CAPÍTULO DEZENOVE

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As lágrimas escorrem pelo meu rosto. Ele voltou. Meu pai voltou.

— Não chore, Annie. — A voz de Ray soa rouca. — O que está acontecendo?

Seguro sua mão entre as minhas e a encosto em meu rosto.

— Você sofreu um acidente e está no hospital, em Portland.

Ray franze o cenho, e não sei dizer se é porque ele se sente desconfortável com a minha demonstração de afeto incomum ou porque não consegue se lembrar do acidente.

— Quer um pouco d’água? — pergunto, embora eu não tenha certeza se posso realmente lhe dar de beber.

Ele aceita, um pouco desorientado. Meu coração infla de emoção. Levanto-me e me inclino por sobre ele, beijando-lhe a testa.

— Amo você, papai. Bem-vindo de volta.

Ele acena com a mão, desconcertado.

— Eu também, Annie. Água.

Embora o posto de enfermagem fique bem próximo, vou correndo até lá.

— Meu pai… ele acordou! — digo radiante para a enfermeira Kellie, que retribui meu sorriso.

— Avise a Dra. Sluder — pede ela ao seu colega, e sai apressada de trás do balcão.

— Ele quer água.

— Vou levar.

Volto correndo para perto da cama do meu pai, sentindo-me no sétimo céu. Encontrando-o de olhos fechados, imediatamente temo que ele tenha entrado em coma novamente.

— Pai?

— Estou aqui — balbucia ele, e seus olhos se abrem devagar quando a enfermeira Kellie aparece com um copo e uma jarra de cubos de gelo.

— Olá, Sr. Steele. Eu sou a Kellie, sua enfermeira. Sua filha me disse que o senhor está com sede.

* * *

NA SALA DE ESPERA, Christian olha fixo para o notebook, totalmente concentrado. Ele ergue o olhar quando fecho a porta.

— Ele acordou — anuncio.

Ele sorri, fazendo desaparecer a tensão ao redor de seus olhos. Ah… eu não tinha notado antes. Será que estava assim tão tenso esse tempo todo? Ele coloca o notebook de lado, fica de pé e me abraça.

— Como ele está? — pergunta quando retribuo seu abraço.

— Falante, desorientado, com sede. Não se lembra de nada do acidente.

— É compreensível. Agora que ele acordou, quero transferi-lo para Seattle. Assim podemos voltar para casa e minha mãe pode dar atenção a ele.

Já?

Não sei se ele já está em condições de ser transferido.

— Vou falar com a Dra. Sluder, saber a opinião dela.

— Está com saudades de casa?

— Sim.

— Tudo bem.

* * *

— VOCÊ SÓ SABE SORRIR — comenta Christian quando paro o carro em frente ao Heathman.

— Estou muito aliviada. E feliz.

— Ótimo. — Ele abre um largo sorriso.

A luz do dia está desaparecendo, e estremeço de frio quando saio do carro e sinto o frescor da noite. Entrego a chave ao manobrista, que observa o R8 com admiração. Não posso culpá-lo. Christian coloca o braço em volta de mim.

— Vamos comemorar? — sugere ele quando entramos na recepção.

— Comemorar?

— Seu pai.

Dou uma risada.

— Ah, tá.

— Senti falta da sua risada. — Ele beija meu cabelo.

— Podemos jantar no quarto mesmo? Sabe, uma noite calma, sem sair?

— Claro. Venha.

E, me pegando pela mão, ele me leva até os elevadores.

* * *

— ESTAVA DELICIOSO — murmuro satisfeita, e afasto o prato, sentindo-me farta pela primeira vez em séculos. — Eles sabem fazer uma tarte tatin aqui.

Tomei banho agora há pouco e estou apenas de calcinha e com uma camiseta de Christian. Ao fundo, Dido canta uma música sobre bandeiras brancas; o iPod de Christian está no shuffle.

Christian me olha de maneira contemplativa. Seu cabelo ainda está molhado do banho, e ele está usando apenas uma camiseta preta e calça jeans.

— Desde que chegamos aqui, essa foi a primeira vez que eu vi você comer bem — diz ele.

— Eu estava com fome.

Ele se recosta na cadeira com um sorriso e toma um gole do vinho branco.

— O que você gostaria de fazer agora? — Sua voz é suave.

— O que você quer fazer?

Ele levanta uma sobrancelha, achando graça.

— O que eu sempre quero fazer.

— E o que seria?

— Sra. Grey, não seja recatada.

