CAPÍTULO DOZE

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—Pensei que você tivesse nascido aqui em Seattle — murmuro.

Minha mente está a mil. O que isso tem a ver com Jack? Christian levanta o braço que lhe cobria o rosto, estende-o para trás e pega um dos travesseiros. Colocando-o sob a cabeça, ele se acomoda e me fita com uma expressão de cautela. Depois de um momento, ele balança a cabeça.

— Não. Tanto Elliot quanto eu fomos adotados em Detroit. Viemos para cá logo depois da minha adoção. Grace queria morar na Costa Oeste, longe da expansão urbana, e arranjou um trabalho no hospital Northwest. Tenho poucas lembranças dessa época. Mia foi adotada aqui.

— Então o Jack é de Detroit?

— É.

Puxa

— Como você sabe?

— Fiz um levantamento do passado do Jack quando você foi trabalhar com ele.

Mas é claro.

— Você também tem um arquivo com informações sobre ele, num envelope de papel pardo e tudo? — Abro um sorriso irônico.

Ele torce a boca, achando graça mas disfarçando.

— Acho que é uma pasta azul-clara.

Seus dedos continuam a afagar meu cabelo; é tranquilizador.

— O que consta no arquivo dele?

Christian apenas pisca. Inclinando-se para baixo, ele acaricia minha bochecha.

— Quer realmente saber?

— É tão ruim assim?

Ele dá de ombros.

— Já vi piores.

Não! Será que ele está se referindo a si mesmo? E a imagem que tenho de Christian como um garotinho perdido, amedrontado e sujo me vem à mente. Eu me aconchego nele, apertando-o, puxando o lençol por cima do seu corpo, e deito o rosto em seu peito.

— O que foi? — pergunta ele, intrigado com a minha reação.

— Nada — murmuro.

— Não, não. Isso serve para os dois lados, Ana. O que foi?

Ergo o olhar por um momento e vejo sua expressão apreensiva. Voltando a descansar o rosto no seu peito, decido lhe contar:

— Às vezes eu imagino você quando criança… Antes de você vir morar com os Grey.

Seu corpo enrijece.

— Eu não estava falando de mim. Não quero sua piedade, Anastasia. Essa parte da minha vida já se foi. Acabou.

— Não é piedade — sussurro, assustada. — É solidariedade e tristeza… Tristeza por alguém fazer aquilo com uma criança. — Respiro profundamente para me acalmar, pois meu estômago se revira e as lágrimas brotam nos meus olhos de novo. — Essa parte da sua vida não acabou, Christian… como pode dizer isso? Você precisa conviver todos os dias com o seu passado. Você mesmo me disse: cinquenta tons, lembra? — Minha voz é quase inaudível.

Christian bufa e passa a mão livre pelo cabelo, embora permaneça mudo e tenso embaixo de mim.

— Eu sei que é por isso que você tem necessidade de me controlar. De me proteger.

— E mesmo assim você prefere me desafiar — murmura ele, perplexo, com a mão ainda no meu cabelo.

Franzo o cenho. Nossa! Será que eu faço isso deliberadamente? Meu inconsciente tira os óculos de leitura e morde a ponta da haste, enrugando os lábios e concordando. Ignoro-o. Isso é tão confuso… Sou sua esposa, não sua submissa, não uma empresa que ele comprou. Não sou a prostituta viciada que sua mãe era… Cacete. Só de pensar me sinto mal. As palavras do Dr. Flynn me voltam à mente:

É só continuar com o que você já está fazendo. O Christian está completamente apaixonado… É muito agradável de se ver.

É isso. Estou apenas fazendo o que sempre fiz. Não foi isso que atraiu Christian em primeiro lugar?

Ah, esse homem é tão confuso.

O Dr. Flynn disse que eu deveria dar a você o benefício da dúvida. Acho que é isso o que eu faço; não tenho certeza. Talvez seja a minha maneira de trazer você para o aqui e agora, para longe do seu passado — sussurro. — Não sei. Só não consigo calcular até que ponto a sua reação vai ser exagerada.

Ele fica em silêncio por um momento.

— Maldito Flynn — murmura para si mesmo.

— Ele disse que eu deveria continuar a me comportar da maneira como sempre me comportei com você.

— Ele disse isso? — comenta Christian, secamente.

Ok. Não adianta nada, mas lá vai:

— Christian, eu sei que você amava sua mãe e não conseguiu salvá-la. Não competia a você fazer isso. Mas eu não sou ela.

Ele congela de novo.

— Pare — pede ele.

— Não, escute. Por favor. — Levanto a cabeça para olhar nos seus olhos arregalados e paralisados de medo. Ele está prendendo a respiração. Ah, Christian… Meu coração se aperta. — Eu não sou ela. Sou muito mais forte do que ela era. Eu tenho você, que está tão mais forte agora, e sei que você me ama. E eu também amo você — sussurro.

Sua testa se enruga como se minhas palavras não fossem o que ele esperava.

— Você ainda me ama? — pergunta ele.

— Claro que sim. Christian, eu vou amar você para sempre. Não importa o que você faça comigo. — Será essa garantia o que ele quer?

Ele exala o ar e fecha os olhos, colocando o braço sobre o rosto de novo, mas me abraçando mais apertado também.

— Não se esconda de mim. — Eu pego a mão dele e tiro seu braço de sobre seu rosto. — Você passou a vida se escondendo. Por favor, não faça isso, não comigo.

