uma ideia. Animada, saio às escondidas, na esperança de que ele ainda não tenha me visto, e corro para o nosso quarto, tirando a roupa no caminho, até estar apenas com a minha calcinha de renda azul-clara. Encontro uma blusinha da mesma cor e a visto rapidamente. Vai esconder meu hematoma. Procurando no closet, pego na gaveta o jeans surrado de Christian — a calça que ele usa no quarto de jogos; a minha predileta. Pego o BlackBerry na minha mesa de cabeceira, dobro a calça jeans cuidadosamente e me ajoelho perto da porta do quarto, que, entreaberta, me permite ouvir os acordes de outra peça musical — essa eu não conheço. Mas também é uma melodia alegre; e é linda. Rapidamente digito um e-mail.


_________________________________________

De: Anastasia Grey

Assunto: O prazer do meu marido

Data: 21 de setembro de 2011 20:45

Para: Christian Grey


Senhor,

Aguardo instruções.

Sempre sua,

Sra. G..

Pressiono “enviar”.

Alguns momentos depois, a música é interrompida bruscamente. Meu coração parece parar, e depois dispara. Fico esperando, até que finalmente ouço o apitar do BlackBerry.


_________________________________________

De: Christian Grey

Assunto: O prazer do meu marido <——— adorei o assunto, querida

Data: 21 de setembro de 2011 20:48

Para: Anastasia Grey


Sra. G.,


Fiquei intrigado. Estou indo atrás de você.


Prepare-se.

Christian Grey


CEO Ansioso, Grey Enterprises Holdings, Inc.

Prepare-se! Meu coração acelera e eu começo a contar. Trinta e sete segundos depois, a porta se abre. Olho para seus pés descalços que pararam na soleira da porta. Hmm. Ele não diz nada. Uma eternidade sem dizer nada. Ah, merda. Resisto à tentação de erguer o olhar e mantenho os olhos baixos.

Finalmente, ele se abaixa e pega a calça jeans. Fica em silêncio, mas se dirige ao closet enquanto permaneço parada. Ah, meu Deus... é agora. Meu coração golpeia meu peito, e saboreio a onda de adrenalina que percorre meu corpo. Começo a me contorcer à medida que meu entusiasmo aumenta. O que ele vai fazer comigo? Alguns minutos depois ele está de volta, de calça jeans.

— Então você quer brincar? — murmura ele.

— Sim.

Ele não diz nada, e arrisco uma espiada rápida... na sua calça jeans, nas coxas cobertas pelo tecido grosso, na suave protuberância na braguilha, no botão aberto na cintura, nos pelos do baixo ventre, no umbigo, no abdômen definido, nos pelos do peito, nos olhos cinzentos em chamas e na cabeça inclinada para o lado. Ele levanta uma sobrancelha. Ah, merda.

— Só “sim”? — sussurra ele.

Ah.

Sim, senhor.

Seus olhos se suavizam.

— Boa menina — murmura ele, e acaricia minha cabeça. — Acho que é melhor levar você lá para cima — acrescenta.

E eu me desfaço por dentro, meu ventre se contraindo de uma maneira deliciosa.

Ele pega minha mão e eu o sigo pelo apartamento, escada acima. Antes de entrar no quarto de jogos, ele para, se curva e me beija delicadamente, e então agarra meu cabelo com força.

— Sabe, na verdade é você quem está no comando — murmura ele, os lábios colados nos meus.

— O quê? — Não entendo o que ele quer dizer.

— Não importa. Posso viver com isso — sussurra ele, achando graça, e roça o nariz no meu queixo, beijando minha orelha delicadamente. — Quando entrarmos, ajoelhe-se, como eu lhe ensinei.

— Sim... senhor.

Ele me fita novamente, os olhos brilhando de amor, admiração e pensamentos pecaminosos.

Puxa... A vida nunca será monótona com Christian, e eu entrei nessa de vez. Amo este homem: meu marido, meu amante, pai do meu filho, meu Dominador ocasional... meu Cinquenta Tons.

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