Estico o braço por sobre a mesa de jantar, pego a mão dele, viro a palma para cima e começo a alisá-la com o indicador.

— Quero que me toque com este aqui. — Levo meu dedo até seu indicador.

Ele muda de posição na cadeira.

— Só isso? — Seus olhos imediatamente ficam escuros e se aquecem.

— Talvez este? — Toco seu dedo médio e depois volto para a palma de sua mão. — E este. — Passo a unha pelo anular dele. — Este aqui, sem dúvida. — Meu dedo para sobre a sua aliança de casamento. — Este é muito sexy.

— Você acha?

— Com certeza. Ele diz este homem é meu.

Acaricio o pequenino calo que já se formou por baixo da aliança. Ele se inclina e pega meu queixo com a mão livre.

— Sra. Grey, você está me seduzindo?

— Espero que sim.

— Anastasia, eu já fui fisgado. — Ele fala baixinho. — Venha cá. — Ele puxa minha mão, colocando-me no colo. — Gosto de ter acesso desimpedido.

Correndo a mão pela minha coxa, ele chega à bunda. Agarra minha nuca com a outra mão e me beija, mantendo-me firme no lugar.

Sinto nele o gosto de vinho branco, torta de maçã e Christian. Passo os dedos pelo seu cabelo, abraçando-o enquanto nossas línguas se exploram e se retorcem uma em volta da outra, o sangue ardendo em minhas veias. Estamos sem fôlego quando nos afastamos.

— Vamos para a cama — murmura ele contra meus lábios.

— Cama?

Ele inclina o corpo mais para trás e me puxa pelo cabelo, obrigando-me a olhar em seus olhos.

— Onde você prefere, Sra. Grey?

Dou de ombros, fingindo indiferença.

— Quero ser surpreendida.

— Você hoje está cheia de energia. — Ele roça o nariz no meu.

— Talvez eu precise que alguém me contenha.

— Talvez precise mesmo. A idade está deixando você muito mandona. — Ele aperta os olhos, mas não consegue ocultar o bom humor.

— E o que você vai fazer a respeito? — desafio-o.

Seus olhos brilham.

— Eu sei bem o que eu quero fazer a respeito. Mas não sei se você vai topar.

— Ah, Sr. Grey, você tem sido extremamente gentil comigo nos últimos dias. Eu não sou feita de vidro, sabia?

— Não gosta de gentilezas?

— Com você, é claro que sim. Mas, sabe… é sempre bom variar um pouco. — E faço charme batendo os cílios.

— Está a fim de alguma coisa menos gentil?

— Alguma coisa revigorante.

Ele levanta as sobrancelhas em surpresa.

— Revigorante — repete, com humor e surpresa na voz.

Confirmo. Ele me fita por um momento.

— Não morda o lábio — sussurra ele, e se levanta de repente, ainda comigo nos braços.

Levo um susto e me agarro ao seu bíceps, com medo de que ele me deixe cair. Ele vai até o menor dos três sofás e me joga em cima.

— Espere aqui. Não se mexa.

Com um olhar breve, intenso e ardente, ele se vira, caminhando todo pomposo até o quarto. Ah… Christian descalço. Por que seus pés são tão sensuais? Ele volta em poucos minutos, surpreendendo-me ao se inclinar sobre mim por trás do sofá.

— Acho que não vamos precisar disso aqui.

Ele agarra minha camiseta e tira-a, deixando-me só de calcinha. Depois, puxando meu rabo de cavalo para trás, me beija.

— Fique de pé — ordena ele, falando bem próximo dos meus lábios, e me solta.

Obedeço imediatamente. Ele cobre o sofá com uma toalha.

Toalha?

Tire a calcinha.

Engulo em seco, mas obedeço novamente, jogando-a sobre o sofá.

— Sente-se. — Mais uma vez ele agarra meu rabo de cavalo e puxa minha cabeça para trás. — Você vai pedir para parar se eu for longe demais, tudo bem?

Faço que sim com a cabeça.

— Diga. — Seu tom é severo.

— Tudo bem — digo, a voz um pouco esganiçada.

Ele sorri com malícia.

— Ótimo. Então, Sra. Grey… atendendo a pedidos, vou prender você.

Sua voz se reduz a um sussurro aflito de excitação. O desejo atravessa meu corpo como um raio apenas por ouvir essas palavras. Ah, meu doce Cinquenta Tons — no sofá?

— Levante os joelhos — ordena ele suavemente. — E sente-se ereta.