Ele me olha com incredulidade e franze a testa.

— Acha que estou me escondendo?

— Sim.

Ele muda de posição subitamente, rolando para um lado e me colocando deitada junto a si na cama. Levanta o corpo, afasta o cabelo do meu rosto e o coloca atrás da minha orelha.

— Você me perguntou mais cedo se eu a odiava. Eu não entendi por quê, e agora… — Ele para de falar, encarando-me como se eu fosse um enigma completo.

— Você acha que eu odeio você? — Agora minha voz soa incrédula.

— Não. — Ele balança a cabeça. — Agora não. — Ele parece aliviado. — Mas eu preciso saber… Por que você usou a palavra de segurança, Ana?

Fico branca. O que posso dizer? Que ele me assustou. Que eu não sabia se ele iria parar. Que eu implorei — e ele não parou. Que eu não queria que as coisas piorassem… como… como daquela única vez, aqui mesmo. Estremeço ao me lembrar dele me batendo com o cinto.

Engulo em seco.

— Porque… Porque você estava tão zangado e distante e… frio. Eu não sabia aonde você ia chegar.

Sua expressão é indecifrável.

— Você ia me deixar gozar? — Minha voz é quase um suspiro, e sinto o rubor na minha face, mas sustento o seu olhar.

— Não — responde ele após um tempo.

Puta merda.

— Isso é… cruel.

Seus dedos gentilmente acariciam minha face.

— Mas eficaz — murmura ele, e me olha fixamente como se tentasse enxergar minha alma, seus olhos escurecendo. Depois de uma eternidade, ele balbucia: — Fico feliz por você ter me interrompido.

— Sério? — Eu não entendo.

Seus lábios se contorcem num sorriso triste.

— Sim. Eu não quero machucar você; fui levado pelo momento. — Ele se inclina e me beija. — Acabei perdendo o controle. — Ele me beija de novo. — Acontece muito quando estou com você.

É? E, por alguma razão bizarra, esse pensamento me agrada… Dou um sorriso. Por que isso me deixa feliz? Ele sorri também.

— Não sei por que você está sorrindo, Sra. Grey.

— Eu também não.

Ele se enrosca em mim e deita a cabeça no meu peito. Somos um emaranhado de braços e pernas nus e cobertos de jeans e lençóis de cetim vermelho. Afago suas costas com uma das mãos e passo os dedos da outra pelo seu cabelo. Ele suspira e relaxa nos meus braços.

— Quer dizer que eu posso confiar em você… para me fazer parar. Não quero machucar você nunca — murmura ele. — Eu preciso… — Ele não completa a frase.

— Precisa do quê?

— Preciso de controle, Ana. Assim como preciso de você. É a única maneira como eu consigo funcionar. Não consigo parar. Não consigo. Já tentei… Mas com você… — Ele balança a cabeça, irritado.

Engulo em seco. Esse é o cerne do nosso dilema: a necessidade que ele tem de controle e a necessidade que tem de mim. Recuso-me a acreditar que sejam sentimentos mutuamente exclusivos.

— Eu também preciso de você — sussurro, abraçando-o com mais força. — Vou tentar, Christian. Vou tentar ter mais consideração.

— Eu quero que você precise de mim — murmura ele.

Puta merda!

Eu preciso! — Minha voz soa apaixonada. Eu preciso muito dele. Amo-o tanto…

— Eu quero cuidar de você.

— Você já cuida. O tempo todo. Eu senti tanta saudade quando você viajou…

— Mesmo? — Seu tom de voz revela surpresa.

— Sim, claro. Detesto ficar longe de você.

Sinto que ele sorri.

— Você podia ter ido comigo.

— Christian, por favor. Não vamos voltar a essa discussão. Eu quero trabalhar.

Ele suspira, e passo os dedos delicadamente pelo seu cabelo.

— Eu amo você, Ana.

— Eu também amo você, Christian. Sempre vou amar.

Ficamos ali deitados, quietos, a calmaria que vem depois da tempestade. Escutando as batidas regulares do seu coração, eu me entrego exausta ao sono.

* * *

ACORDO COM UM sobressalto, desorientada. Onde estou? No quarto de jogos. As luzes ainda estão acesas, iluminando suavemente as paredes vermelho-sangue. Christian geme de novo, e percebo que foi isso o que me acordou.

— Não — geme.

Ele está jogado ao meu lado, a cabeça para trás, os olhos apertados, o rosto contorcido de angústia.

Puta merda. Ele está tendo um pesadelo.

— Não! — grita outra vez.

— Christian, acorde.

Levanto o corpo com dificuldade, arrancando o lençol. Ajoelhando-me ao lado dele, agarro-o pelos ombros e o chacoalho, as lágrimas brotando em meus olhos.

— Christian, por favor. Acorde!

Seus olhos se abrem, cinzentos e assustados, as pupilas dilatadas pelo medo. Ele me olha meio perdido.

— Christian, foi só um pesadelo. Você está em casa. Está tudo bem.

Ele pisca várias vezes, olha ao redor de si em pânico e franze o cenho quando se dá conta do ambiente que o cerca. Então seus olhos voltam para mim.

— Ana — sussurra ele.

E, sem qualquer aviso, agarra meu rosto com as duas mãos, me puxa na direção do seu peito e me beija. Forte. Sua língua invade a minha boca, e sinto seu gosto de desespero e carência. Mal me dando chance para respirar, ele rola para cima de mim, os lábios colados nos meus, pressionando-me contra o colchão duro da cama de dossel. Com uma das mãos ele aperta minha mandíbula, e a outra, aberta, segura o alto da minha cabeça, mantendo-me parada enquanto ele abre minhas pernas com o joelho e se aninha, ainda de calça jeans, entre as minhas coxas.

— Ana — sussurra ele, ofegante, como se não acreditasse que estou ali.

Ele me fita por um segundo, permitindo que eu respire por um momento. Então seus lábios colam nos meus de novo, roubando minha boca para si, tomando tudo que eu tenho para dar. Ele solta um gemido alto, empurrando o quadril contra o meu corpo. Sua ereção, coberta pelo tecido da calça, pressiona minha pele macia. Ah… Solto um gemido, e toda a tensão sexual reprimida de antes extravasa, voltando à tona como uma vingança, alimentando meu organismo com desejo e necessidade. Guiado por seus demônios, ele beija meu rosto, meus olhos, minhas bochechas e o contorno do meu rosto com sofreguidão.

— Estou aqui — digo, tentando acalmá-lo, nossa respiração quente e ofegante se misturando. Envolvo seus ombros em meus braços e movimento a pélvis contra a dele, acolhendo-o em boas-vindas.

— Ah, Ana — balbucia ele, numa voz rouca e baixa. — Eu preciso de você.

— Eu também — sussurro de maneira incisiva, meu corpo desesperado pelo seu toque.

Eu o quero. E quero agora. Quero curá-lo. Quero me curar… Eu preciso disso. Sua mão desce e alcança o botão da calça, tateando por um momento e depois liberando sua ereção.

Puta merda. Eu estava dormindo há menos de um minuto.

Ele muda de posição, encarando-me por uma fração de segundo, suspenso sobre mim.

— Sim. Por favor — peço, minha voz áspera e cheia de desejo.

E, em um movimento brusco, ele se enterra dentro de mim.

— Ah! — grito, não de dor, mas de surpresa pela sua avidez.

Ele geme, e seus lábios encontram os meus novamente enquanto ele mete em mim repetidas vezes, sua língua também me possuindo. Ele se move freneticamente, compelido por medo, luxúria, desejo… amor? Não sei, mas eu o acolho dentro de mim a cada impulso, recebendo-o com prazer.

— Ana — murmura ele, quase inarticuladamente, e goza com força, se despejando dentro de mim, o rosto contorcido, o corpo rígido, antes de desabar com todo o peso em cima do meu corpo, ofegante, e me deixando na mão… de novo.

Puta merda. Esse não é meu dia. Eu o abraço, inspirando o ar para encher o pulmão e praticamente me debatendo de necessidade embaixo dele. Ele sai de dentro de mim e me abraça por uns minutos… muitos minutos. Finalmente, Christian balança a cabeça e se apoia nos cotovelos, aliviando um pouco do seu peso sobre mim. Ele me fita como se me visse pela primeira vez.

— Ah, Ana. Meu Deus. — Ele se inclina e me beija ternamente.

— Você está bem? — sussurro, acariciando seu belo rosto.

Ele aquiesce, mas parece agitado e definitivamente perturbado. Meu garoto perdido. Ele franze a testa e me olha hesitante, como se finalmente registrasse onde se encontra.

— E você? — pergunta ele, e noto preocupação na sua voz.

— Hmm…

Faço um movimento sinuoso por baixo dele, e após um momento ele sorri, um sorriso carnal que se abre devagar.

— Sra. Grey, você tem necessidades — murmura ele. E me beija rapidamente, para então pular da cama.

Ajoelhando-se no chão, ele me segura logo acima do joelho e me puxa na sua direção até que eu alcance a beirada da cama.

— Sente-se — murmura.

Com esforço eu me coloco sentada, meu cabelo caindo como um véu à minha volta, ao longo dos meus seios. Seu olhar cinzento sustenta o meu enquanto ele gentilmente abre ao máximo minhas pernas. Inclino-me para trás, apoiada nas mãos — sabendo muito bem o que ele vai fazer. Mas… ele acabou de… hum…

— Você é linda demais, Ana — sussurra ele.

Vejo sua cabeça com cabelo acobreado mergulhar e depositar uma trilha de beijos ao longo da minha coxa direita, rumo à parte de cima. Meu corpo inteiro se enrijece de expectativa. Ele ergue o olhar para mim, seus olhos escurecendo e semicerrados.

— Observe — diz ele com a voz áspera, e então sua boca está em mim.

Ai, meu Deus. Eu grito, o mundo concentrado no ápice das minhas coxas, e é tão erótico — Puta que pariu — olhá-lo. Ver sua língua agir no que parece ser a parte mais sensível do meu corpo. E ele não demonstra misericórdia alguma, provocando e atiçando, me venerando. Meu corpo se tensiona e meus braços começam a tremer, mal sustentando meu peso.

— Não… Ah — murmuro.