Descanso os pés na ponta da almofada do sofá, os joelhos dobrados à minha frente. Ele pega minha perna esquerda e, tirando a faixa de um dos roupões de banho, amarra uma das pontas acima do meu joelho.

— Um roupão?

— Estou improvisando.

Novamente ele sorri com malícia, então aperta o nó sobre o meu joelho e prende a outra ponta da faixa em torno do remate no canto traseiro do sofá, efetivamente separando minhas pernas.

— Não se mexa — adverte ele, e repete o processo com a perna direita, atando a outra faixa ao outro remate do sofá.

Ah, meu Deus… Estou sentada ereta, esparramada no sofá, as pernas escancaradas.

— Tudo bem? — pergunta Christian suavemente, olhando para mim por trás do sofá.

Faço um gesto afirmativo, esperando que ele amarre minhas mãos também. Mas não; ele apenas se inclina e me beija.

— Você não tem ideia de como está sexy neste momento — murmura ele, e esfrega o nariz no meu. — Hora de mudar a música, eu acho. — Ele se levanta e anda despreocupadamente até seu iPod.

Como ele faz isso? Aqui estou eu, toda amarrada e cheia de tesão, ao passo que ele está calmo e impassível. Posso vê-lo daqui, e, enquanto ele escolhe outra música, observo os contornos da musculatura de suas costas por baixo da camiseta. Imediatamente, uma voz feminina suave, quase infantil, começa a cantar algo sobre me observar.

Ah, eu gosto dessa música.

Christian se vira e gruda os olhos nos meus ao contornar o sofá. Ele para na minha frente e cai graciosamente de joelhos.

De súbito, me sinto muito exposta.

— Exposta? Vulnerável? — indaga ele, com sua misteriosa capacidade de dar voz às minhas palavras não proferidas. Ele está com as mãos nos joelhos. Faço que sim.

Por que ele não me toca?

— Ótimo — murmura. — Me dê as mãos.

Obedeço, sem conseguir desviar os olhos de seu olhar hipnotizante. De um pequeno frasco transparente, Christian derrama um líquido oleoso nas palmas das minhas mãos. É perfumado — um odor picante, agradável e almiscarado que não consigo definir o que é.

— Esfregue as mãos. — Eu me contorço sob seu olhar intenso e sensual. — Fique parada — adverte ele.

Ah, nossa.

— Agora, Anastasia, eu quero que você se toque.

Puta merda.

— Comece pelo pescoço e vá descendo.

Hesito.

— Não fique tímida, Ana. Vamos. Faça o que eu pedi. — O humor e o desafio em sua expressão são tão evidentes quanto o seu desejo.

A voz doce canta que ela não é nada doce. Levo as mãos ao pescoço e faço-as deslizar até a parte superior dos meus seios. O óleo as faz escorregar pela minha pele sem esforço. Minhas mãos estão quentes.

— Mais para baixo — murmura Christian, seus olhos escurecendo. Ele não me toca.

Minhas mãos envolvem meus seios.

— Acaricie seu corpo.

Minha nossa. Puxo meus mamilos de leve.

— Mais forte — insiste Christian. Ele continua sentado imóvel entre as minhas coxas, apenas assistindo. — Como eu faria — acrescenta, os olhos escuros reluzindo.

Os músculos se contraem dentro do meu ventre. Solto um gemido em resposta e puxo meus mamilos mais forte, sentindo-os se enrijecerem e se alongarem ao meu toque.

— Isso. Assim mesmo. De novo.

Fechando os olhos, eu puxo forte, girando-os e torcendo-os entre meus dedos. Solto um gemido.

— Abra os olhos.

Vejo-o à minha frente.

— De novo. Quero ver você. Quero ver você aproveitar a sensação.

Ai, cacete. Repito o processo. É tão… erótico.

— As mãos. Mais para baixo.

Eu me contorço.

— Fique parada, Ana. Absorva o prazer. Mais para baixo. — Sua voz é calma e rouca, ao mesmo tempo provocante e sedutora.

— Faça você — sussurro.

— Ah, vou fazer sim… mas só daqui a pouco. Agora é sua vez. Mais para baixo. Agora.

Transpirando sensualidade, ele passa a língua pelos dentes. Puta merda… Eu me contorço, puxando as faixas que me prendem.

Ele balança a cabeça, devagar.

— Parada. — Ele coloca as mãos nos meus joelhos, para me manter imóvel. — Vamos lá, Ana… mais para baixo.

Deslizo as mãos pela minha barriga.

— Mais para baixo — balbucia ele, a própria lascívia personificada.