Delicadamente, ele enfia em mim um dos seus dedos compridos, e não consigo mais me conter: caio de costas na cama, saboreando sua boca e seus dedos tanto sobre minha pele quanto dentro de mim. Devagar e gentilmente, ele massageia aquele ponto tão, tão gostoso, bem dentro de mim. E então… eu chego lá. Explodo em volta dele, gritando uma versão incoerente do seu nome enquanto meu orgasmo intenso arqueia minhas costas, erguendo-me da cama. Acho que vejo estrelas, um sentimento primitivo e visceral… Aos poucos percebo que ele está acariciando minha barriga, beijando-me suave e docemente. Inclinando-me para baixo, acaricio seu cabelo.

— Ainda não terminei — avisa ele.

E, antes que eu volte completamente a Seattle, ao planeta Terra, ele está me buscando, agarrando meu quadril e me puxando para fora da cama, para onde ele ainda está ajoelhado, para seu colo, colocando-me sobre a sua ereção, que me aguarda.

Solto uma exclamação quando ele me penetra. Nossa…

— Ah, baby — sussurra ele, envolvendo-me em seus braços e ficando imóvel, afagando minha cabeça e beijando meu rosto. Ele flexiona o quadril, e o prazer avança quente e duro dentro de mim. Ele me segura e me levanta, erguendo sua virilha.

— Ai — gemo, e seus lábios estão nos meus de novo, enquanto ele, devagar, muito devagar, levanta e movimenta o corpo… levanta e movimenta. Jogo os braços em volta do pescoço dele, entregando-me ao seu ritmo suave e deixando que ele me leve aonde quiser. Flexiono as coxas, montando nele… está tão gostoso! Inclinando-me para trás, deixo a cabeça pender, minha boca bem aberta em uma expressão silenciosa de prazer, deleitando-me no amor que ele faz comigo tão suavemente.

— Ana — sussurra, e se inclina para baixo, beijando meu pescoço.

Segurando-me apertado, entrando e saindo devagar, me impelindo… mais e mais… no tempo certo e perfeito — uma espontânea força carnal. E de dentro, bem de dentro de mim, um delicioso prazer se irradia para fora, enquanto ele me segura tão intimamente.

— Eu amo você, Ana — diz junto à minha orelha, sua voz baixa e áspera, e me levanta de novo: subindo e descendo, subindo e descendo. Agarro seu pescoço e enterro minhas mãos em seu cabelo.

— Também amo você, Christian.

Abrindo os olhos, encontro-o me fitando, e tudo o que vejo é o seu amor, brilhando forte e nítido à luz suave do quarto de jogos, seu pesadelo aparentemente esquecido. E quando sinto meu corpo evoluir rumo ao alívio, percebo que era isso o que eu queria — essa conexão, essa demonstração do seu amor.

— Goze para mim, baby — murmura ele, a voz grave.

Aperto os olhos com força, e meu corpo se enrijece ao som baixo da sua voz, e eu gozo alto, contorcendo-me no clímax intenso. Ele para, a testa contra a minha, sussurrando suavemente meu nome, envolvendo-me em seus braços e encontrando a própria liberação.

* * *

ELE ME LEVANTA delicadamente e me coloca na cama. Fico deitada nos seus braços, exausta e finalmente saciada. Ele roça o rosto pelo meu pescoço.

— Está melhor agora? — sussurra.

— Hmm.

— Vamos para a cama, ou você quer dormir aqui?

— Hmm.

— Sra. Grey, fale comigo. — Ele parece estar achando graça.

— Hmm.

— Isso é o melhor que você consegue fazer?

— Hmm.

— Venha. Vou colocar você na cama. Não gosto de dormir aqui.

Relutantemente, mudo de posição, virando-me para olhá-lo.

— Espere — sussurro.

Ele apenas pisca para mim, os olhos arregalados com inocência fingida, e ao mesmo tempo com cara de quem fez um ótimo sexo e está satisfeito consigo mesmo.

— Você está bem? — pergunto.

Ele aquiesce e abre um sorriso convencido, como um adolescente.

— Agora estou.

— Ah, Christian — repreendo-o, e gentilmente afago seu lindo rosto. — Eu estava falando do seu pesadelo.

Sua expressão se congela momentaneamente; então ele fecha os olhos e aperta os braços em volta de mim, enterrando o rosto no meu pescoço.

— Não — sussurra ele, a voz rouca e embargada.

Meu coração se aperta mais uma vez no meu peito, e eu o abraço com mais força, acariciando suas costas e seu cabelo.

— Desculpe — balbucio, assustada com a sua reação. Puta merda. Como posso acompanhar essas mudanças de humor? O que será que havia nesse maldito pesadelo? Não quero lhe causar mais dor fazendo-o reviver os detalhes. — Está tudo bem — murmuro suavemente, desesperada para trazer de volta o garoto brincalhão de um minuto atrás. — Está tudo bem — fico repetindo, para tranquilizá-lo.

— Vamos para a cama — diz ele baixinho depois de um tempo, e se afasta, deixando-me com um vazio doloroso quando se levanta da cama. Levanto-me depois dele, meio desajeitada, mantendo o lençol de cetim enrolado em volta do corpo, e me abaixo para pegar minhas roupas.

— Deixe isso aí — diz ele, e, antes que eu me dê conta, ele me pega no colo. — Não quero que você tropece nesse lençol e quebre o pescoço.

Coloco os braços em volta dele, encantada por vê-lo recuperado, e o afago enquanto ele me carrega escada abaixo para o nosso quarto.

* * *

MEUS OLHOS SE abrem de súbito. Tem algo errado. Christian não está na cama, embora ainda esteja escuro. Olhando para o relógio na mesa de cabeceira, vejo que são três e vinte da manhã. Cadê ele? Então ouço o piano.

Descendo rapidamente da cama, pego meu robe e passo pelo corredor em direção à sala. A música que ele está tocando é tão depressiva — um lamento triste que eu já o ouvi tocar antes. Paro à porta e o observo, mergulhado em um facho de luz, enquanto a música dolorosamente aflita preenche a sala. Ele termina, e então reinicia a peça. Por que algo tão melancólico? Abraço a mim mesma e fico ouvindo-o, fascinada. Mas meu coração dói. Christian, por que tanta tristeza? É por minha causa? Fui eu quem provoquei isso? Quando ele termina, apenas para começar pela terceira vez, não consigo mais me conter. Ele não ergue o olhar quando me aproximo do piano, mas chega para o lado, para que eu possa sentar-me ao seu lado no banco. Ele continua a tocar, e eu apoio a cabeça no seu ombro. Ele beija meu cabelo, mas só para de tocar quando termina a peça. Olho para ele: Christian me encara com cautela.

— Acordei você? — pergunta.

— Só porque você não estava lá. Qual o nome dessa peça?

— É Chopin. Um dos prelúdios em mi menor. — Ele faz uma pausa. — Chama-se “Suffocation”…

Pego sua mão.

— Você ficou realmente mexido com tudo isso, não foi?

Ele solta um ruído abafado.

— Um babaca demente entra na minha casa para sequestrar a minha mulher. Ela não faz o que lhe mandam fazer. Ela me deixa louco. Ela recorre à palavra de segurança. — Ele fecha os olhos rapidamente e, quando volta a abri-los, estão severos e rudes. — É, fiquei bem mexido.

Aperto sua mão.

— Desculpe.

Ele pressiona a testa contra a minha.

— Eu sonhei que você tinha morrido — sussurra ele.

O quê?

— Deitada no chão… tão fria… e você não acordava.

Ah, meu Cinquenta Tons.

Ei… Foi só um sonho ruim. — Seguro sua cabeça com as mãos. Seus olhos ardem nos meus, transmitindo uma angústia sombria. — Eu estou aqui, e estou com frio sem você na cama. Volte para a cama, por favor.

Pego sua mão e me levanto, esperando para ver se ele vai fazer o mesmo. Finalmente, ele também se levanta. Está só com a calça do pijama, que cai daquela maneira; fico com vontade de passar os dedos pela parte interna da cintura da calça, mas resisto e o levo de volta ao quarto.

* * *

QUANDO ACORDO, ELE está enroscado em mim, dormindo tranquilamente. Relaxo e aproveito seu calor ao redor do meu corpo, sua pele na minha. Fico deitada sem me mexer, pois não quero perturbar seu sono.

Caramba, que noite. Parece que fui esmagada por um trator — o pesado trator que é o meu marido. Difícil acreditar que o homem deitado ao meu lado, parecendo tão sereno e jovem em seu sono, estava tão atormentado ontem à noite… e que também me atormentou. Olho para o teto, e me ocorre que sempre penso em Christian como forte e dominador — mas, na verdade, ele é muito frágil, meu menino perdido. E a ironia é que ele me vê como frágil — o que eu não acho que seja. Comparada a ele, eu é que sou forte.

Mas será que sou forte o suficiente para nós dois? Forte o suficiente para obedecer-lhe e dar-lhe alguma paz de espírito? Suspiro. Ele não está me pedindo tanta coisa assim. Repasso nossa conversa da noite anterior. Decidimos alguma outra coisa além de que ambos vamos nos esforçar mais? O fato é que eu amo esse homem, e preciso traçar uma rota para nós dois. Uma rota que me permita manter minha integridade e independência, mas ao mesmo tempo ser mais para ele. Eu sou o seu mais, e ele é o meu. Resolvo fazer um esforço especial esse fim de semana, para não lhe dar mais motivo de preocupação.

Christian se agita e levanta a cabeça do meu peito, olhando-me sonolento.

— Bom dia, Sr. Grey. — Sorrio.

— Bom dia, Sra. Grey. Dormiu bem? — Ele se espreguiça ao meu lado.

— Depois que o meu marido parou com aquele lamento horrível ao piano, sim, dormi bem.

Ele abre seu sorriso tímido, e eu me derreto.

— Lamento horrível? Pode ter certeza de que eu vou mandar um e-mail para a Srta. Kathie contando isso.

— Srta. Kathie?

— Minha professora de piano.

Dou uma risadinha.

— Que lindo som — diz ele. — Que tal termos um dia melhor hoje?

— Tudo bem — concordo. — O que você quer fazer?

— Depois que eu fizer amor com a minha esposa e ela preparar o meu café da manhã, eu gostaria de levá-la a Aspen.

Olho embasbacada para ele.

— Aspen?

— É.

— Aspen, no Colorado?

— Isso mesmo. A não ser que tenham tirado de lá. Afinal de contas, você pagou vinte e quatro mil dólares pela experiência.

Abro um sorriso.

— Era dinheiro seu.

— Dinheiro nosso.

— Era seu quando eu fiz a oferta. — Reviro os olhos.

— Ah, Sra. Grey, você e seu revirar de olhos — sussurra ele, passando a mão na minha coxa.