— Christian, por favor.

As mãos dele deslizam dos meus joelhos, passando pelas minhas coxas até chegar ao meu sexo.

— Vamos, Ana. Quero ver você se tocar.

Com a mão esquerda eu roço meu sexo, lentamente desenhando um círculo, minha boca aberta, minha respiração ofegante.

— De novo — sussurra Christian.

Solto um gemido mais forte e repito o movimento ao mesmo tempo que jogo a cabeça para trás, arfando.

— De novo.

Meu gemido fica mais alto, e Christian inspira com força. Pegando minhas mãos, ele se curva e passa o nariz e depois a língua pelo vértice das minhas coxas, de cima abaixo.

— Ah!

Quero tocá-lo, mas quando tento mexer as mãos, ele aperta ainda mais meus punhos.

— Vou amarrar você aqui também. Fique parada.

Dou um gemido. Ele me solta, depois enfia dois dedos em mim, a palma da sua mão apoiada no meu clitóris.

— Vou fazer você gozar bem rápido, Ana. Está pronta?

— Sim — sussurro, quase sem fôlego.

Ele começa a mexer os dedos, a mão, subindo e descendo bem rápido, atingindo tanto aquele local especial dentro de mim quanto meu clitóris, ambos ao mesmo tempo. Ah! Que sensação intensa — realmente intensa. O prazer se intensifica e impregna toda a parte inferior do meu corpo. Tenho vontade de esticar as pernas, mas não posso. Cravo as mãos na toalha embaixo de mim.

— Deixe-se levar — sussurra Christian.

Sinto uma explosão em volta dos dedos dele e grito palavras incoerentes. Ele pressiona a palma da mão contra o meu clitóris enquanto as contrações atravessam meu corpo, prolongando a deliciosa agonia. Quase sem me dar conta, vejo que está soltando as minhas pernas.

— Agora é a minha vez — murmura ele, e me vira, colocando-me com a cabeça apoiada no sofá e os joelhos no chão. Então ele abre minhas pernas e me dá um forte tapa na bunda.

— Ah! — grito, e ele me penetra com força.

— Ah, Ana — murmura ele entre os dentes, e começa a se movimentar.

Seus dedos se cravam no meu quadril e ele se mexe dentro de mim sem parar. Começo a sentir aquilo novamente. Não… Ah…

— Vamos, Ana! — grita Christian, e eu me desfaleço mais uma vez, pulsando com ele dentro de mim e gritando no momento do clímax.

* * *

— FOI REVIGORANTE como você queria?

Christian beija meu cabelo.

— Ah, sim — murmuro, fitando o teto.

Estamos deitados no chão ao lado do sofá, minhas costas contra o peito dele. Christian ainda está vestido.

— Podíamos repetir a dose. Você sem roupa dessa vez.

— Meu Deus, Ana. Preciso me recuperar.

Dou uma risadinha, e ele ri também.

— Que bom que o Ray recobrou a consciência. Parece que todos os seus apetites voltaram — comenta ele, sem esconder um sorriso na voz.

Eu me viro e faço cara feia para ele.

— Está se esquecendo de ontem à noite e hoje de manhã? — Faço beicinho.

— Não tem como esquecer nem um nem outro. — Christian ri, e parece tão jovem, despreocupado e feliz… Ele segura meu traseiro. — Você tem uma bunda fantástica, Sra. Grey.

— Você também. — Levanto uma sobrancelha. — Só que a sua ainda está coberta.

— E o que vai fazer a respeito, Sra. Grey?

— Ora essa, vou tirar a sua roupa, Sr. Grey. Todinha.

Ele sorri.

— E acho você muito doce — murmuro, referindo-me à música que está tocando repetidamente.

Seu sorriso desaparece.

Ah, não.

— Você é — sussurro.

Dou um beijo no canto da sua boca. Ele fecha os olhos e me aperta mais em seus braços.

— Christian, você é uma pessoa doce. Você tornou este fim de semana tão especial… apesar do que aconteceu com o Ray. Obrigada.

Ele abre os grandes e sérios olhos cinzentos, e sua expressão faz meu coração se apertar.

— Porque eu amo você — murmura ele.

— Eu sei. Também amo você. — Acaricio seu rosto. — E você é precioso para mim, também. Você sabe disso, não sabe?

Ele fica parado, parece perdido.

Ah, Christian… meu doce Cinquenta Tons.

— Acredite em mim — sussurro.

— Não é fácil. — Sua voz é quase inaudível.

— Tente. Tente o máximo que puder, pois é verdade.