— Não vai levar horas para chegarmos ao Colorado? — pergunto, para distraí-lo.

— Não no meu jatinho — explica ele, muito dócil, e sua mão alcança minha bunda.

Claro, meu marido tem um avião. Como pude esquecer? Sua mão continua a deslizar pelo meu corpo, levantando minha camisola por onde passa, e logo eu já esqueci tudo.

* * *

TAYLOR NOS LEVA até a pista do aeroporto Sea-Tac, depois até o jato da Grey Enterprises Holdings, que está à nossa espera. É um dia cinza em Seattle, mas me recuso a deixar que o clima faça murchar minha empolgação. Christian está muito mais bem-humorado. Está animado com alguma coisa — iluminado como o Natal, e saltitante como um garotinho que guarda um grande segredo. O que será que ele está tramando? Ele parece um sonho: o cabelo desalinhado, camiseta branca e calça jeans preta. Nem um pouco CEO. Ele pega minha mão quando Taylor para perto da escada do jato.

— Tenho uma surpresa para você — murmura ele, e beija os nós dos meus dedos.

Abro um sorriso.

— Surpresa boa?

— Espero que sim. — Ele sorri calorosamente.

Hmm… O que será?

Sawyer salta do banco da frente e abre a minha porta. Taylor abre a de Christian, e em seguida tira nossa bagagem da mala do carro. Stephan está esperando no topo da escada quando entramos na aeronave. Olho para a cabine e vejo o comandante Beighley acionando botões no imponente painel de instrumentos.

Christian e Stephan apertam as mãos.

— Bom dia, senhor. — Stephan sorri.

— Obrigado por atender ao meu pedido tão repentino. — Christian lhe sorri de volta. — Nossos convidados já chegaram?

— Chegaram sim, senhor.

Convidados? Eu me viro e solto uma exclamação de surpresa. Kate, Elliot, Mia e Ethan estão sentados nos bancos de couro cor de creme, todos sorrindo. Uau! Viro de volta para Christian.

— Surpresa! — diz ele.

— Como? Quando? Quem? — balbucio inarticuladamente, tentando conter meu deleite e meu entusiasmo.

— Você disse que quase não tem visto seus amigos. — Ele dá de ombros e abre um sorriso torto de desculpas.

— Ah, Christian, obrigada.

Jogo os braços em volta do seu pescoço e o beijo com força na frente de todo mundo. Ele me segura pela cintura, enfiando os polegares nos passadores de cinto da minha calça jeans, e me beija com mais intensidade.

Ai, meu Deus.

— Continue com isso e eu arrasto você para o quarto — murmura ele.

— Você não teria coragem — sussurro contra seus lábios.

— Ah, Anastasia.

Ele sorri, balançando a cabeça; então me solta sem mais preâmbulos, abaixa-se, pega-me pelas coxas e me coloca nos ombros.

— Christian, me ponha no chão! — Dou-lhe uma palmada na bunda.

Vejo de relance o sorriso de Stephan quando ele se vira e entra na cabine do piloto. Taylor está parado à porta, tentando disfarçar o riso. Ignorando meus apelos e meus socos inúteis, Christian percorre a passos largos a cabine estreita, passando por Mia e Ethan, que estão um de frente para o outro nas poltronas, e por Kate e Elliot, que berra incentivos feito um maluco.

— Se vocês me dão licença… — diz ele para nossos quatro convidados. — Preciso ter uma palavrinha em particular com a minha esposa.

— Christian! — grito. — Me ponha no chão!

— Tudo a seu tempo, querida.

Vejo rapidamente Mia, Kate e Elliot rindo. Que saco! Isso não é engraçado, é constrangedor. Ethan nos olha estupefato, a boca aberta e totalmente chocado, enquanto desaparecemos na cabine.

Christian fecha a porta após entrarmos e então me solta, deixando-me deslizar pelo seu corpo lentamente, de modo que sinto a rigidez de todos os seus músculos e tendões. Ele abre seu sorriso de garoto, completamente satisfeito consigo mesmo.

— Foi realmente um espetáculo, Sr. Grey. — Cruzo os braços e olho para ele me fazendo de indignada.

— Foi divertido, Sra. Grey. — E seu sorriso aumenta. Minha nossa… Ele parece tão jovem.

— Você vai continuar com isso?

Arqueio uma sobrancelha, incerta de como me sinto a respeito. Afinal, os outros vão nos escutar, pelo amor de Deus. De repente fico tímida. Olhando nervosa para a cama, sinto um rubor corar meu rosto quando me lembro da nossa noite de núpcias. Conversamos tanto ontem, fizemos tanta coisa ontem… Sinto como se tivéssemos atravessado uma barreira desconhecida — mas esse é o problema: ela é desconhecida. Meus olhos encontram o olhar intenso mas bem-humorado de Christian, e não consigo manter o rosto sério. Seu sorriso é contagioso demais.

— Acho que seria indelicado deixar nossos convidados esperando — diz ele, caminhando suavemente na minha direção.

Quando ele começou a se importar com o que as pessoas pensam? Dou um passo para trás, minhas costas contra a parede da cabine, e ele me imprensa, o calor do seu corpo me mantendo no lugar. Ele se inclina para baixo e roça o nariz no meu.

— Surpresa boa? — sussurra ele, e há certa preocupação na sua voz.

— Ah, Christian, surpresa fantástica.

Deslizo as mãos pelo seu peito, subindo até seu pescoço, e o beijo.

— Quando você organizou isso? — pergunto quando o solto, afagando seu cabelo.

— Ontem à noite, quando eu não conseguia dormir. Mandei um e-mail para Elliot e Mia e aqui estão eles.

— Muito bem pensado. Obrigada. Tenho certeza de que vamos nos divertir muito.

— Espero que sim. Achei que seria mais fácil evitar a imprensa em Aspen do que em casa.

Os paparazzi! Ele tem razão. Se tivéssemos ficado no Escala, estaríamos aprisionados. Um arrepio desce pela minha espinha ao me lembrar das câmeras em ação e dos flashes pipocando hoje de manhã, quando Taylor conseguiu fugir dos poucos fotógrafos que nos cercavam.

— Venha. É melhor nos sentarmos. O Stephan vai decolar daqui a pouco. — Ele me oferece a mão, e juntos retornamos à cabine.

Elliot aplaude quando nos vê voltar.

— Isso é o que eu chamo de rapidinha no ar! — diz ele zombeteiramente.

Christian o ignora.

— Por favor, permaneçam sentados, senhoras e senhores, pois em instantes daremos início à decolagem.

A voz de Stephan ecoa calma e autoritária pela cabine. A morena — hum… Natalie? — que estava no voo da nossa noite de núpcias surge da área da cozinha do avião e recolhe os copos de café usados. Natalia… O nome dela é Natalia.

Bom dia, Sr. e Sra. Grey — diz ela, quase ronronando.

Por que ela me deixa desconfortável? Talvez por ser morena. O próprio Christian admitiu que normalmente não contrata mulheres morenas, porque as considera bonitas. Ele dirige um sorriso educado para Natalia ao deslizar por trás da mesa, sentando-se de frente para Elliot e Kate. Dou um abraço rápido em Kate e Mia e aceno para Ethan e Elliot, para então me sentar ao lado de Christian e colocar o cinto de segurança. Ele põe a mão no meu joelho e o aperta carinhosamente. Parece relaxado e feliz, muito embora tenhamos companhia. Pergunto-me vagamente por que ele não pode ser sempre assim: sem tentar controlar tudo.

— Espero que você tenha trazido as suas botas de caminhada — diz ele, a voz calorosa.

— Não vamos esquiar?

— Isso seria um desafio, considerando que estamos em agosto — responde ele, achando graça.

Ah, claro.

— Você costuma esquiar, Ana? — É Elliot nos interrompendo.

— Não.

Christian tira a mão do meu joelho e segura minha mão.

— Tenho certeza de que meu irmãozinho pode lhe ensinar. — Elliot pisca para mim. — Ele também é bastante rápido em descer montanhas.

E não consigo evitar o rubor. Quando me volto para Christian, ele está olhando fixa e impassivelmente para Elliot, mas acho que está tentando conter a alegria. O avião dá um tranco para a frente e começa a taxiar pela pista.

Natalia repassa os procedimentos de segurança do avião em uma voz clara e ressoante. Ela veste uma elegante camisa azul-marinho sem manga e uma saia-lápis da mesma cor. Sua maquiagem é impecável: ela é realmente uma mulher muito bonita. Meu inconsciente ergue para mim uma sobrancelha finíssima.

— Tudo bem com você? — pergunta Kate agudamente. — Quer dizer, depois de toda essa história com o Hyde?

Faço que sim com a cabeça. Não quero pensar ou falar em Hyde, mas as intenções de Kate parecem ser diferentes das minhas.

— E então, por que ele enlouqueceu? — pergunta ela, indo direto ao ponto, no seu estilo inimitável. Ela joga o cabelo para trás, preparando-se para investigar a história mais a fundo.

Olhando-a friamente, Christian dá de ombros.

— Eu botei aquele filho da puta no olho da rua — diz ele, sem rodeios.

— Ah, é? Por quê? — Kate inclina a cabeça para o lado, e eu sei que ela está incorporando totalmente Nancy Drew.

— Ele deu em cima de mim — murmuro.

Tento chutar a canela de Kate por baixo da mesa, mas não acerto. Merda!

— Quando? — Kate me encara com avidez.

— Já faz séculos.

— Você nunca me contou que ele deu em cima de você! — solta ela.

Dou de ombros como que me desculpando.

— Não pode ser só ressentimento por conta disso, ah, mas não mesmo. Afinal, foi uma reação muito extremada — continua Kate, e agora ela direciona as perguntas a Christian: — Ele é mentalmente instável? E quanto a toda a informação que ele tem sobre vocês, os Grey?

Vê-la interrogando Christian dessa maneira faz meus pelos se eriçarem, mas ela já estabeleceu para si mesma que eu não sei de nada, então não pode me fazer mais perguntas. Pensar nisso me irrita.

— Achamos que tem alguma relação com Detroit — diz Christian calmamente. Calmamente demais. Ah, não, Kate, desista disso por enquanto.

O Hyde também é de Detroit?

Christian aquiesce.

O avião acelera, e eu aperto a mão de Christian com mais força. Ele me lança um olhar tranquilizador. Christian sabe que eu detesto pousos e decolagens. Ele aperta minha mão e, com o polegar, afaga os nós dos meus dedos, acalmando-me.