Acaricio novamente seu rosto, meus dedos roçando suas costeletas. Seus olhos são oceanos cinzentos de perda, mágoa e dor. Tenho vontade de me colocar em cima dele e abraçá-lo. Qualquer coisa que afaste essa expressão do seu rosto. Quando é que ele vai perceber que é o meu mundo? Que merece muito o meu amor, o amor de seus pais e de seus irmãos? Eu já lhe disse isso muitas e muitas vezes, e no entanto aqui estou eu, novamente testemunhando seu olhar perdido e desamparado. Tempo. Vai levar algum tempo, é só isso.

— Você vai se resfriar. Venha.

Ele se levanta graciosamente e me ajuda a me levantar. Passo o braço ao redor da sua cintura enquanto voltamos para o quarto. Não vou pressioná-lo mais; no entanto, desde o acidente de Ray tornou-se mais importante para mim que ele saiba o quanto o amo.

Quando entramos no quarto, estou desesperada para recuperar sua leveza e descontração de apenas alguns minutos atrás.

— Vamos ver TV? — sugiro.

Christian pigarreia.

— Eu tinha esperanças de começar o segundo round.

E o meu inconstante Cinquenta Tons está de volta. Levanto a sobrancelha e paro perto da cama.

— Bom, nesse caso, acho que eu dito as regras.

Ele me olha perplexo; jogo-o na cama e monto rapidamente sobre ele, imobilizando-lhe as mãos.

Ele sorri com malícia.

— Muito bem, Sra. Grey. Agora que você me pegou, o que vai fazer comigo?

Eu me abaixo e cochicho em seu ouvido:

— Vou foder você com a minha boca.

Ele fecha os olhos, inspirando profundamente, e passo os dentes de leve pelo contorno do seu rosto.

Christian está trabalhando no computador. O dia amanheceu glorioso, ainda é cedo, e ele está digitando um e-mail, eu acho.

— Bom dia — murmuro timidamente da porta.

Ele se vira e sorri para mim.

— Sra. Grey, já de pé tão cedo. — E abre os braços.

Atravesso a suíte como um raio e me aconchego no colo dele.

— Você também.

— Estou só trabalhando. — Ele se ajeita desconfortavelmente na cadeira e beija meu cabelo.

— O que foi? — pergunto, pressentindo algum problema.

— Recebi um e-mail do detetive Clark. Ele quer falar com você sobre aquele filho da puta do Hyde. — Christian solta um suspiro.

— Sério?

Afasto um pouco o corpo para fitá-lo.

— É. Respondi que você deve passar um tempo em Portland e que ele vai ter que esperar. Mas ele disse que viria até aqui para interrogar você.

— Ele vem aqui?

— Acho que sim. — Christian parece perplexo.

Franzo a testa.

— O que será tão importante que não pode esperar?

— Justamente.

— E quando ele vem?

— Hoje. Vou responder o e-mail dele.

— Eu não tenho nada para esconder. O que será que ele quer saber?

— Vamos descobrir quando ele chegar. Também estou intrigado. — Christian muda novamente de posição. — O café da manhã já vai ser servido. Vamos comer para podermos visitar seu pai.

Concordo.

— Você pode ficar aqui, se quiser. Dá para ver que está ocupado.

Ele me olha contrariado.

— Não, quero ir com você.

— Tudo bem.

Sorrio, passo os braços em volta do seu pescoço e o beijo.

* * *

RAY ESTÁ DE mau humor. É uma dádiva. Ele está inquieto, irritado, impaciente e desconfortável.

— Pai, você sofreu um grave acidente de carro. Vai demorar um tempo para se recuperar. Christian e eu queremos transferi-lo para Seattle.

— Não sei por que você está se preocupando comigo. Vou ficar bem por aqui, sozinho.

— Não seja ridículo.

Aperto sua mão com ternura, e ele se digna a me dar um sorriso.

— Está precisando de alguma coisa?

— Eu poderia devorar um donut, Annie.

Abro um sorriso indulgente.

— Vou trazer um ou dois para você. Podemos ir à Voodoo.

— Maravilha!

— Quer um café decente também?

— Puxa, é claro!

— Está bem, vou trazer.

* * *

CHRISTIAN ESTÁ NOVAMENTE na sala de espera, falando ao telefone. Ele bem poderia instalar um escritório ali. O estranho é que está sozinho na sala de espera, embora os outros leitos da UTI estejam ocupados. Será que ele assustou os outros visitantes? Ele desliga o telefone.