— O que você realmente sabe sobre ele? — pergunta Elliot, ignorando o fato de que estamos nos movendo rapidamente pela pista em um jatinho prestes a se lançar ao ar, e ignorando igualmente a crescente irritação de Christian com Kate. Ela se inclina para a frente, ouvindo atentamente.

— O que eu vou dizer é confidencial — diz Christian, dirigindo-se diretamente a ela. A boca de Kate vira uma linha fina mas sutil. Engulo em seco. Ah, merda.

— Sabemos um pouco sobre Jack — continua Christian. — O pai dele morreu numa briga de bar. A mãe bebeu até perder a consciência. Ele passou a infância pulando de orfanato em orfanato… e de confusão em confusão também. A maioria por roubo de carros. Passou um tempo no reformatório. A mãe superou o alcoolismo com a ajuda de algum programa de reabilitação, e o Hyde deu a volta por cima. Ganhou uma bolsa de estudos em Princeton.

— Princeton? — A curiosidade de Kate se aguça.

— Isso. Um rapaz inteligente. — Christian dá de ombros.

— Não tanto. Ele foi pego — murmura Elliot.

— Mas com certeza ele não armou isso tudo sozinho, não é? — pergunta Kate.

Christian se enrijece ao meu lado.

— Não sabemos ainda.

Sua voz é muito baixa. Droga. Será que poderia ter alguém nisso junto com ele? Eu me viro e fito Christian horrorizada. Ele aperta minha mão mais uma vez, mas não me olha nos olhos. O avião decola suavemente e eu sinto na barriga a terrível sensação de estar afundando.

— Quantos anos ele tem? — pergunto a Christian, aproximando-me dele de forma que os outros não me ouçam. Por mais que eu queira saber o que está acontecendo, não quero encorajar as perguntas de Kate. Sei que ela o está irritando, e tenho certeza de que ela está na sua lista negra desde o Escândalo dos Drinques.

— Trinta e dois. Por quê?

— Curiosidade, só isso.

Ele contrai o maxilar.

— Não fique curiosa em saber mais sobre o Hyde. Só estou feliz porque aquele babaca está preso. — É quase uma reprimenda, mas resolvo ignorar seu tom.

Você acha que ele tem um cúmplice?

A ideia de que mais alguém possa estar envolvido nisso faz meu estômago embrulhar. Significaria que ainda não acabou.

— Não sei — responde Christian, e contrai o maxilar mais uma vez.

— Talvez alguém que tenha algum rancor contra você, será? — sugiro. Merda. Espero que não seja a monstra filha da mãe. — Elena, por exemplo — sussurro.

Percebo que mencionei seu nome alto, mas só ele pode me ouvir. Olho preocupada para Kate, mas ela está entretida na sua conversa com Elliot, que olha irritado para ela. Hmm.

— Você gosta mesmo de demonizar a Elena, hein? — Christian revira os olhos e balança a cabeça em desdém. — Ela pode até ter ressentimento, mas não faria uma coisa desse tipo. — Ele me fita com seu inflexível olhar cinza. — Não vamos falar dela. Sei que não é o seu assunto preferido.

— Você a confrontou? — sussurro, mas não sei se realmente quero saber.

— Ana, eu não falo com Elena desde a minha festa de aniversário. Por favor, esqueça isso. Não quero falar dela.

Ele levanta a minha mão e roça a boca com os nós dos meus dedos. Seus olhos ardem nos meus, e sei que não devo insistir nesse interrogatório agora.

— Por que vocês não vão procurar um quarto? — provoca Elliot. — Ah, é… Vocês já têm um, mas não precisaram ficar por lá muito tempo.

Christian ergue o olhar e encara Elliot friamente.

— Vai se foder, Elliot — diz ele, sem maldade.

— Cara, só estou dando umas dicas. — Seus olhos se acendem de bom humor.

— Como se você soubesse — murmura Christian ironicamente, erguendo uma sobrancelha.

Elliot sorri, gostando da brincadeira.

— Você se casou com a sua primeira namorada. — Elliot aponta para mim.

Ah, merda. Aonde isso vai dar? Fico vermelha.

— E eu tinha como resistir? — Christian beija minha mão de novo.

— Não. — Elliot ri e balança a cabeça.

Fico vermelha; Kate bate na coxa de Elliot.

— Pare com essa babaquice — ela o repreende.

— Ouça a sua namorada — aconselha-o Christian, sorrindo, e sua preocupação de antes parece ter desaparecido.

Meus ouvidos estalam à medida que ganhamos altitude, e a tensão na cabine se dissipa durante o voo. Kate faz uma careta para Elliot. Hmm… Tem alguma coisa errada entre eles? Não sei dizer.

Elliot tem razão. Suspiro ao pensar na ironia. Eu sou — era — a primeira namorada de Christian, e agora sou sua esposa. As quinze e a maldita Mrs. Robinson não contam. Mas Elliot não sabe da existência delas, e ficou claro que Kate não contou a ele. Eu sorrio para ela, que me responde com uma piscadela conspiratória. Meus segredos estão a salvo com Kate.

— Muito bem, senhoras e senhores, vamos viajar a uma altitude de aproximadamente trinta e dois mil pés e o tempo estimado de viagem é de uma hora e cinquenta e seis minutos — anuncia Stephan. — Os passageiros agora podem transitar pela cabine.

Natalia surge abruptamente da cozinha.

— Alguém aceita um café? — pergunta ela.


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