— O Clark chega às quatro.

Franzo a sobrancelha. O que poderá ser tão urgente?

— Tudo bem. Ray quer café e donuts.

Christian dá uma risada.

— Acho que eu ia querer a mesma coisa, se tivesse sofrido um acidente. Peça ao Taylor para comprar.

— Não, eu vou.

— Mas leve o Taylor. — Ele soa inflexível.

— Ok.

Reviro os olhos, e ele me encara com ar de censura. Depois, força um sorriso e inclina a cabeça para o lado.

— Não tem ninguém aqui.

Sua voz soa deliciosamente baixa, e eu sei que ele está ameaçando me bater. Estou a ponto de desafiá-lo quando um jovem casal entra na sala. A mulher está chorando baixinho.

Dou de ombros para Christian, e ele assente. Em seguida, pega o notebook, segura minha mão e me guia para fora da sala.

— Eles precisam de privacidade mais do que nós — murmura Christian. — Nós vamos nos divertir mais tarde.

Lá fora, Taylor está esperando pacientemente.

— Vamos todos comprar café e donuts.

Às quatro horas em ponto alguém bate à porta da suíte. Taylor aparece acompanhado do detetive Clark, que parece mais mal-humorado do que de costume. Na verdade, ele sempre aparenta irritação. Talvez seja o formato do seu rosto.

— Sr. e Sra. Grey, obrigado por atenderem ao meu pedido.

— Detetive Clark — diz Christian, apertando a mão dele, e lhe indica um assento.

Eu me instalo no mesmo sofá onde me diverti tanto ontem à noite. E, ao pensar nisso, fico vermelha.

— É com a Sra. Grey que eu gostaria de conversar — diz Clark, dirigindo-se a Christian e Taylor, que ficou parado ao lado da porta.

Christian olha rapidamente para Taylor e lhe faz um gesto quase imperceptível com a cabeça; Taylor se vira e sai do recinto, fechando a porta atrás de si.

— Tudo o que o senhor quiser falar com a minha mulher, pode falar na minha frente. — A voz de Christian é fria e profissional.

O detetive Clark se volta para mim:

— A senhora tem certeza de que gostaria de ter seu marido presente?

Franzo a testa.

— É claro que sim. Não tenho nada a esconder. O senhor quer apenas me fazer algumas perguntas, não?

— Exatamente, madame.

— Eu gostaria que o meu marido ficasse.

Christian está ao meu lado, irradiando tensão.

— Muito bem — murmura Clark, resignado. Ele pigarreia. — Sra. Grey, o Sr. Hyde sustenta que a senhora o assediou sexualmente e fez várias investidas libidinosas contra ele.

Oh! Quase caio na gargalhada, mas coloco a mão na coxa de Christian de modo a contê-lo quando percebo que ele está se inclinando para a frente.

— Isso é ridículo — gagueja Christian, de tão insultado.

Aperto sua perna para silenciá-lo.

— Isso não aconteceu — afirmo com calma. — Na verdade, foi justamente o oposto. Ele me fez uma proposta de um jeito bastante rude, e foi demitido.

Vejo a boca do detetive Clark se contrair, formando uma linha fina, e então ele continua:

— Hyde alega que a senhora inventou uma história de assédio sexual a fim de provocar a demissão dele. Que fez isso porque ele não cedeu aos seus avanços e porque a senhora queria o emprego dele.

Franzo a testa. Puta merda. Jack está ainda mais alucinado do que eu pensava.

— Isso não é verdade. — Balanço a cabeça em negativa.

— Detetive, por favor, não me diga que o senhor veio até aqui só para importunar minha esposa com essas acusações ridículas.

O detetive Clark direciona seu olhar azul metálico para Christian.

— Preciso ouvir isso da boca da sua esposa, senhor — diz ele, calma e moderadamente.

Aperto a perna de Christian mais uma vez, implorando por dentro para que ele fique calmo.

— Você não precisa ouvir essas merdas, Ana.

— Acho que devo relatar ao detetive Clark o que aconteceu.

Christian me fita impassível por um instante e depois balança a mão, num gesto de resignação.

— O que Hyde afirma simplesmente não é verdade. — Minha voz soa calma, embora o que eu sinta seja tudo menos calma. Estou surpresa com essas acusações e com medo de Christian explodir. O que é que o Jack pretende? — O Sr. Hyde me acuou na cozinha do escritório uma noite. Ele me disse que eu tinha sido contratada graças a ele e que esperava favores sexuais em troca. Tentou me chantagear, usando e-mails que eu tinha enviado para o Christian, que não era meu marido na época. Eu não sabia que Hyde estava monitorando meu e-mail. Ele estava fora de si; até me acusou de ser uma espiã a mando do Christian, provavelmente para ajudá-lo a tomar a empresa. Ele não sabia que Christian já tinha comprado a SIP. — Balanço a cabeça ao me lembrar do meu encontro tenso e angustiante com Hyde. — No final, e-eu o derrubei no chão.

Clark ergue as sobrancelhas, surpreso.

— A senhora o derrubou?

— Meu pai foi do Exército. O Hyde… ele… hã… me tocou, e eu sei como me defender.

Christian me fita com um breve olhar orgulhoso.

— Entendo.

Clark se recosta no sofá, suspirando pesadamente.

— O senhor falou com alguma das ex-assistentes de Hyde? — É uma pergunta inteligente de Christian.

— Falamos, sim. Mas a verdade é que não conseguimos fazer com que nenhuma delas nos conte nada. Todas dizem que ele era um patrão exemplar, embora nenhuma tenha durado mais do que três meses no cargo.

— Também tivemos esse problema — murmura Christian.

Hein? Olho perplexa para Christian, assim como o detetive Clark.

— O meu chefe de segurança. Ele entrevistou cinco ex-assistentes do Hyde.

— E posso saber por quê?

Christian lhe dirige um olhar glacial.

— Porque minha mulher trabalhou para ele, e eu faço uma verificação de segurança com todo mundo com quem minha mulher trabalha.

O detetive Clark fica vermelho. Dou de ombros, como se pedindo desculpas, e abro um sorriso amarelo do tipo “bem-vindo ao meu mundo”.

— Entendo — murmura Clark. — Acho que essa história esconde mais do que parece à primeira vista, Sr. Grey. Amanhã vamos realizar uma busca mais completa no apartamento dele. Talvez surja algo. Embora já faça um tempo que ele não aparece por lá, pelo que nos disseram.

— Vocês já fizeram uma busca?

— Já. Vamos fazer de novo. Nos mínimos detalhes dessa vez.

— Ainda não o acusaram de tentativa de homicídio contra mim e Ros Bailey? — pergunta Christian em voz baixa.

O quê?

Esperamos encontrar mais provas com relação à sabotagem de sua aeronave, Sr. Grey. Precisamos de mais do que uma impressão digital parcial, e podemos fundamentar o caso enquanto ele está detido.

— Era só isso que o senhor queria conosco?

Clark se irrita.

— Era, Sr. Grey, a não ser que o senhor tenha mais alguma coisa a acrescentar sobre o bilhete.

Bilhete? Que bilhete?

— Não. Já lhe disse. Para mim, não significa nada. — Christian não consegue ocultar sua exasperação. — E não vejo por que não podíamos ter discutido isso por telefone.

— Acho que já lhe disse que prefiro uma abordagem presencial. E aproveito para visitar minha tia-avó, que mora em Portland, então são dois coelhos… com uma cajadada só.

Clark permanece impassível e não se abala com o mau humor do meu marido.

— Bom, então, se isso é tudo, tenho trabalho a fazer.

Christian se levanta e o detetive Clark segue a deixa.

— Perdão por tomar o seu tempo, Sra. Grey — diz ele, educadamente.

Respondo apenas com um aceno de cabeça.

— Sr. Grey.

Christian abre a porta, e Clark sai.

Só então eu relaxo o corpo no sofá.

— Dá para acreditar nesse babaca? — explode Christian.

— O Clark?

— Não. Aquele filho da puta, o Hyde.

— Não, não dá para acreditar.

— O que é que o merdinha pretende? — murmura Christian, rangendo os dentes.

— Não sei. Você acha que o Clark acreditou em mim?

— É claro que sim. Ele sabe que o Hyde é um babaca de merda.

— Você está muito xingão.

— Xingão? — Christian força o riso. — E essa palavra existe?

— Agora existe.

Inesperadamente, ele abre um largo sorriso e senta-se ao meu lado, puxando-me para seus braços.

— Não pense naquele babaca. Vamos ver seu pai e tentar providenciar a transferência amanhã.

— Ele estava inflexível: queria porque queria ficar em Portland e não se tornar um estorvo.

— Vou falar com ele.

— Eu quero ir com ele.

Christian me olha, e, por um momento, acho que vai negar meu pedido.

— Está bem. Vou com vocês. Sawyer e Taylor podem levar os carros. E deixo o Sawyer dirigir o seu R8 hoje à noite.

No dia seguinte, Ray está examinando seu novo ambiente: um quarto claro e arejado no centro de reabilitação do hospital Northwest, em Seattle. É meio-dia, e ele parece sonolento. A viagem de helicóptero o deixou exausto.

— Diga ao Christian que eu agradeço — fala ele, baixinho.

— Pode dizer você mesmo. Ele vem aqui hoje à noite.

— Você não vai trabalhar?

— Provavelmente. Só quero ter certeza de que você está bem instalado aqui.

— Vá cuidar da sua vida. Não precisa se preocupar comigo.

— Eu gosto de me preocupar com você.

Meu BlackBerry vibra. Verifico o número — e não reconheço.

— Não vai atender? — pergunta Ray.

— Não. Não sei quem é. Seja quem for, pode deixar uma mensagem de voz. Eu trouxe umas coisinhas para você ler.

Aponto para a pilha de revistas de esportes na mesinha ao lado da cama.

— Obrigado, Annie.

— Você está cansado, não está?

Ele admite.

— Vou deixar você dormir um pouco. — Beijo sua testa. — Até mais, papai — murmuro.

— Vejo você mais tarde, querida. E obrigado. — Ray pega minha mão e a aperta carinhosamente. — Eu gosto quando você me chama de papai. Me faz voltar no tempo.

Ah, papai. Retribuo seu aperto de mão.

* * *

QUANDO ATRAVESSO AS portas da entrada em direção ao SUV onde Sawyer me espera, ouço alguém me chamar:

— Sra. Grey! Sra. Grey!

Ao me virar, vejo a Dra. Greene correndo na minha direção. Ela está, como sempre, impecável, embora um pouco agitada.

— Sra. Grey, como vai? Recebeu minha mensagem? Telefonei hoje mais cedo.

— Não. — Meu couro cabeludo começa a formigar.

— Bom, eu estava me perguntando por que a senhora tinha desmarcado quatro consultas.

Quatro consultas? Olho para ela, perplexa. Eu faltei a quatro consultas! Como?

— Talvez seja melhor conversarmos no meu consultório. Eu ia sair para almoçar; a senhora tem um tempinho agora?

Aquiesço sem discutir.

— Claro. Eu…

As palavras não me vêm à cabeça. Faltei quatro consultas? Atrasei minha injeção de anticoncepcional. Merda.

Meio entorpecida, sigo-a até o hospital e o consultório. Como fui perder quatro consultas? Eu me lembro vagamente de remarcar uma delas — Hannah mencionou —, mas quatro? Como fui me esquecer de quatro?

O consultório da Dra. Greene é espaçoso, minimalista e bem aparelhado.

— Que bom que a senhora me encontrou antes de eu ir embora — gaguejo, ainda chocada. — Meu pai sofreu um acidente de carro, e nós acabamos de providenciar a remoção dele, de Portland para cá.

— Puxa, lamento muito. Como ele está passando?

— Está bem, obrigada. Ainda se recuperando.

— Que bom. E isso explica por que você desmarcou na sexta-feira.

A Dra. Greene mexe com o mouse na sua mesa, e o computador ganha vida.

— Bem… já tem mais de treze semanas. Está bem no limite. Acho melhor fazermos um teste antes de aplicar outra injeção.

— Um teste? — sussurro, sentindo o sangue fugir da minha cabeça.

— Um teste de gravidez.

Ah, não.

Ela pega algo de dentro da gaveta da mesa.

— Você sabe o que fazer com isso. — Ela me entrega um pequeno frasco. — O banheiro fica logo na saída do consultório.

Eu me levanto em transe, meu corpo se movendo como se em piloto automático, e cambaleio até o banheiro.

Merda, merda, merda, merda, merda. Como pude deixar isso acontecer… de novo? Subitamente me sinto enjoada e começo a rezar em silêncio. Por favor, não. Por favor, não. Ainda é cedo demais, cedo demais, cedo demais.

Quando retorno ao consultório da Dra. Greene, ela me dá um breve sorriso e aponta para a cadeira em frente à sua mesa. Eu me sento e, sem dizer uma palavra, entrego-lhe o frasco. Ela mergulha nele um pequeno bastonete branco e observa. Então levanta as sobrancelhas quando a cor muda para azul-claro.

— O que significa o azul? — A tensão quase me sufoca.

Ela ergue o olhar para mim, um ar sério.

— Bem, Sra. Grey, significa que a senhora está grávida.

O quê? Não. Não. Não. Merda.

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